[ANIMAÇÃO] A LENDA DE KORRA (series finale, resenha): quando a televisão pode ser ótima e as pessoas idiotas [republicado]

| sexta-feira, 20 de abril de 2018

Uau. Simplesmente, uau.

É realmente difícil dizer o que é mais impressionante: o quão épico, foda e lendário foi o final do desenho animado, ou o quão igualmente idiotas são as pessoas na mesma medida.

Como estamos perto do Natal, vamos começar pelo lado bom primeiro.



O MAIOR AVATAR DE TODOS OS TEMPOS

Um dos maiores problemas de A Lenda de Korra sempre foi sua comparação com The Last Airbender. Mais especificamente no único aspecto da produção que Korra é inferior ao seu antecessor: no quesito carisma.

Definitivamente não tem como comparar Korra com Aang, e em qualquer aspecto o nanico careca sempre vai vencer. O grande truque aqui é que isso já havia sido previamente calculado.

É muito fácil simpatizar com Aang: ele tem uma história trágica (literalmente todos que ele conheceu e amou na vida foram chacinados), e ainda sim tenta ser a melhor pessoa que ele pode ser.


Korra por outro lado é o oposto disso, é muito difícil gostar dela a principio: é uma menina impulsiva e mimada, que sempre ganhou tudo que quis na vida sem lá grandes esforços. E essa é a pegadinha aqui.

Ao longo de sua jornada, Korra foi quebrada ao ponto de não restar absolutamente nada da sua pessoa. Sua alma foi dilacerada (e no caso de ser o avatar, isso não é figura de linguagem, foi literal mesmo), ela foi torturada, e passou os anos seguintes traumatizada e com dor (o que é estranhamente realista para um desenho animado).


E ainda assim, Korra conseguiu lutar contra os seus demônios internos e encontrar o equilíbrio espiritual – que era o tema da temporada, afinal. Ela não só encontrou o seu equilíbrio, mas também o meu respeito. Ok garota, você fez por merecer ser chamada de avatar. Você certamente fez.

Em determinado momento, Toph diz que não pode ajudar mais, porque as costas dela estão matando ela, e é por isso que você não vê mais Katara salvando o mundo. É hora de deixar o negócio de salvação de mundo para a nova geração.

Curiosamente, um dos grandes truques da temporada foi fazer de Korra não a protagonista dos episódios. Se contar o tempo de tela, podemos perceber que ela aparece relativamente pouco na tela – isso torna sua jornada intimista menos enfadonha e palatável ao público (menos tempo de sofrimento em tela significa que desgasta menos o espectador, um erro que Evangelion cometeu rude, cometeu feio com o Shinji). Foi uma decisão de edição brilhante.


Mas, bem, não estamos aqui para falar sobre sentimentos, estamos? Estamos aqui para falar dos episódios MAIS ÉPICOS DA HISTÓRIA DOS DESENHOS ANIMADOS. Sério, eu realmente não consigo pensar em ter visto na televisão algo mais legal do que a batalha contra o exército de Kuvira, e sua “arma secreta” nas ruas de Republic City.

É repleto de ação, um mecha gigante, lasers, vidas em jogo, sacrifícios, destruição, desesperança, reviravoltas dramáticas e idéias geniais. Sem mentira, a batalha final é tão épica que tem uma referencia a AKIRA. MOTHERFUCKER AKIRA CARALHO!


De um ponto de vista narrativo, o final da temporada é irretocável. A ação não deixa nada a dever a nenhum blockbuster, a amarração das pontas soltas tem um que de elegância, e mesmo personagens menos legais, como Asami e Mako, têm seu momento de brilho. Cara, até o imbecil do Príncipe Wu prova que aprendeu alguma coisa, e se torna um cara muito legal – de uma forma plausível e orgânica.



Contemplem o MESTRE DAS TEXUGOPEIRAS!

Todos fazem sua parte, sem exceção, mas os melhores se destacam, é claro, e Varrik e Bolin provam que são dois dos personagens mais legais da história da animação. Really.


Os episódios finais são épicos, e a moral da história é brilhante: todas as coisas boas podem ser ruins se forem feitas do modo errado. Igualdade, espiritualidade, liberdade e união podem ser ferramentas do mal (e por mal entenda algo que faz as pessoas sofrerem) se forem feitos fora do equilíbrio. Essa é uma mensagem muito mais profunda do que “acredite em si mesmo”, ou qualquer merda que normalmente temos nos desenhos animados normalmente.


O final da animação é tudo que se poderia esperar em um sentido positivo, e eu não veria como poderia ter sido feito melhor ou de forma mais inteligente, colocando certamente A Lenda de Korra como um dos melhores desenhos animados de todos os tempos.

Com exceção do fato que ninguém ligou a mínima para isso.

KORRASAMI DE #$ É #$%@!


Então, tivemos um dos maiores finais da história da televisão, de um dos grandes desenhos animados ever, e ninguém realmente deu muita bola pra isso. Por quê? Bem, deixe eu lhe contar uma história.

A jornada de Korra através da série é um caminho de perda e sofrimento, e ela foi perdendo pedaços dela que jamais vai recuperar. Como disse o Doutor uma vez: “Eu perdi coisas que você jamais entenderá“. Durante esse caminho, Korra perdeu muitas coisas, a única pessoa que realmente ficou ao lado dela foi aquela que justamente tinha menos motivo para cobrar qualquer coisa dela: Asami.

Ao contrário de seu mestre, sua família e todo o resto do mundo, na verdade, Asami nunca cobrou que Korra salvasse o mundo apenas porque ela nasceu sendo o Avatar e isso, em um sentido elegante e natural ao longo da série, as tornou melhores amigas.

Sabe a jornada de redenção de Zuko ao longo da série original? Algo neste nível.

O que foi muito legal, certo? Bem, não para as pessoas na internet (lembrando que parte da animação foi transmitida apenas pela internet). Isso claramente não era suficiente, eles queriam ver colação de velcro explícita, queriam ver choque de pepecas e uma versão cartoon de “Azul é a cor mais quente“. Apenas porque queriam, a história estava boa do jeito que estava.




E na única decisão técnica questionável de todo o final da temporada, os fãs tiveram suas fantasias onanísticas realizadas. Sua reclamação agora é que a cena não foi explícita o suficiente – de fato, a cena final é bastante aberta a interpretações, e você pode inferir se rola uma sapatice ali, ou se elas são apenas amigas. Até porque, era o máximo que dava pra fazer, já que é a porra de um desenho animado, não uma ferramenta da agenda liberal.

O que acontece agora é que a única coisa que as pessoas estão comentando é que é “o desenho que tem um casal de meninas”, indiferentes a ser um dos momentos mais épicos da televisão.
Sério que foi só isso que vocês absorveram de tudo isso? Mesmo?


Tenho que concordar com a Nickelodeon e me desculpar: eles estavam certos mesmo. A audiência é composta por imbecis imaturos, e nós não merecemos ter bons desenhos animados.
Next Prev
▲Top▲