[#1355][Jun/1999] BUGS BUNNY: Lost in Time
-
A dois anos e meioa trás, quando eu escrevi sobre PORKY PIG'S HAUNTED
HOLYDAY, eu contei como em 1935 a Warner Bros teve seu primeiro personagem
recorren...
É o fim…
-
… mas não “O Fim”. Nem tudo que havia se acabou. O que restou não é dor. E
eu não curto dramalhão… Exceto um bom japonês, talvez, mas ainda assim com
limit...
Red Dead Redemption 2
-
Nate and Nick head back to the old west to reunite with John Marston and
the rest of Dutch’s gang in Red Dead Redemption 2! Do they survive their
life of...
"Genialidade" é um termo que usamos de forma curiosa hoje em dia. Basicamente, é a ideia de que alguns individuos são magicamente (ou divinamente, se preferir) inspirados e que do nada, sem esforço algum eles são capazes de puxar obras-primas em seus respectivos campos de interesse.
Não é assim que funciona. Ser realmente bom, faz algo realmente notavel requer anos de dedicação, tentativas e erros. É um caminho dificil que a maioria das pessoas não se sente inclinada a trilha-lo porque DÁ TRABALHO PRA CARALHO! Mais fácil mesmo dizer que não dá pra fazer porque você nasceu sem a pecinha mágica secreta.
Isso sendo posto, tem apenas duas exceções que eu consigo pensar a essa regra e que parecem funcionar nesse místico conceito de genialidade que a preguiça popular criou. Eles são Hirohiko Araki e Douglas Adams.
O primeiro é o mangaka resposavel pelas bizarras aventuras da família Joestar e associados, e é uma das pessoas mais criativas que eu já vi pegarem em um lápis. Ele pode escrever histórias bizarramente deliciosas sobre absolutamente qualquer coisa que lhe vier a mente, desde nazistas cyborgues a ratos snipers. Considerando que ele trabalha a mais de trinta anos em uma das industrias com os prazos mais filhosdaputa que existe, a de mangas, é absolutamente incrível como ele consegue simplesmente sentar e desenhar (e na industria de mangas TEM que ser assim) sobre QUALQUER COISA e ficar foda. Esse homem opera em uma frequencia a ser estudada pela NASA.
O segundo exemplo que me ocorre é o não menos genial (no sentido popular da palavra mesmo) Douglas Adams. Ele tinha um dom inacreditavel de fazer paragrafos interessantes sobre absolutamente qualquer coisa que lhe viesse a mente. Normalmente, é recomendado que o autor pule partes desinteressantes ou cotidianas da história, como digamos o personagem ir a padaria comprar pão. No caso de Douglas Adams nós ansiamos por momentos assim porque muito provavelmente disso sairão paragrafos hilários e/ou inteligentíssimos.~
Considerando o histórico de péssima administração de prazos que Adams tinha, muitas vezes ele realmente redigiu capitulos nesse estilo mesmo de sentar e escrever o que vier na cabeça e vai ter que ser isso. E foi isso. E foi espetacular.
Então eu suponho que, embora menos popular do que se credita, "genialidade" exista e alguns homens, mulheres e doguinhos operam em outra frequencia mesmo.
Isso sendo dito, a pergunta que me cabe fazer é... apenas isso é suficiente? As desventuras do detetive Pinto Gentil me fazem acreditar que não.
Então, vamos começar do começo: a Agência de Investigações Holísticas Dirk Gently é um livro sobre... bem, sobre nada, na verdade. Sério. A primeira metade do livro é sobre "Douglas Adams" enchendo linguiça enquanto quase nada realmente relevante para a história acontece.
Claro, ele sendo Douglas Adams estamos falando de uma linguiça importada feita de porcos criados a leite de rococó. Coisa fina. Mas não menos linguiça por conta disso. Isso é bom? É ruim? Dificil dizer. Ele passa, por exemplo, quase dez paginas narrando sobre um jantar de onde se aproveitam apenas duas linhas de texto para o resto do livro. Fosse qualquer outro autor no mundo, eu arremessaria pela janela o editor que deixou uma aberração narrativa dessas passar. Mas Douglas Adams escrevendo como Douglas Adams escreve, é uma aberração que nós queremos ver.
Então o Douglão da massa nos serve um prato de linguiças enchidas deliciosamente, porém não tem como não notar que isso é tudo e não tem um prato principal por detrás disso. Novamente, isso é bom? É ruim? Hm, é dificil dizer.
Toda passagem sobre o Monge Eletronico, por exemplo, é magnificamente escrita e interessantíssima de ser ler. O melhor dispositivo absurdo introduzido no livro é o Monge Eletrônico. O Monge Eletrônico existe em uma época em que ninguém tem tempo para acreditar nas coisas, então pode-se comprar ou alugar um robô para acreditar nas coisas por você- especialmente aquelas noções estranhas que não são sustentadas por evidências e, portanto, são menos dignas do esforço da crença. Por uma série de decisões de design individuais baseadas totalmente em lógica, em uma coincidencia incrível o Monge Eletrônico acabou sendo projetado que todas as suas peças juntas dão a exata semelhança de um ser humano. Enfim, Douglas Adams sendo Douglas Adams em seu melhor.
Agora, que importancia isso tem para a narrativa? Nenhuma, realmente. É apenas fluffy sem nenhum crunchy, como se diz no RPG.
Sim, eu sei, eu sei. Você pode não estar achando provavel que o livro TODO seja apenas uma coleção de paragrafos (maravilhosos) Douglasadanianos... e não é. Para ser honesto, existe um fio condutor juntando todas esses textos. E para quem não conhece o trabalho de Douglas Adams, é um fio condutor criativissimo, espetacular e super inteligente, como esperado do Dogão afinal.
Para quem é mais habituado ao seu trabalho a coisa vai parecer um tanto mais... sem vergonha. Eu digo isso porque a trama da Agência de Investigações Holísticas Dirk Gently - que só COMEÇA a ser tocada para lá da metade do livro - nada mais é do que um compilado de dois textos anteriores de Douglas Adams.
Em 1979, Douglas Adams foi showrunner da temporada daquele ano de Doctor Who, e para a qual escreveu pessoalmente dois arcos: "A Cidade da Morte" e "Shada" - sendo que o segundo nunca terminou de ser filmado por questões trabalhistas na produção.
Ora, acontece que a trama da AIHDG nada mais é do que um reuso das ideias de Cidade da Morte com personagens que ele criou para Shada. E não é uma mera "inspiração", são literalmente os mesmos personagens e as mesmas ideias - o professor Chronotis até o mesmo nome tem, e embora ele use uma TARDIS como em Shada, obviamente ela não tenha esse nome aqui. O personagem título, Dirk Gently, é basicamente o Quarto Doctor: excêntrico, aventureiro e um pouquinho insensível. Richard MacDuff é um companion típico, cujo papel é principalmente ser surpreendido e perguntar “O que é isso?” quando confrontado com coisas fantásticas como fantasmas e máquinas do tempo.
– Noite ruim, hein?
– Diversificada. Teve desde assassinato até retirada de uma égua de um banheiro. Não, nem me pergunte.
(policiais conversando sobre os eventos iniciais do livro)
E enquanto eu entendo ele reaproveitar elementos de Shada - que nunca foi ao ar, afinal - o que ele reusa de Cidade da Morte já ... não soa tão legal assim, né amigo? Não estamos falando de um arco obscuro que nunca foi transmitido, estamos falando do arco mais bem avaliado e com maior audiencia da série clássica de Doctor Who. É como daqui a dez anos a Marvel fazer um filme sobre os Novos Mutantes enfrentando um vilão que quer eliminar metade da população do universo através de coletar jóias do poder e estalando os dedos para isso. Aí já é meio demais, né?
