[GAMES] Fallout 4 (ou a Malibu Stacyalização dos videogames)

| quarta-feira, 3 de abril de 2019
 

Um dos meus episódios favoritos dos Simpson é "Lisa vs Malibu Stacy". Nesse episódio Lisa enche o saco da tendencia sexysta da Maliby Stacy (a Barbie daquele universo) e começa uma crusada para criar uma boneca que represente melhor as mulheres. Longa história em curta, no dia do lançamento da boneca Lisa faz um discurso inspirado para as meninas e por um momento chega a tocar o coração delas. Então aí alguém grita "Olha! A Malibu Stacy tem um novo chapéu!" e as crianças avançam desesperadamente na mesma boneca de sempre.





Fallout 4 é o novo chapéu da Malibu Stacy.


Com certeza é o jogo mais bonito já produzido pela Bethesda, tem vários gimmicks e chimichangas novos. Olha, dá pra customizar suas armas, que legal. Olha, dá pra fazer uma vilazinha, que legal. Olha, o cachorro não morre tão fácil, que legal. São duzias de pequenas coisinhas legais. dezenas. Novos chapéus para a Malibu Stacy de várias cores.


Todas as resenhas que babaram em cima do jogo concordam com isso. Sabe com o que mais elas concordam? Que o jogo em si não é lá grande coisa. Claro que isso não é importante visto que temos vários chapéus novos, mas o jogo mesmo não tem nada de especial.

Fallout 4 tenta ser uma mistura de RPG com FPS e consegue ser um belo pato: faz as duas coisas, só que nenhuma das duas bem.

Como FPS Fallout é unanimemente ruim. O sistema de tiro é troncho e desconfortável e considerando que atirar em tudo que se move é o que você mais faz no jogo isso seria um grande problema. E é. Mais da metade do jogo envolve ir a um  lugar, matar tudo e voltar. E matar tudo  nesse jogo não é divertido.

Não há nenhuma sensação de controlar uma arma mortal, latindo e resistindo em sua mão enquanto ela vomita morte sobre seus inimigos, acertar os inimigos não dá uma sensação satisfatória, tudo parece leve e esvoaçante. Em Medal of Honor do PS1 você já tinha um shooting  mais satisfatório que esse

A parte do RPG consegue ser pior ainda. Sabendo que as pré-vendas já estavam garantidas e o jogo já tinha se pago, a Bethesda simplesmente se atirou nas cordas e fez o jogo de qualquer jeito. O cenário e os personagens parecem tão leves e sem impacto quanto o tiroteio. Em nenhum momento dá pra acreditar que nada daquilo é importante e em nenhum momento  o jogo tenta te convencer do contrário.

A esquerda, Fallout 4 de 2015
A direita, Fallout 3 de 2008

Sem mentira nenhuma, quando você se aproxima de um NPC os dialogos são coisas do tipo "Oi estranha, tá aqui a quest, vai lá, tchau". O jogo foi escrito com esse nível de tesão. E a inteligência artificial acompanha o esforço de modo que os NPCs ainda são os mesmos robos sem vida de Fallout 3 (ou de qualquer jogo da Bethesda, na verdade) vagamente melhorados (chapéus novos, lembre-se) mas não o suficiente para te convencer de que aquilo não é apenas uma caixa de areia com bonequinhos que não importam.

Os personagens são tão mal escritos que ouvindo eles falarem você imagina que as bombas caíram a no maximo um ano atrás e eles ainda são pessoas do nosso mundo se adaptando ao novo estilo de vida. Só que foram a duzentos  anos atrás.

Para adicionar insulto a injuria, a quest principal tenta te enfiar um sentido de urgencia que fica imbecil em cenários de mundo aberto. “Oh, meu bebe está desaparecido, talvez morto. Encontrá-lo é a única coisa com a qual eu  me importo. É a motivação da minha vida... mas primeiro vou matar uns molerats pra ganhar um desconto que não importa tanto assim com esse lojista estranho.”.

Quests com as quais voce não se importa para NPCs com os quais você não se importa e organizações com as quais você não consegue se importar porque claramente a Bethesda não colocou nenhum esforço nelas, o que há para gostar no RPG desse jogo?


Eu sei lá ... Acho que eu finalmente terminei com os jogos de Bethesda.

A coisa é, eu amo os mundos físicos que eles constroem. Eles realmente têm algum talento. E quando eu olho para os seus jogos como uma espécie "Fantasy Walking Simulator 2015" é onde dá pra tirar o máximo de diversão. Dar tarefas estúpidas como caminhar do ponto A ao ponto B do outro lado do mundo é divertido até certo ponto. Os jogos são bonitos (mas não os menus, gerenciar seu inventário é uma desgraça)...

... Mas meio que isso é tudo. Você só pode se divertir caminhando em um jogo um limitado numero de vezes, e a Bethesda vem apostando nas mesmas vacas desde Morrowind. A "mecânica" simplesmente não é muito interessante ou atraente. Eles estão tentando montar a linha entre RPG e jogo de ação, e falham em ambos. O
combate está apenas ficando mais para trás seus pares, especialmente no âmbito dos jogos de tiro. Simultaneamente, o RPG é chato e sem inspiração (e cada vez pior em cada jogo que lançam)

Tudo é chato. As quests são chatas, os NPCs são chatos, a história é chata, os dialogos são chatos (logo em Fallout, que sempre teve no humor dos dialogos seu ponto forte), os locai são chatos e tediosos (ter que "limpar" cada saqueador de um labirinto como a factory é um saco). E sabe o que mais é chato? Ter que pilhar milhares de containers de lixo pregados no chão porque agora cada pedaço de lixo serve de material de crafting. Ultrapassa os limites do tedioso.

Ah, e você ganha uma power armor na primeira quest do jogo. Porque claramente a Bethesda não poderia se importar menos.



(originalmente postado em 13/11/2015)






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