Onde a magia acontece

[OSCAR 2015] MAD MAX: Estrada da Fúria (resenha)

| segunda-feira, 27 de abril de 2020
... TO BE CONTINUED »

Atualmente existem duas formas de se fazer blockbuster em Hollywood: são os filmes didaticamente previsíveis criados para que mesmo a menos brilhante das plateias consiga entender (e isso seria 90% do publico nos EUA e no Brasil) ou os filmes franquias, que existem unica e exclusivamente com o intuito de se vender o próximo filme da série.

Mas nem sempre foi assim. Houve uma época (realmente doida em que as pessoas usavam uma peça de roupa chamada ombreira) em que os filmes só se preocupavam em ser legais sem partir do pressuposto que o espectador teria um colapso se cada cena fosse explicada na tela e sem que o seu objetivo fosse vender o próximo filme do seu “universo cinematográfico expandido parte 2 de uma trilogia que poderia ser contada em um filme só“. Apenas ser divertido, sabe?






Essa é a sensação que passa Mad Max: Fúria da Estrada, de ser um bom e velho filme de ação dos anos 80 – mas com o capricho e a qualidade de 2015. Permita-me um exemplo: Max, como o você já pode ter deduzido pelo nome do filme, é pirado. Alguma treta muito sinistra aconteceu no passado dele e ele tem alucinações muito doidas de dorgas manolo larilarila a respeito de uma merda muito grande que aconteceu no seu passado por culpa dele.


A beleza da coisa é: em momento nenhum o filme explica claramente o que foi aconteceu e de forma alguma a loucura dele é “resolvida”. Acostumado com o cinema de hoje em dia eu esperei a cada instante o flashback didático que contaria a história de Max e o porque nos mínimos detalhes dele ser zoadaço só que não tem nenhum, seu palpite sobre o que aconteceu com ele é tão bom quanto o meu e o filme não é sobre isso.

Mas sobre o filme então, senão sobre o Max piradão? Sobre loucura.

Não foi só o Max: o que restou do mundo todo enlouqueceu e os valores deste novo mundo são mais doidos que o Batman de patinete na neve. Esse é o tema do filme e toda sua estética e edição é frenética e insana para acompanhar esse tema. E em sua loucura o filme nos faz questionar sobre nossa própria loucura.


QUE DIA! MAS QUE LINDO DIA!

Após um holocausto nuclear o mundo inteiro se tornou uma grande Austrália: desertos mortais, criaturas mutantes que desafiam a lógica e gente tão pirada quanto. Nesse mundo sem recursos e sem esperança, a treta começa quando a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) decide roubar um carregamento precioso do dono da citadela local, Immortan Joe: água e novinhas férteis. Mas ninguém fode com Immortan Joe! (exceto talvez as novinhas dele, esse é meio que todo o propósito da coisa né). Então de alguma forma improvável Max acaba envolvido nessa treta MALEGNA.

E não, em nenhum momento o filme explica exatamente o que é uma “Imperatriz”, embora você possa chegar as suas próprias conclusões. Não é lindo?

Lindo é também como o diretor George Miller soube adequar a temática inadequada para os dias de hoje. As mulheres são objetificadas e tratadas como um recurso? Para ojeriza das feministas e paladinos do politicamente correto, sim. Só que os homens também. E os carros. E as arvores. Tudo, essa é a moral da coisa. Não existe discriminação quando todos são tratados igualmente como lixo.
Então os cavaleiros brancos da internet podem reclamar a quantidade de mulheres andando o filme todo semi-nuas para cima e para baixo sendo tratadas como objeto mas te garanto que você encontrará pelo menos o dobro de caras sarados nas mesmas condições – porque o cenário pede isso, essa é a tônica da coisa toda, todo o maldito ponto do filme!

E se a tônica do filme está correta, a caracterização dos personagens está mais do que acertada. Mad Max tem personagens únicos e bizarros, adequados a um mundo onde você nascer tem 74 tumores é uma raridade, tão carismáticos quanto se tivessem saído de um clássico dos anos 80. Miller seguiu a risca a regra de ouro dos anos 80 sobre como fazer personagens coadjuvantes: lhes dê uma característica marcante e se agarre a isso, fim.

Tudo que você precisa saber sobre o Comedor de Gente, por exemplo, é que ele é um gordão asqueroso e que provavelmente ele não ganhou esse nome por ajudar velhinhas a atravessar a rua. Nenhum flashback pode ter resultados melhores do que a imaginação do espectador quando atiçada na direção correta, e George Miller faz isso maestralmente.





EU VIVO! EU MORRO! EU VIVO DE NOVO!


Mas a grande sacada do filme é a tribo dos Garotos de Guerra. Que é um ponto de equilíbrio muito interessante: os mutantes meia-vida são realmente uma tribo no sentido primitivo da palavra que venera de forma religiosa a figura de Immortan Joe (o que, novamente, faz todo sentido do mundo dentro do cenário e é muito bem executado), mas ao mesmo tempo são humanos o suficiente para que você os considere mais do que meras buchas de canhão. Imagine que se entre um tiroteio e outro Star Wars tivesse uma cena dos Stormtroopers dizendo o quanto aquelas botas incomodam os pés dele ou que ele fizesse uma oração a Força apenas para nos lembrar que os caras por debaixo da armadura são gente também. Gente completamente insana, mas gente

Nesse sentido o mutante pirado Nux é de longe a melhor coisa do filme e Nicholas Hoult rouba a cena cada vez que aparece. Acredite, ele é tão legal quanto parece nos trailer. Mais até.





QUEM MATOU O MUNDO?


Por mais legais e caricatos (em um sentido bom, marcante) que Immortan Joe e seus asseclas sejam, por mais interessante e repleto de convites a imaginação que o cenário seja, por mais legal que seja ter nomes como “Fazenda da Bala” e “Terra Verde das Muitas Mães” nada disso faria a menor diferença se o filme não fosse bom. No fim tudo se resume a isso: o filme é bom?

Como o nome sugere, Mad Max é literalmente um road movie: o “cenário” do filme é o caminhão “Máquina de Combate” e o mais importante: e é pau na casa de Noca o tempo todo!

Uma versão moderna de um faroeste de comboio (aqueles que a caravana atravessava o oeste selvagem levando pau de bandidos e índios), George Miller acerta a mão e trés pés no ritmo do filme. é ação frenética e alucinada, mas que sabe perfeitamente dar o timing e criar momentum para que você se importe com as cenas (algo que Vingadores 2 errou, por exemplo, em que você desliga o cérebro em metade das cenas de ação).

Adicione a isso que o filme é muito econômico com tecnologias: as cenas foram filmadas ao bom e velho estilo Australiano  com muitos carros em movimentos e dubles colocando seus tobas na reta, pouca computação gráfica. Miller filmou no meio do deserto com pouca tela verde e algumas cenas levaram meses para ficar pronta, a qualidade final é evidente e enorme. Esse é um daqueles filmes que você PRECISA ver no cinema, e eu raramente digo isso.


Essas cenas com malucos se balançando em carros em movimento foi feita com dubles de verdade e não computação gráfica em estúdio, completamente insano!

é a catarse do cinema em que os homens são homens de verdade, as mulheres são mulheres de verdade e os calangos mutantes do deserto são calangos mutantes do deserto de verdade. é filme de ação como não se via a muito tempo – ele sabe quando ser FODA PRA CARALHO, sabe quando pausar e sabe quando respirar.

