Uma coisa que eu tenho feito ultimamente é tentar entender porque as coisas são feitas. Porque um autor escreve uma história, porque um game designer faz um jogo, porque o Michael Bay explode coisas. Muitas vezes você me viu falando aqui sobre "sobre o que isso é realmente", e enquanto nem tudo é sobre metaforas, é sempre sobre alguém querendo chegar em algum ponto.
As vezes esse ponto é apenas porque vai dar dinheiro (e esses tendem a ser bem esquecíveis, como os filmes do DCEU), as vezes é porque o The Rock tava afim (e esse é um motivo mais do que suficiente). Então, isto posto, Homem Formiga e a Vespa é um filme sobre absolutamente nada em especial - o que implora a questão: porque esse filme existe, então?
Enquanto a Marvel não faz filmes para perder dinheiro, esse também não foi feito para arrecadar insanamente. Quer dizer, o Homem Formiga não é o Vingador favorito de ninguém, nenhuma criança se veste de Homem Formiga na sua festa de aniversário e, de todas as coisas legais que se pode comprar de brinquedos com a estampa Marvel, nenhum acessório do Scott Lang é realmente indispensável na coleção de ninguém.
Como nerd, posso confirmar que o merchandising do Homem-Formiga está na minha lista de prioridades atrás dessa camisa |
Então se não é pelo dinheiro, é pela história então que esse filme existe?
Hm, não exatamente... HFeaV, como eu disse, é um filme sobre absolutamente coisa nenhuma. Na trama do filme, Scott Lang está a dois dias de terminar sua prisão domiciliar quando o Dr. Pym o recruta para salvar sua esposa que ainda está perdida no Reino Quantico. Essa empreitada é interrompida pelas tentativas do pior mafioso de todo universo e por uma vilã que não é má realmente. De fato, quase todos os problemas do filme se resolveriam se eles apenas conversassem com calma - o que não acontece porque o Dr. Pym é um baita de um babaca e todo mundo literalmente o odeia o feladaputa.
Mas enfim, é um filme sobre uma missão não tão importante assim (bastava apenas alguem falar que a Vespa original foi resgatada uma hora dessas e seria suficiente, uma unica linha de dialogo substituiria o filme todo) atrapalhada por mal entendidos. Não tem muito mais do que isso, na verdade.
Claro, a Marvel sendo a Marvel, a execução é realmente muito boa. Se o primeiro filme do Homem Formiga deu a sensação de que eles não usaram todo o potencial da coisa do tamanho para boas cenas de ação (exceto pela cena do trenzinho, a melhor cena do filme), aqui eles brincam com isso até se darem por satisfeitos. Com a grande vantagem que a Vespa, ao contrário do Scott Lang, realmente sabe lutar, então temos boas coisas ai. Temos também mais cenas do Luís sendo o Luís, e isso sempre é uma coisa muito legal de se assistir.
Basicamente o filme faz o que o primeiro filme faz só que melhor. No primeiro filme Scott Lang diz o quanto ele se importa com a filha dele, aqui isso é MOSTRADO. Bom, muito melhor. E tudo isso é muito legal de se assistir, mas então, meio que "é, legal" é até onde vai. Não tem um senso de proposito, de urgencia maior. É apenas legal.
A Marvel está numa crescente de qualidade que começou com Spiderman: Homecoming, foi aumentando sua qualidade exponencialmente com Thor: Ragnarok e Pantera Negra até culminar naquele que é (até agora) o blockbuster da década com Guerra infinita. Seria justo então se perguntar porque eles sentiram que precisavam de um filme "é, legal"?
Porque depois de um grande filme, "é, legal" é exatamente o que você precisa fazer.
Permita-me repetir uma coisa que eu disse no texto de Batman V Superman:
No filme do Lego, o Batman diz que só trabalha com preto e as vezes cinza muito, muito escuro. Era uma piada, obvio. Zack Snyder faz disso seu mantra, mas de certa forma é bom porque quanto menos vermos o filme dele mais felizes seremos. O diretor gosta de trabalhar sem com duas tonalidades em todas as camadas, mas não da forma que você pode imaginar. As cenas são barulhentas ou SUPER barulhentas. São escuras ou escuras PRA CARALHO. São verborrágicas sem sentido ou parecem que os personagens injetaram Red Bull com cafeína no coração.O resultado final é que o filme é exaustivo. Tudo é muito, tudo é demais. Sério demais, sombrio demais, explosões demais. Em duas horas e meia de filme há um único sorriso - que é quando a Mulher Maravilha está lutando. O resto parece a obra de um adolescente revoltando que se acha super maduro e adulto porque chutou um cachorrinho na rua, que acha que ser DARQUIIIIII E DU MAUUUUU é sinal de maturidade.
Em uma cena de Trumbo, o roteirista diz ao diretor que ele não pode escrever todas as cenas para serem épicas e fodas porque então nenhuma cena seria, ao que o diretor responde que as escrevesse assim mesmo - ele filmaria algumas desleixadas para equilibrar. Isso é algo tão básico da narrativa, tão primal que me abisma como diretores profissionais como Zack Snyder e Michael Bay não consigam entender isso. Um filme tem que ter ritmo, tem que saber a hora de subir e a hora de descer, tem que ser uma conversa com o espectador e não duas horas e meia de berro na sua cara. Esse homem não entende a coisa mais básica sobre direção.
Nesse mesmo texto eu fiz uma referencia ao impeachment da Dilma, alguém ainda lembra dela? Pois é, faz tempo... Mas meu ponto é justamente esse. Alternancia é importante não apenas para não cansar o espectador, como para fazer os pontos altos parecerem mais altos em comparação. Então você tem um isso, um filme divertidinho para limpar o paladar - até onde eu lembro, é o primeiro filme da Marvel onde ninguém morre durante o filme, por exemplo.
É absolutamente impressionante que a Marvel tenha se dado ao trabalho de fazer um filme exclusivamente para trabalhar com a percepção geral do publico, esse é o verdadeiro ponto do filme aqui. Esse é o tipo de cuidado com o seu produto (como, por exemplo, o filme necessariamente se passar em San Francisco é mais importante do que você pode imaginar) o que faz não só você está na frente, como continuar na frente.
Isso, é claro, e a melhor cena pós-créditos de todo MCU. True Story.