Enfim, isso torna uma venda mais dificil que o usual para os livros de Douglas Adams. Quando ele está com vontade de escerver, até a lista de compras do mercado dele é uma leitura deliciosa. Dirk Gently, entretanto, não parece o ponto motivacional literario mais alto da vida dele. Não é ruim, mas podia ser muito melhor.
Se você está vivendo no planeta Terra, grandes são as chances que você já tenha ouvido falar de League of Legends (LoL para os íntimos), mesmo que não curta muito videojogos. LoL foi o jogo que conseguiu a façanha de desbancar World of Warcraft como maior jogo online do mundo e isso não é pouca coisa.
Este ano o campeonato mundial de LoL teve sua final transmitida para 27 milhões de pessoas, e em várias capitais (no Brasil mesmo) houveram bares temáticos que transmitiram as finais como se fosse copa do mundo. Adicionalmente, LoL ganhou uma música muito, muito foda do Imagine Dragons para seu mundial.
A coisa é grande desse jeito.
Então você pode estar se perguntando: hey, parece legal, será que eu deveria jogar isso? Posso te garantir que o jogo é bom, é satisfatório, bem pensado e divertido. Logo a resposta, meu amigo, é bastante simples: nem que sua vida dependesse disso.
Por que isso? Bem, certo, mas vamos às virtudes primeiro.
League of Legends é um excelente jogo no que ele se propõe a fazer. No jogo (o modo principal pelo menos, que é o que importa) você é membro de um time, e precisa chegar até a base adversária e destruí-la, e obviamente seus adversários tentarão fazer o mesmo.
Dito isso, você tem uma miríade de personagens para escolher, os Campeões, cada um com um papel mais adequado. A melhor forma de entender LoL é pensar como se fosse um time de futebol: existem posições, e seu trabalho é ficar nela e fazer o melhor que pode ser feito.
Um time de futebol não é composto de só de atacantes, existem os laterais, zagueiros, o goleiro, volantes, etc. Saber disso é o que diferencia um time funcional de verdade, do que o que acontece na primeira série, quando todas as crianças correm atrás da bola ao mesmo tempo.
Metade das crianças estão correndo atrás da bola, metade só estão correndo porque as outras correram. A vida em uma imagem
LoL funciona da mesma forma, e é muito recompensador em sua proposta de ser membro de uma equipe, fazendo a sua parte para carregar o jogo. Realmente divertido mesmo.
Adicionalmente, em cada partida seu personagem começa do zero em equipamentos – construir seu inventário ao longo do jogo é um dos pilares do sistema – então, não é como um MMORPG, em que um personagem nível 1 vai ser estuprado por um personagem nível 50 em 999% das vezes.
Claro que existem vantagens em ter nível mais alto, mas não ESSE tipo de vantagens, e isso é um grande atrativo.
Adicionalmente, o jogo tem uma mecânica muito gostosa, a dublagem é excepcional (tanto na versão brasileira quanto na americana), e o jogo tem um lore tão profundo e bem feito, que por si só valeria o jogo.
Novamente, no que League of Legends se propõe a fazer, eu não poderia sugerir algo para deixar o jogo mais legal e funcional.
Mas, então, se o jogo é tão bom assim… por que eu recomendo que você não toque nele nem com uma vara de três metros?
A resposta a essa altura já deveria ser obvia: pessoas.
Bem, você meio que podia esperar por isso, não?
Veja, a coisa é: LoL não é apenas um jogo online – então obviamente você vai jogar com outras pessoas – mas um jogo online de equipe. Você é apenas 1/5 do jogo, e os membros do seu time são vitais para que o jogo funcione.
Surprise motherfucker: obviamente o jogo não funciona.
A primeira parte que dói na alma é tentar se comunicar com as pessoas. Por motivos que dariam um ensaio sobre a natureza humana, LoL tem o dom de atrair as pessoas mais ignorantes, estúpidas e grossas da internet. Imagine um lugar tão nocivo quanto o 4chan, porém, substitua o sarcasmo e a filhadaputagem por ignorância e machoalfismo adolescente.
Resumidamente, LoL é um jogo de equipe onde todos da equipe se odeiam. Eu não vou entrar no mérito do porque as coisas são assim, apenas são. Ao ponto que a única forma de aprender o jogo (e o jogo exige um certo comprometimento para aprender cada posição no time, tanto quanto um atacante não pode simplesmente ir pra lateral direita e achar que cruzar para área é só chutar de qualquer jeito) é ter alguém que já saiba para te ensinar.
LoL é meio que uma sociedade secreta: você só pode jogar se outro iniciado dedicar seu tempo para te introduzir no meio (não, não farei essa piada). Tente por conta própria, e haverá apenas dor e ranger de dentes.
E, por isso, eu quero dizer que, em uma hora comum de partida de LoL, você aprende 4 novos xingamentos e 8 novas formas de insinuação de estupro (caso seu nick dê a entender que você é uma menina). For real. Tudo que você disser pode e será usado como xingamento contra você durante a próxima hora que você cometer o erro de jogar esse jogo.
Um dia tipico no LoL
Mas ok, suponhamos que, de alguma forma improvável, você aprenda o jogo… nada realmente melhora. O mesmo mimimi aborrescente vai te acompanhar até o fim dos tempos, não importa o nível que você jogue.
Talvez você possa estar pensando que, se for esse o problema, bem, é só ignorar o chat. O que é verdade, não é esse o ideal de um jogo em equipe, mas dá para fazer.
Não fosse o fato de que, na partida mesmo, as pessoas se esforçam o máximo que podem para que não haja a menor chance do jogo funcionar. Tratando-se de um jogo de equipe, existem muitas formas de se estragá-lo, e a comunidade de LoL conhece todas elas.
A mais famosa é que os jogadores costumam pensar que matar a equipe adversária faz o próprio pênis crescer uns 15 cm por morte. Entenda: matar os membros da equipe adversária é divertido, e claro que é importante, mas não é TÃO importante assim para o jogo.
Mais ou menos como no futebol, é importante fazer gols, claro. Mas não quer dizer que todo o time tem que largar o que está fazendo e ir para dentro da área tentar chutar a bola pro gol ao mesmo tempo, vira futebol de primeira série novamente, e isso é LoL em uma casca de noz.
O que é problemático, porque se os membros do seu time não estiverem fazendo o papel deles, você não consegue fazer o seu, e nem todos os papéis na equipe se resumem a apenas ter o maior número de mortes. Diabos, na verdade nem metade dos roles é sobre isso.
Essa dependência de cada jogador ter que fazer a sua função é a melhor parte do jogo, você efetivamente se sente parte de algo, mas os jogadores conseguiram perverter isso na sua maior fraqueza.
Por exemplo, quando a partida começa, e após morrer duas vezes, o cidadão desiste porque “o jogo está perdido”. Então ele simplesmente deixa o personagem lá parado, e vai assistir um episódio de Naruto ou algo assim do tipo. E isso é o cenário mais comum que você pode imaginar. Apenas um deles. APENAS. UM.
Eu poderia passar horas dando idéias de como se avacalhar o jogo, porque eu já vi todas elas em prática, e isso que eu nem me esforcei tanto assim. A criatividade humana para avacalhar coisas é impressionante.
Novamente, mesmo em partidas de nível alto rankeadas estão livres disso, e você ficaria surpreso no quanto as pessoas podem ser criativas em bolar meios de avacalhar um jogo apenas porque sim, ao ponto que, se você encontrar uma partida de LoL onde nada deu errado, e você pode simplesmente jogar, uau, isso é algo raro. Muito raro. Pra glorificar de pé, igreja.