E mesmo quando o filme usa computação gráfica, como na cena da tempestade nuclear-magnética (uou!), é apenas para fazer coisas que seriam impossíveis de outra maneira. Ou seja, liberar a imaginação ao limite do deslumbre. Alias se esse filme não ganhar o Oscar de melhor fotografia eu estou louco então, porque é o deserto pós-apocalíptico mais lindo que eu já vi.

Como vitória pouca é bobagem a trilha sonora é um arregaço, o tema recorrente de ação do filme já é um clássico do cinema e por si só já levaria nas costas o clima de ação desenfreada regada a muita cocaína que o filme passa.


Faz outra piada que ela precisa de uma mãozinha!

TESTEMUNHEM!

Tom Hardy está ótimo no papel de maluco caladão, sua voz de Bane é excelente para fazer narração, mas talvez a maior critica que se possa fazer é compara-lo com Mel Gibson que nasceu para interpretar maluco zureta. Curiosamente isso não é problema porque o filme não é sobre Max (nunca foi realmente, Mel Gibson tinha menos de 100 palavras no segundo filme) realmente sendo que Nux e Furiosa (que também não é uma Tina Turner) tem o maior arco de personagens na película (dá até para considerar que eles são os protagonistas, de uma certa forma)

Entre referencias a série original (repare que os filhos de Immortan Joe são um mutante anão esperto e outro brucutu sem muita massa cinzenta, por exemplo) e cenas de ação autenticas, Estrada da Fúria não é apenas um grande filme como consegue ser melhor que os  originais.

Um filme que sabe quando explicar (no começo do filme Max é capturado pela tribo de Immortan Joe, mas é mantido vivo por um motivo muito foda dentro da ideia do cenário) e quando deixar o espectador pensar por si mesmo. Personagens que são fodas, mas não são invulneráveis (Immortan Joe é um monstro, mas ao mesmo tempo que é mostrado como apenas um homem, em um equilíbrio elegante e impressionante).


Ok, talvez um dos carros do seu comboio ser um carro de som com um mutante tocando uma guitarra que solta fogo não seja uma escolha taticamente otimizada, mas eu TOTALMENTE teria um desses se fosse um Senhor da Guerra pós-apocalíptico!

Dá para sentir como o diretor passou anos lapidando esse filme na sua cabeça (e outros tantos nos desertos australianos) para tudo ficar redondinho e é difícil apontar o que não funciona nesse filme. Violencia na medida certa, personagens na medida certa, insanidade na medida certa. As cenas de ação são insanas mas não cansam. Até o 3D funciona como ferramenta de imersão (sentir as dunas mais próximas ou mais longes ajuda bastante) e isso é algo que eu quase nunca elogio em um filme!
Não viamos um filme de ação como Mad Max a muito tempo, talvez nunca tenhamos visto. Miller conseguiu juntar o melhor dos anos 80′ com o melhor dos anos 10′,criando uma verdadeira aula de como se fazer filmes de ação.

O melhor do ano até o momento. QUE FILME! MAS QUE LINDO FILME!

[OSCAR 2015] MAD MAX: Estrada da Fúria (resenha)

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POSTADO EM:segunda-feira, 27 de abril de 2020
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[ANIMES] FULLMETAL ALCHEMIST: 2003 OU BROTHERHOOD?

| sábado, 25 de abril de 2020
... TO BE CONTINUED »


Em 2003 o manga da moda foi adaptado para anime e, como ainda é praxe  na industria, o manga não tinha terminado de ser publicado. Normalmente isso é resolvido com sequencias monstruosas de fillers (ou seja, meses de episódios "taca qualquer coisa aí pra encher linguiça"), porém dessa vez algo diferente foi tentado. O autor do manga disse para a equipe de produção do anime: "Ok, façam o que quiserem, estou curioso para ver o que vocês fazem com esse cenário".

E foi isso que eles fizeram. Fullmetal Alchemist é um dos melhores e mais iconicos animes de todos os tempos.Em 2012 um anime baseado inteiramente no manga (que já tinha terminado a esse ponto) foi feito, e esse é Fullmetal Alchemist: Brotherhood. Até hoje FMA: B é o anime mais bem avaliado da Anime List, o numero um anime de todos os tempos.

Se duvida, eu preciso apenas te mostrar essa imagem:

Edu... wado..


FMA é um anime bem triste e pesado. Em um mundo onde a magia (chama de "alquimia") existe sob regras quase cientifica - com efeito ela foi burocratizada e estatizada. Os alquimistas trabalham para o governo e você pode imaginar que não tem como sair coisas boas daí. Bastante baseado em Frankenstein, versando bastante sobre moralidade e ética cientifica, Fullmetal Alchemist conta a história de dois irmãos que tentaram usar a alquimia para ressucitar sua mãe morta.

Para grande surpresa de todos os envolvidos, as coisas deram fenomenalmente, estupendamente erradas.



Edward Elric perdeu sua perna na brincadeira e seu irmão Alphonse perdeu o corpo inteiro, sendo que na última hora Edward sacrificou seu braço para selar a alma do irmão dentro de uma armadura que por acaso estava por ali. A primeira cena, a que abre o anime, mostra justamente isso e é algo profundamente perturbador.

E assim vai durante todo o curso do anime.

O que é engraçado porque o manga, e por consequencia o anime de 2012, não segue essa linha de forma alguma. Ele é muito mais "do que vocês estão falando dessas coisas complicadas, caras? Eu só queria fazer uns poderzinhos para ter uma lutinhas shounen e tal!".

Com efeito, a coisa é tão discrepante que eu gostaria de elaborar um pouco mais o sobre as diferenças entre os dois.




PONTO 1:  Joss Whedon uma vez disse: "Make it dark, make it grim, make it tough, but then, for the love of God, tell a joke!".  


Como eu já disse, o anime original é bastante pesado e frequentemente melancolico, mas isso não quer dizer que seja um filme do Zack Snyder também. Não é como se FMA fosse completamente desprovido de humor, sobretudo o complexo que Edward tem em ser chamado de baixinho ou suas picuinhas com o coronel Mustang.

FMA: B me lembrou bastante Guardiões da Galaxia 2, que mal consegue ter uma cena séria sem alguém fazer uma piadinha para a coisa não ficar "densa" demais. Sabe quando os personagens estão falando coisas sérias sobre os seus sentimentos e então alguém anuncia que vai dar uma mijada (com essas exatas palavras)? FMA:B é recheado de momentos assim.

O anime tem um timing humoristico péssimo e parece gastar muito tempo e energia querendo dizer "olha pra mim, como eu sou engraçadão e descolado".

PONTO 2: A Profundidade.


Esta é outra das principais razões pelas quais eu prefiro o original. É irônico que eles chamaram a segunda série "Irmandade", quando o relacionamento de Ed e Al não foi expandido tão profundamente quanto no original. Você realmente sentiu no original o quanto eles se importaram e fariam qualquer coisa um pelo outro, na Irmandade são como colegas de viagem. Mais importante que isso, tem a coisa da culpa que se perdeu também em Brotherhood.

Veja, no original Alphonse entende alguma coisa de alquimia, mas nem de perto é tão bom quanto Edward. O que significa que ele meio que entrou de gaiato na coisa que acabou custando o corpo dele e Ed se culpa muito por isso ter acontecido com o seu irmão.

