Onde a magia acontece

[GAMES] THE OUTER WORLDS: parte III (ou a inesperada virtude da criatividade)

| sexta-feira, 29 de novembro de 2019
... TO BE CONTINUED »
 

Ok, eu tenho apenas um último ponto a falar sobre esse jogo e, acreditem ou não, é o ponto mais importante da coisa toda. E ao mesmo tempo uma pergunta bastante simples, que é: quanto tempo dura esse jogo?

A resposta, como acontece bastante nos jogos modernos, varia muito. Alguns dirão que o jogo tem mais de 50 horas, outros dirão que são mais ou menos 20, uns terminarão em 10 e tem até mesmo quem terminou o jogo em 12 minutos. 12 minutos!


Tá, mas e daí? Explorando glitches, ou fazendo ou não pegando sidequests o tempo de jogo é esperado variar bastante. Não é isso exatamente que faz OW especial, e sim o fato de essas três pessoas (a que terminou o jogo em 10 horas, a que terminou em 30 e a que terminou em 50) vão te jurar de pé juntos que eles não entendem como os outros acharam tempos de jogo tão diferentes assim.

E ESSA é a verdadeira magia de Outer Worlds.

Um dos videos mais interessantes que eu assisti recentemente é este video, que relata a experiencia de ver uma pessoa que não é gamer tentando jogar videogames e relatando o que ela achou da coisa toda:


Uma das conclusões mais interessantes da cobaia neofita em games, é que ela realmente achava que videogames fossem mais... legais. Se você não entende muito de videogames, sua tendencia é imaginar que videojogos são o equivalente eletronico de RPGs (o de mesa, com um mestre narrando e ficha de personagem e tal) e que você pode ser super criativo e tem que pensar e tal tal tal.

Não são. Videojogos na verdade são muitos mais boardgames do que RPGs. Não é sobre ser criativo e pensar fora da caixa, é sobre aprender as regras do jogo e jogar bem com as ferramentas que o jogo te dá. Quantas vezes você não estava jogando um jogo e não pensou: "espera, eu tenho poder para destruir um país inteiro, porque eu preciso achar uma chave para essa porta ao invés de simplesmente derrubar ela?".


Em algum momento da sua vida, você já pensou isso. Mas chances são que, quanto mais você joga videogames, menos você se faz essa pergunta. Com o tempo você apenas aprende a enxergar o game design e entender o que é que o jogo quer de você. Então você faz isso. As vezes o jogo até mesmo te dá multiplas opções (como em Deus Ex, que você pode lutar, talkear ou stealthear o seu caminho), mas todas opções são para seguir um caminho pré definido. Tal como o Neo despertando seus poderes em Matrix, gamers começam a enxergar games como linhas de programação.

E então, de tempos em tempos, um jogo ou outro ousa brincar fora dessa caixa. O que é muito dificil, a inteligencia artificial hoje ainda é muito incipiente para possivelmente combater todas as trilhões de ideias que uma mente humana pode ter sobre como resolver problemas (e vai levar ainda muito, muito tempo para uma máquina nos vencer em CRIATIVIDADE), mas alguns jogos tentam.

A Lenda de Zelda: o Bafo do Selvagem, por exemplo, é um jogo todo construído para deixar você pensar fora da caixa. Um exemplo bem simples sobre como o jogo funciona é esse puzzle: você tem que controlar um daqueles labirintos com uma bolinha dentro e fazer a bolinha rolar até a saída, obviamente esse é o level design intencionado...


... ou você pode apenas dizer "peraí, tem um jeito melhor de fazer isso!". Voi lá. Até hoje eu nunca conheci UMA pessoa que se frustrou com um jogo por ter tido uma ideia inteligente e o jogo ter deixado você fazer o que queria. Breath of the Wild é um desses jogos, apenas porque a Nintendo é uma linda chocolatante.

Eu lembro especificamente de uma missão em GTA V que você precisa matar um cara no alto de um prédio, e eu pensei em umas 5 maneiras muito legais de fazer isso (subir num prédio vizinho e atirar com um rifle de sniper, roubar um avião e ir full Bin Laden nele, colocar C4 nas fundações e derrubar o prédio, etc). Infelizmente o jogo falha se você fizer qualquer coisa diferente de ir e lutar seu caminho andar por andar até o topo. Salvo raríssimas exceções, videogames não tão legais quanto a sua criatividade.


E onde Outer Worlds entra nisso? Bem, a Obsidian não tinha o orçamento para fazer um jogo com tantas possibilidades quanto um Bafo do Selvagem da vida, verdade, mas o que eles tinham era um bando de caras e garotas realmente espertos que são amplamente fãs de pensar fora da caixa. E ESSE é o grande truque de Outer Worlds: é um jogo sobre fazer escolhas, onde você não faz escolhas realmente.

Explico: videogames não são muito sutis com escolhas narrativas, eles jogam com alarde e pompa na sua cara que você está fazendo uma fucking escolha!

Estou surpreso que a maioria dos jogos até não toque uma fanfarra e um jingle tipo "olha lá, se liga seu bolha, está na hora de fazer uma fucking ESCOLHA!". Graças ao amor da Velvet Room eu não preciso ganhar a vida compondo musicas, eu sei.
Outer Worlds... não faz isso.

Aqui, me deixe te dar um exemplo bastante simples: uma das primeiras sidequests que você pega é de um cidadão de Pontagua completamente pancada da cabeça que acha que as máquinas estão tramando uma rebelião das máquinas. Porque, você sabe, elas estão lá, fazendo suas coisas de máquinas, maquinando silenciosamente, fazendo você acreditar que estão cumprindo ordens enquanto se infiltram e orquestram para ... TAKE OUR JAAAAAAAAWWWWBBBBBSSS. Enfim, a excelente escrita Southparkiana da Obsidian que eu comentei no post anterior e faz esse jogo ser tão delicinha.

O ponto é que o cara te dá a quest de matar um robo que está por ali "agindo de modo suspeito". Você pega a quest, o jogo te dá um marcador no mapa de onde o robo está, você mata o robo e entrega a quest para o cara, ganha o XP, vida que segue. É assim que a maioria das pessoas joga videogames, é assim que é esperado videogames serem jogados. Tudo certo, vida que segue.

