O que eu vou dizer aqui pode parecer um arroubo adolescente de medição de pinto, mas eu te juro que não é. De verdade. Vamos lá: Dark Souls não é TÃO dificil assim. Nem de perto é um dos jogos mais dificeis que eu já joguei.
Sempre quando eu vejo as pessoas dizendo que jogo X (digamos, Cuphead) é o "Dark Souls de tal genero", eu tenho sérias dúvidas se essas pessoas jogaram os dois jogos. Realmente duvido.
E não é que eu seja algum gênio coreano dos videogames, eu preciso de game genie para jogar a maior parte dos jogos de Nintendinho e choro lágrimas de tungstenio para jogar Cuphead. Então quando eu digo que eu platinei Dark Souls sem derramar nenhuma lágrima de metal algum, você deveria me ouvir.
O segredo aqui é que a maior parte dos gamers não entende como Dark Souls funciona.
E a Team Ninja entendeu que as pessoas não entenderam Dark Souls. O que significa que havia um nicho de mercado enorme a ser explorado aí.
Vamos lá: Dark Souls é um jogo sobre paciência e aprender com os seus erros. Ande com cuidado, trate cada mob como se ele pudesse te matar se você lutar mal...pq ele meio que pode. E é isso. Só isso. Paciência, aprender onde você errou, corrigir.
Agora, você percebe o problema aqui? Pois é, enquanto eu escrevia esse paragrafo o nosso bom gamer de eternos 14 anos mentais já saiu correndo que nem um boi brabo como se estivesse jogando Bayonetta. Oh, que surpresa que você não está conseguindo jogar o jogo, abiguinhu!
Dark Souls não é um jogo sobre esmagar botões, é sobre entender o peso do personagem e o tempo que ele leva para movimentar a arma, é sobre usar a física, e principalmente, dar muitas cambalhotas.
O gamer que não consegue jogar Dark Souls é exatamente o mesmo cara que assiste Jéssica Jones e diz:
- Mi nu gosta nu tem pewpew
- Sim, a proposta não é essa, a ideia é que...
- Nu tem pewpew ruim!
Porque os gamers falam dragonês é algo que eu jamais saberei, mas o ponto não é esse. Existem alguns outros pontos que vão de encontro as expectativas do que um jogo deve ser, mas esse ponto não é importante para o caso aqui. O caso aqui é que pagaria uma boa grana para jogar um Dark Souls feito para pessoas com TDH.
E quando eu digo EXATAMENTE, é EXATAMENTE mesmo! De Dark Souls eles copiaram os menus, a movimentação do personagem, o sistema de almas, a stamina, as fogueiras, dropar as almas quando você morre e perder para sempre se morrer antes de pega-las iluminação, a trilha sonora, os comandos... você entendeu, né?
E quando eu quero dizer COPIARAM, não é "se inspiraram", não! É copiado na cara dura mesmo, é exatamente o MESMO jogo com outra skin. Eu me senti constrangido jogando Nioh pela cara de pau dos caras.
O que eles mexeram no jogo foram alguns tweaks para dar aos nossos jogadores que não sentam para assistir um filme se não tiver o nome do Michael Bay nos créditos exatamente o que eles queriam: um hack'n slash com a engine de Dark Souls.
O truque aqui está que o jogo insere três mecânicas novas que vão exigir dos seus dedos tudo que a série Souls exigia da sua cabeça. A primeira são as posturas, como tradicional no bushido, existem três posturas básicas: alta, média e baixa que são focadas em ataque, equilíbrio e contra-ataque, respectivamente. Durante as lutas mais complicadas você tem que ficar alternando entre elas, em algumas delas várias vezes.
A segunda mecânica que a Team Ninja introduziu foi a da "purificação do ki", o que significa que depois de cada ataque você pode apertar um botão para recuperar a stamina que você gastou. Que paciência o caralho, massacre os botões direitinho e você pode entrar em um frenesi de morte, sangue e vingança!
Por fim, caso o jogador ainda não sinta que está jogando God of War o bastante, foi adicionado literalmente um god mode. Após matar tantos inimigos sua barra de especial enche e você entra no modo super sayajin, fica invencivel e com ki infinito por alguns segundos.
A summon que te dá invencibilidade é um tubarão voador ou um cachorro eletrico. Ok, eu posso viver com essa decisão artística; |
Ah, sim, e adicione também um sistema de loot bem parecido com Diablo (ou seja, oito telas de itens que você nunca vai usar na vida) e um sistema de craft para cobrir cada fraqueza do seu personagem que antes da metade do jogo você estará jogando com o Kratos se escolher a Kusarigama (pq se vai jogar um jogo baseado no Japão feudal você não vai usar armas comuns de fantasia europeia, pelo amor do Eva-01) e conseguir apertar seis botões em menos de um segundo.
Você pode, por exemplo, imbuir suas armas para não perder ki quando você bloqueia, ou encantar sua armadura para recuperar stamina rolando. Você entendeu o espírito da coisa. Viu o que eu fiz aqui? Ki, espirito, hã, hã? Ok, essa possivelmente é a pior piada do blog. Muito bom, C, muito bom.