Sério cara, eu não tenho mais 15 anos. Aliás, faz muito tempo que eu não tenho mais 15 anos. E eu não tenho paciência pra ficar batendo boca com crianças, ou tentar convence-las a não avacalhar o jogo (sup ir bot ao invés dos outros 3 caras é pedir demais, aparentemente) toda santa partida – até porque, falar com o tipico jogador de LoL já é uma dor que você quer evitar. Sério, eu não tenho mais idade pra isso.
A menos que você tenha uma gangue de outros quatro amigos para fechar o time com você e jogar frequentemente. Se esse é o seu caso, vá em frente e se divirta. Se não, nem tente. Sério.
THE STORY SO FAR:
Se você está vivendo no planeta Terra, grandes são as chances que você já tenha ouvido falar de League of Legends ( LoL para os ín...
Então vamos conversar sobre aquele filme super maneiro que é protagonizado por um super-herói negro baseado em quadrinhos da Marvel e que todo mundo achou maneiro pra caramba... BLADE!
Não, sério, a quantidade de gente que vi dizendo que Pantera Negra era o primeiro filme de super herói negro e que era uma grande coisa por causa disso é de uma imbecilidade que me obrigou a criar uma conta no Facebook só pra ter o prazer o deletar ela. Sério, eu não uso esse esgoto e toda essa merda chega até mim do mesmo jeito, como vocês conseguem viver bebendo dessa água pútrida dia e noite é algo que eu só posso imaginar (mas não invejar).
De qualquer forma, eu não vou falar sobre os aspectos sociais, políticos, motivacionais, representatividade e o caralho A4. Muita gente desqualificada já deu sua opinião de bosta sobre um assunto que não entende e me juntar a eles não está na minha lista de prioridades de vida. Por isso vou focar em algo que eu entendo um cadinho mais para falar: o filme em si.
Eu sei, doido demais, né?
Bem, vamos começar do começo: a Marvel tem um problema com os seus filmes. Na verdade são vários, mas o mais grave deles é o "insira aqui". Quando Iron Man pegou todo mundo com as calças na mão em 2008 e foi um filme puta divertido, a Marvel rapidamente identificou que tinha achado uma formula para fazer sucesso.
O que significa que a maior parte dos filmes dele segue o mesmo esquema narrativo e visual (até a paleta de cores dos filmes é padronizada). Não, sério, tem um vídeo muito bom falando sobre isso AQUI.
Então, me permitam um momento para explicar como isso funciona: primeiro, existe um item super poderoso. Então, um vilão muito mal decide explodir coisas com esse item (ou para conseguir esse item) pq ele é mau como um pica-pau.
"Doctor Zola, this will change the world!"
O herói então surge para derrotar o mal, e parcialmente tem sucesso em uma cena engraçada e divertida, mas no fim o problema não é resolvido e agora o herói tem uma motivação pessoal para derrotar o vilão.
“Go get him! I can swim.”
Depois disso há uma breve pausa na narrativa onde é adereçado um conflito interno do herói, enquanto o vilão aproveita esse tempo para acelerar o seu plano de maldade absoluta.
E ele consegue! Na segunda grande cena de ação, o vilão tem uma vitória, consegue o item poderoso e o ameça usa-lo para destruir tudo! Oh não! Apenas um ultimo esforço desesperado do herói poderá salvar o dia!
“Fury’s last words were not to trust anyone.”
Então o herói derrota uma horda de minions genéricos, gastando aqui as Armas de Chekhov que acumulou durante o filme, para então ter a tão esperada batalha final com o vilão genericamente mal e resolver usando uma frase de efeito que adereça o conflito interno do herói ou uma piadinha. Muitos filmes da Marvel resolvem as coisas com a piadinha, na verdade.
"Puny god!"
E é assim que você faz um filme da Marvel. Apenas altere alguns elementos, poderes e explosões e voi-lá! Agora, eu não estou dizendo que isso é ruim ou fazem os filmes serem ruins - eu gosto dos filmes da Marvel, de modo geral - apenas que é... uma formula. Você entra no cinema sabendo que vai receber um "é, ok, foi bacana" e sai recebendo exatamente o que esperava. O que é muito mais do que se pode dizer dos filmes da DC, mas até então isso não muito parâmetro de comparação.
Isso só começou a mudar quando um filme que eu, pessoalmente, acho muito ruim deu muito, muito certo. Tudo mudou quando a nação do fogo Deadpool atacou. Quando a Fox mostrou ao mundo que existe publico, e mais do que isso, demanda, para um filme autoral de super-heróis, essa mensagem não caiu em ouvidos surdos por Kevin Feige (o chefão do universo cinematográfico da Marvel)
Na verdade, muitas coisas colaboraram ao longo do tempo para que essa mensagem fosse transmitida. Os melhores filmes da Marvel em crítica foram justamente aqueles que os diretores tinham algo a dizer sobre alguma coisa, onde eles realmente queriam contar uma história sobre alguma coisa. Os irmãos Russo tinham um lugar onde eles queriam chegar sobre a troca de liberdade pela segurança - talvez o tema mais relevante para o ocidente nos dias de hoje e James Gunn usou uma HQ da 5a divisão da Marvel para fazer o filme que ele sempre sonhou fazer sobre um grupo de desajustados com uma trilha sonora do caralho. São filmes feitos com carinho, com tesão, e isso transparece no resultado final!
Para ajudar nesse ponto, foi mais ou menos nessa época que a DC começou a fazer seus filmes e isso foi outro sinal para Kevin Feige: "uau, nós totalmente NÃO PODEMOS ser como esses caras!". Filmes robóticos, escritos sem nenhum propósito maior do que ganhar dinheiro e realizar fantasias adolescentes. Isso foi um tapa na cara de Kevin, porque os dois filmes anteriores da Marvel antes de Guardiões da Galaxia são uma SONORA BOSTA.
Sério, você olha Iron Man 3 e Thor 2 e pensa: uau, eu totalmente veria a DC fazendo esses filmes. Se isso não disparar todos os alarmes na sua salinha, então você está no ramo errado.
Então, como coup'de grace ocorreu que a Fox entregou um filme com tanto coração e tanto tesão que foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Isso era o que precisava: era só questão de tempo até as pessoas pararem de se importar com os heróis da Marvel se eles continuarem fazendo filmes no piloto automatico, era necessário fazer filmes do caralho!
Claro, isso não foi imediato e não veio sem um preço. Joss Whedon teve que entregar o chapéu e o brilhante Edgar Wright teve que desistir do Homem-Formiga que ele tanto queria fazer para a Marvel se tocar tocar que eles estavam mijando na agua que bebiam.
Mas, eventualmente tudo se acertou e a Marvel mudou sua abordagem de como fazer filmes. Eles deram o filme mais esperado da fase 3 (Spiderman) nas mãos de um diretor iniciante, mas apaixonado. Foi ok, mas dava para ir além. Então Thor Ragnarok foi entregue para um diretor com um estilo muito proprio, e todo mundo se divertiu pra caralho. É um filme com alma e assinatura, como um filme de verdade tem que ser.
Esse era o caminho a ser seguido, isso é o que faz as pessoas se importarem com os personagens na tela. E é claro, era hora de ir além. Foi assim que Kevin Feige chegou neste cara e disse: põe pra fora o que tu sempre quis dizer!
E foi exatamente o que Ryan Coogler fez.
Talvez o nome não lhe seja imediatamente familiar, mas Coogler é o cara responsavel por transformar um filme que todo mundo disse "uau, que spin off safado, vocês estão realmente desesperados por grana, né?" em "ei, uau, esse filme é bom mesmo, olha só!". Ou seja, ele é o diretor de Creed. Um filme tão bom que Michael B. Jordan só não foi indicado ao Oscar pq ele é negro, e foi isso o estopim que deflagrou o movimento #oscarsowhite e começou uma discussão bastante saudavel ao cinema sobre a ideia que os produtores tinham que se um filme não fosse protagonizado por um homem branco, ele não teria sucesso.
