[GAMES] Persona 5 Royal e sua inabilidade com endings

| quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Olá! P por aqui. Persona 5 está entre meus games favoritos da minha curta vida como não-elfa. Então o anúncio de um Persona 5 expandido-melhor-e-melhorado-também-conhecido-como-Royal me deixou animada para conferir essa parada de realeza: novas mecânicas, personagens, shadows, um palácio novo e modificações na storyline. Nossa, se eu já gosto de Persona 5, imagina uma nova versão que possivelmente torne tudo ainda melhor e possivelmente dê um jeito nos elementos não tão legais do jogo base?! Pois é, se algo já está ótimo, só pode melhorar, né?  

 

Hum, pra começar, estou escrevendo esse texto meses após ter jogado minhas 193h de Persona 5 Royal, são 23:27 e eu já estava deitada para dormir, mas comecei a pensar novamente nesse jogo e decidi escrever na tentativa de fechar esse capítulo e encontrar paz. Pois bem, demorei um tempo ruminando, como podem perceber, mas minha conclusão que não queria aceitar é que eu não tive uma boa experiência com Persona 5 Royal e direi o por quê nos próximos capítulos. Não falarei sobre combates e mecânicas, me deterei em algum elementos narrativos e nos personagens (vai ter spoilers).

Não foram todas ruins óbvio. Pessoalmente prefiro que o começo de uma obra seja problemático, pois consigo reunir forças para insistir um pouquinho e ver se vai melhorar, agora quando é o final toda a experiência é impactada para o mal ou para o bem (como acontece em Onward).

Comecemos com o nosso protagonista de cabelos fluffy, Akira/Ren/Joker, e a cena de encerramento do jogo. Por que a desgraça desse menino tem que ter um final pior do que o jogo base? Por que odeias nossa criança justiceira, Sega/Atlus? O desfecho de Persona 5, como quase tudo na vida, alguns gostam por o considerarem realista, afinal, trilhar caminhos diferentes de seus amigos é uma tônica em nossas vidas e Joker é um adolescente ainda, tendo pouco controle sobre si; outros já desgostam, por pensarem que nosso grupo de aventureiros fantasmas mereciam uma coisa melhor e sua separação seria prematura/desnecessária.

A coisa de trilhar caminhos diferentes é legal, mas realmente não creio ter sido bem feita aqui, foi bem melhor executada em How I met your mother, por exemplo. Afinal, qual a real justificativa para Joker ir embora? Alguém pode me responder que os pais o chamaram e seu período de punição acabou então ele está livre para voltar para sua terra. Tá, mas por quê? Qual a razão de os pais desse menino que o ignoraram até então (nunca é mencionado que ele sequer recebe uma mensagem deles e, não esqueci a cena do início em que os objetos de mudança do Joker chegam numa caixa de papelão qualquer, não estão nem em uma mala bonitinha, e os pais não o levam até a casa do Sojiro nem nada), servindo apenas para enviar nosso herói a outra cidade, têm para o quererem agora? De repente, tornaram-se amorosos e não aguentam de saudade de nosso jovem? São apenas mandões? Estão arrependidos sabendo agora dos novos fatos e da injustiça que cometeram em não acreditarem em seu pimpolho?

Você ficaria surpreso, my boy, Yusuke! A maior injustiça desse jogo foi não nos permitir datear o Yusuke. Stardew Valley nos pemite casar com quem quisermos. Deixem o jogador escolher!

Pois é, a história nunca diz, nem fornece elementos para chegarmos a alguma conclusão, uma vez que os pais de nosso protagonista são completamente ausentes, não chegando a ser nem personagens na história, mas elementos para que determinados acontecimentos...bem, aconteçam, no caso, o início e o desfecho amargo. Então, se as figuras paterna e materna serão ausentes para que coloca-las só para tirar a agência de nosso personagem, no início até vai, pois eles acreditariam que o filho errou e merece punição (aqui é Japão!), mas agora que o nome do rapaz está limpo, ele é punido novamente? Why?

Não há justificativa narrativa sólida para Joker não continuar seus estudos onde já está, ele tira boas notas na escola, fez uma porrada de amigos, o Sojiro se importa com o rapaz,... Se os pais agora se importam, eles tinham que aparecer na história então, ter uma cutscene da família Joker. Se são negligentes, como alguns elementos da história (a caixa de objetos e a falta de acompanhamento) nos levam a inferir, faz muito mais sentido eles não continuarem nem aí, e se o Joker disser que quer continuar onde está, que continue, lá quero saber dessa desgraça, nunca quis essa criança mesmo, falei que era para adotarmos um cachorro e um gato só. Pronto! Temos um encerramento bacana e que faz sentido na história, pois nossos personagens já vão se separar quando a escola acabar e forem para universidades/trabalhos diferentes, para que adiantar o inevitável? Só para entregar um desfecho agridoce? 

