[SERIES] AGATHA ALL ALONG (ou "Da onde menos se espera..."
Houve um tempo em que qualquer coisa que a Marvel lançasse era imperdível, um sucesso garantido que fazia o público correr para os cinemas ou assistir ansiosamente em casa. Mas esses dias a muito já se foram. Nos últimos anos, a Marvel Studios entregou uma série de produções que variam de "esta é definitivamente uma das coisas já feitas" a totalmente desastrosas. A era da excitação automática por qualquer coisa relacionada ao MCU acabou. E então, quando eles anunciaram uma série spin-off focada em Agatha Harkness, uma personagem secundária de "WandaVision" que era divertida, mas não exatamente nada para entrar para a história, meu primeiro pensamento foi:
Não me entendam errado, Agatha era divertida em "WandaVision", mas ela não parecia uma personagem forte o suficiente para justificar seu próprio show. Ela era uma boa presença coadjuvante, mas não alguém que você sairia correndo de casa só para ver. Com o histórico recente do MCU, era difícil não ser cético. A única maneira concebível para essa série funcionar seria se eles chamassem Kathryn Hahn de lado e dissessem a ela: "Tudo bem, é tudo contigo guria. Carrega isso nas costas." E acredite ou não, foi exatamente isso que aconteceu.
Hahn é o cerne absoluto de "Agatha All Along". Ela pega o que poderia ter sido um spin-off morno e desnecessário e o transforma em algo genuinamente cativante. Alguns personagens têm aquela atração magnética que mantém seus olhos grudados na tela sempre que aparecem. Pense em Jack Sparrow em "Piratas do Caribe" — um filme que seria totalmente esquecível sem a performance excêntrica de Johnny Depp. Ou Loki nos filmes do Thor, onde o carisma de Tom Hiddleston o tornou um favorito instantâneo dos fãs. Agatha pertence a essa categoria. Sem o timing cômico afiado de Hahn, a entrega teatral e o comprometimento absoluto com o papel, a série simplesmente não funcionaria. E ela entrega, em grande estilo.
Uma das melhores escolhas que a série faz é manter Agatha como uma vilã oldschool. Isso é raro na narrativa moderna, onde os antagonistas geralmente recebem arcos de redenção ou são reescritos para serem anti-heróis incompreendidos. Mas Agatha? Ela é ruim. Ela é egoísta. Ela não se importa com ninguém além de si mesma, e ela usará quem ela precisar para conseguir o que quer. Ela não está buscando redenção, nem está tentando encontrar um lugar entre os heróis. Embora a série explore por que ela se tornou do jeito que é, ela nunca enquadra sua história como uma jornada em direção ao heroísmo. Em vez disso, ela se concentra em outros personagens tentando (e muitas vezes falhando) navegar no jogo perigoso e imprevisível de confiar em alguém em quem nunca se deve confiar.
Talvez o aspecto mais intrigante da história seja o quanto da história de fundo de Agatha toma emprestado de uma fonte inesperada: Thanos. Não a versão do MCU, mas a dos quadrinhos. Os filmes escolheram enquadrar as motivações de Thanos em torno de sua crença no equilíbrio universal, mas nos quadrinhos, sua história está profundamente ligada à personificação da Morte. Eu entendo porque eles fizeram essa mudança, acho que em 2019 realmente ficaria meio ridiculo usar esse angulo, porém "Agatha All Along" adapta um conceito semelhante de uma maneira única, encontrando uma maneira de fazê-lo funcionar dentro do contexto do programa.
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Eles definitivamente entendem das suas referencias, isso não pode ser tirado deles |
A série se beneficia por ser escrita pela mesma equipe por trás de "WandaVision". Esses escritores entendem o personagem, o mundo e, mais importante, o ceticismo em torno da própria existência do programa. Totalmente cientes de que muitos espectadores estariam se perguntando: "Pra que isso existe?", eles adotam uma abordagem interessante: os primeiros episódios começam devagar, com uma energia que lembra uma versão off-brand de "Abracadabra" de 1993. Lembra de "Abracadabra"? Provavelmente não. Foi um daqueles filmes adjacentes à Disney que nunca foi o favorito absoluto de ninguém, mas era seguro (e divertidinho) o suficiente para passar na Sessão da Tarde. Essa é a vibe que "Agatha All Along" inicialmente busca. E honestamente, se alguma coisa, eles podem ter começado um pouco muito lentos, porque o primeiro episódio é de longe o mais fraco de toda a série.
Mas então, uma vez que o show se estabeleceu como uma aventura peculiar e cheia de magia com Kathryn Hahn liderando um grupo de conjuradoras pitorescas, as coisas começaram a mudar. As apostas aumentam. As personagens começam a encontrar destinos inesperados. Quando uma delas morre de uma forma brusca e sem cerimônia, você pode inicialmente presumir: "Ah, esse é um programa da Disney — eles vão trazer ela de volta com alguma piadoca". Exceto... que eles não o fazem. E gradualmente, o diálogo, as motivações e até mesmo o humor ganham um novo peso. Piadas dos primeiros episódios, inicialmente parecendo simples falas descartáveis, de repente ganham um significado mais profundo conforme a série avança.
Então vem o episódio 7 — o momento em que "Agatha All Along" se revela totalmente como algo muito mais ambicioso do que parecia inicialmente. Filmado fora da ordem cronológica, o episódio é a peças mais ousada e criativamente estruturada de televisão que a Disney já fez. A única coisa com a qual posso compará-lo em termos de ambição é "Legion", e mesmo isso pode não ser dar crédito suficiente. Isso é televisão de de alto conceito bem feita, e se destaca como uma das melhores coisas que o MCU colocou na televisão.
Quando a série chega à sua conclusão, "Agatha All Along" provou ser muito melhor do que qualquer um podria esperar. É bem escrito, conectado ao MCU maior sem parecer forçado, e apresenta uma música genuinamente ótima (sério, tente tirar "Down, Down, Down the Road" da sua cabeça). As performances são excelentes, não apenas de Hahn, mas também de seu elenco de apoio, que combina com sua energia e eleva a história. E, assim como uma bruxa na Idade Média tentando evitar a fogueira, o show é muito mais inteligente do que inicialmente deixa transparecer.
E se nada mais, tem a Aubrey Plaza como a Morte. Se isso por si só não te deixa pelo menos curioso, então você já esta morto por dentro, e não há nada que alguém possa fazer por você.
E não que alguém tenha perguntado mas como também ninguém pode me impedir de faze-lo, até o momento minhas séries favoritas do MCU são:
- WandaVision
- Loki
- Agatha All Along
- Moon Knight
- Hawkeye