[FILMES] PANTERA NEGRA (o melhor filme da Marvel de todos os tempos, não, sério, agora é esse!)

| segunda-feira, 26 de agosto de 2019


Então vamos conversar sobre aquele filme super maneiro que é protagonizado por um super-herói negro baseado em quadrinhos da Marvel e que todo mundo achou maneiro pra caramba... BLADE!

Não, sério, a quantidade de gente que vi dizendo que Pantera Negra era o primeiro filme de super herói negro e que era uma grande coisa por causa disso é de uma imbecilidade que me obrigou a criar uma conta no Facebook só pra ter o prazer o deletar ela. Sério, eu não uso esse esgoto e toda essa merda chega até mim do mesmo jeito, como vocês conseguem viver bebendo dessa água pútrida dia e noite é algo que eu só posso imaginar (mas não invejar).

De qualquer forma, eu não vou falar sobre os aspectos sociais, políticos, motivacionais, representatividade e o caralho A4. Muita gente desqualificada já deu sua opinião de bosta sobre um assunto que não entende e me juntar a eles não está na minha lista de prioridades de vida. Por isso vou focar em algo que eu entendo um cadinho mais para falar: o filme em si.

Eu sei, doido demais, né?


Bem, vamos começar do começo: a Marvel tem um problema com os seus filmes. Na verdade são vários, mas o mais grave deles é o "insira aqui". Quando Iron Man pegou todo mundo com as calças na mão em 2008 e foi um filme puta divertido, a Marvel rapidamente identificou que tinha achado uma formula para fazer sucesso.

O que significa que a maior parte dos filmes dele segue o mesmo esquema narrativo e visual (até a paleta de cores dos filmes é padronizada). Não, sério, tem um vídeo muito bom falando sobre isso AQUI.

Então, me permitam um momento para explicar como isso funciona: primeiro, existe um item super poderoso. Então, um vilão muito mal decide explodir coisas com esse item (ou para conseguir esse item) pq ele é mau como um pica-pau. 


"Doctor Zola, this will change the world!"

O herói então surge para derrotar o mal, e parcialmente tem sucesso em uma cena engraçada e divertida, mas no fim o problema não é resolvido e agora o herói tem uma motivação pessoal para derrotar o vilão. 

“Go get him! I can swim.”
 
Depois disso há uma breve pausa na narrativa onde é adereçado um conflito interno do herói, enquanto o vilão aproveita esse tempo para acelerar o seu plano de maldade absoluta.

E ele consegue! Na segunda grande cena de ação, o vilão tem uma vitória, consegue o item poderoso e o ameça usa-lo para destruir tudo! Oh não! Apenas um ultimo esforço desesperado do herói poderá salvar o dia!

“Fury’s last words were not to trust anyone.”
 Então o herói derrota uma horda de minions genéricos, gastando aqui as Armas de Chekhov que acumulou durante o filme, para então ter a tão esperada batalha final com o vilão genericamente mal e resolver usando uma frase de efeito que adereça o conflito interno do herói ou uma piadinha. Muitos filmes da Marvel resolvem as coisas com a piadinha, na verdade.

"Puny god!"
E é assim que você faz um filme da Marvel. Apenas altere alguns elementos, poderes e explosões e voi-lá! Agora, eu não estou dizendo que isso é ruim ou fazem os filmes serem ruins - eu gosto dos filmes da Marvel, de modo geral - apenas que é... uma formula. Você entra no cinema sabendo que vai receber um "é, ok, foi bacana" e sai recebendo exatamente o que esperava. O que é muito mais do que se pode dizer dos filmes da DC, mas até então isso não muito parâmetro de comparação.

