Onde a magia acontece

[FILMES] DEADPOOL 2 (ou eu só vi o anuncio e achei que ia ser divertido)

| quarta-feira, 4 de julho de 2018
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Sabe uma coisa que eu gosto? Mas adoro de verdade, que sempre terá minha atenção em qualquer formato que for feito? Ficção especutaliva. Bem, legal, mas o que é isso?

Então, o termo é meio vago, na verdade, e usado por muitas pessoas de muitas formas diferentes. Mas a definição que eu uso é a seguinte: é um cenário de ficção onde se presume que X é verdade, e se explora todas as ramificações disso.

Por exemplo, muitos dos nossos valores modernos como sociedade vem do cristianismo. Ok, agora imagine uma realidade alternativa onde nenhum judeu que de alguma forma era loiro de olhos azuis foi crucificado por dizer que as pessoas deviam ser menos babacas umas com as outras. Todas as regras do jogo são diferentes a partir do momento que não temos uma formação cultural de séculos de uma igreja com a mão muito forte. Então, que tipo de sociedade nasceria desse cenário? Uma bem diferente do que temos hoje, isso eu posso te garantir.

Como um russo de nome muito dificil de pronunciar escreveu certa vez, "Se Deus não existe, tudo é permitido".

Por isso que é tão dificil representar aliens na ficção cientifica, porque em 95% das vezes eles são apenas seres humanos com outra cor de pele ou geleia no lugar dos olhos. Eles pensam como a gente, tem os nossos valores, a nossa formação cultural e ética, só divergindo em pontos muito especificos e mesmo assim olhe lá. Sabe quem realmente conseguiu acertar nesse sentido, que escreveu aliens tão alieniginamente alienescos cuja alienicidade sequer podemos começar a compreender?

Eduardo. Sim, o próprio. Mais precisamente, Eduardo Filipe Lovecraft. Porque esse é o tipo de resultado que você tem quando começa a imaginar seres que não jogam com as nossas regras. E isso é o que me fascina tanto na ficção especulativa, que pode ir desde os minimos detalhes (como no filme Jumper, quando o protagonista pode teletransportar a vontade e por consequencia até esqueceu de como portas funcionam), até uma construção macro de mundo.

Para este ultimo caso, realmente recomendo você assistir Shinsekai Yori, a propósito.

Tá, agora que você entendeu o que é ficção especulativa... e o que Deadpool 2 tem haver com isso? Apenas tudo.




Como todo mundo deve saber, Deadpool é um filme de super-herói com classificação etária acima de 18 anos (não vou discutir as tecnicidades de classificação etaria dos governos). O que isso significa? Bem, que eles podem colocar qualquer quantidade de violencia que eles quiserem no filme.

Tá, certo, mas o que isso REALMENTE significa? Ora, significa que eles podem colocar QUALQUER quantidade de violencia no filme. E quando você começa a entender essa premissa, as coisas ficam realmente diferentes. Porque se X é outro, levará a um resultado Y completamente diferente!

E foi exatamente o que eles fizeram aqui!

Vê, um dos meus maiores problemas com o primeiro filme do mercenário tagarela foi que eles tinham liberdade para explorar isso o quanto conseguissem imaginar... e fizeram um filme absolutamente comum que podia colocar absolutamente qualquer personagem no lugar do Deadpool que não mudaria nada. Porra, aí tu me fode o meio campo, abiguinhu!

Não, pensa comigo: o Deadpool é, para efeitos práticos, praticamente imortal. Então porque lutaria igual a todos os outros heróis que tem que se preocupar com bobagens como não morrer ou evitar ter todos os ossos do corpo moídos tal que caberia em um saleiro? Uma vez acostumado com a sua imortalidade, o Deadpool teria necessariamente um estilo bem único de lutar, certo?

Pois então, é exatamente o que vemos aqui. As cenas de ação são realmente interessantes de se assistir porque é algo único, algo que nenhum outro herói poderia exercer na tela. Isso quer dizer que ele luta, por exemplo, considerando ter o seu braço quebrado em quatro partes diferentes como parte da estratégia. Aí sim, aí senti firmeza!

