MELHORES DE 2022: Série Animada [Primeiro Lugar]

| quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

 E agora o momento pelo qual todos aguardavam! O anuncio do tão sonhado vencedor do Dogoncio de Ouro de melhor cartoon, o maior premio da animação mundial vai sair! Então vamos recapitular nossa jornada até aqui, sim?

  1. Voltron: Legendary Defender
  2. Todd McFarlane's Spawn
  3. Gargoyles
  4. What If
  5. Aaahh!!! Real Monsters
  6. Skeleton Warriors
  7. The Owl House [Terceiro Lugar]
  8. Rick and Morty [Segundo Lugar]
  9. I Am Groot
  10. Rick and Morty
  11. Ducktales (2017)
  12. Amphibia
  13. RWBY
  14. Adventure Time

Então sem mais enrolação, o melhor desenho animado que eu assisti em 2022 foi... bem, vamos dizer que é hora de juntar seus amigos, pq nós vamos para terras muito distantes pq é... 


Okay, eu tenho que começar dizendo que dependendo de como você olha, eu estou meio que trapaceando aqui pq eu sou o primeiro a admitir que de um ponto de vista tecnico, Ricky and Morty é um desenho melhor. É melhor animado, melhor produzido e frequentemente melhor escrito e váris outras categorias individuais. Mas a grande coisa que pega pra mim, entretanto, é que a soma das partes não é maior do que o todo.

E em seu todo, nenhum desenho animado é tão grande, tão coração, tão profundo e ao mesmo tempo idiota (mas um tipo bom de idiota) do que Adventure Time. Só que...

... SÓ QUE PARA EXPLICAR O PQ VC VAI TER QUE CONTAR TODA HISTÓRIA DA ANIMAÇÃO OCIDENTAL.

Bem, sim... como você sabia?

A) EU LITERALMENTE EXISTO DENTRO DA SUA CABEÇA; E B) NÃO É DIFICIL PERCEBER UM PADRÃO AQUI. MAS OKAY, VAI LÁ, NÃO É COMO SE DESSE PRA TE IMPEDIR MESMO...

Obrigado, eu acho. Mas sim, para entender o que faz Adventure Time tão grande é necessário explicar o que são desenhos animados. Desenhos animados, qualquer adulto responsavel poderá te dizer, são coisas para crianças. Sabe, eu sempre achei essa afirmação (e outras do tipo) muito curiosa. Por que? Quem decidiu isso? Como? Essa é uma daquelas coisas que todo mundo "sabe", mas pouca gente sabe porque realmente "sabe".

A história dos desenhos animados começa no cinema, obviamente. Os primeiros cartoons foram feitos como fillers engraçadalhos para passar entre as sessões dupla de cinema. O programa de um cidadão respeitável de 1940 era comprar um bilhete para uma sessão dupla de cinema: um grande filme em cartaz, junto com um filme menos prestigiado (o famoso "filme B", daí que veio a expressão) e entre eles passava um curta de comédia pastelão em animação.

Foi assim que nasceram as primeiras animações de Tom e Jerry ou do Pica-Pau, e é por isso que eles são consideravelmente mais violentos do que se costumou a ser anos depois: pq foi algo passado para entreter adultos, e pouca coisa diverte mais um cidadão produtivo da sociedade de 1940 do que isso


Ou mesmo de hoje, pq esse grito é fenomenal. Mas divago. Com efeito, quando Walter Disney propos fazer um longa metragem inteiro em animação pela primeira vez, ninguém entendeu muito bem o que ele queria com aquela ideia de "Branca de Neve". Quer dizer, ele ia ter piadas o suficiente para encher 1h20 com esquetes de humor? Pq é isso que cartoons eram, afinal.

Porém quando a televisão começou a tomar corpo como o grande canal de entretenimento da nação americana e o dinheiro começou a migrar para essa nova mídia, os desenhos animados tiveram um problema muito grave pela frente: desenhos animados são caros de se fazer, são lentos de se produzir e a televisão demandava enormes quantidades de conteúdo. Curtas de 5 minutos não eram mais suficientes, eram necessárias agoras temporadas inteiras de um produto.
E isso é verdade ainda hoje, desenhos são, comparativamente, muito mais caros de se fazer do que shows live action. C dinheiro que a Nick gastou para produzir um Avatar eles fariam 5738 séries esquecíveis tipo as que a própria Nick ou a Disney tem aos baldes em que adolescentes aleatórios falam qualquer coisa para esperar o claque de risadas gravadas. 

