Muito provavelmente durante a escola alguém já pediu para copiar o seu trabalho, ou resposta, ou qualquer coisa assim e você respondeu algo como "ok, só muda um pouco para não parecer que você copiou". Todo mundo já passou por isso.
Ok, certo. O que talvez você não saiba, no entanto, é que animes fazem isso também. Sim, eu sei que se generalizar bastante podemos resumir centenas de animes na mesma frase, porém esse não é o caso aqui.
Peguemos o caso bastante específico de Monogatari, por exemplo. Bem, o que é a série Monogatari?
Monogatari é uma série onde o protagonista é um sarcastico que tem um jeitão meio de entediado e que não tem vergonha de falar coisas pervertidas para as meninas mais porque isso bagunçar com elas e elas vão perder a compostura do que porque ele tem esperança que algo safadeeenho aconteça.
O nosso protagonista, embora pareça bastante comum a principio, na verdade tem uma experiencia com um evento sobrenatural. Só que esse evento não será abordado durante a série, apenas é estabelecido que ele não é leigo no assunto de coisas sobrenaturais acontecendo e apenas no longa metragem após a série é que será realmente explicado o que aconteceu.
Durante as férias de verão antes da série começar, Araragi-kun foi 1/8 vampiro por um tempo. Ele melhorou. |
Nosso protagonista-kun é um cara meio solitário, porém ele tem uma melhor amiga com peitos enormes e que também é a pessoa mais inteligente que ele conhece - e é quem normalmente decifra as paradas sobrenaturais para ele. Essa garota também terá um arco de episódios sobre os seus problemas de dupla personalidade.
Enquanto isso, em casa, nosso protagonista-kun tem uma relação beeeem estranha com a sua irmã, que é uma garota que fala de si mesma na terceira pessoa e enquanto isso parece fofinho no começo, logo fica claro que é um caso de dissociação de personalidade.
Os arcos de história são focados em um tema (digamos, folclore japonês) onde uma garota tem um problema relacionado a esse tema e o protagonista-kun a ajuda a resolver o seu problema. Só que a coisa esperta aqui é que esse problema não é apenas um tipo de maldição aleatória e sim uma metafora para uma situação dramatica da vida real. Como o caso da garota que não tinha peso, por exemplo, é na verdade uma metafora para falar sobre o peso que ela carregava por sofrer abuso sexual em casa.
Em gratidão por ter sido a única pessoa que largou o que estava fazendo e se arriscou para salva-la, a garota acaba se apaixonando pelo protagonista-kun.
Entretanto nosso protagonista-kun não faz a folia no matagal com as novinhas, como em muitos animes. Só que diferente de muitos animes, ele tem um motivo para fazer isso: ele tem uma namorada. Uma namorada bem cool e que tem uma boa noção do quão ele é popular com as meninas, mas administra tão de boa que você não pode realmente culpar o protagonista-kun por escolher ela... mesmo que ela seja meio bruta com ele.
Ok, não tem graça se for fácil demais, eu suponho... Ah sim, essa garota também foi a primeira que o protagonista-kun ajudou e embora ela seja ultra linda e popular, ele foi o único a reparar no problema dela.
Como você pode ver, eu citei alguns pontos bastante especificos de Monogatari que vão além de "é um clichê do genero". Isto posto, vamos ver como "Este sapecote não sonha com senpais-coelhinhas":
Seishun Buta Yarou wa Bunny Girl Senpai no Yume wo Minai (ou aobuta, como é conhecido no Japão) é uma série onde o
protagonista é um sarcastico que tem um jeitão meio de entediado e que
não tem vergonha de falar coisas pervertidas para as meninas mais porque
isso bagunçar com elas e elas vão perder a compostura do que porque ele
tem esperança que algo safadeeenho aconteça.
O
nosso protagonista, embora pareça bastante comum a principio, na
verdade tem uma experiência com um evento sobrenatural. Só que esse
evento não será abordado durante a série, apenas é estabelecido que ele
não é leigo no assunto de coisas sobrenaturais acontecendo e apenas no
longa metragem após a série é que será realmente explicado o que
aconteceu.
Durante as férias de verão, uma noite Sakuta acordou encharcado em sangue e com esse corte na barriga que surgiu do nada. Ele melhorou |
Nosso protagonista-kun é
um cara meio solitário, porém ele tem uma melhor amiga com peitos
enormes e que também é a pessoa mais inteligente que ele conhece - e é
quem normalmente decifra as paradas sobrenaturais para ele. Essa garota
também terá um arco de episódios sobre os seus problemas de dupla
personalidade.