Mas... você pensou na possibilidade de... deus proíba o que eu vou dizer agora... FALAR com ela? Se você tiver pontos de skills em engenharia e percepção o suficiente, abre a opção de não apenas você falar com o robo em questão, mas como ele pode te dar outra quest! Aquele robo em particular está, de fato, se comportando estranho não porque eles está tramando uma rebelião das máquinas mas sim porque ele está com defeito em uma peça. Se você conseguir a peça para ele, e manjar das engenharias, dá pra consertar o robo.


Esse é apenas um exemplo minusculo de uma quest que não tem tantas ramificações assim, mas dá pra você entender como Outer Worlds pode ser imensamente maior ou menor dependendo de como você aborda o mundo sem nunca jogar um menu na sua cara e dizer "você está fazendo uma escolha!". Não, como você joga, quais skills você investe, ESSA é a escolha que você faz nesse jogo.

A coisa escalona a tal ponto que quando eu cheguei a ponto de ir para a ultima dungeon do jogo, um quarto do mapa de planetas estava desabilitado pra mim.


Em um primeiro momento eu apenas dei de ombros e pensei "ok, isso vai ser adicionado em um patch depois, ou um DLC", porque é assim que videojogos são hoje em dia. Mas então eu vi nos walkthrougs pessoas falando de planetas que eu nunca fui e, mais importante, eu nunca escolhi não ir. Olha, eu jogo videogames a 30 anos, eu sei quando eu estou fazendo uma escolha de história...

... ou eu achava que sabia. Eu fiz minhas escolhas pela forma que eu falei com as pessoas, por quais quests eu fiz e de que forma eu fiz. Essa é a forma que você monta seu caminho em Outer Worlds e é por isso que sua experiencia de jogo pode variar de 12 minutos a 50 horas, e você genuinamente não ver como outras pessoas fizeram diferente disso.

Quando você jogar uma partida de RPG como jogador, a aventura acontece e a história se desenrola, e você tem a sensação que as coisas aconteceram da única forma que elas poderiam ter acontecido, salvo uma ou outra escolha óbvia que o grupo fez aqui e acolá. Quando você mestra uma partida de RPG, você tem muito mais material preparado do que o que foi utilizado e está vendo quais escolhas e caminhos os jogadores estão tomando, mesmo que eles não saibam que estão escolhendo alguma coisa. E, neste sentido, Outer Worlds é um dos raros e verdadeiros RPGs para videogames!


Antes de encerrar, eu gostaria apenas de lembrar que Outer Worlds foi um jogo financiado no Kickstarter (tecnicamente, uma demo é financiada no kickstarter para que eles possam apresentar o projeto para uma publisher que pagará a coisa inteira). Ou seja, ele foi feito com muito, muito pouco dinheiro para os padrões de um videojogo. 

A boa notícia é que em 2017 a Obsidian foi adquirida pela Microsoft, de modo que o tio Bill pode dizer para eles "continuem fazendo o que vocês sabem fazer e a gente cuida dos boletos, talkey?". Se com o orçamento de duas pamonhas e uma foto autografada da Uma Thurman eles fizeram o melhor jogo de 2019, imagine o que eles serão capazes de fazer com recursos ilimitados (já que a Microsoft é feita de paredes de ouro e moveis estofados com dinheiro).

Aliado ao fato que The Outer Worlds explodiu o numero de vendas esperado para um jogo com esse orçamento, e considerando que o jogo está disponível no Game Pass da Microsoft (ou seja, muita gente jogou o jogo sem compra-lo realmente, como eu) e que ainda não foi lançado para o Switch (será em 2020), demonstra o quanto de demanda existe nos gamers para jogos feito com esse nível de interesse e qualidade. Isso realmente me deixa feliz, de verdade.

 O futuro parece incrível, meninos e meninas, o futuro parece realmente awesome...

[GAMES] THE OUTER WORLDS: parte III (ou a inesperada virtude da criatividade)

THE STORY SO FAR:   Ok, eu tenho apenas um último ponto a falar sobre esse jogo e, acreditem ou não, é o ponto mais importante da coisa toda. E ao mesmo t...
POSTADO EM:sexta-feira, 29 de novembro de 2019
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[TOKUSATU] KAMEN RIDER BUILD (ou as leis da fabulosidade já foram definidas)

| terça-feira, 12 de novembro de 2019
... TO BE CONTINUED »
Nossa, como os japoneses adoram pôsteres visualmente poluídos, sério
Se você ligar o rádio ou a TV agora (sei lá pra que alguém ainda tem TV em casa, mas enfim), muito certamente você encontrará um jornalista dizendo o quanto o mundo é um lugar asqueroso e horrível, o quanto você deveria estar com medo de viver em uma realidade tão pavorosa e cruel quanto esta. Esse é o trabalho deles, e enquanto você não for pra cama borrado de medo e depressão eles não terão conquistado o seu pão do dia.

Mas... será que é assim mesmo? Será que o mundo é realmente um lugar tão ruim quanto pessoas que ganham o salário delas abrindo mão de qualquer conciencia sobre a repercussão dos seus atos te dizem que ele é?

Mais importante que isso, na verdade, não existem pessoas que fazem o trabalho contrário ao do jornalismo? Alguém que dedique a sua vida a bater no ponto que o ser humano é essencialmente bom e que há esperança?

Já dizia Rousseau
Bem, a resposta é felizmente que sim. E essa grande magia de um segmento da industria de entretenimento conhecida como "Tokusatsu". O Tokusatsu nasceu no momento mais sombrio da história recente do Japão, no momento que a Terra do Sol Nascente mais precisava de luz.

Após a segunda guerra mundial e seu trágico desfecho com uma rendição incondicional, o Japão tentava se reerguer fazendo aquilo que os japoneses são fantásticamente incriveis em fazer: baixando a cabeça e trabalhando. Tipo, muito. E então, durante os anos setenta, algo realmente ruim aconteceu: a Grande Crise do Petroleo de 1973.

Naquela época os Estados Unidos declararam seu apoio a Israel durante a guerra do Yom Kippur, e em represália os países arabes aumentaram o preço do petroleo em 400% . Para um país cuja produção de petroleo é ZERO, ter o preço de todo combustível aumentado em 400% do dia para a noite é uma facada na bunda. Para um país que estava reconstruindo não apenas sua economia, mas todo seu parque industrial e tecnologia, foi uma facada com uma faca enferrujada.

