Onde a magia acontece

[ANIMES] ANGEL BEATS! (ou a tese do anjo waifu)

| segunda-feira, 29 de abril de 2019
... TO BE CONTINUED »


Se tem algo que me interessa, é uma obra que necessariamente precisa ser contada na mídia para a qual ela foi pensada. Spec Ops: The Line, precisa ser um videogame para que funcione do jeito que precisa funcionar. Dracula de Bram Stoker da forma que foi pensado pelo autor tem necessariamente que ser um livro (embora você possa recontar os mesmos acontecimentos em outra midia, não será a mesma história). E Angel Beats! tem que ser necessariamente um anime.

Porque TEM que ser um anime? Ora, porque eu não consigo pensar em nenhuma outra mídia que seja tão complacente com uma mistura tão esquisita de música, ideias absolutamente retardadas e histórias de partir o coração. Não acho que outra midia alguma tenha o jogo de cintura e a flexibilidade necessária para contar essa história, de modo que Angel Beats! tem "anime" tatuado no seu DNA.

Mas o que é Angel Beats!? Bem, vamos lá...

Alguns adolescentes quando morrem acabam acordando em um purgatório que acontece de ser exatamente como um colegial japones (quais as chances, hã?). Só que esse colegial tem uma pegadinha: se você se comportar como um aluno adequado, você desaparece.

Não é claro o que EXATAMENTE acontece com as pessoas que desaparecem, mas suponho que seja um pensamento válido supor que elas reencarnam ou vão para o próximo plano de existencia... ou apenas são desintegradas mesmo. Neste cenário, suponho que a reencarnação seja um dos mais possiveis (já que é o tema das religiões orientais e essa é uma escola oriental, afinal)... só que o budismo entende que, enquanto a reencarnação existe, ela não é exclusiva dos seres humanos. Então boas são as chances de que você reencarne como uma tatuíra ou uma craca do mar.


"Ah, mas eu não sou budista então...", ok, beleza Zé Roberto... mas você quer apostar a SUA PRÓXIMA INTEIRA VIDA nisso? Você tem tanta certeza que o budismo está errado ao risco de ser uma craca? Pois é, foi o que eu pensei. E não, eu não estou derivando, esse argumento é apresentado no anime.

Mas então, qual a alternativa? Ora, muito simples. Pegar em armas e lutar contra o sistema, sendo o "sistema" um anjo que quer colocar todo mundo na linha e despacha-los desse mundo. Por isso que o anime se chama "Angel Beats", pq aqui o negócio é fazer montinho no anjo!

Que obviamente é uma loli triste e waifuzavel because anime, é claro.


Então o anime é sobre esse novo cara que acabou de morrer, Otonashi, se integrando ao grupo de resistencia na luta contra o anjo.  E é aqui que a parte absolutamente retardada entra, porque as "lutas" contra o anjo são... imbecis. Novamente, because anime and only anime.

Como estão todos no purgatório, não tem como ninguém morrer realmente. Nem matar o anjo. Então pelo que eles lutam? Por objetivos para minar o poder do anjo da escola e poderem ter uma vida de boa na lagoa.

Isso porque a escola não é composta apenas por adolescentes humanos mortos, mas também pelo que eles chamam de "NPCs", que não são pessoas de verdade e sim simulações de pessoas que estão ali apenas para fazer volume e se comportam como NPCs de videogame: seguem sua programação básica, mas ignoram eventos muito bizarros que acontecem ao seu redor. Isso quer dizer que os "alunos" da escola comparecem a uma apresentação do clube de música porque isso está na apresentação, mas ignoram tiroteios e explosões porque isso não está no programa (é uma escola japonesa, não americana, afinal).


Os membros da resistencia acreditam que se puderem destituir o poder do anjo (que nesse mundinho de fantasia é a presidente do conselho estundil) na ficção, vão bugar a Matrix e vai dar bom pra eles. Essa é meio que toda explicação que tem, não vai muito além disso realmente. Então os ataques ao anjo vão desde tiroteios (pq vai que funciona dessa vez, né?) até planos mais... exóticos, como sabotar as provas dela para ela perder o cargo de presidente do conselho estudantil

Depois de explicar a premissa mais anime que você ouvirá na sua vida, a pergunta que tem que ser feita é... e aí, é bom?

Sim e não. Angel Beats! faz algumas coisas muito boas, outras pavorosamente ruins. E como hoje é um bom dia, vamos começar falando de coisa boa sem fazer piadinha com a Tecpix porque ninguém mais lembra disso mesmo.

Em primeiro lugar, as histórias das vidas passadas dos personagens e de como eles morreram são boas. Eu quero dizer realmente boas ao ponto que o que mais me encomodou nesse anime é que nem todos os personagens tem suas histórias de vidas terrestres contadas, porque puta merda como são boas. É absolutamente absurdo como o anime consegue no mesmo bloco contar uma história belíssima de partir o coração e escorrer lágrimas... e na cena seguinte mostrar cenas de comédia fisica que parecem saídas dos Loney Toones. Tem coisas que só os animes fazem por você.

O padrão de escrita das vidas passadas dos personagens é bom mesmo, coisa nível The Last Odyssey de bom.

O humor fisico do anime é bastante bom, e o diretor Seiji Kishi (Persona 4: The Animation) tem um timing ótimo para fazer pancadas que são altamente satisfatórias de se ver em animação. Como os personagens são efetivamente imortais, ele tem carta branca para dirigir praticamente um episódio de Tom e Jerry, e não desperdiça isso. São trapalhadas muito gostosas de se assistir.


A música... é. Eu diria que definitivamente, é. Porque enquanto a música do anime é mais do que decente, parte de mim sentiu que foi um truque para tirar mais dinheiro do show. Alguns dos primeiros episódios focam em uma banda chamada Girls Dead Monster, que toca música como uma espécie de distração para os NPCs. No entanto, eles não são centrais para o enredo e fica muito na cara que estão ali apenas para lançar singles e vencer CDs, o que passa uma sensação de cash-in barato para aproveitar a onda de sucesso de K-ON que estava bombando um pouco antes disso.