Isso só começou a mudar quando um filme que eu, pessoalmente, acho muito ruim deu muito, muito certo. Tudo mudou quando a nação do fogo Deadpool atacou. Quando a Fox mostrou ao mundo que existe publico, e mais do que isso, demanda, para um filme autoral de super-heróis, essa mensagem não caiu em ouvidos surdos por Kevin Feige (o chefão do universo cinematográfico da Marvel)

Na verdade, muitas coisas colaboraram ao longo do tempo para que essa mensagem fosse transmitida. Os melhores filmes da Marvel em crítica foram justamente aqueles que os diretores tinham algo a dizer sobre alguma coisa, onde eles realmente queriam contar uma história sobre alguma coisa. Os irmãos Russo tinham um lugar onde eles queriam chegar sobre a troca de liberdade pela segurança - talvez o tema mais relevante para o ocidente nos dias de hoje e James Gunn usou uma HQ da 5a divisão da Marvel para fazer o filme que ele sempre sonhou fazer sobre um grupo de desajustados com uma trilha sonora do caralho. São filmes feitos com carinho, com tesão, e isso transparece no resultado final!

Para ajudar nesse ponto, foi mais ou menos nessa época que a DC começou a fazer seus filmes e isso foi outro sinal para Kevin Feige: "uau, nós totalmente NÃO PODEMOS ser como esses caras!". Filmes robóticos, escritos sem nenhum propósito maior do que ganhar dinheiro e realizar fantasias adolescentes. Isso foi um tapa na cara de Kevin, porque os dois filmes anteriores da Marvel antes de Guardiões da Galaxia são uma SONORA BOSTA.



Sério, você olha Iron Man 3 e Thor 2 e pensa: uau, eu totalmente veria a DC fazendo esses filmes. Se isso não disparar todos os alarmes na sua salinha, então você está no ramo errado.

Então, como coup'de grace ocorreu que a Fox entregou um filme com tanto coração e tanto tesão que foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Isso era o que precisava: era só questão de tempo até as pessoas pararem de se importar com os heróis da Marvel se eles continuarem fazendo filmes no piloto automatico, era necessário fazer filmes do caralho!

Claro, isso não foi imediato e não veio sem um preço. Joss Whedon teve que entregar o chapéu e o brilhante Edgar Wright teve que desistir do Homem-Formiga que ele tanto queria fazer para a Marvel se tocar tocar que eles estavam mijando na agua que bebiam.

Mas, eventualmente tudo se acertou e a Marvel mudou sua abordagem de como fazer filmes. Eles deram o filme mais esperado da fase 3 (Spiderman) nas mãos de um diretor iniciante, mas apaixonado. Foi ok, mas dava para ir além. Então Thor Ragnarok foi entregue para um diretor com um estilo muito proprio, e todo mundo se divertiu pra caralho. É um filme com alma e assinatura, como um filme de verdade tem que ser.

Esse era o caminho a ser seguido, isso é o que faz as pessoas se importarem com os personagens na tela. E é claro, era hora de ir além. Foi assim que Kevin Feige chegou neste cara e disse: põe pra fora o que tu sempre quis dizer!

E foi exatamente o que Ryan Coogler fez.

Talvez o nome não lhe seja imediatamente familiar, mas Coogler é o cara responsavel por transformar um filme que todo mundo disse "uau, que spin off safado, vocês estão realmente desesperados por grana, né?" em "ei, uau, esse filme é bom mesmo, olha só!". Ou seja, ele é o diretor de Creed. Um filme tão bom que Michael B. Jordan só não foi indicado ao Oscar pq ele é negro, e foi isso o estopim que deflagrou o movimento #oscarsowhite e começou uma discussão bastante saudavel ao cinema sobre a ideia que os produtores tinham que se um filme não fosse protagonizado por um homem branco, ele não teria sucesso.



É desse Ryan Coogler que eu não estou falando.

Bem, então temos um diretor com personalidade, algo a dizer, e uma luz verde da Marvel para que ele fizesse o seu filme sem lhe encherem muito o saco. O que faltava para fazer o melhor filme da Marvel de todos os tempos? Simples: corrigir os problemas da Formula Marvel.

