[FILMES] SOLO: A STAR WARS STORY (ou apenas ok na hora errada)

| quarta-feira, 23 de outubro de 2019


Contexto é uma coisa muito interessante. É dificil lembrar exatamente depois porque as coisas aconteceram do jeito que aconteceram, então eu acho que é um papel relevante das críticas situar o cenário que alguma coisa aconteceu para as gerações futuras.

Enslaved: Journey to West, por exemplo, é um jogo que vendeu apenas ridiculas 75 mil cópias no seu lançamento. O que é um número ofensivo quando você pensa que o jogo tem roteiro escrito por Alex Garland - Dredd, 28 Dias Depois - e atuação de Lindsey Shaw - 10 Coisas que Eu Odeio em você - e ANDY FUCKING SERKIS. As notas do jogo na crítica foram de um sólido 8 pra cima. O que possivelmente deu errado? Bem, foi muito menos o jogo e muito mais uma longa discussão sobre a situação dos games na época, e é uma discussão bem longa que eu não farei agora.

Estudo de caso B: apesar de não haver nada de fundamentalmente errado com ele, Solo, A Star Wars Story é o primeiro filme de Star Wars a não dar lucro - na verdade, escapou de dar prejuízo apenas por muito pouco - e quando você leva em conta que para uma empresa como a  Disney gastar seu tempo com algo de resultado zero implica em tempo não gasto em algo que geraria bilhões, bem, é muito ruim. E o filme, eu te garanto, não é nada tão abismalmente ruim assim. Não é uma obra prima, certo, mas até então os filmes de Star Wars nunca foram nada espetacularmente brilhantes.

Considere que publicidade normalmente não é incluida nos valores de orçamento da produção

Então, o que deu errado? Porque ESSE filme falhou tão espetacularmente onde nenhum filme de Star Wars jamais havia falhado antes?




Quase todas as fontes de notícias especulam na mesma pequena lista de possíveis razões:

- Filmes da Marvel que recentemente saíram competindo por atenção
- Uma espera mais curta que o habitual desde o último filme de Star Wars, reduzindo a antecipação
- Problemas de produção nos bastidores, com a demissão dos diretores Phil Lord & Chris Miller - de Lego: o filme, sendo substituidos pelo diretor mais agua com açucar possível Ron Howard, e boatos que Alden Ehrenreich era um ator tão ruim que teve que ter aulas de atuação no set para pelo menos conseguir terminar as cenas.



 O problema é que nenhuma dessas coisa afeta outros filmes de "grande universo". Se as pessoas confiam em uma franquia - ou no nome de um ator, como o caso do The Rock - elas assistem ao filme e fim da história.

 As pessoas viram Batman v. Superman nos cinemas mais do que viram Solo, apesar de acharem que Ben Affleck seria um Bruce Wayne terrível - não foi. Liga da Justiça mudou de direção e teve muitas refilmagens e ainda superou a bilheteria de Solo por anos-luz de vantagem. A Marvel lança dois ou três filmes por ano e nunca é isso que sabota uns aos outros, e muito menos arruinam outros filmes de super-heróis por conta disso.



De fato, a razão mais provável para os números baixos da Liga da Justiça foi o fato de que Batman v. Superman é um filme pavorosamente ruim. E isso nos indica exatamente por que poucas pessoas compareceram para assistir Solo.

The Last Jedi foi um filme historicamente ruim Com o tamanho de seu orçamento, o número de pessoas brilhantes disponíveis e a experiencia de saber o que funciona e não funcionapara a franquia, Rian Johnson tinha todos os recursos necessários para fazer pelo menos um filme mediano, se não um grande. Mas The Last Jedi foi o filme que fez as pessoas dizerem: "Quer saber? Foda-se. Eu não me importo mais com essa merda". Isso é muito, muito, mas muito pior mesmo do que se elas tivessem odiado o filme.

Bem, depois que você assiste um filme decepcionante você não consegue recuperar exatamente o dinheiro do ingresso, tudo que pode fazer é garantir que não invista mais dinheiro nessa marca. E foi o que aconteceu. Claro, TLJ não foi uma desgraça nas bilheterias porque mesmo depois de ouvir comentários negativos, muitos tiveram que “ver por si mesmos” enquanto fãs de Star Wars e pensadores independentes, ajudando a melhorar um pouco o desempenho das bilheterias. Mas no geral, The Last Jedi só trouxe METADE do que o The Force Awakens conseguiu nas bilheterias.

E Force Awakens já foi uma chapuletada na alma de um filme sem alma ou proposito maior do que "lol, vai dar muita grana véiiiii". Mas ok, Star Wars é uma marca tão popular que as pessoas estavam dispostas a darem uma segunda chance mesmo apesar de um filme muito ruim. E essa segunda chance, The Last Jedi, pisou na confiança já abalada das pessoas com um desprezo que você não sentia desde o seu crush no segundo grau. Desnecessário dizer que não existem "terceiras chances". Enough is enough.



