Em 1995 as séries de Super Sentai completariam 20 anos no ar, e para seu vigésimo aniversário a Toei tinha grandes planos. A ideia era fazer uma releitura/homenagem a primeira série do genero, Goranger. Com essa ideia na mente, foi criado Ohranger.
E embora a ideia pareça legal, inumeras coisas deram errado na produção dessa série. Em primeiro lugar, a formula de Goranger envelheceu mal: um "monstro do dia" sem um metaarco legal para os vilões já não colava mais em 94/95 (só pensar que Flashman vários anos antes já tinha um bigger plot por trás do "monstro do dia"), e aquela coisa de "líder vermelho e os outros sem muita personalidade definida" também não estava colando tão bem assim.
Mas o maior problema foi que o Japão deu uma abalada de bangu legal naquele ano. Em janeiro de 95 ocorreu um terremoto em Kobe que durou vinte segundos deixou mais de 6 mil mortos e danos equivalentes a 3% do PIB do Japão inteiro. Como desgraça pouca é bobagem, em março daquele mesmo ano um atentado terrorista realizado no metro de Tóquio por uma seita fanática religiosa matou doze pessoas e deixou mais de 6000 feridos.
O clima no Japão naquele ano foi bem pesado por conta daquelas coisas, e isso acabou refletindo bastante na produção de Ohranger que teve sua metade final deixada muito mais light na última hora porque a vida já estava dificil o bastante por lá.
O que foi um ato de sensibilidade da Toei, mas uma bosta em efeitos narrativos e Ohranger acabou uma série completamente desconjuntada. Não é de surpreender que amargue a pior audiencia de um sentai durante os anos 90.
Por esse motivo, para a série do próximo ano a Toei tinha um objetivo bastante claro: vamos divertir a galera, só que dessa vez esse vai ser o objetivo da série desde o começo e não mudando o foco na metade do segundo tempo como foi em Ohranger.
E com esse proposito em mente nasceu a série Super Sentai mais imbecil de todos os tempos: o "Esquadrão Acelerado Caaaaaaaaaaaaaarranger". Sim, se pronuncia assim mesmo.
Eu sei, eu sei, você deve estar pensando: ok, sentais tendem a terem coisas absurdas o tempo todo, então o quão MAIS absurdo pode ser uma série feita especificamente para zoar a coisa toda? Ora, bem, ESSE nível de absurdo:
Eu não sei cara, lamber a bunda da Zonnette sempre parece importante em qualquer momento...
Mas então, como exatamente isso funciona? Os escritores da Toei fizeram a coisa da seguinte maneira: vamos pegar todos os clichês das séries sentai e extrapolar para o mais absurdo que pode ser extrapolado.
Eu sei, a barra a ser superada é bem alta aqui, mas a resposta da Toei foi simplesmente dizer: "we dont set the bar, we are the bar!". E assim eles fizeram. O quão absurdo nossos Sheamus e Cesaros orientais conseguiram ser? Bem, me permita compartilhar o conceito inicial da série com vocês.
A terrível gangue dos baderneiros espaciais (sim, está certo isso) Bozoku (sim, de "Bozo", manja o palhaço?) gosta de destruir planetas porque eles viram fogos de artificio bonitões quando explodem. E a próxima vítima dessa complexa e profunda motivação é o planeta Hazard.
A boa noticia para os Hazardianos é que eles conhecem a antiga magia de tirar o poder das constelações de carros no céu, a CARROMAGIA. A noticia ruim é que eles parecem não saber como usar isso para se defender e o planeta deles vai para o vinagre - exceto por um único sobrevivente, o último filho de krypton Hazard chamado Dapu.
Por razão nenhuma maior do que a conveniencia universal, Dapu vai parar na Terra onde imbui 5 crianças que foram levadas para os confins do universo e após vinte anos jovens com o poder da CARROMAGIA concedido pelas constelações automotoras para serem os guardiões da segurança no transito, o Esquadrão Acelerado Caaaaaaaaarranger!
Embora normalmente eu costume exagerar as coisas que eu relato aqui apenas porque eu sou engraçadão pra caralho, dessa vez nenhuma liberdade poética foi tomada. Essa É a premissa de Carrangers, e daí a coisa só rola ladeira abaixo.
Acontece que os Bozoku querem destruir a Terra (ou "Ter-RA", já que eles pronunciam chikyuu como Chi-Q) BECAUSE FIREWORKS DUDE FREAKING FIREWORKS e para isso mandam toda semana seus mais excelentes homens... monstros... baratas... eu não sei. Para fazer isso nosso patéticos vilões se valem dos piores planos que já ousaram serem desfraldados em uma produção japonesa.