Com efeito, várias e várias vezes ele se mostra preocupado (e sem entender muito) com o que eles vão fazer, e claramente mostra que se fosse por ele, ele não estaria fazendo nada daquilo. Para piorar ainda mais, quando a merda bate no ventilador, Ed piora ainda mais as coisas ao invés de deixar seu irmão morrer como seria o ciclo natural da vida faz uma gambiarra para prender a alma do irmão dentro de um objeto. Imagine o que aconteceu com a Buffy, só que pior porque ela não voltou para o corpo dela e sim para dentro de uma armadura que não literalmente não consegue sentir nada.

Que bosta que tu fez, heim Ed?

Em Brotherhood, Al é um alquimista tão bom quanto, senão melhor que Edward e todo o peso "eu fodi com a vida do meu irmão" não existe realmente. Mais importante que isso, ele decide abertamente que tentar ressucitar a mãe de volta é uma boa ideia. Ele não é uma vitima arrastada para o meio da merda toda, ele deliberadamente entrou na fila para pegar seu prato de merda.

A unica coisa que Ed pode se culpar é que ele deu mais sorte que Al (ele perdeu "só" uma perna no processo), mas qual o peso emocional de se culpar por algo que é apenas sorte?

Novamente, vários aspectos do anime são levados com  o mesmo grau de leviandade, por exemplo. A Pedra Filosofal (um item que dizem as lendas que permite dobrar as regras da alquimia e é algo que os irmãos procuram para recuperar o corpo de Al) deveria ser um dispositivo de trama importante e esquivo, que até mesmo os homúnculos sobrehumanos não podiam criar por conta própria. Quer dizer, é "A" Pedra Filosofal, eu não preciso explicar muito sobre isso, né?

Em Brotherhood as Pedras Filosofais existem aos borbotões e são distribuidas como se fossem bala. Sem mentira, elas são usadas como se fossem shurikens em Naruto e metade do anime você fica se perguntando "ok, mas então se tem tanta dessa merda por aí Al não recuperou o seu corpo por...?"

Ed diz que eles não querem usar as Pedras Filosofais porque elas são feitas a partir de sacrificios humanos (o que me leva a deduzir que esse anime se passa na China, porque vai ter gente pra sacrificar assim la na casa do caralho). Beleza, eu consigo entender isso... mas então antes da metade da série ele descobre OUTRA maneira de recuperar o corpo de Al sem precisar sacrificar ninguém e simplesmente não usa!

E é uma maneira tão simples que ela acaba sendo usada no finalzinho... NO MEIO DE UMA LUTA, de tão simples que é!

Ah para, caras, vocês não estão sequer tentando contar uma história aqui!

PONTO 3: o drama


Já que estamos falando sobre isso, a maior queixa recai sobre a profundidade, toda a falta de drama. Quando eu assisti pela primeira vez o original, eu fiquei vários dias abalados com o que aconteeu com a Nina, isso porque a série levou vários episódios desenvolvendo a personagem, sendo uma menininha agradavel em uma situação sofrida, e então algo terrível acontece com ela.

Isso fez a série parecer muito mais real. Uma garota inocente a quem eu conheci e me importava pode morrer de maneira tão horrível devido ao seu próprio pai. Não é um mundo perfeito, onde os

inocentes são sempre salvos no último minuto pelo seu salvador que aparece no último segundo (que, pouco surpreendemente, acontece em abundância) em Brotherhood.

Em Brotherhood a personagem é apresentada e morta (mais ou menos) em menos de um episódio, e a única reação que causa em você é "ah, eu lembro dessa cena". O que acontece com a Nina é uma coisa muito importante porque é a epitome de tudo de errado que pode ser feito com a alquimia e é um marco que os irmãos Elric carregam para o resto da vida (como se eles precisassem ser lembrados disso, mas você entendeu o ponto).

Mais uma vez, isso se aplica a todos os elementos dramaticos da série e antes da metade você nem lembra mais quem foi o major Hughes.

E não só isso, os coadjuvantes fazem você sentir empatia por eles. Ninguém se importou quando a Martel morreu em Brotherhood, ela estava em 1 episódio como personagem descartável. No original eles realmente lhe deram a chance de se identificar com ela, e tornaram sua morte muito mais trágica.

O mesmo vale para os homúnculos, sendo a Luxúria o pior caso. Ver um personagem trágico com um background complexo ser substituido para fazer dela apenas outra femme fatale genérica com peitos grandes é realmente triste. A história da Luxuria e a vida passada dela foram um dos principais apelos do original. A Preguiça é outro grande exemplo disso, de um dos personagens mais trágicos do anime para um gigante estúpido e forte

A prova mais cabal de tudo isso é a forma como os homúnculos são criados. Em Brotherhood apenas o vilão central cria um general do mal magicamente da bunda because aquelas lutinhas não vão se fazer sozinhas. No original é, como você pode imaginar, algo bem mais pesado, complexo e que esfrega na cara dos personagens os erros do seu passado.

PONTO 4: a alquimia


Nos dois animes, eu posso dizer que não realmente entendi como a alquimia funciona. Mas por motivos diferentes.

No primeiro, é suposto que não deve ser entendido. Funciona como boa magia deve funcionar em qualquer cenário: o espectador deve entender que existem regras sólidas, mesmo que ele não saiba exatamente quais são elas. O principio básico da alquimia é a "troca equivalente", em que os alquimistas não podem realmente criar nada: apenas transmutar uma coisa em outra forma.

Adicionalmente, tem algo de mistico nisso. Os alquimistas estão mexendo no código-fonte de todo universo, e isso não é algo que seja feito levianamente ou sem consequencias. Pouco surpreendentemente, existem bem poucos alquimistas no mundo e aqueles que existem tem a opção de trabalhar para o governo senão...

Em Brotherhood eu não entendi como a alquimia funciona porque não existe realmente uma regra. Eu não vi um único motivo pelo qual qualquer pessoa não possa fazer alquimia. Mais ou menos da mesma forma que a magia em Harry Potter sempre me incomodou, com exceção das maldições imperdoaveis os livros nunca te dão nenhum motivo para acreditar que qualquer um não poderia fazer aquilo. É dito muitas vezes que Dumbledore consegue fazer coisas que os outros bruxos não fazem porque "ele é muito poderoso", mas eu nunca tive nenhum lampejo do que "poderoso" poderia significar em termos práticos.

Para realizar alquimia você tem que desenhar um esquema bastante especifico no chão (que é o que "hackeia" o universo) e ter em mente uma compreensão bastante grande do que você está fazendo, no que você está mexendo a um nivel quase atomico. Isso é o que faz Edward tão especial, porque ele consegue fazer alquimia sem precisar desenhar nada.

Só que como desenhar circulos no chão não daria boas cenas de luta, praticamente todos os alquimistas do anime tiram poderes da bunda muitas vezes sem motivo nenhum. É tão simples e tão fácil que eu não vejo porque QUALQUER PESSOA daquele mundo não está usando alquimia também.

O que é pior é que em Brotherhood a alquimia parece claramente algo inventado pelo autor na última hora, porque as pessoas não reagem como se vivessem em um mundo onde essas coisas existem.

Me deixe dar um exemplo: em determinada cena o exercito esta perseguindo o coronel Mustang e alguns outros que fugiram em um caminhão de sorvete. O que Mustang faz? Usa alquimia para mudar a aparência do caminhão de sorvete para um caminhão genérico... e com isso passa pelo ponto de controle do exercito sem nenhuma dificuldade porque "eles estavam procurando um caminhão de sorvete"!