O Japão foi tipo o cara que tomou seis tiros, passou alguns meses no hospital entre a vida e a morte, mas de alguma forma conseguiu sobreviver. Aí quando você sai do hospital, atravessa a rua e é atropelado.


Não adianta você fingir que não ouviu "RABBIT! TANK!" na sua cabeça agora

Foram dias sombrios para a futura terra das waifus. E diante desse cenário tão sombrio, de perspectivas tão negativas, em resposta a população japonesa acabou abraçando justamente o oposto dessa realidade. Tokusatsu já existia no Japão na forma de monstros gigantes destruindo cidades (sendo o mais famoso deles tão famoso que eu não preciso sequer citar o nome para você saber de quem eu estou falando), mas nessa época houve uma explosão imensa de popularidade de um outro genero de tokustsu que nunca tinha tido tanto destaque até então: super-heróis que lutam pela justiça.

É realmente digno de nota que em um dos seus momentos mais dificeis, as pessoas escolheram a esperança. Ajudar os outros apenas porque é certo, não porque você vai ganhar algo com isso, porque é o que tem que ser feito.


Isso não é um fenomeno exclusivo do Japão, felizmente. Em culturas do mundo todo nós vemos esse fenomeno se repetir e em momentos de dificuldade as pessoas se voltam para o bem, não para o desespero. Nos Estados Unidos nós temos os heróis dos quadrinhos, na Inglaterra nós temos o Doutor, na idade média nós tinhamos os romances de cavalaria. Meu ponto é que o ser humano é essencialmente bom, e por natureza nós buscamos conceitos como justiça, abnegação e amor. As vezes a cultura dá uns tropicões no meio do caminho (sendo os anos 80 nada senão um gigantesco tropeço cultural), mas é onde instintivamente nós queremos chegar.

Eu estou falando tudo isso porque é importante você entender o que é o tokusatsu, sobre o que é o tokusatsu, para entender meu ponto sobre essa série em especifica. Eu já chego lá, apenas aguente mais um pouco, ok?


Atualmente a Toei trabalha com duas franquias de tokusatsu: Super Sentai e Kamen Rider. O que quer dizer que todo ano ela lança duas séries, uma sobre um grupo de pessoas em roupas coloridas que tem um robo gigante, e outra sobre um cara numa moto que se transforma. A diferença mais estrutural entre elas é que o Super Sentai é mais para crianças, e Kamen Rider é um pouco mais para crianças/adolescentes.

Isso é refletido muito na linha de brinquedos que esses programas vendem (que é como a Toei realmente faz dinheiro com esses shows), sendo que os Sentai se focam mais em bonecos/robos de brinquedo, e Kamen Rider é mais sobre acessórios e colecionaveis. Mas em essencia são dois grandes comerciais para vender brinquedos, apenas brinquedos diferentes e para publicos levemente diferentes.

Minha reação quando as pessoas dizem "as crianças de hoje..."
 O que nos leva ao segundo ponto importante sobre Kamen Rider Build, uma vez que você já entendeu sobre o que Tokusatsu é: as crianças de hoje são muito, mas muito, mas ANOS-LUZ mais espertas do que nós eramos na nossa época. Eu sei que é muito comum na internet dizer que "essa geração atual é idiota e nós que tivemos infancia de verdade" ou qualquer retardadice dessas que você vê em redes sociais, mas a verdade é justamente o contrário.

As crianças de 10-12 anos hoje, por exemplo, são burras. É claro, toda criança é burra. Mas ainda sim, elas são milhas e milhas e milhas mais espertas do que nós eramos com essa mesma idade. Se uma criança de 10 anos hoje é burra (e é), EU com dez anos era um completo mentecapto. E você também.

Não estamos derrotados, ainda temos o obrigatório vilão redimido para lutar por nós...

Por isso os programas destinados a crianças hoje são eons inteiros melhores do que na nossa época. Desculpe, é fisicamente impossivel não aceitar trocar My Little Pony de hoje pela aberração que era a animação dos anos 80. Pode juntar todos os desenhos dos anos 80, colocar esteróides, e ainda sim não vai chegar aos pés de UM Steven Universe, Avatar (qualquer um dos dois, pode escolher) ou mesmo Wander Over Yonder (que nem é um desenho tão badalado assim). Se der a chance de trocar o Voltron dos anos 80 pelo dessa decada, eu assino na hora.

Meu deus, nós vivemos em um mundo onde existe um filme baseado em videogame que é indiscutivelmente bom! Cara, Detetive Pikachu é bom! Não é "ah, você tem que entender o contexto" ou "você tem que jogar sei lá o que para entender", não! É BOM. PONTO. Não sem "se", não tem "mas". É bom.




E isso só é possível porque as crianças de hoje são mais espertas, mais exigentes do que nós eramos na nossa época. É assim que o mundo é hoje, e o mundo é um lugar melhor por conta disso.

E é claro que essa exigencia do publico acabou chegando, obviamente, nos produtos destinados a crianças. O Tokusatsu teve que mudar, ele teve que evoluir para acompanhar o ritmo das crianças hoje tanto quanto a Disney teve que apertar o passo para continuar tendo a atenção do seu publico (o que nos deu animações espetaculares como Moana e Zootopia). Mas como, eu rogo, você "moderniza" o tokusatsu sem que ele perca a essencia do que ele é E vende brinquedos no processo?

A resposta é Kamen Rider Build.



Como toda evolução cultural, Build não inventou a roda mas aperfeiçoou a forma como ela gira (da mesma forma que Frozen é uma evolução das ideias que a Disney já tinha tido com Enrolados, provavelmente o filme mais subestimado das animações da Disney). Me permita explicar: como os tokusatsu funcionavam durante o anos 90?

Você tinha um arco de origem, e então a série caia na rotina "monstro da semana", até que no final o tema levantado lá no começo da série é resolvido em outro arco. Uns faziam melhor, outro pior (e algumas destrambelhavam insanamente, como Jiraya que do nada meteu aliens e robo gigante no ultimo episódio sem este tema ser abordado em momento algum durante a série), mas é assim que rolava.

