[FILMES] AVENGERS: ENDGAME (ou i love you 3000)

| quinta-feira, 25 de abril de 2019
 

Em 25 de dezembro de 2017, Steven Moffat tinha um problema.

Como, exatamente, você escreve um episódio de despedida para o melhor Doutor de todos os tempos depois de ter escrito o melhor Doutor de todos os tempos, de ter escrito a série durante seis anos e de já ter escrito o episódio perfeito de Doctor Who? (Heaven Sent, que qualquer pessoa minimamente decente concordará comigo, é claro ).

Então como você se despede para sempre de uma coisa que você amou fazer durante tanto tempo? Você tenta superar a perfeição? Você tenta ousar algo novo aos 45 minutos do segundo tempo da final do campeonato? Como, exatamente, você não desaponta os fãs e nem a si mesmo?

A última impressão é a que fica, afinal (sim, Darling in the Franxx, estou olhando para você!)


Cyber Amy azul e seu coelhinho. Touch me harder. Heh hehe hehe heh.


Menos de dois anos depois, os irmãos Russo tinham um problema parecido só que em uma escala nunca antes sonhada na história da industria cinematográfica. Em Avengers: Infinity War eles pegaram o mundo com as calças na mão e entregaram o maior e mais impressionante filme de super-heróis de todos os tempos. Um filme que fez o mundo rir e chorar, e terminou de uma forma tão iconica que é uma das cenas que entrou para sempre na história do cinema mundial. Como dizia o grande filosofo moderno Illidan Stormrage, nós não estavamos preparados.

Um ano depois, o que estava em jogo era muito maior ainda. Como você não apenas continua um filme que marcou uma geração, como ao mesmo tempo encerra com chave de ouro uma inacreditavel história de onze anos de cinema distribuida em 21 filmes? Mais impressionante que isso, 21 filmes dos quais desde "Thor 2: O Mundo Sombrio" em 2013 (seis anos atrás) não tem um único filme ruim desse estúdio? Pode ter alguns "apenas ok", mas efetivamente ruim... nenhum.

Pense sobre isso por um momento. Quem tem um histórico assim? O estúdio Ghibli não tem. A Pixar não tem e Deus sabe que a Disney não tem. Embora eu ainda esteja para ver um filme ruim do Tarantino, ele sequer tem um numero parecido de filmes. Então com quem a gente pode comparar o que a Marvel fez nestes últimos 11 anos? Martin Scorcese, talvez, se ele tivesse feito 21 filmes em 11 anos ao invés de 51.


Não dá, não tem como. Não existe nenhum fenomeno como esse. O mundo enveredou por um caminho sem volta quando, onze anos atrás, Tony Stark disse "Eu sou o Homem de Ferro" e cravou seu lugar em nossos corações com fogo e fúria quando um tão adoravel Homem-Aranha disse que não se sentia tão bem.

11 anos. 21 filmes. 236 personagens principais. 17 diretores. 59 horas de filmes. Poucas séries cinematográficas na história da humanidade são tão longas (de cabeça eu consigo pensar apenas em Godzilla e 007), nenhuma tão bem sucedida. 

Uma geração inteira cresceu admirando, rindo e chorando com esses heróis. Eles significam tanto para tanta gente, então como você possivelmente pode encerrar isso? Pior ainda, como você continua isso depois de um filme tão absurdamente incrível como Vingadores: Guerra infinita?


Bem, a conclusão que os irmãos Russo chegaram foi mais ou menos a mesma que Steven Moffat chegou quando entregou as redeas depois de seis anos comandando Doctor Who: você não supera. Não dá, não tem como tentar vencer tanto sentimento em apenas uma hora, ou duas, ou três. Apenas não dá.

O que você pode fazer para não desapontar ninguém então é algo totalmente diferente: é escrever uma carta de amor. Aos atores que participaram disso. Aos diretores. Ao pessoal da produção. As pessoas que passaram inumeras horas em claro tentando tornar sonhos em realidade. Mas, acima de tudo, aos fãs. Vingadores: Endgame é um filme feito com amor, de fãs para fãs.


Para surpresa de absolutamente todo mundo, Vingadores: Guerra Infinita na verdade tem o vilão como seu personagem protagonista. O arco heróico é dele, os sacrificios são feitos por ele e ele supera um a um os desafios e faz por merecer cada particula de pó de sua inesperada vitória. Ele fez os sacrificios que os heróis não estavam dispostos a fazer (seja de pessoas que amam, seja de seus principios), ele está focado e concentrado naquilo que ele quer fazer (ao contrário dos heróis que estão espalhados e falham por não conseguirem trabalhar como equipe).

Thanos vence porque ele mereceu vencer. Ele vence porque ele foi aquilo que ele potencialmente poderia ser de melhor.


Avengers: Endgame é a vez dos heróis serem aquilo que eles potencialmente podem ser de melhor. Guerra Infinita pode ter nos dado muitas coisas, mas certamente não foi ver os maiores heróis da Terra lutando juntos da melhor forma que eles poderiam lutar. Heróis que aprendemos a amar, rir, chorar e xingar nestes ultimos 11 anos (PORRA STARLORD SUA ANTA!!!). Onze anos.