Eu comecei falando justamente das cenas de ação, porque é justamente esse o espirito que os produtores tiveram para esse filme: contar uma história que só poderia ser contada com o Deadpool. E foi exatamente o que eles fizeram.



O filme começa com nosso herói fazendo o que faz de melhor: matando caras maus por sacos de dinheiro, feliz com sua cutie pie Morena Baccarin... hm, talvez até feliz demais. Logo no começo do filme? É, todo mundo sabe o que inevitavelmente acontece em seguida.

A coisa é, no entanto, que Deadpool 2 não é um filme de vingança. Qualquer herói, não herói ou Dalmata de 3 patas (momento piada Rafinha Bastos) pode perder alguém e sair em busca de sangue, morte e vingança. Meh. O que faz de Deadpool 2 realmente único é que o filme não é sobre isso, e sim que Wade Wilson é imortal e não tem a opção de se juntar a ela. Não que ele não tenha tentado, acreditem.

Preso nessa vida, e com ajuda de alguns X-men que são segundo escalão o demais para não aparecerem nos filmes da Fox, ele começa a cogitar que talvez sua vida talvez deva ter um propósito maior. Sem mentira, lembra muito Blade of the Immortal em alguns aspectos e isso é legal, esse é exatamente o tipo de história que você precisa especificamente do Deadpool para contar e esse é o tipo de coisa que eu esperaria ver em um filme do Deadpool.

Claro, Deadpool sendo Deadpool isso necessariamente envolve viagens no tempo, a formação da pior equipe de super heróis de todos os tempos (ou, como descrito pelo Deadpool, "personagens jovens o bastante para levar a franquia para frente pelos próximos 10, 15 anos") e da Yukio. Oh, hi Yukio!



Mas quer saber? Isso é coisa boa, e todas as escolhas funcionam muito bem porque nós nos importamos com os personagens, importamos com o resultado das lutas, importamos se vai dar certo ou não. Isso faz as piadas boas serem ótimas, e as piadas ruins serem engraçadinhas. Porque é assim que funciona e isso FAZ diferença.

Imagine, por exemplo, o The Rock contando uma piada ruim. Ora, é impossível, a gente adora esse cara, então mesmo a pior piada do mundo ainda seria, no mínimo, bacana. Conexão emocional com os personagens ajuda o humor, ajuda a ação e ajuda as consequencias. Nós relevamos os erros de quem gostamos e lembramos com mais cor dos seus acertos - indiferença é uma reação do publico infinitamente pior do que ódio, por exemplo.



Falando em piadas, Deadpool 2 pode ser descrito, em muitos aspectos, como mais do mesmo. Wade Wilson esmaga a quarta parede enquanto conta uma história de cliches de gênero levemente distorcidos, mas o que a distingue é um senso consideravelmente maior de propósito. A sequência é muito do que muitas pessoas esperavam do primeiro, mas que não conseguiu.

Em um nível granular, as piadas específicas são mais fortes - o Wolverine é mais espetado que na luta contra o X-24, as piadas sobre a Marvel precisam de mais contexto para entender (como quando ele diz para o Cable "Sossega aí, Thanos", não é todo mundo que entendeu a piada), a situação do DCEU é brutalmente abordada e por aí vai.

Para ter uma ideia do quão meta são as piadas desse filme, sabe quem é o ator que "interpretou" o Vanisher, o homem invisivel? Ora, apenas fucking Brad Pitt. Não, sério, a piada é essa: você consegue Brad Pitt para fazer um cameo no seu filme e ele é o homem invisivel! Isso tão é tão imbecil quanto genial, e esse é um tom de piada com o qual eu me sinto muito confortavel em presenciar.

Então entrei para ver Deadpool 2 totalmente preparado para me sentir excluído, mais que o Gavião Arqueiro em Infinity War. Mas o Deadpool 2 é mais do que apenas uma sequência feita de qualquer jeito porque, hey, vai dar dinheiro, né? (já falo com você, Jurassic World, espera tua vez). É uma sequencia "que foi feita porque vai dar dinheiro" que quer genuinamente ser boa. É um filme com uma profundidade emocional surpreendente e, especialmente em como ele lida com a história de um certo personagem adolescente.