Agora, a parte mais divisiva do anime é sobre a explicação do que REALMENTE está acontecendo ali, quem REALMENTE é o anjo e qual o verdadeiro proposito daquele purgatório.

Tematicamente, Angel Beats é um olhar fantástico sobre o que é ser um adolescente. A adolescência é aquela época terrível em que você acha que nunca vai morrer, mas também está em sua maior vulnerabilidade emocional. No caso de Angel Beats, isso é literalmente verdade. Os membros da resistencia não podem morrer e, portanto, o perigo físico significa pouco. No entanto, ao mesmo tempo, é a emoção crua que os impulsiona - a traição que eles sentem por ter levado uma vida tão terrível no passado e agora enfrentam a obliteração (na forma de reencarnação) no final dela. Além disso, como adolescentes, eles se rebelam contra a autoridade, convencidos de que não são apenas os mocinhos, mas também que eles sabem melhor do que a dita autoridade (neste caso, Deus, o Anjo e a escola do purgatório).

Conceitualmente, 10/10. Na execução, no entanto, o anime se atrapalha bastante.

O autor Jun Maeda (Air, Kanon e Clannad) tem como marca registrada suas históris sobre um bando de garotas do ensino médio mentalmente e/ou fisicamente quebradas que se apaixonam por um cara cuja única característica significativa é que ele está lá. E ao longo do caminho uma dessas garotas vai morrer de uma doença misteriosa. Para Angel Beats essa última parte foi adiantada, já que todo mundo começa a história tendo morrido, mas fora isso a formula esta lá.



O principal problema é que a história não fornece motivos muito sólidos para que um grupo de crianças atire nos joelhos de uma garotinha (no caso, o anjo). Nunca é dada uma explicação realmente boa para o porquê eles estão lutando contra o anjo e porque ninguém nunca tentou apenas falar com ela - porque quando o protagonista-kun decide fazer isso, os resultados são altamente positivos.

Sério, o grupo de resistencia tem tipo umas 30 crianças ali, NINGUÉM tentou apenas falar com ela e chegar a algum tipo de acordo ou mesmo explicar a verdadeira natureza da situação ali? Porra, aí é forçar a amizade, né Zé?

No começo essa premissa até funciona, e eles fazem com que ela seja praticamente uma versão loli do Exterminador do Futuro (eeeee Japão), mas tão logo o protagonista-kun começa a protagonizar com ela, todo o conflito parece tremendamente estúpido.

O conflito simplesmente não faz sentido depois de determinado ponto, ao que o anime parece ter ciencia porque substitui o inimigo por outro... e fica muito a impressão que eles estão inventando conforme vão gravando, porque o "novo inimigo" parece MUITO improsivado e corrido. Essa sendo uma produção original (e não uma adaptação de nada), tem bastante cara de que alguma coisa descarrilhou na reta final criativa para esse anime. É o velho problema da Netflix de querer substituir o vilão no meio do caminho (aha! Vocês não esperavam essa) e não dar certo então eles tentarem voltar mas não tentarem muito... enfim, é uma bagunça.

Então eu diria que enquanto as explicações sobre o que está acontecendo ali e quem é o anjo são, de fato, interessantes e te fazem querer assistir o anime para saber as respostas, ao mesmo tempo elas causam menos uma sensação de "uau, que boa sacada!" e mais de "não, espera, isso não tá fechando...". Não é a minha primeira escolha para uma reação, saiba você.


Angel Beats é uma série de 13 episódios que é difícil de recomendar, mas também não dá para dizer que é ruim. Tem cenas tristes genuinamente bem escritas, tem um elenco divertido de personagens, tem boa comédia fisica e lida com temas interessantes.

 Não é sem falhas, entretanto. Além do anime não ter tempo para a maior parte do elenco (eu ralmente queria um episódio sobre o TK, "yo, sending kisses"), a execução do tema principal é problematica e te faz fazer as perguntas erradas para a proposta da série. Suponho que um formato de 24 episódios ou uma visual novel (que é a especialidade de Jun Maeda) teria sido mais adequado, mas enfim, 13 episódios é o que a casa oferece.

P.S. Eu não chorei. 
P.P.S. Eu menti.

ANGEL BEATS!
13 episódios
2010









[ANIMES] ANGEL BEATS! (ou a tese do anjo waifu)

THE STORY SO FAR: Se tem algo que me interessa, é uma obra que necessariamente precisa ser contada na mídia para a qual ela foi pensada. Spec Ops: The Li...
POSTADO EM:segunda-feira, 29 de abril de 2019
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[ANIMES] WATAMOTE (ou é minha culpa que eu não sou popular)

| sábado, 27 de abril de 2019
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Eu nunca fui um grande fã de Procurando Nemo, não apenas porque o filme não funciona em coisas básicas que eu sinto que deveria funcionar - o que é assunto para outro dia, btw - como sempre teve algo nesse filme que me incomodava profundamente. Eu nunca soube dizer o que era exatamente, apenas estava lá. Tal qual o Valdemar, algo ruim que eu não sabia nomear.

Foi só quando eu assisti Procurando Dory que caiu a ficha sobre o que era o incomodo misterioso de Procurando Nemo: Dory é tratada como um alivio cômico porque é super engraçado rir da retardadinha e... espera, o que? Não, espera, isso está muito errado. As "piadas" do filme são basicamente sobre tirar sarro de uma pessoa (peixe, no caso) com uma debilidade mental tão profunda que ela sequer consegue ter uma vida normal.

That's not funny. That's super sad.

Ainda sim todos nós rimos da Dory porque pisar em quem está caído é um códigos de programação fundamentais do ser humano (e o que faz o bully ser tão recompensado socialmente), e a verdade é que a maioria das pessoas sequer reparou nisso - o que é normal, eu é que sou o estranho por ficar me incomodando com coisas assim.

Mas caso você não tenha pegado a lição na primeira vez, nada tema porque eu te apresento Watashi ga Motenai no wa Dō Kangaetemo Omaera ga Warui! (ou "Não importa de que forma você coloque isso, é sua culpa que eu não sou popular"), abreviado como Watamote porque, né?


