[ANIMES] METTALIC ROUGE: Uma distopia narrativa
Se tem uma coisa que o estúdio BONES sabe fazer, é fazer história. Fullmeal Alchemist Brotherhood, Boku no Hero ou Cowboy Bebop: The Movie são alguns exemplos de animes que tem que estar no currículo básico de qualquer otaku. Por isso quando Metallic Rouge foi anunciado como um projeto original de 25 anos do estúdio, obviamente que acabou gerando muita expectativa - talvez expectativa demais, mas vamos a isso.
De qualquer forma, é só bater o olho nos conceitos visuais de MR e já dá pra sentir que o BONES queria caprichar. E capricharam? Sim... mas também escorregaram no tomate aqui e ali, o que torna essa série um caso interessante (e frustrante) de se analisar.
25 anos de BONES: A festa estava prometida!
Como eu disse, o estúdio BONES não é qualquer estúdio. Eles são os gênios por trás de obras icônicas como Fullmetal Alchemist: Brotherhood, que redefiniu o conceito de anime shounen com sua trama densa e emocionante; My Hero Academia, que trouxe frescor ao gênero de super-heróis e cativou uma legião global de fãs; Mob Psycho 100, uma aula de criatividade e animação experimental; Soul Eater, com sua estética única e personagens memoráveis; e Ouran High School Host Club, que se tornou um clássico da comédia romântica. Só sucesso atrás de sucesso, né? Então, quando anunciaram um projeto original para marcar o marco de 25 anos, a hype explodiu. A ideia era trazer uma narrativa ambiciosa e visualmente estonteante. E nesse quesito, Metallic Rouge entrega muito bem. Visualmente, é como se eles tivessem jogado um balde de purpurina cyberpunk na tela e gritado: "Admirem essa obra-prima!"
O problema é que nem tudo que reluz é purpurina... esse trocadilho com o ditado ficou melhor na minha cabeça, eu juro... porque na hora que passa o momento de ver waifus cyberpunks a história dá umas tropeçadas, a gente percebe que talvez o bolo de aniversário estava bonito demais por fora e meio seco por dentro.
Rouge: Estilosa até o último fio de cabelo
Nossa protagonista Rouge não é a Lucy de Cyberpunk Edgerunners, mas não fica muito atrás em estilo visual e carisma. Com efeito, se existe um motivo para assistir a Metallic Rouge, ele se chama Rouge Redstar. O design dela é espetacular!
BONES sabe como criar personagens que gritam "estilo" com cada movimento. Rouge é uma Proto-Nean (um androide sem aquelas famosas Leis de Asimov que os impedem de quebrar as regras) que tem a missão de caçar outros proto-Neans renegados - sim, Blade Runner mesmo e dane-se.
Mas o ponto aqui é que diferente do Harrisson Ford, Rouge exala uma aura de waifu apaixonável... bom, suponho que o Harrisson Ford possa ser isso pra algumas pessoas, quem sou eu pra julgar... mas meu ponto é que seu comportamento meio desligado e inesperadamente bobo em situações sérias - como a cena que ela enfia todo o chocolate na boca pra não ter que dividir com a criança, ou como ela resolve o problema ed quem era o impostor na estação SOCANDO TODO MUNDO, ATÉ O CACHORRO valem muito a pena, Rouge nunca é desinteressante quando tem os holofotes.
E o melhor? O design dela não é só pra "parecer bonito"; ele reflete a complexidade da personagem. Rouge tem uma luta interna sobre sua própria autonomia, o que acaba espelhado em suas expressões muitas vezes conflituosas. Mesmo quando a trama afunda um pouco em expositividade (e a gente vai chegar lá), Rouge segura bem a atenção do espectador.
Um mundo riquíssimo que beira a sobrecarga
Ah, a construção de mundo. Esse é outro ponto onde BONES claramente gastou tempo e dinheiro. Metallic Rouge nos apresenta um futuro onde humanos coexistem com androides chamados Neans, e as tensões entre as espécies são palpáveis. Adicione a isso uma paisagem de Marte que mistura tecnologia de ponta com ambientes sujos e decadentes, e você tem um mundo que parece vivo e pulsante.
Aqui, é inevitável traçar um paralelo com Blade Runner. Assim como o clássico de Ridley Scott, Metallic Rouge explora a coexistência conflituosa entre humanos e seres artificiais, com tons de melancolia e uma estética cyberpunk que transborda estilo. Enquanto Blade Runner utiliza a chuva incessante e os letreiros neon para criar seu ambiente distópico, Metallic Rouge nos transporta para Marte, um lugar onde o vermelho poeirento do planeta e os avanços tecnológicos colidem para formar uma paisagem igualmente fascinante.
Mas aqui também está o problema: tem muita coisa. Facções lutando pelo controle, conspirações globais, "Nove Imortais" para serem derrotados, questões filosóficas sobre inteligência artificial... Chega um ponto em que o espectador sente como se estivesse folheando um manual de 500 páginas ao invés de apenas assistir a um anime. O excesso de detalhes e elementos acaba prejudicando o ritmo e a compreensão geral.
Expositividade: O calcanhar de Aquiles da trama
Se tem uma coisa que Metallic Rouge faz de forma um tanto irritante é o excesso de explicações. Em vez de deixar os acontecimentos falarem por si, o roteiro insiste em despejar informações. Você sente como se estivesse preso em uma aula chata com um professor que fala demais e não deixa os alunos explorarem por conta própria.
Esse é outro ponto onde as comparações com Blade Runner surgem. No filme de 1982, muito do apelo está no subtexto e nas sugestões visuais, permitindo que o espectador interprete os dilemas existenciais dos replicantes. Em Metallic Rouge, por outro lado, o roteiro quer passar tanta informação sobre aquele mundo em tão pouco tempo (são apenas 12 episódios) que quase todos os personagens são mais tutoriais do mundo do que personas críveis realmente.
Em dado ponto, eu realmente passei a acreditar que o anime esperava que eu assistisse com um bloco de notas na mão para anotar quem eram todas as facções, pessoas importantes e as agendas todos os players desse mundo.
E isso é uma pena, porque a história tem potencial. A missão de Rouge é eliminar os "Nove Imortais" — androides extremamente poderosos que representam uma ameaça existencial à humanidade. A premissa é legal, mas o ritmo arrastado e a quantidade de personagens e facções acabam tornando tudo um pouco cansativo. Você sabe que algo deu errado quando percebe que mais da metade do tempo foi gasto com exposições ao invés de ação ou desenvolvimento real.
Vale a pena assistir?
Olha, se você é fã de visuais deslumbrantes e uma vibe cyberpunk bem estilosa, Metallic Rouge vai te impressionar. Só não espere ir além do visual, pq aí complica o meio de campo. O aniversário do BONES foi uma festa bonita, mas faltou um pouco mais de cuidado com o conteúdo do "presente". Para quem tem paciência e se importa mais com o conteúdo do que a forma, MR tem muito no que afundar os dentes. Mas se você prefere uma história bem contada, talvez seja melhor procurar outra coisa.