                                            Yusuke sendo a melhor pessoa no chat da vida!

Mas, enfim, uma expectativa então era que o Royal adereçasse essa questão, modificando o final de alguma forma. Ele fez isso como esperado, mas não bem como esperado. De alguma forma, tornaram pior o que já era um elemento controverso da narrativa. É a mesma pessoa empolgada que odeia nossos jovens, essa não demitem, né, mas alguém que desse a ideia de permitir datear quem quiser nessa joça, boys incluso, aí esse não tem voz tsc tsc. Triste!

Em P5R, a gente não tem nem aquela road trip do final que serve para suavizar o golpe, afinal nossos heróis ao menos farão uma viagem divertida juntos, ouvindo muita música, zoando o Ryuji no caminho que colocará a cabeça fora da van para gritar que é um Phantom Thief, certeza...you know, good stuff! Além de que, tem um take de uns policiais de olho neles, mas eles decidem não se importar, não farão nada que os vá complicar mesmo e todas essas aventuras palacianas os deixaram mais fortes para lidar com a sociedade e evitar as tais máscaras que já foram arrancadas literalmente. Esses detalhes que faziam toda a diferença se foram! 


Eles não fazem a road trip porque agora aparentemente eles se importam com a polícia os seguindo, então Joker é apenas levado para a estação de trem pelo Maruki que agora é um taxista (mais dele depois) e se despede de uma forma meia boca dos amigos, muitos acenos e só, Kasumi nem tchau diz, imaginei que ao menos ela ia abraça-lo considerando que quando pensou que Joker tinha morrido e viu ele vivo e belo em sua frente, ela correu e quase o abraçou, se contendo por pouco, agora que ok, ele não vai morrer, mas ficarão sem se ver por um tempo, não rola nem um aperto de mão amigável? Nossa, vamos ser descolados com nossos sentimentos e desapegados, mas aí já está em um outro nível.

Tivesse contando o babado para um Wheeping Angel fofoqueiro, certeza que o reply seria de ‘Ai, amiga, desiste!’

Fique claro aqui que a temática da separação e da despedida não são o problema, Doctor Who faz isso direto com companions e doutores indo e vindo, a questão é a execução! As mudanças de todo mundo foram feitas de uma certa forma apressada. Ann vai para o exterior agora de todos os momentos por quê? Não seria mais lógico fazer algum nome no Japão primeiro? Ou ela vai para perto dos pais que podem ajuda-la melhor na carreira? O jogo não esclarece, só fala do tal intercâmbio, línguas e blá. Ryuji vai tratar a perna finalmente, legal, não entendi porque envolve mudar de escola, pelo menos entendi que envolvia, o lugar talvez seja longe, acho que era isso. Tá. Futaba vai pra escola, mas não para Shujin, não sei porquê, e talvez não para a da amiga de infância dela, também não é dito porquê, distritos diferentes provavelmente, mas Shujin sabemos que seria possível, pois o Joker estudava lá. Makoto e Haru são as únicas que terminaram o colegial e vão agora para a faculdade ou se preparar para inaugurar um café, ok, tudo certo aqui. O Yusuke, my best boy que passa fome como um verdadeiro artista deve fazer, é o único sensato, ele vai finalizar seus estudos e continuar perseguindo a ambição de criar sua obra prima, sem cortes de laços prematuros.

A impressão que deu é que ficaram assustados demais com seus sonhos recônditos realizados pelo Maruki em versões doces com mel e traumatizados ao ponto de apressarem as coisas que já aconteceriam naturalmente, é uma obsessão com o 8 ou 80 nesse Royal. A reunião de comunicação dos planos de cada um termina quase como aquela velha frase de ‘Mas relaxa, a gente vai manter o contato e vamo marcar algo aí’, só que ninguém marca nada porque é só uma frase de efeito, se alguém falar, ‘Beleza, terça, 19h’, as desculpas começarão a rolar...

Pelo menos, tivemos as moças com yukatas. Yay! Uma foto para postar no Insta, uhuuu!

Agora, vamos para o Maruki, já que ele foi mencionado. Ele é o “vilão-amigo-que-ultimamente-é-bom-apenas-está-querendo-fazer-as-coisas-de-um-jeito-distorcido”. Vou comentar só dois elementos sobre o terapeuta da vez, pois não gosto de falar sobre ele, uma coisa inteiramente pessoal. A primeira é que é assombroso que Maruki mesmo não perceba o quanto ele é messed up, imagino que seus anos de estudo afinal não serviram pra nada. O rapaz chega a apagar as memórias de sua namorada/noiva e não parece achar isso errado ou ao menos ter dúvidas em nenhum momento, e se ele é uma pessoa fundamentalmente boa, isso é estranho. A namorada claramente não é consultada sobre isso, ela está em estado de choque e murmura coisas como que gostaria de esquecer ou faça sumir o sofrimento, algo por aí, ao que o Maruki entende para literalmente executar o pedido e apagar o trauma, eliminando inclusive ele da mente dela. E isso é tão errado! Qualquer coisa que toca em matéria de consenso já acende luzes vermelhas automaticamente na mente de qualquer pessoa com o mínimo de bom senso e Maruki sequer se questionar tira bastante de sua credibilidade como alguém legal.