Watamote é sobre a garota menos popular do mundo, Tomoko Kuroki. Ela não tem nenhum amigo e passa o dia jogando dating sims largada por aí sem sair do quarto, ou apenas matando tempo de alguma forma.




Ela pretende mudar isso agora ao começar uma nova vida no segundo grau. Afinal, já tendo terminado mais de 50 otome games, ela certamente sabe tudo que precisa saber sobre como ser popular, certo?

Err... certo?

Bem, certamente Tomoko vai aprontar altas confusões em suas tentativas malucas (e frustradas) de ser popular e isso vai ser super divertido de assistir porque, hey, ela é doidinhaaaaaa uhu... certo?

Oh, fuck...
Ok, eu vou dizer agora algo que vai deixar todos super surpreendidos: eu não entendo muito sobre garotas. Oh, chocante, eu sei. De fato, eu sou tão loser que a primeira vez que eu tive uma conversa de verdade com uma garota foi com 17 anos. No shit, Jose. Então, bem, de forma pouco surpreendentemente eu não faço a menor ideia do que faz uma garota ser popular ou deixar de ser. Da forma com que eu cresci vendo as coisas, tudo que uma garota precisa fazer para ter uma vida social é estalar os dedos e escolher entre uma das dezenas de opções que se estapearem para se apresentar a ela nos quinze segundos seguintes.

Enquanto isso pode não funcionar exatamente assim na vida real, não é uma visão tão distante assim da visão pedestalizada que o publico alvo de anime tem. Então a primeira pergunta que tem que ser respondida por esse anime é: porque Tomoko não é popular? Ela é uma garota, o que mais precisa?

Bem, essa é uma questão que é abordada com muita competencia pelo anime tal que mesmo os otakus mais crentes que a vida das meninas é um eterno easy mode vão compreender os defeitos de Tomoko.

Ela é toda esculhambada.


E eu digo isso no sentido mais estético da palavra mesmo: ela tem olheiras grosseiras (que não são fofinhas fora do mundo maquiado da TV), parece que está sempre suja e em mais de uma ocasião é dito que ela fede. Pouco surpreendente, ela não veste o uniforme de colegial com tanta graça quanto os animes levam a crer que automaticamente acontece:


Esse é um ponto muito importante que a série estabelece logo de cara: Tomoko não é a sua waifu, ela não é a sua loli. Não importa o quão desesperado você esteja (e considerando o publico alvo de animes, eu diria que muito), você não esta tão desesperado assim. É mais ou menos o equivalente quando o Doutor disse para a Clara logo no primeiro episódio do Capaldi "Eu não sou o seu namorado", ele estava deixando uma mensagem clara para o publico que esse seria um território ao qual não iremos.

Mas mais importante do que a sua aparência ou sua evidente falta de higiene pessoal, existe um motivo maior pelo qual ela não tem amigos: ela não é uma pessoa muito agradável.

Como muita gente que tem transtorno de ansiedade pode confirmar (inclusive eu), não é raro esse sentimento vir anexado a um outro bastante curioso: o efeito "a raposa e as uvas". Sua inabilidade social e incapacidade de estabelecer qualquer contato humano eventualmente se transforma, como uma ferramenta de autopreservação, em uma opinião de "ah, nem queria mesmo".

Tomoko, por exemplo, queria mais do que tudo na vida ser uma garota popular. Mas como ela não consegue, então as garotas populares são vadias e ela que não quer se rebaixar a este nível. Embora ela faria isso se pudesse. E não que ela não tenha tentado.



Ser "diferente" por um lado te faz se sentir superior as outras pessoas, e em mais de uma oportunidade ela ostenta (para si mesma, quem mais ouviria?) o quanto ela se acha melhor do que os outros por não fazer as mesmas coisas da mesma maneira. Por outro lado, ela se sente tão inferior aos outros que frequentemente admite que ela é a pior pessoa do mundo. Pode parecer estranho para alguém que não esteja na situação dela que uma pessoa consiga ser arrogante e sem autoestima nenhuma AO MESMO TEMPO, mas eu posso te garantir que isso é bem mais factível do que a ideia soa.

Essa dualidade da personagem é fantasticamente exemplificada pela abertura do anime, que faz um trabalho muito bom de demonstrar isso:


Na música, a voz masculina representa o lado depressivo e sem autoestima de Tomoko, enquanto o vocal feminino fala da sua arrogância e do quanto os outros é que são imbecis por não verem a pessoa adorável que ela é.

Como diz o titulo do anime, não é culpa dela que ela não seja popular. Embora seja, e ela saiba disso. É complicado, mas é assim que funciona.

A música de encerramento também reforça essa ideia de dualidade, com o diferencial que ela é cantada pela própria Tomoko e se você reparar ela canta com um tom de desespero na voz, aquele tipo de desespero bastante especifico de quem está quase rindo de tão desesperada que se encontra - a um passo de surtar de vez e cometer alguma loucura.



Desesperada, ela praticamente implora que alguém a ajude ou que pelo menos a situação que ela esta seja culpa de outra pessoa, porque é demais admitir que esse atoleiro de merda e solidão seja inteira e exclusivamente culpa dela. TEM que ser culpa de outra pessoa, não é? NÃO É? DIZ QUE É, POR FAVOR!

No fundo ela sabe que não. A situação de Tomoko é tão desesperadora que o grande clímax emocional da série é quando ela se desmancha em chorar porque recebeu um abraço de um desconhecido. O quão triste e desesperador isso é?

Essa... é uma lógica que eu posso respeitar


Mas, espera um pouco. Eu aqui falando dessas coisas super tristes e depressivas, e sérias e tal... mas se você já ouviu falar de alguma coisa a respeito de Watamote sabe que esse anime é uma comédia, certo?

É, então... sobre isso, é aqui que o efeito "Procurando Nemo" entra. O anime gira em torno das traquinagens de Tomoko para se tornar popular... ou ter um namorado... ou mesmo um amigo... ou até ser molestada no trem está valendo, pq pelo menos isso significa que alguém acha ela atraente. Sério.