E foi exatamente isso que Coogler fez. Resolveu um por um todos os problemas da Marvel em um único filme. Vamos a isso.

VOCÊ LEMBRA DA TRILHA SONORA DOS FILMES DA MARVEL? NEM PEPERIDGE FARM LEMBRA!

Quando eu te digo "trilha sonora de filmes da Marvel", o que você lembra? É claro, as músicas de Guardiões da Galaxia e o tema dos Vingadores, certo. Mas o que mais? Poxa, são DEZESSETE FILMES, como pode ser possível que em nenhum deles a trilha sonora seja releavente?

Tá, ok, a trilha sonora de Thor Ragnarok é muito boa, mas ainda sim são DEZESSEIS filmes onde o som passa completamente desapercebido! DEZESSEIS! Quer dizer, isso não é estranho? A Marvel tem mais filmes que Star Wars e Harry Potter juntos, e só de eu mencionar os dois ultimos um tema veio imediatamente na sua cabeça. Pq isso não acontece na Marvel?

Bem, vou ser sincero com vocês: de todas as minhas inumeras areas de expertize, música não é uma delas e eu não seria capaz de me aprofundar muito no tema. Em vez disso, vou deixar aqui um excelente ensaio falando sobre a situação da música nos blockbusters:


Como o video diz, a música dos filmes da Marvel não é ruim. É apenas genérica e inofensiva. Agora, genérico e inofensivo não é o que você tem a dizer, é Ryan?




Ao ouvir a música de Pantera Negra, você já tem um feeling de sobre o que o filme será, que emoções ele passa, qual o seu tema. O diretor sentou com o rapper Kendrick Lammar e talhou uma trilha sonora sob medida para apresentar o Afrofuturismo a um publico que provavelmente nunca ouviu falar disso até então. Eu incluso.

Afrofuturismo, saiba você, é um estilo narrativo que parte justamente dessa premissa de raízes africanas mas com alta tecnologia. É um genero próprio - assim como steampunk ou noir - com centenas de livros e peças de arte, mas nunca havia tido um grande blockbuster sobre isso. Até agora.

ESPERA, COMO ASSIM O VILÃO TEM RAZÃO?

A grande máxima da narrativa é que um bom vilão é o herói da sua própria história. Quer dizer, é claro que você pode fazer um vilão que é mau como um pica-pau apenas pq ele é mau, mas a menos que você esteja disposto a abraçar a galhofa (e é uma das coisas nas quais Thor Ragnarok acerta magnificamente), não é um caminho muito recomendado. Nem todos tem talento para escrever um Jojo da vida, acredite.

Em muitos casos o vilão tinha uma linha de motivação, até menos. E mesmo em filmes legais isso acontecia! Vamos lá, o que você pode me dizer sobre Ronan, o Acusador?

Hã... ele é azul... o povo dele (que nós não sabemos nada a respeito) encerrou uma guerra (que nós não sabemos nada a respeito)e ele não ficou feliz com isso porque... hã, ele gosta de guerra?

E cara, Guardiões da Galaxia é um dos bons filmes! Não vou nem tentar te pedir para lembrar do nome inimigo do Doutor Estranho... mas vê o meu ponto aqui?

Não por coincidencia, aquele tido por todos até então como o melhor vilão da Marvel era justamente o Loki. Nós entendemos pq ele faz o que ele faz, pq ele se sente injustiçado e pq, na cabeça dele, ele é o herói da história. Claro que ser interpretado pelo Tom Marvolo Riddle ajuda muito, mas ele é um vilão relacionavel.

Ok, isso é bom, mas dá para ir além. Tipo, bem além. Estou falando de níveis "A Lenda de Korra" de além. Vê, uma das coisas que eu mais gosto na Lenda de Korra é que nenhum dos quatro vilões da série é realmente um cara mau. Eles estão todos tentando fazer coisas que, em essencia, são boas.