Mas então, o que mais você poderia esperar de David Leitch, o homem que substituiu Miller na cadeira do diretor depois que Miller se desentendeu com Reynolds, e que é descrito nos créditos como "um dos caras que mataram o cachorro de John Wick?". Basta dizer que é o filme de super heróis com o melhor super poder já apresentado em um filme (quem não ficou com vontade de ver "Domino vs Final Destination", hã? Olha a dica, Hollywood), tem a melhor cena pós-créditos de todos os tempos e tem o Terry Crews. Foda pra caralho. 


[FILMES] DEADPOOL 2 (ou eu só vi o anuncio e achei que ia ser divertido)

THE STORY SO FAR: Sabe uma coisa que eu gosto? Mas adoro de verdade, que sempre terá minha atenção em qualquer formato que for feito? Ficção especutali...
POSTADO EM:quarta-feira, 4 de julho de 2018
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[ANIMAÇÃO] A LENDA DE KORRA (series finale, resenha): quando a televisão pode ser ótima e as pessoas idiotas [republicado]

| sexta-feira, 20 de abril de 2018
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Uau. Simplesmente, uau.

É realmente difícil dizer o que é mais impressionante: o quão épico, foda e lendário foi o final do desenho animado, ou o quão igualmente idiotas são as pessoas na mesma medida.

Como estamos perto do Natal, vamos começar pelo lado bom primeiro.



O MAIOR AVATAR DE TODOS OS TEMPOS

Um dos maiores problemas de A Lenda de Korra sempre foi sua comparação com The Last Airbender. Mais especificamente no único aspecto da produção que Korra é inferior ao seu antecessor: no quesito carisma.

Definitivamente não tem como comparar Korra com Aang, e em qualquer aspecto o nanico careca sempre vai vencer. O grande truque aqui é que isso já havia sido previamente calculado.

É muito fácil simpatizar com Aang: ele tem uma história trágica (literalmente todos que ele conheceu e amou na vida foram chacinados), e ainda sim tenta ser a melhor pessoa que ele pode ser.


Korra por outro lado é o oposto disso, é muito difícil gostar dela a principio: é uma menina impulsiva e mimada, que sempre ganhou tudo que quis na vida sem lá grandes esforços. E essa é a pegadinha aqui.

Ao longo de sua jornada, Korra foi quebrada ao ponto de não restar absolutamente nada da sua pessoa. Sua alma foi dilacerada (e no caso de ser o avatar, isso não é figura de linguagem, foi literal mesmo), ela foi torturada, e passou os anos seguintes traumatizada e com dor (o que é estranhamente realista para um desenho animado).


E ainda assim, Korra conseguiu lutar contra os seus demônios internos e encontrar o equilíbrio espiritual – que era o tema da temporada, afinal. Ela não só encontrou o seu equilíbrio, mas também o meu respeito. Ok garota, você fez por merecer ser chamada de avatar. Você certamente fez.

Em determinado momento, Toph diz que não pode ajudar mais, porque as costas dela estão matando ela, e é por isso que você não vê mais Katara salvando o mundo. É hora de deixar o negócio de salvação de mundo para a nova geração.

Curiosamente, um dos grandes truques da temporada foi fazer de Korra não a protagonista dos episódios. Se contar o tempo de tela, podemos perceber que ela aparece relativamente pouco na tela – isso torna sua jornada intimista menos enfadonha e palatável ao público (menos tempo de sofrimento em tela significa que desgasta menos o espectador, um erro que Evangelion cometeu rude, cometeu feio com o Shinji). Foi uma decisão de edição brilhante.


Mas, bem, não estamos aqui para falar sobre sentimentos, estamos? Estamos aqui para falar dos episódios MAIS ÉPICOS DA HISTÓRIA DOS DESENHOS ANIMADOS. Sério, eu realmente não consigo pensar em ter visto na televisão algo mais legal do que a batalha contra o exército de Kuvira, e sua “arma secreta” nas ruas de Republic City.

É repleto de ação, um mecha gigante, lasers, vidas em jogo, sacrifícios, destruição, desesperança, reviravoltas dramáticas e idéias geniais. Sem mentira, a batalha final é tão épica que tem uma referencia a AKIRA. MOTHERFUCKER AKIRA CARALHO!