 Nesse ultimo caso, quando ela finalmente consegue o que quer, quando ela sente aquele cutuco na porta dos fundos em um trem lotado, ela obviamente se dá conta que teve uma ideia muito, muito, muito ruim e entra em pânico. Tanto que ela não consegue nem respirar ou pedir ajuda. 

O trem então para de repente e os passageiros começam a sair, ao que Tomoko então percebe que o objeto era simplesmente uma espada de kendo pertencente à garota atrás dela. Oh Tomoko, você é tão hilária em suas travessuras! Ué, o que foi? Não pareceu engraçado pra você?

Pois é, esse é o nível de humor de Watamote.



Em outra gag, Tomoko vai ao Mcdonnalds e acaba gastando todo dinheiro que tinha porque a atendente entendeu o pedido dela errado e pegou um mais caro, e como ela não consegue falar com as pessoas devido ao seu transtorno de ansiedade, ela não consegue corrigir a atendente. Sério, se eu ganhasse um Big Mac por cada pedido que eu já comprei errado por não conseguir falar com a atendente que entendeu errado ... eu estaria morto porque é o que acontece se eu ficar mais gordo do que eu já estou agora.

Com efeito, nesse episódio ela está indo no Mcdonnalds (sozinha, é claro) como auto-premio por uma conquista social:ela resmungou alguma coisa ininteligível quando o porteiro do colégio desejou um "até amanhã" automático. Uau, Tomoko, pare, você está me matando de rir!


Claro, algumas cenas são genuinamente engraçadas como quando ela pensou que espirrar refrigerante em si mesma era algum tipo de simpatia que a deixava mais atraente (porque todo mundo passou a trata-la diferente... só que ela não percebeu que era porque estava cheia de formiga), mas o tom geral do anime é sobre Tomoko tentando algo diferente ou criativo para sair do buraco que sua vida se encontra, apenas para falhar miseravelmente da forma mais constrangedora possível. Ela é praticamente um Sakamoto reverso!

Verdade que na maioria das vezes ela causa os próprios problemas que explodem na cara dela, mas se alguma coisa ao menos ela está realmente tentando, esta fazendo seu melhor esforço e está falhando miseravelmente.


A este ponto você pode estar pensando que tem algo errado aí. Ok que ela não seja imensamente popular, mas não tem nenhuma alma viva que perceba a situação precária que essa menina se encontra? Bem, ter até tem. Mas se você já percebeu um tema aqui, isso só torna a coisa mais deprimente ainda.

Em primeiro lugar, os pais dela são completamente ausentes. O pai dela - que aparece uma única vez - trabalha demais e até tarde (o que é um problema recorrente na sociedade japonesa) e a mãe é completamente despreparada para lidar com os problemas da filha. Para ela, Tomoko é só uma adolescente preguiçosa e isso é uma fase que vai passar. Ela ainda tem uma única amiga, remanescente dos tempos de ensino primário, mas esta está sempre ocupada com sua agenda social lotada entre amigas e namorado e raramente tem tempo para Tomoko - a quem ela é totalmente ignorante dos problemas também.

A única pessoa que realmente ouve ela é o seu irmão, embora não tenha muito que ele possa fazer. Ou queira, já que é ele que é acordado no meio da noite quando sua irmã no quarto ao lado fica chorando até dormir ou apenas falando sozinha. Deus, eu já disse como esse anime é hilário?



Em resumo, a ajuda não vira de nenhum lugar e, enquanto o anime não acompanha o manga até o final, é fácil deduzir que ela vai evoluir para uma hikikomori completa ou mesmo se suicidar. Considerando as estatísticas do Japão, onde o suicídio é a principal causa de morte entre mulheres de 15 a 34 anos, não é difícil imaginar como essa história termina.

Então, você pode mais uma vez se perguntar - e eu elogio a sua eloquência mental depois de tantas perguntas - se Watamote tem algum ponto senão ver Tomoko levando bicudas da vida enquanto ela já está caída e chorando e implorando por ajuda. A resposta é não. Não realmente, o anime é meio que  isso e deu.

O "conversar com um cara gostoso" foi responder dizendo que ela soltar um cagão quando o cara que ela estava secando deu um "oi" educado para ela. Ah, Tomoko...

Dizer que Watamote é um anime incomodo de se assistir é o cumulo do eufemismo, mas sabe de uma coisa? Talvez seja melhor assim. Incomodo as vezes é bom, incomodo faz você pensar e refletir. Então, que lição EU tirei disso? Valorize seus amigos, suas namoradas(os), os familiares que perguntam genuinamente como você está.

Mas, acima de tudo, valorize o fato que adolescência já passou. Agora, se você ainda está nela, eis meu conselho: aguente firme, porque vai piorar muito antes de melhorar. Não que você devesse ouvir conselhos de alguém que se identifica tanto com a personagem mais impopular dos animes, claro.

[ANIMES] WATAMOTE (ou é minha culpa que eu não sou popular)

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POSTADO EM:sábado, 27 de abril de 2019
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[FILMES] AVENGERS: ENDGAME (ou i love you 3000)

| quinta-feira, 25 de abril de 2019
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Em 25 de dezembro de 2017, Steven Moffat tinha um problema.

Como, exatamente, você escreve um episódio de despedida para o melhor Doutor de todos os tempos depois de ter escrito o melhor Doutor de todos os tempos, de ter escrito a série durante seis anos e de já ter escrito o episódio perfeito de Doctor Who? (Heaven Sent, que qualquer pessoa minimamente decente concordará comigo, é claro ).

Então como você se despede para sempre de uma coisa que você amou fazer durante tanto tempo? Você tenta superar a perfeição? Você tenta ousar algo novo aos 45 minutos do segundo tempo da final do campeonato? Como, exatamente, você não desaponta os fãs e nem a si mesmo?

A última impressão é a que fica, afinal (sim, Darling in the Franxx, estou olhando para você!)


Cyber Amy azul e seu coelhinho. Touch me harder. Heh hehe hehe heh.