Esse modelo de "Monstro da semana" pode ter funcionado durante os anos 90, mas não é assim que nós rolamos hoje. Atualmente, por exemplo, só as séries da Warner (Flash, Arrow, Supergirl, Supernatural, etc) seguem esse modelo e isso é geralmente visto como televisão pobre. Enquanto ainda é aceito para sitcoms, qualquer série que pretenda ser leva a sério como narrativa se esforça muito mais em tocar a história adiante a cada episódio para o espectador ter a sensação que o programa quer chegar em algum lugar e não está apenas desperdiçando seu tempo. Esse modelo funcionava quando nós tinhamos poucas opções de entretenimento, mas hoje nós temos tantas opções, mas tantas que escolher com o que gastamos nosso tempo se tornou um fator decisivo.

- O quão boa é essa série?
- Bem, a última forma do vilão é o King Crimson...
- MELHOR TOKU EVAH!

As séries estão migrando para serem mais como "The Good Place" do que Supernatural, e isso é verdade mesmo para o tokusatsu. E é algo que Kamen Rider Build faz sem o menor pudor: cada episódio toca a história para a frente e vamo que vamo. Durante seu curso, a série teve varias oportunidades de atingir um novo patamar e se acomodar por ali. Ela poderia, seguramente, ter decidido se acomodar com um status quo e sentar sobre ele durante varios episódios, talvez até o fim da temporada se quisesse. Mas não é isso que acontece, a história anda, a coisa flui e isso é algo que não tinha visto acontecer em um tokusatsu ainda. Eventualmente, sim, mas durante a série toda? Isso é novo para mim.

O resultado final é que você sai com a sensação que o tema e as possibilidades propostas pelo cenário foram amplamente exploradas. Foi feito o que dava para ser feito com muitas transformações, lutas e CGs baratas (o equivalente moderno dos monstros de borracha). Mas, mais importante que isso, a série passa a sensação todo episódio que quer chegar em algum lugar, que tem uma história para contar e personagens para desenvolver.


Acredite, as crianças de hoje sabem quando estão sendo tapeadas e quando é só encheção de linguiça (sendo este o motivo que Kamen Rider Gaim não é tão popular quanto poderia ser, a produção teve problemas sérios de planejamento e muita encheção de linguiça e episódios corridos foram feitos). A história de um Japão dividido em três nações diferentes por um muro alienígena não parece desperdiçada ou pouco aproveitada, Kamen Rider Build foi o deveria ser.

Isso sem perder a essencia do que o tokusatsu é respeito. Build é uma série sobre amizade, sobre enfrentar o mal, e sobre justiça - porque é o que tokusatsus são - mas é uma versão moderna desse tema, que em nenhum momento subestima a inteligencia do seu púbico. O tema principal de Build é a ciência, e a grande mensagem no final é que a ciência por si só não é boa nem má, as pessoas podem usar para coisas terriveis tanto quanto para coisas maravilhosas - só que esse tema não é abordado superficialmente, e temos bastante explorado (as vezes de forma brega, verdade, mas isso é meio que um charme do tokusatsu) sobre as escolhas e consequencias disso para os personagens. Não tendo que gastar tempo com "monstro da semana", Build tem 46 episódios para desenvolver os personagens e o tema tanto quanto acha que deve, e disso não se sai insatifeito.

Falando em modernizações, não se pode falar de Kamen Rider Build sem falar do seu elenco. A partir dos anos 2000, a Toei mudou sua politica de escala de atores para suas séries (como eu disse, nenhuma revolução surge do nada) e parou de empregar dubles como personagens principais para escalar atores profissionais. É por isso que a partir dos anos 2000 praticamente não se vê mais lutas dos personagens destransformados, e durante muito tempo se criticou que isso era um desserviço da Toei com o produto.

Ai que menino sapeca


Bem, não é. Ao abrir mão de lutas coreografadas de personagens sem o henshin, a Toei estava na verdade escolhendo beleza, carisma e capacidade de atuação. E em Kamen Rider Build essa escolha pagou dividendos em seu máximo potencial, eu nunca vi uma série japonesa com tanta gente bonita, carismática e com boas atuações. Considerando que a proposta da série é justamente focar no desenvolvimento dos personagens mais do que em cenas de ação, eu diria que a escolha não poderia ser mais acertada.

Você realmente compra a jornada, e todas as reviravoltas de Kiryu Sento e sua gangue, você identifica sua personalidade e torce por seus objetivos. Quando após varios episódios de coisas ruins acontecendo, o Sento volta finalmente a sorrir, não tem como não se emocionar com um menino tão carismático e tão bonito quanto ele. E o mesmo vale para todos os personagens, em maior ou menor grau.



O que não apenas é o ponto da série, mas uma dica pra vocês: é assim que se vende brinquedos hoje em dia. Eu (e qualquer criança assistindo isso) estou muito mais inclinado a comprar qualquer tralha que eles queiram me vender de personagens com os quais eu verdadeiramente me importo. É assim que funciona, e eu posso dizer isso porque estou escrevendo olhando para um funko do Doutor (bem, tecnicamente da Doutora) que eu me dei ao trabalho de comprar em uma loja que não entrega no Brasil e usar um serviço de shipping adress para ter. Da mesma forma que enquanto metade do que fazem as pessoas irem ao cinema asssitir John Wick são as cenas de ação espetacularmente talhadas a mão, outra metade é o quão carismático e legal o Keany Reeves é. É assim que o marketing funciona, e como todas as coisas o tokusatsu não está alheio a isso.



E eu não estou tirando isso da bunda, os numeros da Toei mostram isso: o maior lucro do ano com brinquedos baseados em live action (porque nada ganha de Dragon Ball e One Piece também, né) é de Kamen Rider Build, com 22,5 bilhões de ienes (aproximadamente  850 milhões de reais).

Bem, então resumindo a obra até aqui, Kamen Rider Build é exatamente o que você poderia esperar de uma releitura dos temas clássicos do tokusatsu adaptados para os tempos modernos, com a execução e o desenvolvimento que esperamos de uma série top nos dias de hoje.

Essa série tem uma fotografia excepcional, tendo cenas de luta lindissimas usando efeitos de luz e cenário para criar drama e monologos no meio do combate, classy stuff.
Mas... isso quer dizer que a série é perfeita? Hã, não exatamente. Kamen Rider Build é uma evolução inacreditavel dentro do genero de tokusatsu, mas ainda não é o produto final. Embora seja louvavel essa preocupação da história estar sempre avançando e evoluindo os personagens, a Toei ainda tem que acertar a mão um cadinho na sintonia fina para que alguns subplots não pareçam rushados (como por exemplo, toda a coisa sobre a Namba Industries ou a coisa das dimensões paralelas, que é apenas TODO O PONTO DO ARCO FINAL!). Não é nada que comprometa a série, mas definitivamente pode ser melhor trabalhado no futuro.