É desse Ryan Coogler que eu não estou falando.
Bem, então temos um diretor com personalidade, algo a dizer, e uma luz verde da Marvel para que ele fizesse o seu filme sem lhe encherem muito o saco. O que faltava para fazer o melhor filme da Marvel de todos os tempos? Simples: corrigir os problemas da Formula Marvel.
E foi exatamente isso que Coogler fez. Resolveu um por um todos os problemas da Marvel em um único filme. Vamos a isso.
VOCÊ LEMBRA DA TRILHA SONORA DOS FILMES DA MARVEL? NEM PEPERIDGE FARM LEMBRA!
Quando eu te digo "trilha sonora de filmes da Marvel", o que você lembra? É claro, as músicas de Guardiões da Galaxia e o tema dos Vingadores, certo. Mas o que mais? Poxa, são DEZESSETE FILMES, como pode ser possível que em nenhum deles a trilha sonora seja releavente?
Tá, ok, a trilha sonora de Thor Ragnarok é muito boa, mas ainda sim são DEZESSEIS filmes onde o som passa completamente desapercebido! DEZESSEIS! Quer dizer, isso não é estranho? A Marvel tem mais filmes que Star Wars e Harry Potter juntos, e só de eu mencionar os dois ultimos um tema veio imediatamente na sua cabeça. Pq isso não acontece na Marvel?
Bem, vou ser sincero com vocês: de todas as minhas inumeras areas de expertize, música não é uma delas e eu não seria capaz de me aprofundar muito no tema. Em vez disso, vou deixar aqui um excelente ensaio falando sobre a situação da música nos blockbusters:
Como o video diz, a música dos filmes da Marvel não é ruim. É apenas genérica e inofensiva. Agora, genérico e inofensivo não é o que você tem a dizer, é Ryan?
Ao ouvir a música de Pantera Negra, você já tem um feeling de sobre o que o filme será, que emoções ele passa, qual o seu tema. O diretor sentou com o rapper Kendrick Lammar e talhou uma trilha sonora sob medida para apresentar o Afrofuturismo a um publico que provavelmente nunca ouviu falar disso até então. Eu incluso.
Afrofuturismo, saiba você, é um estilo narrativo que parte justamente dessa premissa de raízes africanas mas com alta tecnologia. É um genero próprio - assim como steampunk ou noir - com centenas de livros e peças de arte, mas nunca havia tido um grande blockbuster sobre isso. Até agora.
ESPERA, COMO ASSIM O VILÃO TEM RAZÃO?
A grande máxima da narrativa é que um bom vilão é o herói da sua própria história. Quer dizer, é claro que você pode fazer um vilão que é mau como um pica-pau apenas pq ele é mau, mas a menos que você esteja disposto a abraçar a galhofa (e é uma das coisas nas quais Thor Ragnarok acerta magnificamente), não é um caminho muito recomendado. Nem todos tem talento para escrever um Jojo da vida, acredite.
Em muitos casos o vilão tinha uma linha de motivação, até menos. E mesmo em filmes legais isso acontecia! Vamos lá, o que você pode me dizer sobre Ronan, o Acusador?
Hã... ele é azul... o povo dele (que nós não sabemos nada a respeito) encerrou uma guerra (que nós não sabemos nada a respeito)e ele não ficou feliz com isso porque... hã, ele gosta de guerra?
E cara, Guardiões da Galaxia é um dos bons filmes! Não vou nem tentar te pedir para lembrar do nome inimigo do Doutor Estranho... mas vê o meu ponto aqui?
Não por coincidencia, aquele tido por todos até então como o melhor vilão da Marvel era justamente o Loki. Nós entendemos pq ele faz o que ele faz, pq ele se sente injustiçado e pq, na cabeça dele, ele é o herói da história. Claro que ser interpretado pelo Tom Marvolo Riddle ajuda muito, mas ele é um vilão relacionavel.
Ok, isso é bom, mas dá para ir além. Tipo, bem além. Estou falando de níveis "A Lenda de Korra" de além. Vê, uma das coisas que eu mais gosto na Lenda de Korra é que nenhum dos quatro vilões da série é realmente um cara mau. Eles estão todos tentando fazer coisas que, em essencia, são boas.
Claro, eles não estão fazendo isso de um modo ideal e por isso precisam ser enfrentados, mas eles estão de certa forma lutando a boa luta. E quando você pensa sobre isso, o arco de história do Killmonger essencialmente... a do Batman!
Não, sério, pensa nisso: ele perde a figura parental quando é criança diante dos seus olhos, jura vingança contra o sistema corrompido que fez aquilo acontecer, passa a vida treinando em busca desse objetivo e luta seu caminho para trazer justiça para o mundo. Killmonger corretamente identificou um problema bem grande no mundo, e ele luta para concertar isso. O único problema é qual ele acha que é a solução para isso, e os meios que ele quer usar para atingir, mas mesmo com isso não tem como não dizer "ok, esse cara tem uma certa razão, sabe?".
Um dos momentos mais importantes para uma história é quando o herói passa pelo momento de auto-realização. Quando ele percebe o que está se errado não apenas no mundo (o problema externo), mas com ele mesmo (o problema interno) e muda isso. Então, em A Lenda de Korra, a personagem título aprende essas lições de seus inimigos e se torna um Avatar melhor ao compreender isso. Em Pantera Negra, T'challa tem no seu inimigo o empurrão que faltava para realizar todas as dúvidas que ele próprio já vinha colhendo ao longo da vida.
Ser negro hoje, em qualquer lugar do mundo, não é fácil. A nação mais poderosa, rica e avançada do mundo tem o direito de ignorar essa questão? Killmonger é o catalizador para o Pantera Negra ser um rei melhor.
Mas a grande sacada aqui é que o vilão também seu próprio momento se auto-realização. Isso é raro, porque a maior parte dos vilões não são complexos o suficiente para compreender algo significativo, mas acontece aqui. Killmonger compreende, um pouco tarde demais, o que a sua jornada de justiça e vingança lhe custou.
Ele se entregou tanto a sua cruzada que perdeu a oportunidade de ver a beleza da terra do seu pai, de ver as coisas boas do mundo com o qual ele sempre sonhou: uma Africa intocada onde o seu povo prosperou sem a mácula da escravidão. Esse momento de realização me lembrou bastante o final de "O Senhor das Moscas", quando os adultos chegam e as crianças podem finalmente se permitir serem apenas crianças novamente... e elas apenas desatam a chorar. Não é isso que acontece, mas é um momento muito bonito quando ele finalmente compreende o que Wakanda representa e como as coisas poderiam ter sido diferentes... apenas que ele percebe isso tarde demais.
Como você deve ter percebido a esse ponto, isso nos leva a outra coisa muito importante que nunca havia sido feita em um filme da Marvel: a construção de mundo.
WORLD BUILDING 101:Tsamina mina zangalewa, 'Cause this is Africa!
Um dos aspectos que mais me fascinam em um filme é quando ele propõe um novo universo, com novas regras e te apresenta uma aventura nesse admiravel mundo novo. Acho que não é necessário dizer que Hogwarts e o mundo bruxo é muito mais interessante do que o protagonista da história, ou o quanto eu adoro aquele fascinante mundo de assassinos com suas próprias regras de John Wick. E Inception, então? Maneiraço, né?
Isso é legal, as pessoas gostam disso! Nos apresentem um novo universo, com suas proprias regras, e explorem essa história! E isso é algo que a Marvel nunca fez realmente, mesmo tendo duas oportunidades do tamanho dos memes de 7x1.