[FILMES] AVENGERS: ENDGAME (ou i love you 3000)

THE STORY SO FAR:   Em 25 de dezembro de 2017, Steven Moffat tinha um problema. Como, exatamente, você escreve um episódio de despedida para o melhor ...
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[ANIMES] OTAKU NO VIDEO (ou vencedores não usam waifus)

| terça-feira, 23 de abril de 2019
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Este homem de jaqueta amarela sentado na sarjeta com outros iguais a ele, mendigando por células de acetato para sustentar o seu vício é Ken Kubo. Como tantos outros nesse submundo cão, Ken não tem emprego, não estuda, não tem namorada nem amigos fora desse mundinho fechado. E provavelmente parou de tomar banho enquanto a União Soviética ainda existia.

Esta triste figura é Ken Kubo, mas não é tudo que ele sempre foi. A não muito tempo atrás, Kubo era um jovem saudável e brilhante da sociedade japonesa. Estudava em uma boa universidade, tinha uma bela namorada e tinha atividades saudáveis, como participar do clube de tenis da sua faculdade. Como um homem em posição tão invejável terminou na sarjeta, mendigando favores de traficantes de células de animação? Bem, não é uma história bonita.

É uma história trágica, porém nem um pouco fictícia. Este é Otaku no Video, um documentário da Gainax sobre o fundo do poço da sociedade japonesa, algo com que mesmo os cracudos não ousam mexer: este é o mundo dos Otakus.


O ano é 1982 e como muitos que se perdem nessa vida, a tragédia de Ken começa devido as más companhias. Um antigo amigo do colegial oferece um inocente fanzine e, forçado pela pressão social de momento, ele acaba cedendo. 

"Diga não a primeira fanfic" é uma lição que todos sabemos, mas naquela época as campanhas do governo ainda não haviam nos preparado para nos defendermos destes agentes. Kubo foi uma vítima, mas isso não seria tudo que ele sempre seria.


No começo pareceu algo inocente, apenas recreativo. Aprender sobre programas de TV antigos, sobre nomes de armas militares e idiomas que só existem na ficção, que mal pode haver nisso, não é? Sua namorada não ficou preocupada a principio.

Porém ela percebeu que, com o passar do tempo, seu novo "hobbie" passou a tomar mais e mais tempo de Ken. De repente ela percebeu que ele estava engordando um pouco. Na outra semana ele tinha desistido de fazer a barba e, quando ela menos percebeu, as olheiras de quem passava noites em claro eram parte permanente do seu visual agora. 

Para propósitos de fidelidade cronológica, este documentário é marcado pelos fatos históricos ocorridos simultaneamente a derrocada de Kubo e que podem ou não estarem relacionados a este caso. Os senhores são os juízes, não eu.


Muitas familias e intimos de otakus reconhecem que o seu ente querido tem um problema, mas se recusam a admitir isso. Por vergonha, por culpa. "Será minha culpa que ele prefere lolis? Eu não sou uma namorada boa o suficiente?", uma namorada pode se perguntar. Não é sua culpa, mas será se você não procurar ajuda.

Muitos jovens acabam entrando no mundo do cosplay para impressionar uma otome, achando que podem  parar a hora que quiserem. Ou pegar ela. Nenhuma dessas duas coisas jamais será verdade.


Eventualmente, era inevitavel que Ken tentasse arrasta-la para este submundo sem volta e a garota tinha que fazer uma escolha. Ela escolheu a vida (social). Sempre diga não a primeira shipagem.

Otaku no Video é o triste trajetória de um jovem cooptado pelo mundo dos animes, entrecortado por depoimentos comoventes (e verídicos) de consumidores pesados da cultura de animes. Para preservar sua identidade e a pouca dignidade que os resta, estes depoentes tem sua voz digitalmente modificada e seu rosto protegido por mosaico.




Quanto a história de Ken Kubo, os dois vídeos que compõe este documentário ultra jornalistico e totalmente sério cobrem toda sua história de vida, como ele chegou ao fundo do poço que mesmo os otakus mais inveterados temem ir - o mundo dos garage kits...



... e de como lá ele sairia para renascer como um perigoso barão das garotinhas de plástico. O Pablo Escobar dos otakus, Ken Kubo renasceria para ser mais do que um simples otaku, ele seria o rei dos otakus! Esta também é a história de ascenção e queda e ascenção de novo do Otaking.


Uma história de ambição, traições, drama e perdão. Um documentário que também é uma saga épica sobre o mundo que existe nos confins da sociedade. Um mundo que poucos conhecem, e do qual ninguém jamais voltou.




Ninguém.

Esse é Otaku no Vídeo.

[ANIMES] OTAKU NO VIDEO (ou vencedores não usam waifus)

THE STORY SO FAR: Este homem de jaqueta amarela sentado na sarjeta com outros iguais a ele, mendigando por células de acetato para sustentar o seu víc...
POSTADO EM:terça-feira, 23 de abril de 2019
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[ANIMES] DEVILMAN CRYBABY (ou eu não estou chorando, você é que está!)

| domingo, 21 de abril de 2019
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É muito fácil olhar para os animes e mais frequentemente sim do que não pensar que esses japoneses doidos não tem limitação alguma e que eles podem colocar qualquer merda que vier na cabeça deles em uma animação - ao contrário das animações ocidentais que tem que cortar um dobrado para não ofender os valores da família tradicional bolsominion.

Obrigado por ilustrar meu ponto (e me traumatizar para a vida toda), Eromanga-sensei
Exceto que... não é assim que funciona. Não realmente.

Enquanto PARECE que os animes podem fazer absolutamente qualquer merda e se safar com isso...

Obrigado por arruinar meu ponto (e minha fé na humanidade), Eromanga-sensei
... na verdade os animes tem que trabalhar dentro de limites muito bem definidos de nicho. Mesmo que esses limites sejam "minha irmã de 9 anos é isolada do mundo e se tranca no quarto e eu vou fazer tudo que eu puder para que ela continue assim para sempre só para ela ser minha waifu e só minha"... deus esse anime é tão errado... tão errado... mas enfim, os limites estão lá codificados, tipificados, especificados.