Mas vem cá, puta merda, eles não sabiam que estavam procurando um alquimista que podia fazer isso literalmente estalando os dedos? São personagens que cresceram em um mundo onde mesmo quem não é alquimista compreende que esse tipo de coisa existe e que não é dificil de fazer! Mas como ninguém pensou nisso por um minuto sequer?



Em outra cena, Van Hohhoenheim está trabalhando na construção civil para ajudar a reconstruir uma cidade. Tipo, fisicamente: levantando paredes, colocando fundações no muque, todas essas coisas. Mas vem cá, ele poderia fazer o trabalho de um ano inteiro em menos de dois segundos! Literalmente!

Seria como os bruxos em Animais Fantasticos consertarem a cidade que foi danificada pegando um saco de cimento ao invés de só agitar as varinhas! Eu ainda entenderia se fosse um argumento que ele não queria chamar atenção, ou queria sentir a dignificação pelo valor do trabalho, ou qualquer coisa assim... mas não, depois de meses trabalhando desse jeito ele resolve cagar alquimia no meio da rua apenas porque a cena seria mais rápida desse jeito!

Ah, mas vão se foderem, essa construção de mundo não faz o menor sentido!

A coisa é feita tão de qualquer jeito que metade das pessoas que vê que Edward não tem um braço já deduz que ele tentou transmutação humana. Espera, isso não era um tabu? Que nem mesmo os alquimistas sabem o que acontece? Porque do jeito que é falado parece uma coisa muito óbvia e de senso comum, tipo "ah, você pulou do telhado e quebrou a perna". E aceitam isso de boa.

No original o que os irmãos Elric fizeram, as poucas pessoas que sabem o que eles tentaram fazer, tratam isso algo muito mais como frankensteiniano. Eles cometeram uma atrocidade contra todas as leis da natureza e são tratados de acordo, não algo que é recebido com um sacudir de ombros e "ah, que coisa né?".

A alquimia tem o poder de transmutar qualquer coisa desde que  não seja importante para a cena. Um radio quebrou? Consertamos! O pneu do carro furou e estamos sem tempo? Ish, melhor ir a pé...

 PONTO 5: o final


Se tem algo que Brotherhood leva uma boa vantagem sobre seu irmão mais velho, esse seria no desenvolvimento geral da trama. Desde o começo a história aponta para onde quer chegar e vai que vai quicando nessa direção. Com efeito, os episódios mais interessantes do anime são entre o 20 e o 35, quando os heróis ainda estão tentando entender qual o plano do vilão e como ele usou o governo ao longo de séculos para construir esse momentum.

Melhor ainda, nossos heróis passam a série toda arrecadando aliados e recursos que serão utilizados nessa grande batalha final e que necessariamente envolve um golpe de estado, já que estamos falando do exército com hierarquia e recursos, não de um big bad guy que se for derrotado seus minions vão apenas dizer "bem, era isso... sinuquinha as 8h, galera?". Pois é, Voltron é melhor que Senhor dos Anéis, lide com isso.

Mas dizia eu que essa parte é realmente interessante. Por outro lado, o anime de 2003 não tem tanto senso de propósito assim e não diz muito bem onde quer chegar - mesmo que o plano da vilã seja similar ao do big bad guy de Brotherhood. Tem até uns episódios fillers bem tosquinhos, na verdade. Sem duvida o desenvolvimento dos eventos - não dos personagens - é o ponto fraco da série de 2003 e exige uma boa dose de fé para ser apreciado

De qualquer forma, depois que o inimigo final é estabelecido Brotherhood perde todo o seu charme. Basicamente, é um cara mau como um pica-pau que quer se absorver todo mundo e se tornar Deus. Mas puta que me pariu sabanta berepecanta Japão! De quantos caras maus que querem absorver o mundo todo e se tornar Deus vocês precisam? Tamerda mesmo, viu...

E pior que tudo, toda aquela coisa de conseguir aliados, recursos e organizações do desenvolvimento do anime vai pro ralo e o que temos é uma batalha final de anime. Que é uma luta muito boa até, mas não tem nenhuma diferença realmente entre qualquer luta contra os membros da Akatsuki, por exemplo. Não é ruim, mas não é nada espetacular também.

A grande diferença é que enquanto o final de FMA:B é o que você poderia esperar de um anime shonen (o vilão é derrotado, todos são felizes vendo o por do sol), a série original se permite ser um tanto mais ambiciosa. Em uma reviravolta agathachristiana, são propostas questões bem inteligentes sobre a alquimia que estavam ali desde o começo da série e apenas nós que nunca fizemos a pergunta certa.

Acaba sendo mais mistico e um final diferente do esperado. Meio que lembra um pouco Battlestar Galactica até.

Então nesse quesito eu diria que estou dividido. Brotherhood ganha pontos por fazer o feijão com arroz básico, mas bem feito, a série de 2003 ganha pontos pela ambição.

Essa cena do final de FMAB, por exemplo, é muito bonita. Só que ela dura tipo 3 segundos, sem mentira! Puta merda, custava tirar um minuto de luta de anime generica para mostrar coisas como essa?


ENTÃO, QUAL DOS DOIS É MELHOR?


Bem, é subjetivo. Basicamente FMA 2003 se separa do enredo do manga em torno dos episódios 25-30. Enquanto Brotherhood vai até o fim com a trama dos mangas (o que não quer dizer muita coisa na pratica, abacaxi na bunda de quem precia de uma figura de autoridade te dizendo o que voce pode gostar). Pessoalmente, acho que o anime de 2003 é muito único na forma como ele lida com as coisas, enquanto que Brotherhood é apenas seu Shounen de sempre levemente melhorado. Porque por mais que eu tenha falado de problemas do anime nesse texto, ainda sim é um shonen decente. FMA 2003 é mais sombrio e tem um foco mais no drama, enquanto Brotherhood foca mais na comédia e na ação... se esse for o seu tipo de coisa (embora a comédia seja disruptiva e a ação não faça mais sentido do que em um filme do Christopher Nolan)

Mas, novamente, essa é apenas minha opinião.

[ANIMES] FULLMETAL ALCHEMIST: 2003 OU BROTHERHOOD?

THE STORY SO FAR: Em 2003 o manga da moda foi adaptado para anime e, como ainda é praxe  na industria, o manga não tinha terminado de ser publicado. Norm...
POSTADO EM:sábado, 25 de abril de 2020
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[ANIMES] My Little Monster (Tonari no Kaibutsu-kun) – resenha

| quinta-feira, 23 de abril de 2020
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A síndrome de Asperger é uma variação do autismo clássico, e uma bastante esquisita. A grosso modo, o individuo praticamente não possui a capacidade de processar sentimentos, o que significa que a pessoa tem dificuldade em expressar sentimentos da forma socialmente adequada – o que é visto como apenas “falta de noção” – , mas a pessoa realmente não consegue entender que determinado comentário não deve ser feito, ou deveria ter sido feito de outra forma, ou mesmo em outro momento.

E, enquanto em um momento inicial pode parecer engraçado ter um amigo inconveniente, a longo prazo o desgaste de uma relação com alguém profundamente inconveniente assim, usualmente acaba por levar o melhor, mesmo das pessoas mais bem intencionadas.

A total desconexão do lado emocional com o comportamento prático da pessoa também leva a uma estereotipada falta de empatia – uma pessoa com Asperger não saberia te consolar, mesmo que ela soubesse que você precisa ser consolado, e é muito improvável que ela saiba disso, a menos que você diga isso explicitamente.