Enquanto
isso, em casa, nosso protagonista-kun tem uma relação beeeem estranha
com a sua irmã, que é uma garota que fala de si mesma na terceira pessoa
e enquanto isso parece fofinho no começo, logo fica claro que é um caso
de dissociação de personalidade.
Os
arcos de história são focados em um tema (digamos, conceitos complexos de física quantica)
onde uma garota tem um problema relacionado a esse tema e o
protagonista-kun a ajuda a resolver o seu problema. Só que a coisa
esperta aqui é que esse problema não é apenas um tipo de maldição
aleatória e sim uma metafora para uma situação dramatica da vida real.
Como o caso da garota que passou a ser qunaticamente invisivel, por exemplo, é na verdade uma
metafora para falar sobre ela não ser percebida por quem ela realmente é tanto pela sua família quanto na escola.
Em
gratidão por ter sido a única pessoa que largou o que estava fazendo e
se arriscou para salva-la, a garota acaba se apaixonando pelo
protagonista-kun.
Entretanto
nosso protagonista-kun não faz a folia no matagal com as novinhas, como
em muitos animes. Só que diferente de muitos animes, ele tem um motivo
para fazer isso: ele tem uma namorada. Uma namorada bem cool e que tem
uma boa noção do quão ele é popular com as meninas, mas administra tão
de boa que você não pode realmente culpar o protagonista-kun por
escolher ela... mesmo que ela seja meio bruta com ele.
Ok,
não tem graça se for fácil demais, eu suponho... Ah sim, essa garota
também foi a primeira que o protagonista-kun ajudou e embora ela seja
ultra linda e popular, ele foi o único a reparar no problema dela.
Então, como você pode ver as semelhanças entre os dois animes vão além de pura coincidencia e sim que Bunny-Senpai parece uma versão não-licenciada de Bakemonogatari...
... exceto que são animes completamente diferentes.
ESPERA, ENTÃO TU PASSOU ESSE TEMPO TODO DIZENDO O QUANTO ESSES ANIMES SÃO IGUAIS PARA FALAR QUE ELES SÃO DIFERENTES?
Exactamundo.
... NÃO ME ADMIRA QUE VOCÊ NÃO TENHA AMIGOS.
Eu tenho amigos, tá bom? Tantos amigos... na Lua... pra mim... tantos amigos... mas, sim, são animes que fazem a mesmíssima coisa de maneiras totalmente diferentes.
Vê, o estilo narrativo de Bakemonogatari é como se o narrador dos jogos da Behemot tivesse aspirado dois caminhões de cocaína com Ecstasy. Você lembra do narrador da Behemot, né?
Então, sim, a coisa aqui é frenética. Entre os dialogos afiados repletos de trocadilhos e jogos de palavras que só um formado em Letras do japonês conseguiria entender, fan service e cenas visualmente bizarras, quando um episódio de Bakemonogatari termina o que normalmente você consegue fazer é piscar duas vezes e dizer "quê?!". E então perguntar "mas quê?!", finalmente completando com um satisfatório "mas quê o que?!?".
Bunny Senpai não tem a pretensão (e possivelmente nem o talento) para escrever episódios como Bakemonogatari. Embora os dialogos sejam bons, o anime não tenta te levar em uma onda de jogos de palavras tão louca que quando você dá está no Sri-Lanka casado com uma cabra. Não, Bunny-senpai pega mais devagar, beeeeeem mais devagar.
E enquanto tem um fan service aqui e outro ali, não tem nenhuma cena em que o protagonista-kun usa uma escova de dentes para dar um orgasmo para a sua irmãzinha. Because Japão.
Mas se Bunny-senpai não faz isso... o que ele faz então? Bem, de uma forma resumida ele faz o que Monogatari esta sendo descolado demais ou pervertido demais para fazer, que é desenvolver os personagens.
Isso quer dizer que enquanto os problemas das garotas são menos estrombólicos (nenhuma delas tem uma dupla personalidade que é uma menina-gato ninfomaniaca), eles são mais pé no chão, mais sinceros e justamente por isso tem mais peso.
O primeiro arco de episódios, por exemplo, é sobre a Bunny-senpai do título. Mai Sakurajima é a atriz/modelo mais quente do momento na industria do show biz japonês (pense nela como a Bruna Marquezine do Japão), quando ela percebe que algo estranho está acontecendo com ela: as pessoas estão parando de enxerga-la até o ponto que ela percebe que está invisivel para todo mundo.