Continuando...
Continuando...
Embora não seja muito a minha coisa, imagino que o sistema de combate possa funcionar para fãs de hack'n slash. O que é mais do que pode ser dito de todo o resto do jogo, realmente. O design das fases é apenas preguiçoso. Se um dos pontos fortes da série Souls é justamente abrir atalhos no mapa para poder andar por aí sem morrer a la loka, aqui não tem nada muito mais criativo de qualquer hack'n slash que do PS2.
Volta e meia os desenvolvedores tem uma ideia criativa para um atalho na fase (sim, é óbvio que copiaram isso também, achou que eu tava brincando?), mas no geral não é nada que desperte muito o seu senso de conquista - já que o foco do jogo é sair massacrando os inimigos e não usar os seus recursos com astúcia.
Pior que do que isso, na verdade, é que as fases não contam história nenhuma. Vê, um dos grandes charmes de Dark Soul é que enquanto não existem uma narrativa com cutscenes e tal, os cenários são construídos a passar claramente a sensação de que uma história aconteceu ali, você é que chegou tarde demais. É algo que Shadow of the Colossus faz com maestria, por exemplo.
Em Dark Souls, o mundo simplesmente irradia história. Todos os corredores parecem que foram com propósito, como se cada coluna em cada edifício tivesse sido colocada lá por arquitetos reais na história daquele mundo. Nioh não. Ele constrói o seu mundo tanto quanto você fazia o seu presente de dia das mães do ensino básico. A vila em chamas é só uma vila em chamas because vila em chamas. Quem liga para cenário quando se tem botões para esmagar freneticamente, né?
Que foi? Matatabi teve dificuldade em encontrar emprego depois de Naruto, um bijuu também tem boletos pra pagar |
Mas falando em cutscenes, Nioh ocorre no Japão do século 17, e sua história segue uma figura histórica real chamada William, um homem britânico que viajou para o Japão e acho que se tornou um samurai. E... meio que é isso. Qualquer coisa que se assemelhe à história é rapidamente jogada pela janela logo depois do tutorial ao ponto que você realmente se pergunta pq eles sequer começaram. William viajou para o Japão depois atrás de um mineral mágico chamado Amrita e foi perseguido pelo pirata do Assassin's Creed 4 . Tem algumas referências a conflitos entre dois líderes locais japoneses que podem ou não ser históricos, mas que foram tão mal escritos que não temos motivo para nos importarmos de qq maneira.
Sabe o que é mais interessante? Ao contrário de qualquer local em Dark Souls, Nioh se passa no Japão. No mundo real. Em um lugar que existe. A localização de Nioh tem história anexada a ela; milhares de anos, na verdade! Eles não tinham que escrever nada de novo, a história estava literalmente já lá e estava pronta para ser usada! E apesar de tudo isso, o mundo de Nioh simplesmente é superficial e secundário à ação.
Isto é devido à declaração que fiz anteriormente: Nioh é Dark Souls para quem não entendeu Dark Souls. A história e o world building em Dark Souls são geridos a conta-gotas, e muitos dos detalhes são vagos. No entanto, as descrições de itens e pequenos bits de diálogo com os NPCs lhe dão poucas dicas que enriquecem a experiencia, e cada chefe ocupa um lugar na história. Você realmente se pergunta como as coisas eram ali antes da desgraça ter acontecido.
Por outro lado, Nioh pegou só a coisa de ser vago. Os chefões são jogados aleatoriamente sem contexto antes ou depois da batalha, e os NPCs tomam o bolo das mãos de Kingdom of Amaulrurem termos de esquicibilidade. Que personagens temos em Nioh? Bem, eu lembro de Hanzo Hattori por causa de Kill Bill e William porque ele parece o Witcher. E uma das duas mulheres usava uma roupa azul, mas não consigo lembrar seu nome. Todos os personagens de Nioh têm exatamente os mesmos tipos de roupas. Não há nada para distinguir um personagem de outro
A cereja na cobertura é o fato de que William, nosso protagonista, é tão interessante quanto o nome dele. Ele nunca atingiu nenhum tipo de desenvolvimento, nem mesmo um arco de John Smith, onde ele percebe que ele está destinado a se juntar aos japoneses (pelo menos, não até onde eu fui). Adicione todas essas coisas juntas e você tem uma história fraca, mundo fraco e personagens fracos. Mas muitos botões para apertar freneticamente.
Foi aqui que mencionaram My Little Pony? |
De modo geral, eu aplaudo a Team Ninja por sua visão de mercado espetacular. Um Dinasty Warriors com a engine de Dark Souls não é a pior ideia do mundo. Tal qual Christopher Nolan que percebeu que podia se dar bem fazendo filmes que parecem só inteligentes para gente burra se sentir esperta (cof, Interestelar, cof), eles perceberam que podiam fazer um Dark Souls para quem não conseguia jogar Dark Souls. Pena que ela é ofuscada por uma falta de tesão que chega a ser fisicamente dolorosa.