Isso não quer dizer que a pessoa não tenha sentimentos, apenas que ela não nasceu com a opção de “agir naturalmente.”

Na verdade, a falta de tato com os sentimentos é tão grande, que usualmente isto é visto puramente como ingenuidade e inocência, e não é realmente fora de lugar dizer que alguém assim tem o desenvolvimento emocional de uma criança.

Associe a isso as características tipicas do autismo – como a preferencia por padrões de repetição e universos seguros e bem definidos, como hobbies por exemplo – e você terá uma pessoa muito, muito, muito inconveniente e desinteressante. Tanto que é relativamente comum pessoas com Asperger não terem amigos próximos, e nunca virem a constituir qualquer tipo de relacionamento amoroso significativo. Tipo nunca, a vida toda. Esse é um cenário bastante recorrente.



O que não deixa de ser irônico, porque portadores de Asperger tendem a ter um nível de inteligencia muito acima da média, e conseguem compreender questões técnicas com um nível de facilidade impressionante – não é realmente raro um portador da síndrome passar em um vestibular da federal, ou em um concurso público, com pouco ou nenhum esforço, por exemplo. Na verdade, o grande estereótipo do “gênio sem noção” – tipo o Sherlock Holmes, por exemplo – vem justamente dessa síndrome.

Eu diria, aliás, que o Sherlock, interpretado pelo Benedict Cumberbatch no seriado da BBC, é o melhor exemplo possível disso.

Chega um determinado ponto da vida do aspie em que ele compreende (afinal, são pessoas altamente inteligentes) que, por mais que ele se esforce, nunca vai realmente se encaixar em uma dinâmica social comum… ou qualquer uma, na verdade. Isso leva ao isolamento e à solidão por um tempo, quando, então, a pessoa cansa de ficar sozinha e tenta “socializar” de novo – com resultados horrorosos, porque não existe magia neste mundo – o que, por sua vez, leva ao isolamento, e assim a um ciclo infindo, que não raramente termina com o suicídio (estudos mostram que 77% dos portadores de Asperger têm ao menos algum tipo de pensamento suicida, ao contrário dos apenas 17% da população “comum”).

Mas, antes dessa fase do “ciclo” em que você entende que deve apenas parar de tentar, existe uma fase de muita falta de noção e humilhação: a adolescência. Você pode pensar que toda adolescência envolve falta de noção e humilhação – o que é verdade – mas estou falando de coisas realmente esquisitas, que levam a pessoa a compreender que nunca vai ser normal, não de coisas que dão histórias engraçadinhas para contar depois.

E é aqui que eu queria chegar.


Por que eu estou falando disso? Porque saber o que é essa sindrome é realmente importante para entender o anime “My Little Monster“. Tanto que “my little monster” é uma expressão carinhosa, frequentemente usada pelas mães ao se referirem a seus filhos em grupos de apoio para portadores da síndrome.

Haru é um adolescente genial (do tipo que resolve cubos de Rubik por diversão etira as melhores notas da sala sem ao menos tentar) porém problemático, sem noção alguma na vida. E por sem noção, eu não quero dizer o seu típico bad boy de animes, e sim, alguém que desistiu de ir a escola, depois de mandar um garoto para o hospital em uma briga completamente aleatória – entre outros problemas sérios em seguir as convenções sociais mais simples de um colégio (tipo, não dizer para a professora que ela está sendo babaca, quando ela efetivamente estiver sendo babaca).

No primeiro episódio, por exemplo, ele encontra um “cachorro perdido”… que estava amarrado e com coleira. Ou então, ele tem dificuldade em entender porque é errado tocar uma garota sem o consentimento dela. Esse tipo de joselice.

Curiosamente, e isso o anime faz muito bem em representar, ele não faz isso por mal. Ele realmente faz apenas porque entende porque é errado.

Com efeito, Haru mora com o primo porque ele é tão problemático que o pai encheu o saco das suas imbecilidades e o expulsou de casa. O que não é tão distante da realidade, se querem saber.

Mas a nossa história começa mesmo com a apática e entediada Shizuku. Como muitas garotas da sua idade (não sei no Japão, mas por aqui é o que mais tem), Shizuku não dá a mínima para nada. Verdade seja dita, nunca lhe faltou nada, então ela não sente que precise de nada – a única coisa que lhe interessa é estudar e depois ter um emprego foda. Para todo o resto da existência, toda vida dela é um enorme e maciço “i don’t give a fuck”.

Porque ela não dá a minima pra nada mesmo. Ou pra ninguém.


E devido às leis da conveniência universal, Haru e Shizuku se conhecem e se apaixonam, e são felizes para sempre… só que não. O que acontece é que Shizuku tá tão pouco cagando pra tudo na vida, que ela tá cagando até pras bizarrices do Haru, e por esse motivo não liga a mínima se ele andar por perto.

E enquanto pra ela não é realmente grande coisa alguém na cola dela – porque ela  não dá realmente a mínima pra nada, caso não tenha ficado claro o bastante a esse ponto – para o Haru é tipo o acontecimento da vida dele alguém que não ligue para o jeito bizarro e grosso dele.

Não é surpresa realmente que, em menos de uma semana, ele diga que ama ela (prazer, isso é Asperger em uma casca de noz) e muito menos surpresa ainda que ela responda “ah tá, legal…”


Verdade seja dita, depois de determinado ponto a Shizuku tenta realmente, de verdade, gostar do Haru. Só que não vai. E às vezes parece que vai a muito pau e corda, então não vai. Porque, na boa, é muito difícil gostar de alguém assim, realmente difícil. Ela tenta honesta e genuinamente, mas tem coisas que não nasceram para ser. Essa é a dinâmica principal do anime

LÁGRIMAS DE UM PALHAÇO

Colocando assim, pode parecer que o anime é denso e pesado, só que não é. Ele é uma comédia romântica leve e carregado nas costas pelas joselices sem noção do Haru, que na maior parte do tempo são genuinamente engraçadas – tipo a obsessão dele por um galo, ou sua tendência a interpretar as frases muito literalmente (que é algo característico do Asperger, e dá para dar boas risadas, se não for com você).

O ponto forte do anime realmente são as gags visuais, que são leves e divertidas, mais divertidas ainda por serem plausíveis – ninguém faz animezice e tira uma bazuca das calças ou tem um pinto-foguete.


Totalmente não relacionado, mas voces não sabem a quanto tempo eu queria uma desculpa pra usar essa cena do pinto-foguete!

E é justamente por ser tão pra cima, leve e alto astral, que o anime acaba se revelando um excelente retrato de uma geração. Ao mesmo tempo que todos os jovens são super “normais” e “descolados”, e super ocupados com as suas vidas super legais, dá para ver nas entrelinhas o quanto eles são solitários, e pode parecer estranho eu dizer isso, dado o quão animado e colorido o anime é, mas ele é realmente sobre solidão.

A “turminha do Haru”, a gangue de amigos que ele acaba arrebanhando, parecem adolescentes colegiais super normais e saudáveis, mas que se agarram uns nos outros porque suas vidas são vazias de qualquer sentido, e preenchidas apenas por tédio e falta de propósito.


Quer dizer, eu não sou adolescente há um tempinho já, e não sei o quanto isso é realmente verdade ou não, mas posso dizer que, para quem olha de fora, parece bastante razoável.