A primeira oportunidade foi com Thor, mas esse é um filme com uma direção tão fraca que todas as boas oportunidades que o roteiro apresenta passam quase batidas. Asgard e a sua miriade de mundos é apenas um mundo qualquer, não tem nada especial nisso. Agora o que me caiu mesmo o cú da bunda foi com Doutor Estranho: a Marvel tinha a faca e o queijo na mão para fazer QUALQUER COISA que eles quisessem!
É magia, dammit, sejam criativos a respeito disso! Eles podiam ter ido full inception, podiam ter feito uma mistura de Harry Potter com Mago: A Ascenção, podiam ter inventado qualquer realidade com suas próprias regras, go nuts, e ao invés disso... eles apenas jogaram seguro. Pff...
Mas não dessa vez, não hoje, meu bom senhor! O filme passa boa parte do seu tempo construindo o mundo de Wakanda, quais são suas regras, como funciona, qual sua hierarquia ... na prática, não apenas com um textinho expositivo chumbrega. E então usa essas regras previamente estabelecidas para desenvolver sua história.
Yeah, baby, é disso que eu estou falando! Me mostre algo novo, algo que eu não tinha pensado ainda
GIVE THIS MAN A SHIELD
Vamos agora falar de um dos aspectos mais relevantes do filme do Pantera Negra: o próprio Pantera Negra. Eu sei que alguns filmes conseguem ter sucesso apesar do seu protagonista ter o carisma de um saco de batatas Pringles sem ar (referencia obvia a Harry Potter#256), sustentado pela força apenas da construção de mundo e dos personagens secundários.
Será este o caso aqui? Será que Pantera Negra consegue se sustentar como um bom filme mesmo sem um protagonista marcante?
Essa é uma questão que... felizmente jamais precisaremos responder. Vamos ver mais de perto o que faz T'challa funcionar.
Para começar, como funcionam os filmes da Marvel? Um sujeito meio engraçadalho encantador se encontra em uma situação complicada, mas esta roubada na verdade é uma oportunidade para se tornar um herói! Esse é o caso de quase todos os heróis da Marvel... exceto dessa vez.
A divergencia mais notavel que o Pantera Negra faz em sua caracterização é que T'challa não é movido por motivações auto-centradas. Com exceção do Capitão América, o caminho do heroismo para os heróis da Marvel é uma mistura de egoísmo e húbris. Tony Stark se torna vitima das suas proprias armas, Thor é banido por ter começado uma guerra, Steven Strange causa o próprio acidente que aleijou suas mãos, Peter Quill tenta passar a perna nos Saqueadores e Scott Lang aceita um roubo que o coloca na cadeia.
Durante os filmes esses personagens passam por mudanças que revelam que eles são, em vários graus, bons de coração e merecem ser heróis. Mas o arco de T'challa é completamente diferente.
Ele não é um homem comum que nós vemos se tornar herói como o Homem de Ferro ou o Capitão América. Ou aprende o que significa ser um herói, como Thor ou o Senhor das Estrelas. Ele é, e sempre foi, um herói. Ele é o principe da nação mais poderosa do mundo, então desde muito jovem a responsabilidade de quem ele é já se tornaram parte da sua personalidade. T'challa não precisa aprender o que é ser um herói, ele já entende o seu papel como defensor de Wakanda, e jurou defender o seu povo.
Então a sua "história de origem" não é exatamente uma redenção, é mais uma de revelação. Ele é forçado a lidar com as consequencias das suas responsabilidades como Pantera Negra, e seu arco de personagem é compreender que a definição de "seu povo" se tornou limitada demais. Esse conflito é inerentemente mais complexo e altruísta do que o do Homem de Ferro, Thor ou Star Lord.
Isso porque o maior poder de T'challa não vem da sua armadura OP de vibranium, ou dos seus poderes sobre humanos. O maior poder de T'challa, e sua maior responsabilidade, é política. Mais importante do que ser um herói, ele é o rei. A luta dele não é contra um vendedor de armas rival ou um deus aprontador, é com ideologias isolacionistas, as limitações da tradição cultural e os erros dos seus antecessores.
Em outras palavras, não é nada que possa ser resolvido batendo em alguém. Isso é diferente, isso é novo, e... bem, claro que ele bate em alguém porque isso é muito legal. A parte mais legal disso tudo, no entanto, é a adição que T'challa é para o universo cinematográfico Marvel já que faltava a figura do líder nos Vingadores.
Claro, usualmente Tony Stark é o personagem mais importante dos filmes mas ele é esse sujeito legal mas não totalmente confiavel. O Capitão América é só um cara comum (com superforça, because marvel) no meio de deuses tentando fazer o melhor que poder. Louvavel, mas ele ainda não é o capitão desse time. Nick Fury deveria ser o lider, mas ele é shaddy e escorregadio demais, então também não é o cara.
Bitch, please
Agora, o rei T'challa... esse sim é o cara. Quando Thanos chegar, ele que vai sentar o pau de vibranium na mesa e ordenar a porra toda, porque ele é o fucking rei de fucking Wakanda! Quer dizer, o exercito dele tem armaduras de vibranium e a irmãzinha dele é, no minimo, tão inteligente quanto o Tony Stark! How cool is that?
O que me lembra que outra coisa que Pantera Negra faz é dar aos personagens coadjuvantes espaço para respirar. Os filmes da Marvel tendem a focar em figuras únicas até que chegue a hora dos filmes de crossover (depressa, me diz uma caracteristica de um dos amigos do Thor! Rápido!). Ocasionalmente nós temos um sidekick para o herói, como o War Machine ou o Falcão, mas ainda sim é uma coisa bem superficial.
Pantera Negra, por outro lado, se sente confortavel em dividir os holofotes com as pessoas ao redor de T'challa, mostrando que eles são personagens relevantes e com traços de personalidade bem definidos. A general de Wakanda, Okoye, por exemplo é uma personagem tão própria e tão iconica que eu demorei muito até perceber que ela é a Michone de Walking Dead.
Isso para não falar da já citada irmã do rei, a princesa Shuri que é a melhor personagem secundária já feita pela Marvel e a futura Coração de Ferro quando o Robert Downey Jr entregar os doces (se a Marvel tiver alguma coisa na cabeça, isso é).
Para você ter uma ideia de como o filme acerta tanto em tantas coisas que ele consegue inclusive fazer com maestria o que as séries da Marvel estão tentando fazer a muito tempo: a troca subita de vilão. Luke Cage e Defensores tentou fazer isso de começar com um vilão e então dizer "AHA! O vilão era outro!", apenas para falhar miseravelmente e só jogar fora o que construiram a troco de nada.
É realmente uma jogada muito dificil de executar, mas Pantera Negra se sai bem nisso. Você começa o filme achando que o vilão vai ser o Andy Serkis e então BOOM MOTHERFUCKER, the game went up!.
Com uma paleta de cores vibrante (outro tradicional problema dos filmes da Marvel, que normalmente termina com os heróis enfrentando um exercito de inimigos genericos cinza), Pantera Negra é tudo que um bom filme de ação pode almejar ser. Tem um protagonista que você respeita, um vilão que não é apenas mau como pica-pau, personagens secundários marcantes, excelente fotografia, timing comico perfeito quando necessário (principalmente a cargo do "amigo branco", interpretado por Martin Freeman, que ao mesmo tempo é um dedo na ferida de como os personagens negros são tratados em blockbusters), uma construção de mundo exemplar e te faz sair do cinema com algumas questões na cabeça sobre a sociedade e como as coisas funcionam.
Eu, por exemplo, fiquei pensando como realmente seria se a cultura de cada continente tivesse sido permitida florescer até o grau atual de tecnologia... que tipo de mundo teriamos? Que tipo de sociedades conheceriamos? Claro que nunca saberemos, mas não é uma pergunta interessante?