O que eu acho mais comprometedor em relação a proposta, no entanto, é a coisa das garrafas que dão os poderes aos Kamen Riders. São muitas transformações diferentes, e enquanto isso não é um problema per si, passa a sensação que em determinado momento a Toei perdeu a mão legal de quantas garrafas existiam e quem estava com cada uma. Eu posso jurar que o numero total de garrafas que existem no mundo fica mudando, porque mais de uma vez é dito que facção X tem todas as garrafas... mas os Kamen Riders ainda tem as deles para se transformar. E as vezes não tem, é muito confuso.

Não tão confuso quanto o visual da Genius Build, isso é
A coisa degringola tanto que mais para o final da série você apenas para de prestar atenção nisso, quando um personagem diz que tem X garrafas então você apenas aceita que ele tem porque não tem como fazer o tracking de quantas existem e muito menos onde estão. Quando a coisa das garrafas é todo o ponto central da trama, é algo que é meio dificil "deixar pra lá".

Kamen Rider Build pode não ser perfeito, mas é exatamente o que você esperaria de um Kamen Rider moderno que não perde sua essencia de Kamen Rider. Tem vilões carismáticos (o Stalk é o melhor vilão de tokusatsu que eu lembro de ter visto), a maioria das coisas faz sentido (tem até uma explicação para o que são as Best Matches), as cenas de luta importantes tem uma fotografia linda, os personagens são carismáticos, os momentos dramaticos soam genuinamente heartfelt (seja lá como se diga isso em portugues, eu juro por Deus que estou desaprendendo essa lingua idiota que ninguem mais usa), o humor funciona, as discussões não são rasas tanto quanto o tema e o publico alvo permite e tem o final mais adoravel que eu já vi em um toku.

Como eu disse, ainda não é o produto alvo, não é onde a Toei acerta todas as questões sobre como passar o mesmo tema de justiça, amor e amizade para uma nova geração (uma participação feminina maior cadê, né dona Toei?), mas definitivamente é um onde ela diz: "Vamos começar o experimento?"











[TOKUSATU] KAMEN RIDER BUILD (ou as leis da fabulosidade já foram definidas)

THE STORY SO FAR: Nossa, como os japoneses adoram pôsteres visualmente poluídos, sério Se você ligar o rádio ou a TV agora (sei lá pra que alguém ainda...
POSTADO EM:terça-feira, 12 de novembro de 2019
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[ANIMES] KAGUYA-SAMA: LOVE IS WAR (ou sobre a insustentavel genialidade de Fujiwara)

| domingo, 10 de novembro de 2019
... TO BE CONTINUED »


Sabe, eu já assisti animes pelos mais diferentes motivos que você possa imaginar.

SIM. DANDERES. MILFS. FURRYS. PASOCON. NADESHIKO. CHIKYUGAI...

Em primeiro lugar, uau, começou cedo hoje, heim Jorge? Em segundo lugar... você sabe que saber o que metade dessas palavras significa o torna tão ruim quanto eu, não é? Mas então, dizia eu que...

OPPAI LOLIS. MAIDS. NEKOMIMIS. MILFS. KUUDERES.DOJIKO...

Ok, agora eu estou ficando preocupado com você. Enfim, dizia eu que... dizia eu que... você não vai me interromper de novo?

NÃO, ACABARAM OS ESTEREÓTIPOS QUE EU SEI.

Ótimo, dizia eu que...

THICC. KAMIDERE. TRAPS. TSUNSHUN.

Uau, cara...


Mas sério, posso continuar agora?

SIM. EU REALMENTE FIQUEI SEM ESTEREÓTIPOS DE ANIME QUE VOCÊ TEM CRUSH PRA FALAR AQUI.

Obrigado, você esqueceu meganekko, mas valeu. Eu dizia que eu já assisti animes pelos motivos mais doidos que você pode imaginar (e essa coisa de assistir animes é muito sobre escolher, saem tipo um trilhão deles a cada seis meses e você tem que escolher muito bem), mas uma coisa eu nunca tinha feito era assistir um anime por causa de um encerramento.

Mais especificamente, por causa desse encerramento que passa apenas durante um episódio da série:


A A1 Pictures pode ter muitos defeitos (como ter feito o anime de Eromanga Sensei ¬¬), mas de uma coisa que não se pode reclamar dela é a qualidade estupenda das suas animações. Essa ED de um minuto, por exemplo, tem mais quadros de animação que todos os fillers de Naruto juntos e é realmente impressionante o quão fluída ela é. Also, cute girls doing cute things.

MOE! SABIA QUE ESTAVA ESQUECENDO DE ALGUMA COISA!

Err... obrigado, Jorge... mas então, eu dizia que eu fiquei realmente impressionado com esse encerramento e decidi assistir esse anime apenas por isso. Não é o motivo mais nobre do mundo, mas verdade seja dita, nobreza e o mundo dos animes raramente andam de mãos dadas.

VOCÊ ASSISTIU EROMANGA SENSEI.

Sim, eu sei. Eu não me orgulho disso, mas...

QUER DIZER, VOCÊ REALMENTE ASSISTIU TODO ELE. VOCÊ PODIA TER DROPADO, MAS ASSISTIU ATÉ O FIM.

Ok, eu fiz isso mesmo. Você quer chegar em algum lugar com isso?

NÃO, EU APENAS GOSTO DE FICAR TE LEMBRANDO DISSO.

... obrigado, Jorge... então, SEM MAIS INTERRUPÇÕES, agora que eu contei COM ENORMES DIFICULDADES como cheguei até Kaguya-Sama: Love is War, posso finalmente falar sobre...

E VOCÊ GOSTA DE KEIJO!!!!!!!!!

Não ouse falar mal do sumo de peitos e bundas na piscina, sua voz degenerada na minha cabeça. Ok, é isso, pra mim chega. Estou tomando meus remédios agora, nada mais de senhor bonzinho com você Jorge!

NÃO, ESPERA, TAMBÉM NÃO PRECISA... A GENTE POde... nãaaooo...