Tanto que, para mim, a melhor personagem do anime é uma garota abusivamente bonita chamada Natsumi, cujo maior problema da vida é justamente o fato dela ser abusivamente linda. Por que isso implica que os caras só querem chegar nela com a intenção de botar o pinto-foguete para trabalhar, e as meninas não querem vê-la nem pintada de ouro, dada a inveja.

Como resultado ela é extremamente solitária.


Novamente, eu nunca fui mulher e muito menos sou bonito, mas já conheci algumas garotas incandescentemente bonitas que passaram ou passam por este mesmo problema.

Todos os personagens, neste anime leve e colorido, são de alguma forma quebrados e solitários – mesmo a própria Shizuku tem um motivo bastante plausível e relacionável para ter se tornado a pedra de gelo que ela é -, embora não demonstrem inicialmente. O que apenas aprofunda a sua solidão.

A GUERRA DE MIL DIAS

Agora, talvez, o maior problema do anime seja exatamente seu realismo na resolução de conflitos. Você pode achar que é estranho que ser realista seja algo ruim, mas o fato é que, muitas vezes, a realidade é algo chato e inconclusivo.

Por exemplo, o Haru não tem um desenvolvimento de personagem porque, na real, essa merda não tem cura. Não depende de vontade ou do “poder da amizade” ou nada desse tipo, como todos os tipos de distúrbios mentais graves, está além do que uma boa conversa pode resolver.


Por isso, a grande resolução de conflito do anime é que muitas coisas simplesmente não têm resolução nenhuma. O final parece em aberto, mas na verdade a mensagem é bastante sutil, ao dizer que eventualmente a Shizuku, por maior que seja sua boa vontade – e é – vai finalmente desistir, e seguir a vida dela adiante com alguém normal. Apenas porque é assim que as coisas são.

Nada disso é dito claramente, mas como eu já tinha dito, além das gags visuais, grande parte da beleza do anime vem do que é colocado nas entrelinhas. Existe realmente bastante a ser lido neste anime, o que não existe são finais conclusivos e muito menos felizes. Até porque, na vida não existe nada conclusivo, com exceção da morte.

Desnecessário dizer, claro, que uma comédia romântica de anime com slice-of-life sem grandes acontecimentos não é para todos. Para bem poucos, eu diria. Mas, caso a ideia não lhe pareça de toda ofensiva, eu recomendo dar uma checada nesta opção de anime da Netflix.

[ANIMES] My Little Monster (Tonari no Kaibutsu-kun) – resenha

THE STORY SO FAR: A síndrome de Asperger é uma variação do autismo clássico, e uma bastante esquisita. A grosso modo, o individuo praticamente não possu...
POSTADO EM:quinta-feira, 23 de abril de 2020
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[FILME] DOCTOR WHO: o 8o Doutor (ou quando o Doutor passou o rodo)

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... TO BE CONTINUED »

Eram dias dificeis para ser um whovian. Estamos no ano da TARDIS de 1996, e a este ponto Doctor Who descansa em paz a mais de sete anos já - sem previsão de retornar, se é que algum dia isso aconteceria. Considerando a última experiencia, eu diria que foi para o melhor.

De fato, a BBC não tinha nenhum interesse aquele ponto de ressucitar a série e isso teria sido isso, não fosse um americano muito louco que performou artes arcanas para trazer de volta a vida o que deveria ser deixado descansando em paz. E como toda obra de ficção já ensinou, performar rituais proibidos para fazer algo que é contra a ordem natural das coisas nunca acaba bem.

Um pouco de contexto da época, antes de tudo: embora o programa ainda tivesse apelo cult, a este ponto da história Doctor Who era considerado embaraçoso e antiquado (e é difícil argumentar com isso; basta comparar "Time and the Rani" à primeira temporada de Star Trek: The Next Generation, que estreou no mesmo ano). Se Doctor Who fosse ser viável novamente, seria necessário um longo período de tempo descansando.


Porém "paciência" não é como se faz as coisas na América, e um produtor americano chamado Philip Segal (produtor da série Seaquest DSV) decidiu que sete anos talvez não fosse tempo suficiente para trazer Doctor Who de volta, talvez uma mudança de ares o fizesse bem. Mais precisamente, como uma série americana.

Segal era fã genuíno de Doctor Who - ele cresceu na Grã-Bretanha e assistiu ao show durante toda sua infância. Seaquest deu a Segal um contato com Steven Spielberg que co-produziu o Seaquest através da sua Amblin Entertainment. E embora Spielberg tenha perdido o interesse muito antes da produção acontecer, ele recebeu uma carta de recomendação que foi o suficiente para permitir que Segal superasse o ceticismo da BBC e fizesse a bola rolar. A ideia de Seagal era fazer um episódio piloto na forma de filme para TV (algo relativamente comum na época, Joss Wheadon fez o mesmo com Buffy também) e se desse certo, continuar a série daí. 

Eventualmente, o filme para TV saiu do papel e uma coprodução entre BBC, Universal e Fox - uma situação de muitos cozinheiros metendo a mão que explica muito sobre o que virá a seguir.



Os primeiros rascunhos para o novo Who incluíam revisões drásticas do conceito; a certa altura, o Doutor procurava seu pai perdido com ajuda do espírito desencarnado de seu avô, cardeal Borusa, que controlava a TARDIS. Aicks... mas, em vez de um hard reboot, Segal e Jo Wright, da BBC, insistiram para que a versão dos EUA continuasse diretamente de onde o programa da BBC havia parado, trazendo Sylvester McCoy de volta para entregar o papel ao ator que chegava. Eles também insistiram, sob protestos dos outros americanos envolvidos, que o protagonista fosse interpretado por um ator britânico. Eventualmente, esse papel foi para Paul McGann, em grande parte devido à sua atuação na comédia cult Withnail & I.

É importante dizer antes de iniciar uma analise sobre o próprio filme porque eu quero apontar que seus criadores estavam tentando fazer o certo pelo programa e permanecer fiéis ao espírito da versão original. Isso tem que ser dito antes, porque ... bem, você vai entender porque depois fica mais dificil acreditar nisso. 

Os problemas desse filme são profundos e são evidentes desde a primeira cena, um prólogo que nos informa que os Daleks julgaram e executaram o Mestre, que pediu ao Doutor que levasse seus restos mortais de volta para Gallifrey. Se você não vê o problema dessa frase, então você já está automaticamente desqualificado para produzir uma série de Doctor Who. 

Mas enfim, o objetivo desse filme é atrair novos espectadores e agradar fãs antigos, e consegue falhar espetacularmente em qualquer um deles.



Para comparação, vamos dar uma olhada em "Rose", que estabeleceu claramente um ponto de vista humano relacionavel e a premissa básica de "alien excêntrico porém fundamentalmente bom que luta contra alienígenas maus em nome da humanidade" nos primeiros 10 minutos. Em 40 minutos, isso foi feito de maneira sucinta e divertida, apresentando a mãe e o namorado de Rose e explicando claramente aos recém-chegados que o Doutor é muito antigo, misteriosamente poderoso e tinha longa experiência viajando pela história da humanidade e com aliens. Quarenta minutos desse filme aqui e não está totalmente claro o que deveria estar acontecendo ou sobre o que isso é realmente.

