Tal qual o Drácula em continuações de Castlevania, de tempos em tempos a internet é assolada por uma moda que gosto de chamar de "jogos para YouTubers". Essa categoria de jogo se destaca por usar uma engine que reproduz fisica dentro de um conceito bizarro, e então todos os YouTubers legais tem que fazer vários vídeos dessa galerinha muito louca aprontando altas confusões.
O maior icone desse genero é o lendário Goat Simulator, onde você é uma cabra que tem uma lingua de capacidades homem-aranhisticas e... bem, é isso. O jogo te dá uma caixa de ferramentas para você brincar e nenhum objetivo.
Hilariedade se segue.
Existe toda uma gama quase infinita destes jogos produzidos com o orçamento de um polichinelo e duas joaninhas, títulos como "I'm Breed", "Surgeon Simulator" e "Viscera Cleanup Detail". Basicamente, dê ao jogador um cenário pequeno, controles responsivos porém pouco precisos e exija dele tarefas mais ou menos delicadas e... hilariedade se segue.
Não são jogos com fator replay tão alto e, a menos que você pague realmente barato neles, servem só mesmo para YouTubers encherem linguiça com pouco esforço.
Em 2014 os iniciantes da Young Horses tiveram uma ideia para um desses "simulators" da vida, um tanto diferente. Mais precisamente, eles pensaram em um "Dad simulator" que teria como grnde diferencial ser um "simulator" não apenas com história nele, assim como com alguma carga emocional .
E é que jogamos Octodad - The Dadliest Catch.
O subtitulo do jogo, alias é um trocadilho com o programa "Deadliest Catch", que é um programa sobre pescaria em condições extremas (tipo navios pesqueiros no alto mar do Alaska e coisas assim). Honestamente eu não vi relação nenhuma com o jogo, suponho que por o protagonista ser pai esse deva ser um dos "hobbys de pai", embora nunca o vemos pescando em algum momento. Hmm, isso é um mau começo.
Mas enfim, este jogo é a dramática história de Octo. O jogo não realmente diz o nome dele, mas suponho que pelo titulo deva ser, afinal porque mais seria "Octodad"? Um pai amoroso e um marido dedicado que luta contra as dificuldades do dia-a-dia mesmo tendo algum tipo de dificuldade motora que o impede não apenas de falar assim como de se mover corretamente (embora não seja nenhuma doença especifica, claramente é inspirada em coisas como Parkinson e ELA).
Isso não impede Octo de tentar ter uma vida normal, e é nesta luta contra o cotidiano que o jogador entra. Usando cada botão do controle para controlar um membro de Octo (ou no modo multiplayer, cada jogador controla um membro), o objetivo do jogo é fazer coisas simples porém que se tornam um desafio dada a condição de octo.
Isso resulta, é claro, em muita confusão e bagunça por toda parte.
Tarefas absolutamente cotidianas para nós como servir o leite no café da manhã, assar um churrasco na grelha ou fazer compras no mercado se tornam um desafio na vida de Octo, desafio este traduzido pela dificuldade que os controles impõe ao jogador.
Não fosse dificil o bastante a vida deste pai esforçado, ele ainda tem que conviver com um vizinho preconceituoso que quer destruí-lo a todo custo porque na sua vidão de mundo, devido a condição de Octo ele nem humano é. É triste, e um tanto pesado, embora não tão longe da realidade assim.
Então o jogo desperta um sentimento agridoce, porque enquanto as trapalhadas de Octo são visualmente divertidas - e os cenários do jogo oferecem diversos itens interagiveis para tornar a exploração gamisticamente gratificante - ao mesmo tempo é uma história dramatica de luta e superação. Será que é correto rir de Octo?
Provavelmente não, embora as vezes seja inevitavel. Confesso que me sinto um pouco culpado por isso.
Octodad é um curto jogo indie (aproximadamente umas três horas no máximo para terminar) que provoca risadas e reflexões, é um jogo sobre a luta cotidiana de um pai, marido e cidadão absolutamente comum em uma apresentação graficamente divertida (principalmente no modo multiplayer).
Porém, por maiores que sejam suas qualidades, Octodad não é um jogo perfeito e eu tenho muito o que contestar a respeito do final do jogo. SPOILERS A SEGUIR, leia a sua própria discrição.
Na reta final do jogo é incluído um elemento de fantasia, um tanto absurdo, de que Octo era, na verdade, apenas um polvo vestindo um terno. Isso não apenas soa absurdo, como é uma quebra com a narrativa do jogo e vem de absolutamente lugar nenhum. Como que em um momento Octo é um homem comum, completamente indistinguível de eu e você e do nada os desenvolvedores puxam "ahá, ele é um polvo!".
Forçado e absurdo.
Se ele fosse um polvo realmente, como ele usaria um terno? Polvos não usam ternos, todo mundo sabe disso, por favor! Mesmo que os polvos seja, de fato, mais inteligentes que a maioria dos mamíferos ainda sim é uma conclusão forçada e que veio de lugar nenhum dentro da narrativa do jogo.
Talvez os desenvolvedores da Young Horses não tenham tido ideia de como concluir a narrativa, talvez não conseguiram fazer com o orçamento que tinha, ou talvez tiveram que inventar isso no meio do jogo porque perceberam que estava ficando muito pesado emocionalmente e não seria popular no YouTube, vai saber.
A única coisa que eu sei com certeza é que eles não me convencerão que este homem era um polvo desde o começo!