De um ponto de vista narrativo, o final da temporada é irretocável. A ação não deixa nada a dever a nenhum blockbuster, a amarração das pontas soltas tem um que de elegância, e mesmo personagens menos legais, como Asami e Mako, têm seu momento de brilho. Cara, até o imbecil do Príncipe Wu prova que aprendeu alguma coisa, e se torna um cara muito legal – de uma forma plausível e orgânica.



Contemplem o MESTRE DAS TEXUGOPEIRAS!

Todos fazem sua parte, sem exceção, mas os melhores se destacam, é claro, e Varrik e Bolin provam que são dois dos personagens mais legais da história da animação. Really.


Os episódios finais são épicos, e a moral da história é brilhante: todas as coisas boas podem ser ruins se forem feitas do modo errado. Igualdade, espiritualidade, liberdade e união podem ser ferramentas do mal (e por mal entenda algo que faz as pessoas sofrerem) se forem feitos fora do equilíbrio. Essa é uma mensagem muito mais profunda do que “acredite em si mesmo”, ou qualquer merda que normalmente temos nos desenhos animados normalmente.


O final da animação é tudo que se poderia esperar em um sentido positivo, e eu não veria como poderia ter sido feito melhor ou de forma mais inteligente, colocando certamente A Lenda de Korra como um dos melhores desenhos animados de todos os tempos.

Com exceção do fato que ninguém ligou a mínima para isso.

KORRASAMI DE #$ É #$%@!


Então, tivemos um dos maiores finais da história da televisão, de um dos grandes desenhos animados ever, e ninguém realmente deu muita bola pra isso. Por quê? Bem, deixe eu lhe contar uma história.

A jornada de Korra através da série é um caminho de perda e sofrimento, e ela foi perdendo pedaços dela que jamais vai recuperar. Como disse o Doutor uma vez: “Eu perdi coisas que você jamais entenderá“. Durante esse caminho, Korra perdeu muitas coisas, a única pessoa que realmente ficou ao lado dela foi aquela que justamente tinha menos motivo para cobrar qualquer coisa dela: Asami.

Ao contrário de seu mestre, sua família e todo o resto do mundo, na verdade, Asami nunca cobrou que Korra salvasse o mundo apenas porque ela nasceu sendo o Avatar e isso, em um sentido elegante e natural ao longo da série, as tornou melhores amigas.

Sabe a jornada de redenção de Zuko ao longo da série original? Algo neste nível.

O que foi muito legal, certo? Bem, não para as pessoas na internet (lembrando que parte da animação foi transmitida apenas pela internet). Isso claramente não era suficiente, eles queriam ver colação de velcro explícita, queriam ver choque de pepecas e uma versão cartoon de “Azul é a cor mais quente“. Apenas porque queriam, a história estava boa do jeito que estava.




E na única decisão técnica questionável de todo o final da temporada, os fãs tiveram suas fantasias onanísticas realizadas. Sua reclamação agora é que a cena não foi explícita o suficiente – de fato, a cena final é bastante aberta a interpretações, e você pode inferir se rola uma sapatice ali, ou se elas são apenas amigas. Até porque, era o máximo que dava pra fazer, já que é a porra de um desenho animado, não uma ferramenta da agenda liberal.

O que acontece agora é que a única coisa que as pessoas estão comentando é que é “o desenho que tem um casal de meninas”, indiferentes a ser um dos momentos mais épicos da televisão.
Sério que foi só isso que vocês absorveram de tudo isso? Mesmo?


Tenho que concordar com a Nickelodeon e me desculpar: eles estavam certos mesmo. A audiência é composta por imbecis imaturos, e nós não merecemos ter bons desenhos animados.

[ANIMAÇÃO] A LENDA DE KORRA (series finale, resenha): quando a televisão pode ser ótima e as pessoas idiotas [republicado]

THE STORY SO FAR: Uau. Simplesmente, uau. É realmente difícil dizer o que é mais impressionante: o quão épico, foda e lendário foi o final do desenho animad...
POSTADO EM:sexta-feira, 20 de abril de 2018
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