[GAMES] ROGUE LEGACY (ou falhando legadamente em família)

| sábado, 13 de abril de 2019
 

Em 1980, um bando de nerds colocou em prática toda ideia que qualquer bando de nerds sempre teve em qualquer momento da história da humanidade: criar um jogo de computador que emulasse uma partida de RPG de mesa. Tarefa que até hoje não foi satisfatóriamente concluída, e não acho que teremos inteligencia artificial para isso na próxima decada pelo menos. Porém, isso não nos impede de tentar, não é?

Foi assim que nasceu "Rogue", um jogo de computador que emula as dungeons de um RPG.


Como em um RPG tradicional, você explora as masmorras em busca de itens e experiencia que aprimorarão o seu personagem. De posse destes equipamentos e melhora de atributos, você está pronto para ir para a próxima masmorra e assim infinitamente.

E quando eu digo "infinitamente", não é figura de linguagem: Rogue usava um algoritmo para gerar proceduralmente as dungeons, então existe um número praticamente infinito de dungeons possíveis e seu desafio é ir o mais longe que conseguir não para marcar pontos como em um arcade, mas para ter o personagem mais fodelão possível.

Desnecessário dizer que os gamers gostaram muito dessa ideia e Rogue acabou se tornando um genero inteiro de jogo, que é hoje são conhecidos como "Roguelike". Sim, nós nerds somos famosos por nossa criatividade.

Ao longo das eras roguelikes vieram e se foram, alguns bons, alguns ruins e alguns são Binding of Isaac. Porém hoje é um dia deveras especial, porque eu quero falar sobre o melhor roguelike jamais feito!

Após runs suficientes, você pode dizer "YOU HAVE NO POWER HERE!"


O principal desafio de um roguelike moderno é manter essa estrutura de "uma vida, um castelo" mas ao mesmo tempo dar ao jogador uma sensação de progressão. Ok, você joga, morre e começa de novo, mas ao mesmo tempo você tem que estar fazendo algum tipo de progresso e é nisso que Rogue Legacy faz tão bem.

Quando você morre, antes de tentar novamente, você pode gastar o ouro que adquiriu na sua tentativa anterior para aprimorar o seu personagem. Então você pode comprar mais vida, desbloquear classes novas, melhorar seu ataque, defesa ou mesmo armadura ou movimentos especiais (tipo pulo duplo ou dash no ar). A grande coisa é que os inimigos não sobem de nível junto com você, então eventualmente você vai estar forte o suficiente para sobreviver de boas em areas do castelo que inicialmente chutavam sua bunda com farofa e estrogonoff.

Para poder comprar as runas que são habilidades especiais e os equipamentos você primeiro tem que desbloquea-los encontrando no castelo, normalmente em salas de puzzle como essa que exige que você chegue ao baú sem tomar dano.
Então mesmo que você esteja o tempo todo morrendo e recomeçando, você está sempre fazendo progresso e isso por si só já mantém o jogador motivado a cumprir seu objetivo de derrotar os quatro chefes do castelo (não precisa ser na mesma run, os chefes não voltam uma vez derrotados) e então encarar o boss final.

Porém, enquanto Rogue Legacy nailed it o que faz um roguelike funcionar, essa não é sua principal atração. A principal feature do jogo são os traits dos herdeiros. Porque quando seu personagem morre, você joga a próxima run com um dos seus descendentes.

São últimas palavras bastante... especificas... Lady Faye IV
 Assim como as pessoas no mundo real, cada personagem tem suas próprias características que podem (ou não) realmente impactar o playthrough de forma positiva ou negativa. Um pode ter nanismo e ter um visão ruim. Outro não pode ler textos corretamente, enquanto também não ser capaz de ver em "3D". Este conceito é interessante porque ele te obriga a se adaptar em cada run as características do seu personagem. 

Por exemplo, se um personagem tem gigantismo, o alcance dele é mais longo. Se ele tem nanismo, ele pode passar em passagens que não cabem outros personagens. Se ele tiver o trait "The One", o cenário de fundo vai parecer como algo saído dos anos 80. Se ele tiver dextrocardia (uma anomalia bastante rara em que o coração fica do lado direito do peito), os atributos de MP e HP são invertidos. Se ele for gay... não muda nada, gays são apenas pessoas normais iguais a todo mundo pelo amor de deus estamos em 2019 tire sua cabeça da bunda!

O único defeito do trait "The One" é que não começa a tocar "Push it to the limit"


Existem 31 traits, sendo que um personagem sempre recebe 1 e mais raramente 2. Alguns melhoram o personagem (como a memória fotográfica, que mostra no mapa onde estão os baús de tesouro), outros tornam o jogo mais dificil (como a demencia, que faz você ver monstros que não existem), alguns são apenas cosméticos e outros ainda não fazem nada realmente.

Com tanta coisa diferente sendo possível entre um gameplay e outro - seja a configuração do próprio castelo, seja o seu personagem - Rogue Legacy não se torna cansativo após várias e várias runs.

Rogue Legacy é um jogo que tem sucesso em fazer o que roguelikes são supostos fazer de melhor: apenas sentar e ter uma partidinha rapida para tentar de novo na próxima vez. Seja sua jogabilidade altamente responsiva que torna enormemente satisfatório matar coisas, seja por seus gráficos pixelados muito bonitinhos ou pela qualidade do algoritimo que constrói castelos que nunca dão em becos sem saída ou parecem design ruim, o jogo sempre tem algo favoravel em cada nova tentativa. 

Além dos traits, durante sua exploração você pode também ganhar bênçãos e maldições. Neste caso temos a "maldição do porco-espinho", que faz você dropar as moedas quando é atingido como um certo porco-espinho azul...
 Videogames as vezes podem ser apenas para fazer algo divertido enquanto você ouve uma videoaula ou um podcast light, ou para passar 10-15 minutos que você tiver a toa. Não são tantos jogos hoje que você pode sentar e jogar se tiver menos do que uma hora (ou mais) disponível e nisso Rogue Legacy é espetacular.

Eu realmente recomendo para todos aqueles que são roguelike, para os que não são e  agora me dão licença que eu vou tentar mais uma run.
Next Prev
▲Top▲