Até onde filmes de super heróis vão, não tem como ser muito melhor que isso realmente. E o fato que esse filme (que nem ainda saiu inteiramente de cartaz) é a maior bilheteria de todos os tempos de um filme da Marvel é um indicador de que as coisas só vão melhorar daqui pra frente.
THE STORY SO FAR:
Então vamos conversar sobre aquele filme super maneiro que é protagonizado por um super-herói negro baseado em quadrinhos da Marvel e q...
O meu Youtubber favorito (o Araújo, do canal Capslock) frequentemente usa uma expressão que eu gosto bastante: "celebrar a cultura". Pode parecer chique, mas o significado é bem mais próximo de nós do que você imagina.
Se você é como eu, provavelmente você tem um emprego bem genérico que não satisfaz nenhuma necessidade sua exceto te dar dinheiro (se você é uma pessoa que trabalha com o que você ama, parabéns, de verdade, o mundo precisa de mais gente como você). Isso significa que eu e você gastamos seis, oito ou quatorze horas por dia (marque essa opção caso você seja um salaryman japones que por algum motivo lê blogs em português) em algo que não representa quem nós realmente somos, o que amamos ou como queremos nos expressar para o mundo.
Isso não é uma reclamação, contudo, eu realmente gosto de ter minhas contas pagar e ter dinheiro para financiar as coisas que realmente me importam. Se isso tem um preço a ser pago com o meu tempo, meh, cest'la vie.
É aí que os hobbies. Você gasta dezenas, centenas de horas de coisas em algo que coisas que te fazem feliz, que te fazem esquecer (ou mesmo ajudam) os seus problemas, te dão novas ideias, perspectivas ou apenas te divertem.
No meu caso, por exemplo, eu não seria a mesma pessoa sem jogos (tanto os bons quanto os ruins, talvez especialmente os ruins XD) e animes, que são as duas midias que eu mais consumo. Para outros pode ser livros, séries, novelas da globo, dramas coreanos, tokusatsu (que eu confesso que gostaria de assistir mais), filmes, board games ou o que quer que te faça feliz.
Por isso é legal ver, de tempos em tempos, momentos especiais celebrando essa cultura que é uma parte tão importante e faz a nossa existencia nesse pálido ponto azul orbitando uma bola de gas no espaço algo mais toleravel. Eu fiquei, por exemplo, bastante emocionado assistindo Shirobako - que é um anime mostrando como é a vida dessas pessoas que adiantam o cronograma do enfarto uns quatro ou cinco anos para que possamos ver os animes que assistimos, mesmo os ruins. Ou então me diverti pra caralho assistindo Otaku no Video, que é um documentário paródia sobre essa cultura feito pelas pessoas que criam a própria cultura (no caso, foi feito pela Gainax - mais conhecida como a empresa que criou o maior anime dos anos 90).
Eu tenho um fraco em especial pela história das pessoas que tornaram tudo isso possível (e isso é fácil ver nos meus textos), gente como Mark Cerny (engenheiro do PS4) ou Marcin Iwinski (da CD Project Red), ou mesmo todas as patetices da Sega, são momentos que fazem o meu dia.
E por isso mesmo Detona Ralph é um filme bastante especial para os gamers. É, como o Araújo diz, uma celebração dessa cultura não apenas sendo um jogo com participações especiais do Pac-Man ou do Zangief, mas é um jogo sobre esse meio.
Adicione a isso uma história redondinha com o padrão Disney de qualidade sobre descobrir quem você é realmente, mais algumas referencias a Gear of War/Halo/Call of Duty e temos um filme onde todo mundo sai feliz.
Mas isso foi antes e agora é agora, seis anos se passaram e hoje a Disney tem uma nova ideia para celebrar outra cultura a internet. O que nos leva a Wi-fi Ralph.
E não é nenhum pouco segredo que essa é a parte mais legal, o argumento mais forte do filme. Quando Ralph e Vanelope von Scheetz (cheats, sacaram? hã? hã?) vão para este mundão sem portera da internet, a coisa mais divertida a se fazer é ficar caçando todas as referencias que há para ser vistas.
Desde a revoada de passarinhos azuis transmitindo mensagens curtas, a megastore onde você dá lances em leilões, há muito o que ver aqui. Algumas referencias são obvias (como o prédio em forma de livro, a Wikipedia) até outras não tanto, como quando os heróis vão para as regiões mais bocadas da internet que possuem aranhas enormes (porque é a Deep Web, sacaram? Hã? Hã?
Há definitivamente muito o que ver aqui, e esse é um filme que eu gostarei de ver novamente em casa só para poder pausar e apreciar todas as referencias com calma. Mas momento Capitão América a parte, e o filme em si, como é?
Quando Vanelope se mostra entediada com o seu jogo, Ralph tenta criar uma nova pista para incrementar o jogo da amiga - o que acidentalmente faz com que o volante do arcade quebre no mundo real e o jogo de Vanellope seja desligado. O único volante substituto precisa ser adquirido no eBay, por um preço estranhamente realista de 200 dólares. Eu achava que volantes de arcade custavam bem mais, mas o jogo da Vanelope não é tão antigo assim (só ver pelos gráficos), e é essa faixa de preço mesmo. Aprendi algo novo, ó.
Após muita trapalhadas acaba que Ralph e Van precisam levantar mais dinheiro do que isso, e então eles se metem em altas confusões na internet tentando levantar dinheiro da forma que se levanta dinheiro online hoje em dia: vendendo itens conseguidos em jogos online (no caso, o jogo aqui é algum tipo de GTA/Burnout), sendo um youtuber ou clicando em links de spam. O que gera altas confusões dessa galerinha muito louca!
Se a equipe de localização brasileira tivesse mais tempo para trabalhar, com certeza veriamos Ralph tomando banho numa banheira de nutella, mas quase todo o resto esta ali e o filme se diverte bastante com esses conceitos.
Alguns lugares da internet são mais perturbadores do que outros
Então o filme faz muito bem essa coisa de representar a internet fisicamente, representa bem como funcionam algumas dinamicas (como o algoritimo do youtube funciona, por exemplo) e faz boas piadas feitas por quem entende do que esta falando (como os NPCs de GTA Online serem gente super de boa quando o jogo não está rolando). Nesse sentido o filme é espetacular.
E provavelmente o filme se pagou só com o merchandising. Bom para eles.
O problema é que lá pela metade do filme ele tenta mais ser um filme, com desenvolvimento de personagens, trama e drama... e nisso claramente não foi colocado tanto empenho assim. Basicamente o emocional do filme é sobre o Ralph querer se sentir amado e valorizado (só que agora pela Van e não pelo jogo dele), a Van se sentir traída e todas as mesmas batidas do primeiro filme, só que com outra embalagem.
Todas as cenas das princesas Disney, dentro do site da Disney claro, são espetaculares como a Elsa fazendo "to ligada, mana" nessa cena
O terceiro ato do filme, que aí abandona de vez as piadinhas com a internet e afins e se foca nos personagens, é um caos. Tanto do ponto de vista de roteiro quanto visualmente, é um caos. É mais arrastado do que deveria e um tanto cansativo.
A boa noticia é que quando chega esse terceiro ato, os dois primeiros já fizeram o filme valer pelas referencias, conceitos e boas ideias em como representar a internet. Tem uma cena genial, por exemplo, em que o Ralph entra em uma sala e a trilha sonora nos indica "esse é um lugar sombrio". E o que é essa sala? Um dos lugares mais terríveis e desumanizantes de toda internet: a sessão de comentários.