A alternativa para desenhos animados conseguirem competir nesse mundo corrido e de poucos recursos (comparando com o cinema, claro) da televisão foi algo que anos depois os japoneses se tornariam mestres supremos com seus animes: cortar custos (mas essa é uma outra categoria). Cenários repetidos, animações repetidas, efeitos repetidos, nada disso acontecia quando você tinha o orçamento e tempo de curta metragem de um grande estúdio para trabalhar. Agora quando você entra no ritmo da televisão, bem, isso...

... acabam virando isso:


Então seria justo pensar: "uau, esse novo padrão de qualidade é idiota. As pessoas não vão aceitar isso!", e de fato, não aceitaram. Nenhum adulto perderia seu tempo vendo uma coisa tão tosca, eles teriam que achar um publico que consumisse tanto quanto, mas não tivesse absoluto nenhum padrão de qualidade nenhum para empurrar essa merda goela abaixo...

... o que foi exatamente o que eles fizeram. Foi assim que desenhos animados viraram "coisa de criança", pq crianças aceitariam um baixissimo padrão de qualidade e achariam ótimo. E foi exatamente o que aconteceu.

William Hannah e Joseph Barbera, os criadores de Tom e Jerry mas que não tinham os direitos dos personagens na época, foram uns dos que melhor dominaram esse cenário. Seus desenhos animados tinham o orçamento de duas caixas mascadas de Plets, mas ele empilhavam sucessos com a garotada da época. Jambo & Ruivão, Dom Pixote, Plic, Ploc & Chuvisco, Zé Colméia, Pepe Legal, Bibo Pai e Bob Filho, Olho Vivo e Faro Fino foram todos desenhos que eles produziram nessa época com menos dinheiro do que o que você gasta indo na venda da esquina comprando banana prata.

E isso fez de Hannah e Barbera muito ricos, verdade, mas a pergunta que realmente devia ser feita é: isso os estava fazendo felizes?

Vê, essa é a pegadinha aqui: desenhos animados eram feitos PARA crianças, mas não POR crianças. Parece óbvio dizer isso, mas talvez as implicações escapem a uma primeira vista. Desenhos animados são feitos por adultos, e não apenas quaisquer adultos: são feitos por artistas.

Você sabe, essas pessoas altamente criativas que tem essa coisa de querer se expressar, contar histórias, compartilhar sua visão do mundo simbolicamente através de uma obra? Então, pegar essas pessoas criativas e as limitar a produzir desenhos animados por quantidade e não qualidade certamente era um modo de pagar os boletos, mas não era tudo que eles podiam ser. Como artistas, eles queriam mais do que isso. E foi assim, dessa necessidade de se expressar que só nasce quando você tem um emprego muito abaixo da sua capacidade intelectual que ao longo dos anos muitos criadores de conteúdo sempre flertaram com a ideia de fazer algo significativo com seus desenhos animados.

Mesmo Hanna e Barbera, que se tornaram os mestres absolutos dessa máquina bem lubrificada de vomitar desenhos animados por quantidade, sofriam com essa angustia e por isso tentaram uma ideia ousada: um desenho animado para adultos, que passaria em horário nobre e seria uma sitcom tratada igual a qualquer série de respeito da época. Foi assim que nasceu os Flintsones, em uma tentativa de fazer algo mais do que o "faz qualquer coisa, é pra criança mesmo então whatever" que era a norma vigente da época.

De lá para cá, e especialmente após passada a terrível época da animação que foram os anos 80  (sério, essa decada é literalmente chamada de "Dark Age of Animation", joga aí no google se não acredita em mim) muitas outras pessoas tentaram a sorte nesse caminho, algumas com mais sucesso, outras com menos. Porém o que não mudou é que você fosse o quão criativo quisesse, desenhos animados ainda eram uma coisa binariamente segmentada. Ou você tinha desenhos animados claramente para adultos (como os Simpsons ou South Park), ou você tinha desenhos animados para crianças.

E os desenhos animados "para crianças" ainda eram vistos pelos executivos como extremamente limitados no que se podia fazer. Mesmo desenhos altamente bem sucedidos (como a 
Era de Ouro do Cartoon Network com coisas tipo Laboratório do Dexter, Meninas Superpoderosas entre outras) tinham essas claras paredes de até você podia ir. Gente estúpidamente brilhante como Genndy Tartakovsky, Lauren Faust e Craig McCracken eram limitados por essa barreira invisivel de até onde eles podiam ir.