Um anime tem que lidar com as limitações muito especificas do seu nicho particular e as limitações da sociedade japonesa. Pode parecer que não tem nenhuma, mas pense nisso: se for julgar só pelos animes, adolescentes japoneses não namoram (no máximo gostam de alguém mas não é como se fossem admitir nem nada, baka!), não tem problemas de gravidez na adolescencia ou nenhuma duvida muito complexa sobre seu lugar na sociedade. Talvez você não querer apenas ir direto do colegial para a faculdade e daí para trabalhar na mesma empresa a vida inteira (provavelmente a mesma que seu pai trabalha) não seja um problema para os adolescentes japoneses? Talvez eles não sintam solidão, duvida ou uma crise profunda de niilismo neste mundo sem valores definidos?

Não tem NADA sobre o que os artistas queiram falar?



De alguma forma, eu acho isso bem pouco provável.

Não existe rap no Japão? Sabe, a coisa de jovens que querem transformar as mazelas que eles veem todo dia em música? Não existem punks? Não existe gente tão perdida que se perde nas drogas? Então porque não vemos animes sobre isso nenhuma dessas coisas, afinal?

Pois é, quando você pensa sobre isso, percebe que os criadores de animes não tem liberdade para fazer o que eles bem entenderem. Mesmo que eles possam fazer meninas de 9 anos que gostam de baixar a calcinha de outras meninas de 9 e lamber suas partes apenas porque sim.


Mas... e se eles pudessem? E se eles tivessem a liberdade de fazer um anime tão subversivo, tão questionador que coloque o dedo na ferida da sociedade e questione porque nós fazemos o que nós fazemos? Da onde vem as "verdades" que "todo mundo" sabe? O que nos define como seres inteligentes e o que é necessário para perder isso?

Um anime que fosse sobre o verdadeiro espirito do Hip Hop e de fazer as perguntas que realmente importam. Um anime que pudesse usar toda violencia, sexo e poder de choque que só uma animação pode oferecer para provar seu ponto. Em outras palavras, um anime que fosse arte.

Não que os japoneses não queiram fazer isso (muita da gente que trabalha com animes são artistas em sua definição da palavra), mas eles apenas não podem. Se eles fizessem algo tão pesado, tão visceral, profundo, não venderia DVDs o suficiente, (certamente) não passaria na TV e certamente não venderia mangas ou light novels.

Mais facil apenas continuar com a boa e velha industria de lolis mesmo, todo mundo tem boleto para pagar no fim do mes - mesmo os japoneses.

Ok, acho que essa não é uma cena de Eromanga-sensei...

Mas... e se eles não tivessem que se preocupar com isso? E se uma empresa completamente de fora dessa cultura lhes dessem um cheque em branco para eles fazerem o que bem entenderem, serem tão artisticos quanto quiserem ser, serem tão crus quanto puderem ser? E se alguém pagasse por um anime para maiores não porque tem violencia ou sexo (embora tenha isso também), mas fosse sobre temas verdadeiramente adultos?

Você pode argumentar que, em uma industria que dá tão pouco dinheiro em um país em recessão a mais de 30 anos graças ao seu maravilhoso governo, ninguém é louco de investir dinheiro nisso. O que é verdade. Animes assim não existem não porque os japoneses não querem, mas porque o negócio não funciona assim. Quando seu publico é basicamente composto por adolescentes e adultos com mentalidade de adolescentes, você não pode ir tão mais longe de peitos e poder de luta do que Steven Universe pode ir com não heteronormatividade. Existe limites de até onde você pode ir.



A não ser que alguém completamente de fora pague a conta.

E é aqui onde a Netflix entra. A Netflix, em seu departamento de animações, tem o melhor dos dois mundos: animações japonesas são extremamente baratas de fazer comparadas com animações ocidentais, então para os padrões japoneses a Netflix gasta um dinheiro com animes que eles não poderiam sonhar em seus sonhos mais loucos. Para a Netflix, por outro lado, uma temporada inteira de anime é tão barato que dá 2 ou três episódios de Castlevania ou Volton. Todo mundo ganha.


Com um diferencial: a Netflix não segue as regras da sociedade japonesa. Ou dos otakus. Ou de ninguém. Eles literalmente tem que ter conteúdo para todo mundo, então eles não tem regra a não ser que seja algo relevante, seja bom, seja algo que faça diferença.

Então eles literalmente ofereceram um saco de dinheiro para animadores japoneses (ou troco de pinga, da perpectiva ocidental) fazerem basicamente aquilo que eles sentiam que precisavam falar.

E é assim que nasceu Devilman Crybaby.


E a escolha de adaptar Devilman não foi nem um pouco aleatória. Devilman é um manga de 1972, e não apenas qualquer manga: é um dos mangas mais importantes de todos os tempos e que nunca tinha tido um adaptação em anime a altura. E porque Devilman é um manga tão importante? Porque ele é um dos primeiros mangas (se não o primeiro, certamente o primeiro a ser relevante) sobre desconstrução de genero.


Dude, é anos 60, pega leve

A história é sobre um garoto chamado Akira Fudou que descobre um demonio preso no gelo e, para salvar a Terra dos outros demonios, se funde a ele e ganha poderes de Devilman para combater o mal. Como todos os manga shounen na face da Terra, não? Bem, é isso que seu autor Go Nagai quer que você pense inicialmente... para então abordar isso de uma forma diferente.

Fudou ganha poderes para derrotar o mal... o que é o mal? Ele ganha poderes de um demonio para enfrentar outros demonios e proteger a humanidade, mas porque exatamente a humanidade tem mais direito a existir do que os demonios? Se eles são seres inteligentes e capazes de sentimentos (embora diferentes dos nossos) ao invés de ser apenas uma poça de maldade encarnada, porque eles são tão maus assim? Porque nós somos tão bons? E só não somos, então o que nos dá mais direito?