Como a própria algoritmo do Youtube explica para o Ralph: "Regra número um da internet: nunca leia os comentários". É uma grande piada, como quase todas as do filme. Porém quando as piadas terminam... bem, foram boas piadas, né?
Embora o tema de que a verdadeira amizade é deixar a outra pessoa livre e apoia os seus sonhos, que correr atrás de um sonho é fundamental para uma vida plena, que buscar formas diferentes de viver e sair do lugar comum é o que mantém o nosso espírito vivo… honestamente eu preferia que o filme tivesse gasto melhor esse tempo com gags sobre a internet.
Até porque todo o drama dele ter que se separar da Van porque ela quer ficar no GTA Online é bem fácil de resolver: Ralph, se muda para a Steam.Você fica no seu jogo e ninguém precisa se separar. Pronto, problema resolvido.
Talvez a coisa mais importante sobre ser criança, e que só vamos vir a perceber isso muitos, muitos anos depois (com certeza quando já é tarde demais) é que, naquele especifico ponto da vida qualquer coisa é possível. Não, sério, você pode ser qualquer coisa. Um cientista da NASA, piloto de avião, jogador profissional de futebol, programador de games... qualquer coisa MESMO. Todos nós, em nessa fase da nossa vida, almejamos ser alguém legal, e até hoje eu nunca ouvi falar de uma criança que sonhava em ser uma má pessoa quando adulto. Aos 8 anos de idade, o pequeno Adolph Hitler queria ser pintor.
Então, em algum ponto depois disso as coisas dão errado. Espetacularmente errado.
E a maioria de nós jamais acaba se tornando a pessoa legal que sonhava ser quando criança. É dificil dizer em que ponto, exatamente, isso acontece, ou mesmo porque. As vezes é por causa de um evento traumatico, as vezes é por causa de como a sociedade é moldada, as vezes é a sua genética cobrando a conta, as vezes é depressão ou alguma doença mental, e as vezes apenas seus pais não faziam a mais remota e possível ideia do que estavam fazendo. Normalmente é uma mistura dessas coisas tal que não tem como apontar um momento exatamente.
Até mesmo eu não fui sempre essa pessoa antissocial e pessimista que eu sou hoje. Em algum momento eu já tive amigos (e, ao que me importa, ao menos um grande amigo de verdade), em algum ponto eu quis realmente fazer uma contribuição para o mundo melhor do que ter um emprego absolutamente bosta que eu não poderia me importar menos se, literalmente, pegasse fogo... mas me paga o suficiente para o meu padrão de vida, então eu não ligo. Em algum momento as coisas sairam tão errado...
Então, em algum ponto, as coisas deram catastroficamente erradas. Eu me pergunto qual, exatamente.
Mas e se fosse possível apontar esse ponto, exatamente? E se houvesse realmente um ponto em que passamos de ser essa tela em branco repleta de todas as possibilidades do mundo para as pessoas tão não legais que nos tornamos hoje? Anohana é um anime sobre isso.
Aos 6 anos de idade, a vida de Jinta Yadomi tinha um potencial incrível. Ele era o líder do seu grupinho de amigos, que se auto denominaram os "Super Peace Busters", e as tardes de verão eram de uma diversão sem fim. Ele era confiante, ele era um lider nato, ele era tudo que se pode esperar de alguém que vai ser uma grande e admiravel pessoa na sociedade depois de adulto. As possibilidades eram infinitas, e o caminho era belo. Tudo se encaminhava para ele ter uma vida do caralho, ter um grande emprego fazendo algo significativo para o mundo e casando com o seu adoravel amor de infancia.
Dez anos depois, Jinta é um hikikomori que não vai a escola e não sai de casa a menos que as ruas estejam completamente vazias. O que aconteceu nesse intervalo de tempo para que as coisas fossem do ponto A tão brilhante ao patético ponto B? A vida aconteceu.
A melhor amiga de Jintan no seu grupinho, Menma, acabou morrendo em um acidente aos 5 anos de idade. Não muito tempo depois, a mãe de Jintan, que já estava doente naquela epoca, morreu o deixando para ser criado por um pai ausente e sem a menor estrutura para assumir qualquer responsabilidade.
Foi assim que Jintam chegou ao estado patético em que se encontra hoje. E o mesmo, talvez em menor grau e por motivos mais ou menos diferentes, pode ser dito a respeito de cada uma das crianças daquele grupinho de amigos. Hoje elas são adolescentes traumatizadas, tristes, fingindo ser pessoas que de forma alguma elas gostariam de ser.
Anjou agora anda com as bitchezinhas da escola e dedica sua vida a interpretar o papel de "Meninas Malvadas" 24/7. Tsurumi é uma menina tão na dela que ninguém possívelmente poderia citar três características suas mesmo com uma arma apontada para a cabeça. Matsuyuki se tornou um bully arrogante tal que provavelmente a Sonserina deve ter um quadro dele como aluno do ano. Poppo apenas fugiu, tanto fisica quanto emocionalmente, colocando uma mascara de que está tudo sempre bem e que está sempre de boa, mesmo quando claramente não está.
Todas essas crianças, que em determinado ponto tinham tanto potencial para serem pessoas tão boas acabaram se tornando os adolescentes merdas que vemos no começo da série. O cenário inicial de Anohana é quase uma versão japonesa de "The Kids Aren't Alright" do Offspring.
Isso começa a mudar no dia em que, em uma tarde muito quente de verão, o fantasma de Menma aparece na casa de Jintan. Não em um sentido assustador, mais como um espirito perdido que precisa resolver o assunto pendente para finalmente poder ir para o céu.
"Ano Hi Mita Hana no Namae o Bokutachi wa Mada Shiranai'' (Nós ainda não sabemos o nome da flor que vimos aquele dia), abreviado como Anohana, é um anime sobre Jintan reunindo sua antiga turma para tentar atender o ultimo desejo do fantasma de Menma para que ela possa descansar em paz, embora o que aconteça é que nesse processo ela é que acaba os ajudando a dar um rumo nas próprias vidas.
Os primeiros episódios mostram Jinta em suas tentativas de se reconectar com seu antigo grupo de amigos para descobrir qual seria o desejo final de Menma. Os "Super Busters da Paz" são um grupo colorido, e a série está em seu melhor quando mostra-os voltando a entrar em contato. AnoHana crava aquela mistura de estranheza e nostalgia sentida entre pessoas que não se viam há muito tempo. Em particular, quando eles estão conectados pela tragédia. A esse respeito, as interações entre os personagens parecem incrivelmente autênticas.
As cenas de Jinta remoendo o passado e tentando se reconectar com sua antiga galera pelo bem do fantasma da Menma é de uma verdade tão universalmente humana, tão sincera que mesmo tendo crescido literalmente do outro lado do mundo, eu não consegui deixar de me identificar e chorar como o Neymar depois que alguém dá um tapinha de bom dia no ombro dele.
O episódio lembrando as tardes de verão apenas jogando Nokemon com seu melhor amigo não me fez chorar. Por mais que 12 horas. Ou mesmo quando eu penso sobre isso novamente, eu nem estou chorando, você é que está.
Tem alguns outros exemplos nessa arrancada inicial do anime que amolecerão mesmo o mais empenedercido dos corações, ao que eu posso dizer que a fama de AnoHana de caçadora de lágrimas não é nem um pouco infundada. E enquanto eu nõa posso estressar o suficiente o quanto isso é honesto e tocante no começo, e conceitualmente ainda é até agora, porém o anime acaba não sendo todo o potencial do que poderia ter sido. Tal qual os seus personagens.