Por mais criativos que seus criadores fossem (e eles eram), havia a barreira do "é para crianças" que travava ambições maiores de seus criadores em desenvolvimento do cenário, desenvolvimento de personagens, consequencias, enfim, na narrativa em geral. Tudo isso só mudou, bem, quando a Nação do Fogo atacou.

Influenciada pelo sucesso estrondoso e rocambólico dos animes, a Nicklodeon decidiu dar sinal verde para um ambicioso projeto de um desenho animado seriado que se focaria bastante em desenvolver os personagens, world building, conflitos morais sobre temas pesados como guerra e genocídio, romance, aventuras e, você sabe, contar uma grande história. E esse projeto é, até os dias de hoje, tido como o melhor e mais bem realizado cartoon de todos os tempos. Eu estou falando, é claro, de Avatar: The Last Airbender.


O (merecido) sucesso de Avatar amoleceu um pouco o empedernido coração dos executivos, que admitiram a possibilidade de que havia um publico para desenhos animados mais complexos, com construção de cenário trabalhada, com desenvolvimento de personagens, histórias seriadas e todas essas loucuras que eles realmente não entendiam (ou sequer gostavam), mas aparentemente era o que as pessoas de hoje em dia queriam.

Isso deu sinal verde ao que eu chamo de "Segunda Renascença dos Cartoons", e muita gente absurdamente talentosa estava babando por essa oportunidade fazia tempo.




Na Discovery Kids, Lauren Faust transformou My Little Pony de um comercial de brinquedos safado e sem alma em um desenho animado incrivelmente bem realizado, com um mundo bem construído com lore interessante, personagens bem estabelecidos e mensagens surpreendemente profundas. No Disney Channel, Alex Hirch criou Gravity Falls e... bem, eu precisaria de bem mais tempo para falar do quão incrível e o quanto de alma Gravity Falls tem... porém de toda essa nova leva de desenhos animados pós-Avatar, o que eu REALMENTE quero falar é do maior e mais ambicioso de todos eles. Agora, após mais de 1600 palavras, é hora de finalmente falar de Adventure Time.

ISSO DEVE SER ALGUM TIPO DE NOVO RECORDE PESSOAL SEU...

Eu sei, incrível, né?

NÃO É ALGO DO QUE VC DEVERIA SE ORGULHAR, DEPOIS NÃO SABE PQ NEM CINCO PESSOAS LEEM ESSES TEXTOS...

Hã, seja como for, Adventure Time. AT é um projeto extremamente ambicioso de Pendleton Ward que visava atender as demandas de todo mundo e fazer todo mundo satisfeito. Os executivos da televisão ficariam satisfeitos, as crianças assistindo ficariam satisfeitas, os adultos assistindo ficariam satisfeitos, ele enquanto artista ficaria satisfeito. E se você acha que não é possível atender os interesses de tantos públicos diferentes querendo coisas fundamentalmente diferentes, bem, então vc ainda não começou a entender Adventure Time.

Então o que é AT? Vamos lá: a primeira temporada de Adventure Time é... estranha. E não necessariamente estranho-bom. Isso pq parece que AT é mais um daqueles desenho que está apenas atirando coisas aleatórias na parede pra ver o que cola. O que as crianças adoram, é um desenho extremamente colorido, com músicas e não-raramente alguma nojeira. E os executivos da TV adoram tanto quanto, é um desenho não-seriado (que é algo que os canais amam, não exigir que o publico acompanhe em uma ordem definida os episódios aumenta seu alcance e pode ser colocado em qualquer horário) atulhado de personagens altamente marketeaveis para vender brinquedos e acessórios relacionados.


Os episódios são essencialmente sobre um garoto e seu cachorro mutante (okay...) vivendo altas aventuras, salvando princesas e algumas coisas do tipo bem aleatórias. Você sabe, apenas outro desses desenhos ultra energeticos onde coisas aleatórias acontecem por motivos aleatórios pq desde que seja colorido e barulhento, tanto faz, crianças aceitam qualquer porcaria.

HÃ, TENHO QUE DIZER QUE ESSA DESCRIÇÃO NÃO PARECE MUITO PROMISSORA

E de fato não era. Com efeito, seu criador Pendleton Ward teve muita dificuldade em vender a ideia da série e meio que foi rejeitado por todo e pela mãe de todo mundo antes de conseguir vender a idéia para o Cartoon Network (ele levou uma porta na cara da Nicklodeon, Disney Channel e Warner Channel antes da série ser vendida pro Cartoon Network) muito pq inicialmente Adventure Time não parece muito especial. 