Quando as pessoas entenderam que The Last Jedi era horrível, elas não voltaram para vê-lo novamente, e elas certamente não levaram seus amigos junto. Pense comigo: METADE  das pessoas que assistiu TFA saiu do cinema e disse "meh, foda-se essa merda". Agora imagine quantas dirão isso depois de ter passado por não um, mas DOIS filmes chumbregas?

Isso é o que realmente matou Solo. Claro, muitas pessoas vão pelo menos querer ver como essa merda termina, então Star Wars IX não está completamente morto, mas Solo não goza dessa vantagem. Há também os fãs super leais que seguirão cegamente Star Wars em sua descida até uma série de filmes da qualidade de Transformers - o que parece ser o caminho, atualmente. O restante de nós, não viu o Solo em seu final de semana de abertura. A maioria de nós não verá até que esteja na Netflix. Ou no Pirate Bay. Se é que vai ver alguma vez na vida.

Isso sendo dito, para um filme que foi repleto de tantos problemas de produção amplamente “Solo: Uma História de Star Wars” é uma peça de entretenimento que funciona bastante bem. . É mais longo que o necessário, claro, mas Ron Howard, que é o único diretor creditado, e seus roteiristas, Lawrence Kasdan e Jonathan Kasdan, mantêm as coisas funcionando durante a maior parte de suas duas horas ou mais.



Claro, não espere que essa história de origem sobre Han Solo tem alguma razão para ser, exceto como mais uma máquina de fazer moola, dinero, cash, tutu. Não há um proposito ou um desejo autoral no filme, ele não quer te passar uma mensagem ou discutir um ponto - mesmo que seja a paixão por explodir coisas, como no caso do Michael Bay. Esse é um filme que não quer nada de nada, apenas está lá porque... bem, ele está. E a falta de tesão na produção transparece, mesmo que seja uma produção bem feitinha.

Descobrimos como Han conseguiu seu sobrenome; como ele conheceu e se uniu a Chewbacca; como ele ganhou o Millennium Falcon em um jogo de cartas de Lando Calrissian, que é pansexual mas infelizmente não é o capitão Jack Harkness. Aprendemos sobre Qi'ra, o primeiro amor de Han, com quem, quando o filme começa, ele tenta fugir de seu planeta natal Corellia. Nós nos encontramos com Tobias Beckett (Woody Harrelson, maravilhoso como sempre), contrabandista do companheiro de Han inicialmente disfarçado como um soldado do Império. Ele é o tipo de cara que está sempre avisando a todos para não confiar em ninguém. Em outras palavras, ele é um alerta de spoiler ambulante. Paul Bettany, cheio de malícia, aparece como o cabeça do sindicato do crime Crimson Dawn, embora pareça mais um vilão de filme do Jams Bond. E claro, temos uma tentativa realmente criativa de remendar da cagada monumental do George Lucas de que ele não sabia que "parsec" é uma unidade de medida de distancia, não de tempo - quano o Han disse que fez "a Kessel Run em menos de 12 parsecs", Jorginho estava comendo mosca na aula de física.



E nenhuma dessas coisas é particularmente ruim, ou mal executada. Diabos, algumas ideias são até realmente boas, como da onde vem a "alma" da Millenium Falcon.

Demora um pouco antes de afundar no enredo, que tem algo a ver com o roubo de uma remessa do hiper combustível Coaxium. Como um bom filme de espionagem/roubo, traições duplas e triplas são abundantes. Os cineastas não tentam fazer nada muito profundo porque reconhecem, sabiamente, entendem que "inventar" um tema na ultima hora faria mais mal do que bem. Existem easter eggs suficientes para agradar saudosistas do universo expandido e nem uma única menção a Força, pela primeira vez em um filme de Star Wars.

Quaisquer que sejam os outros problemas que o filme possa ter, o roteiro ao menos tenta genuinamente entregar um faroeste divertido que foi filmado com um filme de assalto repleto de ação e tiradinhas - e eu totalmente consigo imaginar isso nas mãos dos caras que fizeram o filme do Lego. Mas você não saberia disso pela da fotografia que às vezes é tão obscura que alguns cinemas precisam recalibrar seus projetores para exibir o filme corretamente. A história deveria ser animada e agitada, mas as cores desbotadas e os cenários escuros fazem com que pareça tão sinistro quanto a última meia hora de Empire Strikes Back.  Exceto por isso, de todos os filmes de “Guerra nas Estrelas”, este é o mais próximo de um filme de Sessão da Tarde jamais feito. 

E não espere mais que isso. Podia ter sido bem pior.
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