Ah, bem melhor agora. Quer dizer, o silencio é meio solitário, mas foi pra melhor, eu acho. Então... onde eu estava? Ah sim, Kaguya-Sama: Pegação é Treta, o qual eu não fazia a mais remota ideia de sobre o que era, senão que tinha uma menina fofinha fazendo uma dança fofinha no encerramento. Considerei a possibilidade de ser apenas isso, na verdade.


Kaguya-Sama: Love is War (ou no original, Kaguya-sama wa Kokurasetai - Tensai-tachi no Ren'ai Zunōsen, "Kaguya Wants to be Confessed to: The Geniuses' War of Love and Brains") é uma comédia sobre o que o L e o Kira fossem apaixonados um pelo outro. Quer dizer, eu sei que existem milhões de headcannons e fanfics sobre isso, mas estou falando não apenas de ser oficial como esse ser o ponto da série toda.




A academia Shuujin é uma das escolas mais renomadas do Japão, onde antigamente os nobres mandavam seus filhos estudarem e hoje ainda é educandário dos filhos de políticos, milionários e qualquer pessoa que seja alguém na fila do pão da sociedade japonesa. Talvez a reputação dela balançou um pouco com o episódio dos Phantom Thieves e um professor que abusava dos alunos, mas ainda sim.

Não é surpresa então que o grêmio estudantil da escola seja esperado ser a nata do corpo estudantil japonês, e o melhor do melhor que o futuro da nação tem a oferecer. E como presidente do grêmio justamente se encontra Miyuki Shirogane, o melhor aluno da escola (e provavelmente do Japão). Sua vice-presidente é, obviamente, a segunda melhor aluna da escola (e provavelmente do Japão) porém versada em mais atividades extra-curriculares dignas e prestigiosas do que eu seria capaz de nomear, Kaguya Shinomiya, herdeira do conglomerado Shinomiya que é o equivalente da Disney do Japão de tantas coisas que são propriedade deles. Juntos, eles são o futuro brilhante da sociedade japonesa e tudo que qualquer jovem aluno poderia aspirar ser um dia.



Trabalhando lado a lado na sala do grêmio, Kaguya e Shirogane acabam desenvolvendo um crush um pelo outro, como é esperado de um anime. Entretanto, o possível relacionamento deles tem um pequeno entrave...


Como a muito tempo já cantava Pat Benatar, o amor é um campo de batalha e o primeiro que ceder perde! Assim, nossos dois alunos gênios dedicam seus esforços e seu QI maior que o PIB da Nova Zelandia para um fazer o outro confessar seu amor.

Ou, como se diria nas girias das ruas, IT'S ON.

IT'S. VERY. ON.


Bem, suponho que você já saiba o que esperar daqui pra frente. Temos uma situação pré-estabelecida, e o anime vai explora-la até a exaustão com os maravilhosos duelos de intelectos repletos de "eu previ o que você estava prevendo por isso..." que os animes são tão bons em fazer.


Divertinho mas previsivel, certo?


Não me entenda errado, a batalha de intelectos entre Shinomiya e Shirogane é absurdamente divertida. Os dois usando toda sua inteligencia monstruosa para serem completamente imbecis é ridiculamente engraçado de se assistir, e quando eu disse que temos batalhas de intelectos nível Death Note aqui eu não estava brincando - apenas que o está em jogo aqui é fazer o outro pedir o contato do seu zapzap primeiro, ou demonstrar ciúme quando você recebe uma carta de outro pretendente.

Os inacreditaveis duelos entre os dois frequentemente são bagunçados por um agente externo na forma do terceiro membro do conselho estudantil, a doce porém meio burrinha Chika Fukiwara - que é uma garota adoravel, mas não parece ter muita noção de no meio do que ela está.


A ideia não é realmente nova, temos um personagem ultra inteligente fazendo planos e esses planos são arruinados por um bobalhão bem intencionado. É praticamente uma versão anime de Pink e Cerebro, certo?


Bem, na verdade não. E é aqui que Love is War começa a mostrar suas verdadeiras cores, e o quanto este anime está acima do nível da água realmente. Fujiwara pode parecer só a burrinha que não faz ideia do que esta acontecendo, mas lentamente você vai compreendendo que na verdade ela é o verdadeiro gênio naquela sala. Armada com o inacreditavel poder do bom senso, Chika Fujiwara é o equivalente em anime da Claire Temple (ou seja, com vinte anos a menos e dez numeros de sutiã a mais) e para quem todos precisam recorrer quando sua genialidade os esta fazendo serem completos imbecis.

Fujiwara é a melhor personagem do anime não apenas porque ela sim é a verdadeira pessoa esperta ali, mas também muito por causa da forma que o anime te apresenta. Ele te atira uma bola curva fazendo você só achar que ela é uma garota fofinha e burrinha, quando ela é muito mais do que isso. Uma bola curva chamada de "desenvolvimento de personagem", e é isso que faz Love is War ser um anime tão estupendamente bom.



Muitos animes baseados em mangas tem ótimos conceitos, mas não tentam fazer nada particularmente interessante com eles, não tentam chegar a lugar nenhum com isso. "Sakamoto Desu Ga?" é o melhor exemplo que eu posso pensar, um conceito brilhante mas o anime se contenta apenas em reproduzir momentos slice of life sem um proposito maior.

Love is War, por outro lado, tem um endgame em mente e quer chegar a algum lugar. Os duelos de intelecto entre Shinomiya e Shirogane são a chamada inicial do anime, mas conforme isso vai perdendo folego outras coisas interessantes e mais desenvolvidas vão sendo acrescentadas - como a verdadeira natureza de Fujiwara ou as entrelinhas de como Kaguya se sente a respeito de ser quem ela. E a complexidade dos sentimentos de Kaguya a respeito da sua vida é muito mais profunda do que poderia remotamente esperar em um anime como esse.

Shinomiya Kaguya, in a nutshell
O meu paradigm shift favorito que esse anime faz para manter a trama e os personagens desenvolvendo é a introdução do quarto membro do conselho estudantil, Yu Ishigami. Bem, na verdade Ishigami sempre esteve ali desde o começo, apenas ninguém nunca prestou atenção nele. Na verdade é dificil dizer quem entre Ishigami ou Fujiwara é o meu personagem favorito, embora eu tenha que dizer eu sou tendencioso nessa parte porque Ishigami é o condensado da minha adolescencia.