Claro, eles não estão fazendo isso de um modo ideal e por isso precisam ser enfrentados, mas eles estão de certa forma lutando a boa luta. E quando você pensa sobre isso, o arco de história do Killmonger essencialmente... a do Batman!

Não, sério, pensa nisso: ele perde a figura parental quando é criança diante dos seus olhos, jura vingança contra o sistema corrompido que fez aquilo acontecer, passa a vida treinando em busca desse objetivo e luta seu caminho para trazer justiça para o mundo. Killmonger corretamente identificou um problema bem grande no mundo, e ele luta para concertar isso. O único problema é qual ele acha que é a solução para isso, e os meios que ele quer usar para atingir, mas mesmo com isso não tem como não dizer "ok, esse cara tem uma certa razão, sabe?".

Um dos momentos mais importantes para uma história é quando o herói passa pelo momento de auto-realização. Quando ele percebe o que está se errado não apenas no mundo (o problema externo), mas com ele mesmo (o problema interno) e muda isso. Então, em A Lenda de Korra, a personagem título aprende essas lições de seus inimigos e se torna um Avatar melhor ao compreender isso. Em Pantera Negra, T'challa tem no seu inimigo o empurrão que faltava para realizar todas as dúvidas que ele próprio já vinha colhendo ao longo da vida.

Ser negro hoje, em qualquer lugar  do mundo, não é fácil. A nação mais poderosa, rica e avançada do mundo tem o direito de ignorar essa questão? Killmonger é o catalizador para o Pantera Negra ser um rei melhor.



Mas a grande sacada aqui é que o vilão também seu próprio momento se auto-realização. Isso é raro, porque a maior parte dos vilões não são complexos o suficiente para compreender algo significativo, mas acontece aqui. Killmonger compreende, um pouco tarde demais, o que a sua jornada de justiça e vingança lhe custou.

Ele se entregou tanto a sua cruzada que perdeu a oportunidade de ver a beleza da terra do seu pai, de ver as coisas boas do mundo com o qual ele sempre sonhou: uma Africa intocada onde o seu povo prosperou sem a mácula da escravidão. Esse momento de realização me lembrou bastante o final de "O Senhor das Moscas", quando os adultos chegam e as crianças podem finalmente se permitir serem apenas crianças novamente... e elas apenas desatam a chorar. Não é isso que acontece, mas é um momento muito bonito quando ele finalmente compreende o que Wakanda representa e como as coisas poderiam ter sido diferentes... apenas que ele percebe isso tarde demais.

Como você deve ter percebido a esse ponto, isso nos leva a outra coisa muito importante que nunca havia sido feita em um filme da Marvel: a construção de mundo.

WORLD BUILDING 101: Tsamina mina zangalewa, 'Cause this is Africa!

Um dos aspectos que mais me fascinam em um filme é quando ele propõe um novo universo, com novas regras e te apresenta uma aventura nesse admiravel mundo novo. Acho que não é necessário dizer que Hogwarts e o mundo bruxo é muito mais interessante do que o protagonista da história, ou o quanto eu adoro aquele fascinante mundo de assassinos com suas próprias regras de John Wick. E Inception, então? Maneiraço, né?

Isso é legal, as pessoas gostam disso! Nos apresentem um novo universo, com suas proprias regras, e explorem essa história! E isso é algo que a Marvel nunca fez realmente, mesmo tendo duas oportunidades do tamanho dos memes de 7x1.



A primeira oportunidade foi com Thor, mas esse é um filme com uma direção tão fraca que todas as boas oportunidades  que o roteiro apresenta passam quase batidas. Asgard e a sua miriade de mundos é apenas um mundo qualquer, não tem nada especial nisso. Agora o que me caiu mesmo o cú da bunda foi com Doutor Estranho: a Marvel tinha a faca e o queijo na mão para fazer QUALQUER COISA que eles quisessem!