O prólogo se arrasta com detalhes técnicos que apenas fãs antigos conseguiriam entender sem dar aos novos espectadores um contexto coerente para entender nenhuma das palavras que estão sendo ditas ali. Grande parte da sobrecarga de informações é irrelevante de qualquer maneira, uma vez que nem os Daleks nem Gallifrey têm qualquer outro envolvimento na história. Enquanto isso, o filme não se preocupa em explicar coisas que seriam importantes para a história agora: como o Mestre é capaz de retornar dos mortos, ou por que ele assume a forma de algum tipo de cobra ectoplasmática (não ajuda que o enredo do Mestre seja basicamente reaproveitado em grande parte de "The Deadly Assassin", do Quarto Doutor em 1976, que é um ótimo episódio).

Itachi aproves
E, apesar de esbanjar nomes do passado da série, o script tropeça nesses detalhes, ou pelo menos os altera de maneiras difíceis de engolir. Caso em questão: os Daleks nunca julgariam alguém, especialmente um que não fosse outro Dalek - mesmo nesse caso já é dificil de engolir. Eles são uma raça de maníacos genocidas xenofóbicos, meio que a coisa deles é gritar "Exterminate" o tempo todo.  Porque Daleks julgariam alguém, e então permitiriam que o condenado tivesse um ultimo desejo atendido - no caso, ter seus restos mortais levados embora pelo maior inimigo dessa raça é algo que não faz o menor sentido.

Não que isso seja importante para a história, meu ponto é que eles já conseguiram errar desde a primeira cena do filme - uma conquista da qual poucos filmes podem se orgulhar de atingir (até mesmo "The Room" tem uma introdução bacana, que dá uma cara de filme europeu cult a produção mesmo que vire só palhaçada depois, ao menos eles não erram desde o minuto 1)

E o filme repete esse erro repetidamente, de ser inacessível para novatos e ofensivo para fãs antigos. Por exemplo: é interessante que eles tenham se dado ao trabalho de trazer o Sylvester McCoy para fazer a cena despedida do Sétimo Doutor (o que é mais do que fizeram com o Sexto, mas enfim), mas sua presença apenas turva a água para as pessoas tentando assistir Doctor Who pela primeira vez (existe um motivo pelo qual o Russel começou direto com o Nono Doutor, saiba você).

É, suponho que poderia ser pior...

E ao mesmo tempo consegue emputecer os fãs antigos porque, sério, essa é a regeneração mais patética dos quase sessenta anos de história da série. O Mestre agora virou uma geleca louca e danifica os controles da TARDIS, que faz um pouso de emergencia em Los Angeles dos anos 90. Mais especificamente, ele aterrissa no meio de um tiroteio entre gangues asiáticas rivais que devem ter saído de um filme do Van Damme nas proximidades, e é atingido por bala perdida ao abrir a porta da Tardis. Sério, morrer de bala perdida é lame até mesmo para os padrões baixos da era do Sétimo Doutor.

Enfim, no pronto socorro do hospital ele pede aos médicos que não façam muita bagunça com o seu corpo na mesa da sala de operações, o que eles fazem de qualquer maneira. Mas, em defesa do filme, é dado uma explicação satisfatória do porque os médicos não percebem que o Doutor não é humano (algo sobre o raio-x ter saído espelhado, o que faz mais sentido do que apenas acreditar que ele tem dois corações)... o que faz esse filme ao menos fazer mais sentido que a Martha Jones. Porra Martinha, sua vida não é fácil mesmo amiga...

A cena da sala de cirurgia também apresenta Daphne Ashbrook como Grace, a cirurgiã cardiaca que viria a ser a companion desse Oitavo Doutor e aqui o filme mostra bem o tom que pretende empregar - e não é um muito bom.



O filme é deveras soapoperesco, no sentido de abrir mão do bom senso em favor de cenas overreagidas - com muita frequência, de maneira forçada e transparente. Porque, claro, Grace não pode ser simplesmente uma cirurgiã cardíaca que está tentando salvar seu paciente. Não, ela precisa ser chamada enquanto está na ópera, para poder correr pelo corredor com seu vestido de baile, com lágrimas escorrendo pelo rosto, como se fosse uma rainha do baile desesperada para salvar uma caixa cheia de gatinhos de uma prédio em chamas. Então o namorado dela tem que terminar com ela enquanto ela está chorando por ter perdido o paciente. 

A coisa é tão overdramática que eu estou surpreso que ela não tenha desarmado uma bomba enquanto fazia isso, ou feito o parto de um bebê no elevador a caminho da sala de operações. A única razão pela qual essa cena não tem uma perseguição de carros é porque vai ter uma daqui a pouco.



E, embora existam momentos de comédia de vez em quando para perfurar essa pomposidade grandiosa, eles geralmente são amadoramente escritos e ridículos. Eu suspeito que eles estejam lá apenas porque alguém da parte americana insistiu que um programa de viagem no tempo que envolvesse uma cabine telefônica tivesse que soar como Bill & Ted. A cena com o legista com o corpo do Doutor é ok (mais por mérito do ator do que da escrita), mas qualquer boa vontade que você possa ter brotado se perde quando um policial de moto entra em alta velocidade pelas portas da  TARDIS enquanto grita "Estou sem freios!!!". Honestamente eu esperava que tocasse "o tema de Benny Hill"  a qualquer momento. 


Então o Mestre-geleca possui o corpo do policial motoqueiro muito louco porque... bem, porque alguém assistiu Terminator 2  achou que um policial motoqueiro como vilão seria uma boa ideia.

Bem, após tudo isso é que conhecemos o novo Doutor. E, como tudo nesse filme, de uma forma exageradamente overatuada quando na sequência pós-regeneração ele não pode simplesmente ver seu novo rosto em um espelho com um choque momentâneo e consternação, como os outros Doutores fizeram antes dele. 

Não, claro que não, ele precisa vagar por um ala do hospital que aparentemente foi abandonada há anos, ver-se nos estilhaços de uma dúzia de espelhos quebrados e grita "QUEM ?! SOU ?! EU?!" em meio a trovões e luzes antes de cair de joelhos em uma pose de Cristo crucificado. 



O lado bom é que uma vez que passa essa (constrangedora) confusão pós-regeneração, McGann se comporta bem e cria os momentos mais atraentes do seu personagem durante as cenas mais calmas. Ele é charmoso, um pouco desleixado, tem uma cortesia graciosa e não afetada, e momentos de entusiasmo gostaveis, como sua alegria inesperada ao descobrir que seus novos sapatos servem. Suponho que se a coisa tivesse ido para frente, ele poderia eventualmente acertar a mão como Doutor.

Mas é realmente apenas uma amostra; realmente não há o suficiente aqui para julgar o Oitavo Doutor, especialmente considerando quando o Mestre rouba o último terço da história. 



Se o Doutor passar por isso com alguns momentos de sutileza, o mesmo não pode ser dito do Mestre. Veja, ao longo dos anos o Mestre sempre como caricaturalmente eeeeeevil ao estilo Doutor Evil de risadas malignas, mas nunca mais do que aqui. Eric Roberts (irmão mais velho da Julia Roberts, BTW) nem tenta dar ao personagem mais de uma dimensão, embora eu não tenha certeza do por que ele iria sequer tentar já que ele está sobrecarregado com frases como "Em breve terei toda a sua vida!" 

Quanta nuance um ator deve trazer para um personagem dotado com a capacidade de vomitar em quatro guardas de segurança ao mesmo tempo? Ou quem responde à pergunta "quem é você" tirando dramaticamente seus óculos de sol para revelar olhos verdes de cobra, como se Lord Voldemort tivesse assumido o papel do cara do CSI? 