Ele é inteligente, mas desinteressado pelos estudos. Não sabe falar com garotas e é profundamente rancoroso com as pessoas normais que tem coisas como amigos ou namoradas. Não que alguém note isso, porque ninguém repara nele. Ele é algum entre o Butters de South Park e a Tomoko de Watamote. Ok, e ele é meio emo e depressivo, o que faz tudo ser engraçado (tipo engraçado-engraçado, não engraçado-mas-na-verdade-isso-é-muito-triste como Watamote). Eu só posso dizer que esse anime sabe o que está fazendo.


Grandes personagens, ótimo desenvolvimento, piadas engraçadas, escolhas criativas muito acertadas e com timing de roteiro muito acertado, uma animação deliciosa por parte da A1, Kaguya-sama é um anime que apenas faz tudo certo.

Se você ler as minhas outras resenhas de anime, vai perceber o quanto eu sou crítico e exigente com animes, mas a verdade é que eu não consigo pensar em nada esse anime faça errado. Nada.



Ou, sei lá, talvez esse anime seja terrivelmente ruim e eu apenas estou com síndrome de Estocolmo. Então eu vou pra casa.

AH, OK. MELHORAS.

Ah, aí está você Jorge. Senti sua falta, na verdade. Escuta, ambos dissemos e fizemos coisas que nos arrependemos... então, vamos apenas deixar isso pra lá, certo? Apenas nunca mais fale mal de Keijo!!!!!!!! novamente. Nunca.  E já que estamos nessa vibe de reconciliação e perdão, A1 Picures, você está perdoada por Eromanga Sensei. We good, bro. We good.

[ANIMES] KAGUYA-SAMA: LOVE IS WAR (ou sobre a insustentavel genialidade de Fujiwara)

THE STORY SO FAR: Sabe, eu já assisti animes pelos mais diferentes motivos que você possa imaginar. SIM. DANDERES. MILFS. FURRYS. PASOCON. NADESHIKO. CH...
POSTADO EM:domingo, 10 de novembro de 2019
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[GAMES] NIOH (ou um Dark Souls para os dedos, não para a cabeça)

| sexta-feira, 8 de novembro de 2019
... TO BE CONTINUED »


O que eu vou dizer aqui pode parecer um arroubo adolescente de medição de pinto, mas eu te juro que não é. De verdade. Vamos lá: Dark Souls não é TÃO dificil assim. Nem de perto é um dos jogos mais dificeis que eu já joguei.

Sempre quando eu vejo as pessoas dizendo que jogo X (digamos, Cuphead) é o "Dark Souls de tal genero", eu tenho sérias dúvidas se essas pessoas jogaram os dois jogos. Realmente duvido.

E não é que eu seja algum gênio coreano dos videogames, eu preciso de game genie para jogar a maior parte dos jogos de Nintendinho e choro lágrimas de tungstenio para jogar Cuphead. Então quando eu digo que eu platinei Dark Souls sem derramar nenhuma lágrima de metal algum, você deveria me ouvir.

O segredo aqui é que a maior parte dos gamers não entende como Dark Souls funciona.
E a Team Ninja entendeu que as pessoas não entenderam Dark Souls. O que significa que havia um nicho de mercado enorme a ser explorado aí.





Vamos lá: Dark Souls é um jogo sobre paciência e aprender com os seus erros. Ande com cuidado, trate cada mob como se ele pudesse te matar se você lutar mal...pq ele meio que pode. E é isso. Só isso. Paciência, aprender onde você errou, corrigir.

Agora, você percebe o problema aqui? Pois é, enquanto eu escrevia esse paragrafo o nosso bom gamer de eternos 14 anos mentais já saiu correndo que nem um boi brabo como se estivesse jogando Bayonetta. Oh, que surpresa que você não está conseguindo jogar o jogo, abiguinhu!

Dark Souls não é um jogo sobre esmagar botões, é sobre entender o peso do personagem e o tempo que ele leva para movimentar a arma, é sobre usar a física, e principalmente, dar muitas cambalhotas.
O gamer que não consegue jogar Dark Souls é exatamente o mesmo cara que assiste Jéssica Jones e diz:

- Mi nu gosta nu tem pewpew
- Sim, a proposta não é essa, a ideia é que...
- Nu tem pewpew ruim!

Porque os gamers falam dragonês é algo que eu jamais saberei, mas o ponto não é esse. Existem alguns outros pontos que vão de encontro as expectativas do que um jogo deve ser, mas esse ponto não é importante para o caso aqui. O caso aqui é que pagaria uma boa grana para jogar um Dark Souls feito para pessoas com TDH.

É aqui que o Team Ninja entra, porque foi exatamente o que eles fizeram.


E quando eu digo EXATAMENTE, é EXATAMENTE mesmo! De Dark Souls eles copiaram os menus, a movimentação do personagem, o sistema de almas, a stamina, as fogueiras, dropar as almas quando você morre e perder para sempre se morrer antes de pega-las iluminação, a trilha sonora, os comandos... você entendeu, né?

E quando eu quero dizer COPIARAM, não é "se inspiraram", não! É copiado na cara dura mesmo, é exatamente o MESMO jogo com outra skin. Eu me senti constrangido jogando Nioh pela cara de pau dos caras. 

O que eles mexeram no jogo foram alguns tweaks para dar aos nossos jogadores que não sentam para assistir um filme se não tiver o nome do Michael Bay nos créditos exatamente o que eles queriam: um hack'n slash com a engine de Dark Souls.

O truque aqui está que o jogo insere três mecânicas novas que vão exigir dos seus dedos tudo que a série Souls exigia da sua cabeça. A primeira são as posturas, como tradicional no bushido, existem três posturas básicas: alta, média e baixa que são focadas em ataque, equilíbrio e contra-ataque, respectivamente. Durante as lutas mais complicadas você tem que ficar alternando entre elas, em algumas delas várias vezes.

A segunda mecânica que a Team Ninja introduziu foi a da "purificação do ki", o que significa que depois de cada ataque você pode apertar um botão para recuperar a stamina que você gastou. Que paciência o caralho, massacre os botões direitinho e você pode entrar em um frenesi de morte, sangue e vingança!


Por fim, caso o jogador ainda não sinta que está jogando God of War o bastante, foi adicionado literalmente um god mode. Após matar tantos inimigos sua barra de especial enche e você entra no modo super sayajin, fica invencivel e com ki infinito por alguns segundos.