Avengers: Endgame nos dá isso. Todo personagem que já lutou por algo remotamente bom nos últimos onze anos. Aquele momento que esperamos tanto durante onze anos de vermos todos juntos, trabalhando como uma equipe. Se o primeiro filme foi do Thanos sendo impecavelmente o melhor que ele poderia ser, este é o filme dos heróis sendo 110% de tudo que eles podem ser.

E é lindo.

Thanos conseguiu irritar pessoalmente cada um dos heróis mais poderosos da Terra. Especialmente a Feiticeira Escarlate. É hora de pagar a conta, e isso não vai acabar bem pra você, pal

Não apenas eu, mas a sessão inteira do cinema aplaudiu, riu e chorou. Nós vibramos e nós lamentamos. Porque nós vimos aquilo que queriamos ver. E nos despedimos não apenas de um filme, mas de uma fase inteira de nossas vidas.

Endgame não é apenas um filme e não deve ser analisado como um, e sim como uma jornada através dessa história. Literalmente, até. Em uma estrutura a lá De Volta para o Futuro 2, revivemos grandes momentos do passado - e como não poderia deixar de ser em um filme da Marvel, o filme se autoparodia quando alguém aponta que basear seu plano em De Volta para o Futuro é uma ideia estupida. Ainda sim, não tem preço reviver estes momentos novamente por uma última vez.

Ai meus feels

Ouvir Come and Get your Love em Morag (em uma época estranha que mal suspeitavamos nós que nos apaixonariamos por esse adoravel bando de desajustados espaciais que aprenderam a se tornar uma família), a cena do elevador em Soldado Invernal (literalmente a cena que encerrou a era negra da fase 2 da Marvel e declarou que dali para frente os filme da Marvel seriam feitos com coração, para provar um ponto), ver o Loki no primeiro Avengers quando todo mundo tinha uniformes tão bregas (mas como bem disse o agente Coulson, talvez nós precisamos de um pouco de antiquado nesse momento), ver o Thor desmoronando ao rever Asgard em toda sua glória mais uma vez, principalmente sabendo como as coisas terminarão. 

É um filme que sabe perfeitamente o que você quer ver, o que isso significa para você e como brincar com as suas expectativas. Assim como os heróis do filme, a direção está sendo 110% daquilo que ela podedria ser.

Gavião Arqueiro é badass. Nunca critiquei.

Esse filme não é apenas sobre os personagens sendo o melhor que eles podem ser em combate (embora também seja), mas enquanto personagens mesmo. É um closure para o arco de personagem de cada um dos Avengers originais e quando você termina de assistir, (chorando) você tem a sensação de que foi dito tudo que precisava ser dito sobre estas pessoas extraordinárias e que esse é um bom ponto para terminar a história.

E então a história termina. Ela literalmente termina, eu quero dizer. Sem cenas pós-créditos aqui. Sem "os heróis voltarão em...". Sem mais cameos do Stan Lee. É o fim, e por mais incrivel que tenha sido essa jornada, ESSA história terminou.

É estranho imaginar como é esperar viver em um mundo assim, mas parte da jornada é o fim.

O dilema existencial de saber que seu corte de cabelo esta cagado, mas ao mesmo tempo você não quer mudar porque foi feito pelo Stan Lee

Claro, os filmes da Marvel continuarão existindo e eles tem algumas coisas realmente interessantes. Teremos os personagens que eram da Fox voltando para casa (e finalmente um filme decente do Doutor Destino, não é admissivel que o segundo maior vilão da Marvel não tenha um filme que preste), teremos Wolverine e os X-men. Teremos Deadpool. Teremos Antonie Mack como Capitão América e se isso não te da boas expectativas, então você não fez o seu dever de casa. Teremos mais do amigão da vizinhança, o espetacular Homem-Aranha.  Teremos todos os filme de super heróis da DC e da Sony que aprenderam alguma coisa com a Marvel. Teremos os Asgardianos da Galaxia. Teremos a imbátivel Garota Esquilo. Ok, ainda não, mas um cara pode sonhar.


O futuro reserva grandes coisas, isso é certo. Porém isto esta no futuro, e o ponto é que essa história terminou. Qualquer coisa que for construída daqui para frente, terá que ser construída do zero com resultados para daqui a dez, quinze anos. Eu me pergunto que pessoa eu serei daqui a quinze anos. Eu me pergunto que pessoa eu era onze anos atrás quando Tony Stark disse "Eu sou o Homem de Ferro" e as coisas nunca mais seriam as mesmas.

This ride is over, but what a ride that was. What a ride.

Então é isso, e é assim que termina. Endgame é um filme melhor que Infinity War? Honestamente, não importa. Não é sobre isso que se trata, e se você está fazendo essa pergunta, então você é o tipo de pessoa que faz as perguntas erradas.


Ao longo de três horas agitadas que graciosamente fluem antes de ultrapassar as suas boas-vindas, embarcamos em uma epopeia repleta de coração, humor e perda inconcebível. Você vai rir, você vai chorar, mas o mais importante, você vai seguir em frente. No filme de numero 22, o relacionamento de 11 anos com a Marvel Studios finalmente chegou à sua conclusão. E com Avengers: Endgame, não tem como ser um adeus mais perfeito.

Exceto o Capitão América e a Viúva Negra jogando Game Boy através de cabo link. This is fucking perfect.

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