Qualquer porcaria colorida e aleatória pq hey, desenho animado, ninguém se importa desde que seja colorido e aleatório, yay! Com efeito, a primeira vez que eu peguei AT para assistir, eu assisti uma meia duzia de episódios e minha reação foi basicamente:


Porém, de lá pra cá, ao longo dos anos eu repetidamente acabei esbarrando em afirmações de como Adventure Time era incrível, como era ótimo, e possivelmente um dos melhores desenhos animados de todos os tempos. E após um dado tempo encontrando esse tipo de afirmação por aí, eu comecei a me questionar de que havia algo mais que todo mundo estava vendo nesse desenho aleatório que eu não estava.

E após alguns anos disso, em 2022 eu decidi dar uma nova chance e assistir AT. O resultado?


Vê, essa é a pegadinha aqui: toda merda aleatória que Adventure Time joga na tela, bem, não é realmente aleatória. O que é realmente impressionante, pq o desenho é repleto de coisas tão randomicas e non sense que você pensa que não é realmente possível que essas sejam as ferramentas para construir um world building complexo com um cenário coeso... mas é exatamente o que é.

Se inicialmente AT parece um fever dream de uma criança que comeu açucar demais, eventualmente você começa a perceber que existe um metodo nessa loucura, existe uma história de verdade no meio da aleatoriedade, e eventualmente vc descobre que é um cenário incrivelmente ambicioso como nunca antes na história da televião, que se estende desde a pré-história até o futuro pós-apocaliptico. 




Sério, eu já vi muitos desenhos animados, animes e slideshows de férias de verão na minha vida, e eu garanto que nunca vi nada tão ambicioso na televisão quanto Adventure Time. Basta dizer que a wiki do desenho tem mais de 4 mil artigos!

Eu vou te dizer, como Adventure Time vai lentamente, através de pequenos detalhes aqui e ali, contando sua história e como todas suas maluquices aleatórias contam a história do mundo é algo realmente divertido de se assistir. A sensação de "wait a minute... isso faz sentido agora" das peças irem se encaixando é absolutamente deliciosa.




E o que torna essa narrativa tão interessante de assistir é que Pendleton Ward e sua equipe não acreditam muito em cenas expositivas. Você sabe, aquele momento em que alguém literalmente apenas explica a história para o expectador. Não, a história ta aí, monta ela quem quer.

Com efeito, Jesse Moynihan (um dos principais roteiristas da série), disse o seguinte dada vez:

“Na minha opinião, o que eu realmente queria fugir era a narrativa completa que incorpora não apenas a televisão infantil, mas quase toda a televisão: a ideologia que exige que entendamos o tempo todo o que o personagem sente, qual é o conflito, , como exatamente o público deve se sentir e talvez a mensagem moral.

Mesmo em programas que gosto muito, como Game of Thrones ou True Detective, há muito pouca ambiguidade quando se trata de como o público está sendo manipulado para se sentir. Muitas vezes, em programas de TV menores, a escrita funciona como um guia instrucional passo a passo sobre como devemos proceder emocionalmente enquanto público.

Você sabe, frequentemente temos alguém na tela gritando “Estou bravo com você! Você matou meu pai! Mas preciso da sua ajuda!” ou “Eu sinto X por causa de Y, então você deveria Z” da maneira mais idiota possível. Nós tentamos evitar isso.

Claro, é um aspecto de controle emocional da narrativa que é tentador não abrir mão, mas nós tentamos fazer o nosso envolvimento algo mais passivo com arquétipos e pistas emocionais. Ao invés de apenas dizer o que o espectador tem que sentir ou pensar, eu prefiro muito mais a ideia de que o entretenimento pode refletir a poesia e a ambiguidade da vida.”

O que, como você pode imaginar, nos leva a questão que essa abordagem de construção discreta confiando na inteligencia do espectador não se limita ao lore do mundo, mas sim ao próprio arcabouço emocional dos personagens. Saber o que os personagens estão sentindo ou por que eles estão sentido é BEM mais complexo do que vc poderia esperar de um desenho sobre um menino com uma espada e um cachorro mutante salvando uma princesa feita de chiclete de um mago maligno.