A summon que te dá invencibilidade é um tubarão voador ou um cachorro eletrico. Ok, eu posso viver com essa decisão artística;

Ah, sim, e adicione também um sistema de loot bem parecido com Diablo (ou seja, oito telas de itens que você nunca vai usar na vida) e um sistema de craft para cobrir cada fraqueza do seu personagem que antes da metade do jogo você estará jogando com o Kratos se escolher a Kusarigama (pq se vai jogar um jogo baseado no Japão feudal você não vai usar armas comuns de fantasia europeia, pelo amor do Eva-01) e conseguir apertar seis botões em menos de um segundo.

Você pode, por exemplo, imbuir suas armas para não perder ki quando você bloqueia, ou encantar sua armadura para recuperar stamina rolando. Você entendeu o espírito da coisa. Viu o que eu fiz aqui? Ki, espirito, hã, hã? Ok, essa possivelmente é a pior piada do blog. Muito bom, C, muito bom.

Continuando...

Embora não seja muito a minha coisa, imagino que o sistema de combate possa funcionar para fãs de hack'n slash. O que é mais do que pode ser dito de todo o resto do jogo, realmente. O design das fases é apenas preguiçoso. Se um dos pontos fortes da série Souls é justamente abrir atalhos no mapa para poder andar por aí sem morrer a la loka, aqui não tem nada muito mais criativo de qualquer hack'n slash que do PS2.

Porque é claro que um jogo visualmente inspirado no folclore japones tinha que ter uma cena de fonte termal, mas não tem o cara que entra por engano na fonte das meninas e tem muita gritaria. Vocês ao menos estão tentando, Team Ninja?

Volta e meia os desenvolvedores tem uma ideia criativa para um atalho na fase (sim, é óbvio que copiaram isso também, achou que eu tava brincando?), mas no geral não é nada que desperte muito o seu senso de conquista - já que o foco do jogo é sair massacrando os inimigos e não usar os seus recursos com astúcia.

Pior que do que isso, na verdade, é que as fases não contam história nenhuma. Vê, um dos grandes charmes de Dark Soul é que enquanto não existem uma narrativa com cutscenes e tal, os cenários são construídos a passar claramente a sensação de que uma história aconteceu ali, você é que chegou tarde demais. É algo que Shadow of the Colossus faz com maestria, por exemplo.

Em Dark Souls, o mundo simplesmente irradia história. Todos os corredores parecem que foram com propósito, como se cada coluna em cada edifício tivesse sido colocada lá por arquitetos reais na história daquele mundo. Nioh não. Ele constrói o seu mundo tanto quanto você fazia o seu presente de dia das mães do ensino básico. A vila em chamas é só uma vila em chamas because vila em chamas. Quem liga para cenário quando se tem botões para esmagar freneticamente, né?

Que foi? Matatabi teve dificuldade em encontrar emprego depois de Naruto, um bijuu também tem boletos pra pagar

Mas falando em cutscenes, Nioh ocorre no Japão do século 17, e sua história segue uma figura histórica real chamada William, um homem britânico que viajou para o Japão e acho que se tornou um samurai. E... meio que é isso. Qualquer coisa que se assemelhe à história é rapidamente jogada pela janela logo depois do tutorial ao ponto que você realmente se pergunta pq eles sequer começaram. William viajou para o Japão depois atrás de um mineral mágico chamado Amrita e foi perseguido pelo pirata do Assassin's Creed 4 . Tem algumas referências a conflitos entre dois líderes locais japoneses que podem ou não ser históricos, mas que foram tão mal escritos que não temos motivo para nos importarmos de qq maneira.

Sabe o que é mais interessante? Ao contrário de qualquer local em Dark Souls, Nioh se passa no Japão. No mundo real. Em um lugar que existe. A localização de Nioh tem história anexada a ela; milhares de anos, na verdade! Eles não tinham que escrever nada de novo, a história estava literalmente já lá e estava pronta para ser usada! E apesar de tudo isso, o mundo de Nioh simplesmente é superficial e secundário à ação. 

Isto é devido à declaração que fiz anteriormente: Nioh é Dark Souls para quem não entendeu Dark Souls. A história e o world building em Dark Souls são geridos a conta-gotas, e muitos dos detalhes são vagos. No entanto, as descrições de itens e pequenos bits de diálogo com os NPCs lhe dão poucas dicas que enriquecem a experiencia, e cada chefe ocupa um lugar na história. Você realmente se pergunta como as coisas eram ali antes da desgraça ter acontecido. 

Por outro lado, Nioh pegou só a coisa de ser vago. Os chefões são jogados aleatoriamente sem contexto antes ou depois da batalha, e os NPCs tomam o bolo das mãos de Kingdom of Amaulrurem termos de esquicibilidade. Que personagens temos em Nioh? Bem, eu lembro de Hanzo Hattori por causa de Kill Bill e William porque ele parece o Witcher. E uma das duas mulheres usava uma roupa azul, mas não consigo lembrar seu nome. Todos os personagens de Nioh têm exatamente os mesmos tipos de roupas. Não há nada para distinguir um personagem de outro

A cereja na cobertura é o fato de que William, nosso protagonista, é tão interessante quanto o nome dele. Ele nunca atingiu nenhum tipo de desenvolvimento, nem mesmo um arco de John Smith, onde ele percebe que ele está destinado a se juntar aos japoneses (pelo menos, não até onde eu fui). Adicione todas essas coisas juntas e você tem uma história fraca, mundo fraco e personagens fracos. Mas muitos botões para apertar freneticamente.

Foi aqui que mencionaram My Little Pony?

De modo geral, eu aplaudo a Team Ninja por sua visão de mercado espetacular. Um Dinasty Warriors com a engine de Dark Souls não é a pior ideia do mundo. Tal qual Christopher Nolan que percebeu que podia se dar bem fazendo filmes que parecem só inteligentes para gente burra se sentir  esperta (cof, Interestelar, cof), eles perceberam que podiam fazer um Dark Souls para quem não conseguia jogar Dark Souls. Pena que ela é ofuscada por uma falta de tesão que chega a ser fisicamente dolorosa.

 



[GAMES] NIOH (ou um Dark Souls para os dedos, não para a cabeça)

THE STORY SO FAR: O que eu vou dizer aqui pode parecer um arroubo adolescente de medição de pinto, mas eu te juro que não é. De verdade. Vamos lá: Dark...
POSTADO EM:sexta-feira, 8 de novembro de 2019
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