Adicionalmente, Akira não é seu tipico herói shonen que luta pela amizade e pelos discursos. Ele é um humano lutando contra um demonio dentro do seu corpo que tenta tomar o controle o tempo todo, então isso acaba influenciando sua personalidade de formas não-bonitas as vezes.

Go Nagai usa de violência e gore PRA CARALHO no seu manga (sério, não é para os de estomago fraco), mas não porque ele é um safadão que quer chocar por chocar. Ele quer provar um ponto. Ele quer contar uma história que só pode ser contada usando violencia e sexo PRA CARALHO. É tipo Clube da Luta dirigido pelo Tarantino.

Pra um manga dos anos 60, Go Nagai explodiu cabeças. Tanto que quando a Toei adaptou para anime, nos anos 70, eles tiveram que fazer uma versão beeeeeem family friendly com Devilman sendo só um cara que se transforma e derrota o monstro do dia.



Pois é. Aí está o seu "ai anime pode tudo".

Go Nagai precisou esperar cinquenta anos para ver sua obra animada fielmente. E, pelas coxas de Rikka depois de um dia de academia, valeu cada segundo da espera.


Se tem alguma coisa com que eu posso comparar Devilman Crybaby, é com Nier Automata. Não, não tem nenhuma androide de lingerie, embora tenha mais sexo do que você verá em qualquer anime não-hentão na sua vida. Não, o meu ponto não é esse e sim que Devilman Crybaby é um anime sobre o que nos faz ser humanos, sobre o nosso melhor e nosso pior.

Nenhuma outra espécie nesse planeta é capaz de ir a extremos tão diferentes. De alguma forma os seres que conseguem fazer um telescópio do tamanho de um planeta para tirar uma foto de um buraco negro, que inventaram os cachorros, são a mesma espécie que inventou religiões e formas desnecessariamente elaboradas (e lentas) de tortura. Nós podemos a coisa mais incrível do universo e ao mesmo tempo a mais abjeta. E Devilman Crybaby, assim como Nier Automata, é um anime sobre isso.



Sobre homens que são como demonios, e demonios que são como homens. E Deus que é sempre um cuzão porque essa é a única conclusão moral lógica da existencia de um Deus. Sobre porque as pessoas são como são e como a sociedade REALMENTE funciona. É um anime sobre música eletronica sem sentido e rap que vem do fundo da alma mas ninguém ouve. Isso tudo em uma animação que não está preocupada com nada senão ser apenas arte e com toda dose de violencia e sexo que essa história VERDADEIRAMENTE PRECISA para ser contada (e não apenas porque vai atrair otakus punheteiros).

Devilman Crybaby é tudo aquilo que os animes não podem ser.




Apenas para encerrar, eu gostaria de falar dessa cena em particular. Normalmente eu não faço isso, mas esse em particular - a cena pós créditos do penúltimo episódio - é um dos momentos os mais pungentes dos animes de todos os tempos, e um que verdadeiramente me fez chorar como um bebê (o título do anime faz sentido agora) e eu gostaria de expressar porque. Spoilers adiante.

A parte mais bonita a respeito dessa cena é que, como todos os sonhos, ela é uma mentira. A composição eletronica interpolada, o fundo dourado sedutor, a letra retitiva que parece uma canção de ninar, esta cena não é nada senão um sonho.

Logo antes dessa cena o episódio termina com Miki sendo brutalmente assassinada por humanos (não demônios), toda essa sequencia é apenas um sonho de Akira que jamais vai se tornar realidade. E essa, paralelamente, também é a reprodução mais fiel possível da condição humana.

Vivemos em um mundo onde a paz é literalmente impossível. Existimos em uma realidade cruel de recursos limitados onde cada forma de vida só consegue existir tirando algo muito importante de outra. Seja alimentos, seja atenção, seja liberdade, a natureza é um grande jogo de soma zero. Ergo, se Deus existe ele é um cuzão incomensurável. A paz é impossível, já que a violência é a única forma de existência possível nesta realidade.


Porém... isso não nos impede de tentar. Mesmo que seja temporário, mesmo que seja apenas durante alguns anos, mesmo que seja apenas por uma noite. A paz é um sonho impossível, mas é um sonho agradável, e a luta por uma paz temporária é uma luta digna de sacrifício. Essa cena representa justamente isso, com Akira sonhando com um mundo onde ele e Miki podem ficar juntos. É só um sonho, claro, mas por essa noite terá que servir.

Como a letra da música diz "apenas essa noite, me permita dançar". Amanhã será um dia terrívelmente dificil, mas esta noite, apenas esta noite me deixe sonhar. Lá fora o mundo é um lugar horrível e cruel, onde os fracos são estraçalhados e seus nomes esquecidos. Mas isso não nos impede de tentar fazer com que a vida seja agradável, não importa se seja apenas por uma noite, não importa se seja apenas por algumas horas. É uma mentira, claro. Nós fazemos o melhor que podemos, mas no grande esquema das coisas a bondade e o amor são apenas uma mentira que dura tanto quanto um sonho. 

Mas esta noite, apenas por esta noite, este sonho é tudo que temos.

Devilman Crybaby, senhoras e senhores.


[ANIMES] DEVILMAN CRYBABY (ou eu não estou chorando, você é que está!)

THE STORY SO FAR:   É muito fácil olhar para os animes e mais frequentemente sim do que não pensar que esses japoneses doidos não tem limitação alguma e q...
POSTADO EM:domingo, 21 de abril de 2019
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[FILMES] HOMEM FORMIGA E A VESPA (ou apenas ok na hora certa)

| sexta-feira, 19 de abril de 2019
... TO BE CONTINUED »


Uma coisa que eu tenho feito ultimamente é tentar entender porque as coisas são feitas. Porque um autor escreve uma história, porque um game designer faz um jogo, porque o Michael Bay explode coisas. Muitas vezes você me viu falando aqui sobre "sobre o que isso é realmente", e enquanto nem tudo é sobre metaforas, é sempre sobre alguém querendo chegar em algum ponto.