Chama os pyrodaleks e taca fogo!

Agora, isso até seria aceitável narrativamente, se ele tivesse um final decente. Estaríamos no terreno de ‘ele está tão perdido na vida que não consegue sequer enxergar isso’, na linha do Steven Universe Future, em que Steven é uma pessoa incrível e ajudou todo mundo naquela bagaça, mas quando se trata de si mesmo, possui dificuldade para pedir ajuda e aceitar seus erros, chegando a um meltdown doloroso de se assistir – porque adoramos esse menino e não queremos vê-lo sofrer, mas que gera um pay off de ele finalmente procurar e aceitar ajuda. O Maruki não recebe uma cena final exclusiva para se redimir, explicar, admitir seus erros e começar o processo de move on. Nós não temos uma cutscene de diálogo entre ele e todos os phatom phieves e considerando que o rapaz tentou seriamente matá-los e modificar suas vidas à força, é o mínimo que se esperava. 

Tudo que recebemos é a cena de taxista, em que ele leva o Joker até a estação e troca uma frasezinha sobre recomeço ou sei lá, mas é isso. Uau! Fale sobre alguém que não sabe pedir desculpa, hein! Um personagem importante como ele nesse conteúdo novo da história merecia uma cena final exclusiva para dar aquele desfecho. Saber que ele deixou de ser terapeuta (para alegria de Kasumi!) e agora tá em outra profissão tentando se reencontrar não é suficiente. É pouco para alguém que se o grupo não cumprisse o deadline, o Maruki interpretaria que para o Joker é doloroso tomar decisões, então deixa que tio Maru resolve colocando você em um estado de sono eterno, assim você não tem que decidir nada! E ele procurou a namorada e pediu desculpas pelo que fez? Não sabemos! Se desculpou com a Kasumi? Não sabemos! Enfim, não há arco de redenção, a cena típica do change of heart não foi feita. Ele só deixa de querer decidir a vida dos outros por eles, como vinha fazendo, e está aparentemente ok.

Ratinhos ladrões porque não quero colocar nenhuma imagem do Maru.

Akechi é um vai-não-vai, que senhora. Morre no palácio do Shido em uma cena de redenção. Trágico, né! Um pouco menos, pois ele volta. Maruki da igreja dos santos dos últimos dias o traz de volta. Inicialmente, as cenas de interação novas com o Akechi estão melhores, parecem atingir um nível mais pessoal, porém quando ele volta no conteúdo adicional do Royal, o rapaz tá um nojento só. “Amiga, ele sempre foi um nojento, o negócio é que ele fingia ser legal”. Ok, mas o menino é só esse 8 ou 80, um fingido agradável ou um nojento que provavelmente faz comentários sobre tripas sanguinolentas em momento inoportunos (não sei se há outros, mas)? Não dá para ter mais um pouquinho de profundidade e camadas? Sabe, como uma pessoa com sentimentos ou o Shrek. No fim, derrotar o Maruki significa matar o Akechi de vez, mas o final do jogo mostra um glimpse de são mãos/luvas/casaco/silhueta, então o rapaz aparentemente está de volta. Mais uma vez! Oh, estaria surpresa se não estivesse.

Oh, boy!

Kasumi que, na verdade, é a outra menina gêmea, Sumire, que eu me acostumei a chamar de Kasumi. A história da moça é legal, pesada, afinal, ela estava se fingindo da irmã morta. Foi para a terapia resolver e saiu com um problema que vai precisar de outra terapia pra solucionar. Maruki-Madara, cria sua própria demanda! Honestamente, não estava esperando nem um pouco esse plot twist e o que posso dizer é Yay para você que parou de acreditar que é a irmã morta! Quanto a ela, só creio que poderia ter sido melhor se o acidente tivesse ocorrido mais na infância, sei lá, uns 10-12 anos de idade, para ficar melhor justificado o trauma emocional dessa magnitude (que nem a Kato-san cuja mãe morreu na infância e obviamente não há maturidade emocional nenhuma para lidar com isso nessa idade, tornando a situação mais traumática, não ajuda também que seu pai a levou no hospital para ver o cadáver, né?!). Mas isso tá mais para um nitpicking, nada major mesmo.

Em resumo, os temas são interessantes, só que feitos de uma forma apressada e mal acabada. Finalizo aqui meu rant da madrugada. Espero ficar em paz com esse jogo agora e no futuro não gastar tantas horas em uma experiência que resultará desgostante. Que o próximo seja melhor! 

Os outings com as wardens foram muito bons! O que elas visitam o Leblanc é 10/10.

 

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