O meu ponto é que o Mestre sempre foi meio ridiculo, mas ele era ridiculos em cenários baratos de sci-fi que meio que combinavam com seu jeito canastrão de malignidade. Em cenários urbanos de uma produção "no mundo real" fica muito, mas muito deslocado. Porém se eu tivesse que mudar alguma coisa, eu mudaria o tom do cenário e não o mestre porque ele é a única coisa remotamente interessante de se assistir aqui. Entre uma versão maligna do Sexto Doutor e o Dr. Evil, pelo menos é algo para se ver.



O filme também faz duas grandes mudanças no personagem do Doutor, apenas uma delas passou de 1996. A primeira foi tornar o Doutor meio humano por parte da sua mãe, o que ficou muito na cara como ideia de um executivo para fazer o personagem parecer mais "relacionável" e foi ignorado na série atual. O outro novo elemento tem mais poder de permanência - a idéia de que o Doutor possa ter uma conexão romântica com sua companion humanas. 

Até então nunca foi tentado uma abordagem de um Doutor aberto ao romance, e não é como se não pudesse funcionar: o relacionamento do Doutor e da Rose foi feito com bastante tato e elegancia, assim como a relação... única do Doutor com a River Song. O problema aqui não é o romance em si, apesar de ser um tema delicado, mas que nada nesse filme possui o mais remoto tato. Um Doutor pegador que passa o rodo em novinhas 900 anos mais jovens que ele parece... errado. Para adicionar ofensa a injúria, Grace e o Doutor não têm muita química. Quando Grace vai embora no final, você não está realmente torcendo para que ela mude de idéia.

Tem uma cena que define perfeitamente bem esse filme, quando o Doutor menciona que conhecia Madame Curie "intimamente". Grace então pergunta: "Does she kiss as good as me?" apenas para ser gramaticalmente corrigida por um mestre visivelmente aborrecido com a pequenez dos humanos: "As well as you".

No, it's not
Ou seja, a gente passa vergonha com um Doutor mundano, a companion afunda a coisa toda na lama ainda mais... e então o Mestre solta uma frase desconexa de todo o resto, mas que funciona no mundinho dele.

Essa cena em particular tem um bom momento em um roteiro que é apinhado de coisas que não fazem nenhum sentido, mesmo para os padrões de Doctor Who - tanto na estrutura, como a TARDIS viajando no tempo para desfazer mortes, quanto dialogos vergonhosos como "Eu finalmente encontrei cara certo, e ele é de outro planeta!

Por que o Mestre virou uma cobra de ectoplasma que possui corpos é uma coisa que apenas Orochimaru saberia responder

Caras, eu entendo, sério. O programa está fora do ar há seis anos e uma empresa do outro lado da lagoa quer transformá-lo em um filme de TV com o objetivo de fazer uma nova série. Para isso, precisa de tempero, precisa atrair um novo público, assim como o antigo, e precisa funcionar como plataforma de lançamento. Este é o ponto de partida para uma nova era. Eu entendo você achar que precisa mudar as coisas. 

Só que o problema é como eles fazem isso. Na tentativa de agradar a todos, eles não agradam a ninguém. Na verdade, eles alienam a todos.

Eu entendo a vontade de mostrar aos fãs antigos como o Sétimo Doutor morreu, porém quando isso é ao custo de um terço do seu tempo de execução de 85 minutos, essa é uma escolha ruim e que deveria ter sido cortada - depois que a série emplacou, isso poderia ser adereçado com mais calma because timey-wimey stuff.



E embora se possa dizer que foi a melhor atuação do Sylvester Mccoy como Doutor (não que a barra a ser superada seja muito alta ou sequer existente), foi algo inútil. Novos fãs em potencial se perdem quando eles se perguntam por que o cara que eles assistiram por 20 minutos foi morto. Eles também podem se perguntar por que ele mal falou.

Então, pela próxima hora, outro cara está tentando lembrar quem ele é. É fato sabido que episódios de pós-regeneração tendem a ser enfadonhos porque a gente quer ver logo que tipo de pessoa é o novo Doutor, e essa coisa de confusão não leva a lugar nenhum - ou seja, é um saco. Isso é verdade hoje, era verdade em 1976, e certamente foi verdade em 1996. Basear então toda seu pitch meeting nisso é uma escolha errada.



E enquanto isso, os roteiristas tentando enfiar lore do programa - frequentemente, lore errada ainda - através da exposição, referências visuais a Doutores anteriores, frases repetidas sobre como ele tem 13 vidas e tudo sobre a TARDIS. Então, novos fãs estão perdidos e perderam o interesse, juntamente com qualquer conexão potencial que possam ter tido com o personagem.

Enquanto isso, os fãs antigos estão horrorizados com as mudanças que fizeram. Como eu já disse, por que os Daleks dariam ao Doutor os restos mortais do Mestre? O que diabos eles estão fazendo dizendo que ele é meio humano? O que ele está fazendo tentando pegar a companion? Por que a TARDIS agora tem o Olho da Harmonia? Que fim levou a Ace?

Pensando bem, acho que prefiro não saber sobre essa última.



Mas o ponto é que esse filme é bagunça, sem propósito ou direção efetiva. E, como resultado obvio, o programa foi novamente guardado na geladeira.

Apesar dos problemas de continuidade e da estupidez de McCoy começar como Doutor, os primeiros vinte minutos ainda são assistiveis para fãs antigos pelo menos. Ok, eu posso apenas aceitar que... de alguma forma... o mestre conseguiu um novo corpo e o Doutor também. Por mais idiota que seja a execução, eu posso assimilar o conceito. Certo. Mas dai pra frente a coisa toda desmorona mais rápido que um Cybermen tentando sapatear. 

Tem alguma coisa sobre relógios atômicos, Eric Roberts e seus olhos verdes tentando convencer "The Asian Child" de que o Doutor era um vilão e o universo terminando à meia-noite foi de uma bobagem insuportável mesmo para os padrões baíxissimos que a série tinha estabelecido com o Sétimo Doutor. O melhor que eu posso dizer é que eu desliguei mentalmente nos últimos 45 minutos. Eu sei que tem algo a ver com o Mestre querendo o corpo do Doutor e ele colocando o Doutor em algum tipo de tortura medieval que abriu o Olho da Harmonia, mas não me lembro dos detalhes. Se eu tivesse que chutar, acho que o resto envolve o Doutor procurando um relógio atômico enquanto beija sua amiga e faz perseguições de moto pelas ruas de San Francisco because America Fuck yeah!



Esse filme é tão ruim quanto a era do Sétimo Doutor, mas felizmente é mais curto - apenas 82 minutos de sofrimento, de modo que pode ser mais facilmente delegado a uma segunda prateleira na memória. Você sabe, junto de coisas que você sabe que existem mas não considera realmente tipo as continuações em DVD das animações da Disney.

Foi horrível, e definitivamente não é o fim que Doctor Who merecia ter. A boa noticia é que esse não é o fim, embora teriamos que esperar um novo século, um novo milenio para vermos uma retomada de Doctor Who adequadamente feita. 

E, como o tempo é uma big ball of timey-wimey stuff, posso garantir que o virá a seguir será absolutamente fantástico.



[FILME] DOCTOR WHO: o 8o Doutor (ou quando o Doutor passou o rodo)

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