As vezes esse ponto é apenas porque vai dar dinheiro (e esses tendem a ser bem esquecíveis, como os filmes do DCEU), as vezes é porque o The Rock tava afim (e esse é um motivo mais do que suficiente). Então, isto posto, Homem Formiga e a Vespa é um filme sobre absolutamente nada em especial - o que implora a questão: porque esse filme existe, então?

Enquanto a Marvel não faz filmes para perder dinheiro, esse também não foi feito para arrecadar insanamente. Quer dizer, o Homem Formiga não é o Vingador favorito de ninguém, nenhuma criança se veste de Homem Formiga na sua festa de aniversário e, de todas as coisas legais que se pode comprar de brinquedos com a estampa Marvel, nenhum acessório do Scott Lang é realmente indispensável na coleção de ninguém.

Como nerd, posso confirmar que o merchandising do Homem-Formiga está na minha lista de prioridades atrás dessa camisa
Então se não é pelo dinheiro, é pela história então que esse filme existe?


Hm, não exatamente... HFeaV, como eu disse, é um filme sobre absolutamente coisa nenhuma. Na trama do filme, Scott Lang está a dois dias de terminar sua prisão domiciliar quando o Dr. Pym o recruta para salvar sua esposa que ainda está perdida no Reino Quantico. Essa empreitada é interrompida pelas tentativas do pior mafioso de todo universo e por uma vilã que não é má realmente. De fato, quase todos os problemas do filme se resolveriam se eles apenas conversassem com calma - o que não acontece porque o Dr. Pym é um baita de um babaca e todo mundo literalmente o odeia o feladaputa.

Mas enfim, é um filme sobre uma missão não tão importante assim (bastava apenas alguem falar que a Vespa original foi resgatada uma hora dessas e seria suficiente, uma unica linha de dialogo substituiria o filme todo) atrapalhada por mal entendidos. Não tem muito mais do que isso, na verdade.



Claro, a Marvel sendo a Marvel, a execução é realmente muito boa. Se o primeiro filme do Homem Formiga deu a sensação de que eles não usaram todo o potencial da coisa do tamanho para boas cenas de ação (exceto pela cena do trenzinho, a melhor cena do filme), aqui eles brincam com isso até se darem por satisfeitos. Com a grande vantagem que a Vespa, ao contrário do Scott Lang, realmente sabe lutar, então temos boas coisas ai. Temos também mais cenas do Luís sendo o Luís, e isso sempre é uma coisa muito legal de se assistir.

Basicamente o filme faz o que o primeiro filme faz só que melhor. No primeiro filme Scott Lang diz o quanto ele se importa com a filha dele, aqui isso é MOSTRADO. Bom, muito melhor. E tudo isso é muito legal de se assistir, mas então, meio que "é, legal" é até onde vai. Não tem um senso de proposito, de urgencia maior. É apenas legal.

A Marvel está numa crescente de qualidade que começou com Spiderman: Homecoming, foi aumentando sua qualidade exponencialmente com Thor: Ragnarok e Pantera Negra até culminar naquele que é (até agora) o blockbuster da década com Guerra infinita. Seria justo então se perguntar porque eles sentiram que precisavam de um filme "é, legal"?

Porque depois de um grande filme, "é, legal" é exatamente o que você precisa fazer.

Permita-me repetir uma coisa que eu disse no texto de Batman V Superman:
No filme do Lego, o Batman diz que só trabalha com preto e as vezes cinza muito, muito escuro. Era uma piada, obvio. Zack Snyder faz disso seu mantra, mas de certa forma é bom porque quanto menos vermos o filme dele mais felizes seremos. O diretor gosta de trabalhar sem com duas tonalidades em todas as camadas, mas não da forma que você pode imaginar. As cenas são barulhentas ou SUPER barulhentas. São escuras ou escuras PRA CARALHO. São verborrágicas sem sentido ou parecem que os personagens injetaram Red Bull com cafeína no coração.
O resultado final é que o filme é exaustivo. Tudo é muito, tudo é demais. Sério demais, sombrio demais, explosões demais. Em duas horas e meia de filme há um único sorriso - que é quando a Mulher Maravilha está lutando. O resto parece a obra de um adolescente revoltando que se acha super maduro e adulto porque chutou um cachorrinho na rua, que acha que ser DARQUIIIIII E DU MAUUUUU é sinal de maturidade.

Em uma cena de Trumbo, o roteirista diz ao diretor que ele não pode escrever todas as cenas para serem épicas e fodas porque então nenhuma cena seria, ao que o diretor responde que as escrevesse assim mesmo - ele filmaria algumas desleixadas para equilibrar. Isso é algo tão básico da narrativa, tão primal que me abisma como diretores profissionais como Zack Snyder e Michael Bay  não consigam entender isso. Um filme tem que ter ritmo, tem que saber a hora de subir e a  hora de descer, tem que ser uma conversa com o espectador e não duas horas e meia de berro na sua cara. Esse homem não entende a coisa mais básica sobre direção.
 Nesse mesmo texto eu fiz uma referencia ao impeachment da Dilma, alguém ainda lembra dela? Pois é, faz tempo... Mas meu ponto é justamente esse. Alternancia é importante não apenas para não cansar o espectador, como para fazer os pontos altos parecerem mais altos em comparação. Então você tem um isso, um filme divertidinho para limpar o paladar - até onde eu lembro, é o primeiro filme da Marvel onde ninguém morre durante o filme, por exemplo.
É absolutamente impressionante que a Marvel tenha se dado ao trabalho de fazer um filme exclusivamente para trabalhar com a percepção geral do publico, esse é o verdadeiro ponto do filme aqui. Esse é o tipo de cuidado com o seu produto (como, por exemplo, o filme necessariamente se passar em San Francisco é mais importante do que você pode imaginar) o que faz não só você está na frente, como continuar na frente. 
Isso, é claro, e a melhor cena pós-créditos de todo MCU. True Story.




[FILMES] HOMEM FORMIGA E A VESPA (ou apenas ok na hora certa)

THE STORY SO FAR: Uma coisa que eu tenho feito ultimamente é tentar entender porque as coisas são feitas. Porque um autor escreve uma história, porque ...
POSTADO EM:sexta-feira, 19 de abril de 2019
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