[ANIMAÇÕES] UNICORN: Warriors Eternal (ou o cheque em branco de Tartakovsky)
Se tem um diretor que pode te fazer assistir um desenho sobre literalmente qualquer coisa, é Genndy Tartakovsky. Esse gênio por trás do coração do Cartoon Network já transformou um samurai perdido no tempo em uma jornada filosófica, fez dinossauros e homens das cavernas entregarem mais emoção do que muitos dramas oscarizados e, de quebra, nos deu uma versão de *Star Wars* que faz até hoje muita gente perguntar: “Por que a gente não teve MAIS disso?”.
Quando anunciaram *Unicorn: Warriors Eternal*, uma mistura de estética retrô, magia, e ação, foi como se alguém tivesse gritado “É disso que o mundo precisa!” Só que, bem... talvez o mundo precisasse de um pouco mais do que isso realmente.
De cara, Unicorn: Warriors Eternal te ganha pelo visual. Tartakovsky fez o quê? Voltou no tempo e decidiu que ia brincar com a estética dos anos 1930. A animação é uma verdadeira carta de amor àquela vibe Steamboat Willie meets Betty Boop. Sabe aquele exagero charmoso, com expressões caricatas e movimentos que parecem que os personagens tão num balé psicodélico? Pois é, tem de sobra.
Além do charme visual, as cenas de ação são uma aula de energia e estilo. Seja Coppernicus, o robô steampunk que parece ter saído de um romance pulp, esmagando inimigos com uma delicadeza zero, ou Edred, o elfo com atitude de bad boy de fanfic, duelando com ameaças mágicas, tudo é empolgante e coreografado com aquele toque genial que só o Tartakovsky sabe fazer. É impossível não sentir o peso de cada golpe e a tensão em cada confronto.
Mas... olha, nem tudo é magia e nostalgia. Quando saímos do espetáculo visual e começamos a prestar atenção nos personagens e na história, *Unicorn: Warriors Eternal* tropeça nos próprios pés eternos. Um bom exemplo é Edred e Winston, que passam boa parte da série gadando por Emma (ou Melinda, demora um pouco até a série estabelecer as regras), ignorando as ameaças reais que estão prestes a transformar o mundo em um estacionamento do apocalipse. Edred, em especial, parece mais interessado em se comportar como um elfo ciumento do que em liderar o time contra “O Mal” – uma entidade tão genérica que chega a dar saudade de vilões com mais carisma, como o Aku de *Samurai Jack*... ou qualquer coisa que as Meninas Superpoderosas já tenham socado.
Falando em personagens, temos então Emma/Melinda. Ela é o coração da história, mas sofre com um problema clássico de roteiro raso: toda confusão se dá muito porque ninguém explica nada pra ela. O despertar da Melinda no corpo de Emma dá errado por algum motivo, e ninguém acha que seria uma boa ideia explicar pra Emma o que tá rolando. Sério, gente! Era só ter sentado a garota num café e dito: "Olha, você é uma reencarnação mágica, e deu ruim na sua ativação, mas temos problemas maiores no momento e vc precisa lutar contra algo que vamos explicar. Respira fundo e vamo lá salvar o mundo." Mas não! Eles preferem agir como se ninguem visse que Emma não está entendendo nada, o que cria aquele monte de mal-entendidos que a gente sabe que podia ser resolvido em 5 minutos de conversa.
E o pior? Esse rolo se arrasta por episódios inteiros. Sério, tem episódio que parece existir só pra gente gritar: "GENTE, EXPLIQUEM PRA ELA, PELO AMOR DE DEUS!" Num desenho de 10 episódios de 20 minutos cada, isso é... problemático.
Se você ama o trabalho do Tartakovsky (e é seu dever moral como cidadão ama-lo) e tá a fim de uma overdose de nostalgia visual, vai na fé. Mas já vai preparado: o charme tá mais na embalagem do que no conteúdo.