Tem um episódio que eu acho que ilustra isso muito bem, que é "The Mountain". Ele começa com Finn e Jake conversando ao redor da fogueira, com um excelente dialogo questionando se será que os pets nos veem como deuses dado que nós provemos magicamente na visão deles todas as suas necessidades, porém esses momentos divertidos terminam quando Finn descobre que sua ex-namorada Flame Princess e o atual namorado dela Cinnamon Bun (que sim, são uma princesa feita de fogo e um bolinho de cinamomo) malhando nas proximidades, o que mais uma vez reforça que Finn não a esqueceu totalmente mesmo isso tendo acontecido na temporada passada

Mesmo em comédias romanticas, normalmente relacionamentos terminam e após alguns episódios jamais são mencionados novamente (sim, How I Met Your Mother, estou olhando pra vc). A série simplesmente encerra esse capítulo e finge que nada aconteceu, move on. Mas aqui, mesmo uma temporada inteira depois, Finn ainda tem dificuldades com seus sentimentos. 

Só que nesse episódio em particular, como Finn parece mais ansioso do que qualquer coisa. Após um período de crescimento, Finn provavelmente percebe o quão embaraçosas foram suas ações em relação a Fire Princess no passado e é assombrado por seus próprios erros, e ele muda de assunto dizendo “preciso me distrair com o trabalho” - que no caso dele, o trabalho é ir para uma dungeon ou algo do tipo. Após um período de depressão, Finn percebe que não pode realizar nada apenas se permitindo se sentir mal e que deve mudar seu foco para algo mais produtivo, e é muito bom ver como ele gradualmente supera sua depressão e se torna mais proativo.



E isso é apenas uma cena de um episódio, ao longo da série o desenho em nenhum momento segura a sua mão e te diz como você deve interpretar os personagens ou se sentir a respeito deles. Tem um episódio em que o Finn tem seus olhos substituidos por gemas que transformam as pessoas em como ele realmente as vê (sim, é assim que a série rola), e estranhamente ao olhar para sua antiga crush ela se transforma... em um garoto descolado.

Ao ser perguntado o que isso significa, Finn apenas responde:


Analisando a personalidade e a psique dos personagens vc pode chegar a algumas conclusões, mas o que importa nesse caso realmente é que a série nunca realmente mastiga a resposta pra você. Outro grande exemplo é a própria Princess Bubblegum, eu mudei de opinião pelo menos umas 5 vezes ao longo da série a respeito dela, entre achar ela uma bitch tiranica sem coração e entender porque ela faz as coisas do jeito que ela faz.

Alias não apenas nos personagens, frequentemente a série aborda temas inesperadamente pesados para um desenho animado de 2010. Por exemplo, frequentemente um personagem que é "louco" é mostrado como um tipo de piada, como um alivio comico. E Adventure Time faz isso, tendo as desventuras completamente patéticas e ablublé das ideias do Ice King.

Só que o que Adventure Time faz também é ir mais fundo ainda na "piada" e mostrar que ao contrário do que a cultura pop usualmente retrata, estar preso dentro das limitações da sua própria mente não é nada engraçado. É algo profundamente triste, e o patético e bobalhão Ice King acaba sendo um dos personagens mais trágicos da história da televisão, enquanto ele não deixa de ser patético e bobalhão. Então... a gente ainda devia rir dele? É errado... mas o Ice King não se ajuda e ele meio que merece se ferrar também? Como tudo mais, Adventure Time não te diz como vc deve se sentir a respeito.


Isso, é claro, sem nunca deixar de ter episódios em que a bunda de uma minhoca é cortada, ganha vida e se torna um herói involuntário. Porque, você sabe, é assim que AT rola.

Então, eu suponho que deu para pegar uma ideia geral da coisa. Adventure Time não é apenas o desenho mais ambicioso que eu já assisti, mas o que mais confia na inteligencia do seu espectador - uma caracteristica bastante ousada, pq convenhamos, o nível não é muito alto realmente. 



Ainda sim, AT corre esse risco e como consequencia entrega uma experiencia única, reflexiva, profunda e que influenciou uma geração inteira de desenhos animados - desde cartoons que apenas tentam imitar partes de AT, a sua equipe de produção que passou a dirigir seus próprios cartoons depois disso (como a compositora e roteirista de AT, Rebecca Sugar, que criou seu próprio desenho animado no Cartoon Network e acabou se tornando um dos meus desenhos favoritos da vida, Steven Universe).

Enfim, AT é sobre aventuras, sobre resgatar princesas de magos malvados, sobre refletir o que significa crescer, sobre crise de meia idade, sobre relacionamentos, sobre a uma perpectiva do que é a vida, sobre depressão, sobre amizade, sobre solidão, sobre família, sobre parar e aproveitar o momento, e sobre saquear masmorras. You know, all the good stuff. And the bad ones. And none of it.



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