O conceito de Anohana é uma das coisas mais pessoais e fortes que eu já vi em um anime, e de fato o ponto forte do anime é muito mais te emocionar e fazer refletir sobre o conceito do tema do que pela execução em si. O que é, ao mesmo tempo, um grande problema. Porque escondido sob o peso de um tema tão bom, tão profundo, tão humano, está um anime com algumas rachaduras bem grandes em seus alicerces. De certa forma, Anohana me lembrou um pouco Ghost in the Shell: falar a respeito, saborear a proposta e absorver o conceito é uma experiencia bem superior a assistir a obra em si.
Verdade que Darling in the Franxx foi uma parceria do estúdio A1 (responsavel por Anohana) com o estudio Trigger. Por isso metade dos personagens parece saídos de Anohana, outra metade de Kiznaiver (que por sua vez já parecia uma reciclagem de Kill la Kill).
Para começar, temos o maior problema da série: Menma.
Menma, como retratada pela série, é a garota mais maravilhosa de todas. Ela é incrivelmente doce, amorosa, altruísta, maravilhosa e inocente. Jinta está apaixonada por ela, mesmo depois de todos esses anos; assim como os outros garotos do Super Peace Busters. E as meninas? Suas crises emocionais são sobre como eles nunca poderiam se igualar a Menma, mesmo agora que ela está morta. Tenha isso em mente: estamos nos referindo a uma garota que morreu há mais de 10 anos atrás, quando todos eles tinham cerca de 5 anos. Repito: isso aconteceu há 10 anos.
Muita coisa pode acontecer em muito tempo, especialmente para crianças crescendo. A morte de um amigo, por mais trágico que seja, geralmente vai parar de doer tanto. A vida continua, e as preocupações do dia-a-dia têm uma maneira de recuperar o atraso. AnoHana não parece entender isso. Cada pessoa que conheceu Meiko, mesmo a menor parte, ainda está arrasada com a morte dela como se isso tivesse acontecido semana passada, porque ela era simplesmente a garota mais maravilhosa de todas.
Ou assim nos é dito.
A Menma que podemos ver, no entanto, não é tão espetacular assim. Sua personalidade é de menininhas bobinhas "moe" como Yui Hirasawa (K-ON!). Suas reações consistem principalmente em chorar ou ser incrivelmente alegre, e as coisas que ela faz sozinha geralmente se resumem a tentativas equivocadas de animar Jinta com palhaçadas que devemos considerar fofas. Os criadores chegam a calhar até mesmo alguns fanservice dela, pq não, né?
Curiosamente, a versão live action acaba sendo bem melhor que o anime justamente porque Menma é muito mais relacionavel quando interpretada por um ser humano, e isso engrandece em muito todo o conjunto da obra. Em uma nota parcialmente relacionada, algum dia eu serei capaz de ouvir a música de encerramento sem chorar... mas esse dia não será hoje!
Todo o enredo acaba girando em torno de Menma e seu último desejo, que uma vez atendido supostamente a fará ir para o céu. No final, é difícil lembrar de qualquer aspecto sobre os outros personagens que não remetem a Menma de alguma forma. Pior ainda, a série gasta muito tempo tendo personagens duvidando das alegações de Jinta de que ele - e por algum motivo só ele - pode se comunicar com o fantasma de Menma. Isso apesar do fato de que Menma é um fantasma que pode interagir com objetos físicos.
Sim, exatamente.
Provar a existência dela seria incrivelmente fácil e, ainda assim, a série continua criando maneiras de extrair o melodrama da descrença de outros personagens. Alguém poderia defender isso afirmando que as pessoas na vida real nem sempre buscam a melhor solução e cometem erros estúpidos. O que é verdade. Mas os personagens em questão são retratados como decentemente espertos e tem bastante tempo para trabalhar isso, então é estranho que um problema tão fácil de resolver seja arrastado por tanto tempo.
Mas, honestamente, nem é isso que mais me incomoda na série e sim as outras escolhas que ela faz. Vê, retratar esse tema de "quem nós eramos e quem acabamos nos tornando em vez disso" é um tanto delicado, e bastante dificil de executar quando você pensa a respeito disso. É um tema profundo e requer boas ideias para ser contado, certo?
É, certo... ou você pode apenas resumir isso a "quem gostava de quem quando tinhamos 5 anos de idade e jamais superamos isso". Mais uma vez: gente, eu entendo. A morte de um amigo, ainda mais nessa idade, é uma experiencia traumática e acaba colocando num pedestal coisas que a maior parte das pessoas não dá muita importancia. Eu entendo isso, de verdade.
Porém, isso sendo dito, por quem você era "apaixonado" quando tinha 5 anos de idade e como isso jamais foi superado não é um bom tema. Resumir a relação dos amigos a isso, quem gostava de quem e como seus sentimentos ainda são os de crianças de cinco anos de idade, não é uma boa ideia. É uma ideia bem bosta, na verdade.
O hábito que o anime tem de overcooking drama promissor em melodrama barato me dá a impressão de que os criadores estavam um pouco inseguros sobre o potencial de AnoHana para comover as pessoas, e assim eles sentiram que tinham que com conceitos mais palpaveis e simples (como o "quem gosta de quem"). Mas a coisa é, eu sinto que AnoHana é um anime com bastante material bom e idéias interessantes que não precisa do melodrama para fazê-lo funcionar. Um bom exemplo disso é durante o episódio final, quando todos conseguem finalmente ver o fantasma de Menma. Com toda a honestidade, foi um grande momento, talvez o melhor de toda a série ... e então os jovens começaram a gritar e se agarrar uns aos outros e arruinaram completamente o clima. O que diabos os criadores estavam pensando?
Talvez o que mais me incomode nesse anime não é que ele seja ruim, mas que ele não é tudo que poderia ter sido: apesar de suas deficiências, eu realmente queria gostar de AnoHana, e ficava desesperadamente torcendo para que o show acertasse. Apesar das cenas de dramalhão frequentes de AnoHana, há uma sinceridade sobre o que se está tentando alcançar. Além disso, sendo uma pessoa nostálgica, o forte sentimento de melancolia sobre o show realmente fala comigo. As alegrias agridoces de se reunir com velhos amigos e reviver brevemente os dias despreocupados da infância, a sensação dolorosa de perda enquanto você percebe que as coisas nunca mais podem ser as mesmas ... esses são todos sentimentos que a série consegue transmitir muito com sucesso.
Dado tudo o que AnoHana tem para trabalhar, é uma pena que não seja muito melhor. Talvez, dada a extensão da série (11 episódios), os criadores tenham tomado a decisão de confiar fortemente em dispositivos artificiais para manter as coisas em movimento, e no melodrama como um caminho para o desenvolvimento do personagem. Mas algumas coisas não devem ser apressadas, especialmente quando alguns dos problemas que os personagens são bem profundos, e a execução apressada apenas os fez parecer mais aleatórios do que qualquer outra coisa. No entanto, é um show que merece algum crédito por suas boas intenções e idéias poderosas
No seu melhor, AnoHana é sobre um grupo de amigos lidando com a perda, lidando com os golpes que a vida dá, das coisas que poderiam ter sido e agora jamais serão. E sobre eles reaprendendo a contar uns com os outros. É quase uma versão anime de "Conta Comigo". E é lindo.
Em seu pior, AnoHana é um anime de namorico colegial tão genérico quando um anime colegial pode ser genérico. É agridoce que esses dois animes compartilhem do mesmo corpo, mas é assim que as coisas são.
Poucas pessoas acabam se tornando todo o potencial do que poderiam ser, e isso é verdadeiro para animes também. Essa é uma ótima maneira de resumir a série em poucas palavras. Sua excelente apresentação e um punhado de temas tão profundamente humanos são, em última análise, desperdiçadas em uma série que decide focar nas coisas erradas.
THE STORY SO FAR:
Talvez a coisa mais importante sobre ser criança, e que só vamos vir a perceber isso muitos, muitos anos depois (com certeza quando j...