É magia, dammit, sejam criativos a respeito disso! Eles podiam ter ido full inception, podiam ter feito uma mistura de Harry Potter com Mago: A Ascenção, podiam ter inventado qualquer realidade com suas próprias regras, go nuts, e ao invés disso... eles apenas jogaram seguro. Pff...

 Mas não dessa vez, não hoje, meu bom senhor! O filme passa boa parte do seu tempo construindo o mundo de Wakanda, quais são suas regras, como funciona, qual sua hierarquia ... na prática, não apenas com um textinho expositivo chumbrega. E então usa essas regras previamente estabelecidas para desenvolver sua história.

Yeah, baby, é disso que eu estou falando! Me mostre algo novo, algo que eu não tinha pensado ainda

GIVE THIS MAN A SHIELD

Vamos agora falar de um dos aspectos mais relevantes do filme do Pantera Negra: o próprio Pantera Negra. Eu sei que alguns filmes conseguem ter sucesso apesar do seu protagonista ter o carisma de um saco de batatas Pringles sem ar (referencia obvia a Harry Potter#256), sustentado pela força apenas da construção de mundo e dos personagens secundários.

Será este o caso aqui? Será que Pantera Negra consegue se sustentar como um bom filme mesmo sem um protagonista marcante?

Essa é uma questão que... felizmente jamais precisaremos responder. Vamos ver mais de perto o que faz T'challa funcionar.



Para começar, como funcionam os filmes da Marvel? Um sujeito meio engraçadalho encantador se encontra em uma situação complicada, mas esta roubada na verdade é uma oportunidade para se tornar um herói! Esse é o caso de quase todos os heróis da Marvel... exceto dessa vez.

A divergencia mais notavel que o Pantera Negra faz em sua caracterização é que T'challa não é movido por motivações auto-centradas. Com exceção do Capitão América, o caminho do heroismo para os heróis da Marvel é uma mistura de egoísmo e húbris. Tony Stark se torna vitima das suas proprias armas, Thor é banido por ter começado uma guerra, Steven Strange causa o próprio acidente que aleijou suas mãos, Peter Quill tenta passar a perna nos Saqueadores e Scott Lang aceita um roubo que o coloca na cadeia.

Durante os filmes esses personagens passam por mudanças que revelam que eles são, em vários graus, bons de coração e merecem ser heróis. Mas o arco de T'challa é completamente diferente.

Ele não é um homem comum que nós vemos se tornar herói como o Homem de Ferro ou o Capitão América. Ou aprende o que significa ser um herói, como Thor ou o Senhor das Estrelas. Ele é, e sempre foi, um herói. Ele é o principe da nação mais poderosa do mundo, então desde muito jovem a responsabilidade de quem ele é já se tornaram parte da sua personalidade. T'challa não precisa aprender o que é ser um herói, ele já entende o seu papel como defensor de Wakanda, e jurou defender o seu povo.



Então a sua "história de origem" não é exatamente uma redenção, é mais uma de revelação. Ele é forçado a lidar com as consequencias das suas responsabilidades como Pantera Negra, e seu arco de personagem é compreender que a definição de "seu povo" se tornou limitada demais. Esse conflito é inerentemente mais complexo e altruísta do que o do Homem de Ferro, Thor ou Star Lord.

Isso porque o maior poder de T'challa não vem da sua armadura OP de vibranium, ou dos seus poderes sobre humanos. O maior poder de T'challa, e sua maior responsabilidade, é política. Mais importante do que ser um herói, ele é o rei. A luta dele não é contra um vendedor de armas rival ou um deus aprontador, é com ideologias isolacionistas, as limitações da tradição cultural e os erros dos seus antecessores.

Em outras palavras, não é nada que possa ser resolvido batendo em alguém. Isso é diferente, isso é novo, e... bem, claro que ele bate em alguém porque isso é muito legal. A parte mais legal disso tudo, no entanto, é a adição que T'challa é para o universo cinematográfico Marvel já que faltava a figura do líder nos Vingadores.