Depois de muito tentar voltar a ser vista, ela surta de vez e sai por aí com uma roupa de coelhinha da Playboy para ver se alguém finalmente enxerga pelo menos seus peitos enormes. Nada. E é aí que nosso protagonista-kun entra, sendo o único que consegue ver a portadora de portentosos magumbos. Ocasionalmente, ele começa a ser o único que lembra que ela existiu.
Essa é a parte da ficção cientifica, ficando assim o subtexto a cargo da parte dramática. O caso de Mai Sakurajima na verdade é menos sobre "O Gato de Schoredinger - The animation" e mais sobre a pressão do trabalho de estrelas mirins ao mesmo tempo em que a sociedade japonesa tem essa coisa de homogeneidade e ver com maus olhos quem se destaca muito.
Não é atoa que "o prego que se destaca é o primeiro a ser martelado" é uma expressão japonesa.
No fim, todos os "problemas metafisicos" das meninas que o protagonista-kun ajuda nada mais são do que metaforas para problemas encontrados pelos adolescentes no seu dia-a-dia. Claro que para isso funcionar os personagens tem que ser críveis e relacionaveis, e eu acredito que o anime faz isso decentemente bem.
Eu gosto bastante por exemplo, de como o protagonista-kun está sempre descolado, com um olhar meio blasé, meio Charlie Brown derrotado mesmo com todas as coisas que acontecem ao seu redor e com as pessoas que ele gosta. Isso, no entanto, não é apenas coolness de anime e sim que ele está na verdade reprimindo tudo que sente - como é esperado dos homens fazerem - ao ponto que é apenas em um momento muito especifico que acontece algo muito grande que ele finalmente quebra e põe pra fora tudo que esteve guardando esse tempo todo.
O anime então faz um bom uso dos personagens, mesmo abusando dos clichés, das relações entre eles e porque eles são como são. Mais importante que isso, o anime tem ciência do que esta fazendo. Se em determinado momento você acha que esse namoro entre os Mai e Sakuta está estranho, e que muito obviamente ele gosta dela muito mais do que ela gosta dele... bem, os personagens também estão cientes disso que você espectador já pode concluir sozinho.
Tanto que em determinado momento Mai diz do nada um "eu gosto de você mais do que você imagina", é porque isso claramente é uma das coisas que esteve cozinhando na cabeça dela a algum tempo e ela apenas precisava colocar para fora que apesar de parecer estar pouco ou nada se fodendo para o protagonista-kun, é muito mais o caso dela não saber como lidar como expressar seus sentimentos do ela não te-los.
Isso não quer dizer que ela seja mais simpática ou agradavel como personagem (ela ainda parece bastante fria e uma namorada que está pouco se importando), porém o fato de eu conseguir entender como o personagem pensa e como ele chegou aquela linha de ação/raciocinio já é suficiente. É aquela coisa, eu não preciso concordar com o Thanos nem achar que ele está certo, eu entender porque ELE acha que o que está fazendo é certo é mais do que suficiente para me vender o personagem.
Fazendo a comparação, Mai é claramente menos "uma figuraça" como a Senjougahara de Bakemonogatari, mas é construída em mais camadas e mais realista do que sua contraparte fan servicista.
Você sabe que é um cara de sorte quando o loop temporal começa a repetir o dia logo no dia anterior a você sair com a 10/10 |
Por essa razão Bunny-senpai acaba sendo emocionalmente mais forte do que a sua inspiração, já que os personagens são melhores construídos e há um arco narrativo que se fecha ao final da história - o que não acontece em Monogatari, que é meio "ok, acabaram os causos de meninas por essa temporada, até a próxima!". A conclusão da história não é apenas emocionalmente impactante como explica uma coisa que estava me incomodando desde o começo do anime: se todos os personagens são mais ou menos criveis ou realistas, porque a irmã do Sakuta se comporta como uma waifuzinha de anime e todo mundo acha isso a coisa mais normal do mundo quando é tão destoante?
Como muitas outras coisas, Bunny-senpai não se faz de cego a esta incongruência que todo mundo percebe desde o começo, e na verdade a explicação é bastante... bastante... eu não estou chorando, você que está!
Então, como você pode ver, apesar de serem animes muito parecidos em estrutura, Bakemonogatari e Bunny-senpai tentam fazer coisas bastante diferentes. O primeiro sendo um razzle dazzle de dialogos rápidos, fan-service e visuais incriveis, o segundo sendo uma pega mais lenta do mesmo tema, mais sobre ansiedade social e auto-estima.