Claro, usualmente Tony Stark é o personagem mais importante dos filmes mas ele é esse sujeito legal mas não totalmente confiavel. O Capitão América é só um cara comum (com superforça, because marvel) no meio de deuses tentando fazer o melhor que poder. Louvavel, mas ele ainda não é o capitão desse time. Nick Fury deveria ser o lider, mas ele é shaddy e escorregadio demais, então também não é o cara.

Bitch, please


Agora, o rei T'challa... esse sim é o cara. Quando Thanos chegar, ele que vai sentar o pau de vibranium na mesa e ordenar a porra toda, porque ele é o fucking rei de fucking Wakanda! Quer dizer, o exercito dele tem armaduras de vibranium e a irmãzinha dele é, no minimo, tão inteligente quanto o Tony Stark! How cool is that?

O que me lembra que outra coisa que Pantera Negra faz é dar aos personagens coadjuvantes espaço para respirar. Os filmes da Marvel tendem a focar  em figuras únicas até que chegue a hora dos filmes de crossover (depressa, me diz uma caracteristica de um dos amigos do Thor! Rápido!). Ocasionalmente nós temos um sidekick para o herói, como o War Machine ou o Falcão, mas ainda sim é uma coisa bem superficial.

Pantera Negra, por outro lado, se sente confortavel em dividir os holofotes com as pessoas ao redor de T'challa, mostrando que eles são personagens relevantes e com traços de personalidade bem definidos. A general de Wakanda, Okoye, por exemplo é uma personagem tão própria e tão iconica que eu demorei muito até perceber que ela é a Michone de Walking Dead.

Isso para não falar da já citada irmã do rei, a princesa Shuri que é a melhor personagem secundária já feita pela Marvel e a futura Coração de Ferro quando o Robert Downey Jr entregar os doces (se a Marvel tiver alguma coisa na cabeça, isso é).

Para você ter uma ideia de como o filme acerta tanto em tantas coisas que ele consegue inclusive fazer com maestria o que as séries da Marvel estão tentando fazer a muito tempo: a troca subita de vilão. Luke Cage e Defensores tentou fazer isso de começar com um vilão e então dizer "AHA! O vilão era outro!", apenas para falhar miseravelmente e só jogar fora o que construiram a troco de nada.

É realmente uma jogada muito dificil de executar, mas Pantera Negra se sai bem nisso. Você começa o filme achando que o vilão vai ser o Andy Serkis e então BOOM MOTHERFUCKER, the game went up!.



Com uma paleta de cores vibrante (outro tradicional problema dos filmes da Marvel, que normalmente termina com os heróis enfrentando um exercito de inimigos genericos cinza), Pantera Negra é tudo que um bom filme de ação pode almejar ser. Tem um protagonista que você respeita, um vilão que não é apenas mau como pica-pau, personagens secundários marcantes, excelente fotografia, timing comico perfeito quando necessário (principalmente a cargo do "amigo branco", interpretado por Martin Freeman, que ao mesmo tempo é um dedo na ferida de como os personagens negros são tratados em blockbusters), uma construção de mundo exemplar e te faz sair do cinema com algumas questões na cabeça sobre a sociedade e como as coisas funcionam.

Eu, por exemplo, fiquei pensando como realmente seria se a cultura de cada continente tivesse sido permitida florescer até o grau atual de tecnologia... que tipo de mundo teriamos? Que tipo de sociedades conheceriamos? Claro que nunca saberemos, mas não é uma pergunta interessante?

Até onde filmes de super heróis vão, não tem como ser muito melhor que isso realmente. E o fato que esse filme (que nem ainda saiu inteiramente de cartaz) é a maior bilheteria de todos os tempos de um filme da Marvel é um indicador de que as coisas só vão melhorar daqui pra frente.
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