Sim, eu estou falando de um gênero onde o MacGaren tentou construir o Império dos Monstros fazendo as pessoas ficarem constipadas (e isso não foi feito em tom de galhofa, era sério esse plano), mas os vilões de Carrangers vão um passo além. Como por exemplo quando eles mandam o "Maestro número 1 dos Bozoku" para a Terra. Seu objetivo? Controlar todos os carros da Terra para que eles façam uma sinfonia de buzinas.
Tá, mas eu não entendi como isso exatamente vai ajudar a destruir a Terra...
Bem, o buzinaço vai incomodar os nossos vizinhos intergalácticos que virão aqui explodir essa bagaça para parar com a barulheira!
Ok... eu acho... mas não seria mais fácil simplesmente...
NÃO QUESTIONE A GENIALIDADE, ASSISTENTE! Mas sim, esse é o nível de genialiade com o qual estamos lidando aqui. Felizmente para a Terra, os Bozoku tem o ciclo de atenção de alguém que discute nos comentários de um portal de notícias e logo se focam em coisas mais relevantes como... roubar toda as melancias do Japão para fazer um festival na praia (comer melancia no verão é uma coisa muito tradicional da cultura japonesa) e eles pretendem fazer isso mandando o "matemático número 1 dos Bozoku" para fazer o dever de casa das crianças e ser pago com melancias.
Mais uma vez, nenhuma hipérbole foi usada aqui, ESSE é o nível de genialidade com a qual estamos lidando aqui.
Mas não pensem vocês que estes formidáveis vilões não encontrarão resistência, oh não! Pois nossos heróis estão completamente treinados e equipados para enfrenta-los e...
What. Da. Hay.
Tenho certeza que é só uma cena tirada de contexto e...
Eu... Eu... quer dizer, isso não faz...
Pois é, essa é a sensação de assistir Carranger. Com efeito, a coisa mais interessante da série é o quão absurda ela se propõe a ser e acredite: muito. MESMO PARA OS PADRÕES JAPONESES, Carranger é uma série completamente absurda.
Todos os elementos que compõe um sentai são elevados a um potencial de "o rly" sem precedentes. Desde os grandes, como os inimigos se transformam em monstros gigantes mas não devido a um "raio gigantizador" ou nada do tipo, e sim porque eles comem Yokan (um doce de feijão branco bem comum no Japão) artesanal e é essa a explicação, até os pequenos como... você já reparou que os heróis lutam desnecessariamente sem a transformação? É bastante comum os heróis em um sentai passarem um perrengue na mão dos inimigos antes de morfarem e lutarem de igual para igual because... sei lá, drama?
Bem, não aqui! Nossos heróis não tem o menor pudor em estarem sempre preparados para tudo, e eu quero dizer SEMPRE mesmo!
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| A cara da velhinha de "no meu tempo não tinha disso" é impagavel |
Ou então quando eles decidem simplesmente usar o robô gigante para pisar no monstro antes que ele cresça e os vilões protestam gritando "hey, isso é contra as regras!".
Lá pela metade da série ela assume um aspecto um tanto menos escrachado e tenta ser um sentai mais sério. Um grande vilão mau como um pica-pau surge, nossos heróis abandonam seus kartzinhos e adotam veículos mais descolados e até adquirem um novo mestre totalmente maneiro e repleto de sabedoria, o VRV Master!
Ou talvez não...
O ponto é que a segunda metade de Carrangers é com certeza ainda uma das coisas mais estúpidas que você verá em sua vida, mas não é nem de perto tão abilolada quanto a metade inicial - que é o que faz a série realmente se destacar. Isso quer dizer que temos menos sexualização grosseira da Zonette (cuja bunda ser lambida é algo sempre relevante), e menos trapalhadas do Signalman - o policial paladino espacial cujo amor pelas leis de transito só é superado pelo seu orgulho.
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| Zonette me representa! Alias, Rika Nanase era atriz pornô antes de Carranger, o que meio que explica como eles conseguiram uma japonesa que aceitasse esse tipo de tomada em um programa infantil |
.Outro problema é que sem a coisa do "WTF eu acabei de ver?", Carranger não tem muito mais a oferecer. Embora seja uma piada recorrente no show que os heróis não transformados são "unremarkable civilians" (mesmo quando eles se transformam a dois passos de distancia dos inimigos), e é uma boa piada se você parar para pensar na coisa da identidade secreta de heróis, também é uma bastante real. Não tem muito desenvolvimento de personagem além do que básico que você esperaria em uma série infantil, e eu tenho alguma dificuldade em lembrar de alguma característica deles - exceto que o Carranger verde parece uma versão japonesa do Joey de Friends.
As cenas de ação não são tão incriveis porque foi nessa época que a Toei começou a parar de usar dublês como protagonistas e sim atores "de estúdio", o que significa que nossos heróis quase não lutam sem estarem transformados (onde aí sim, dublês profissionais fazem as cenas sob as máscaras) mas mesmo assim as cenas não são muito boas.
O principal problema da ação é um que assola muitos sentais: o do "robô gigante protocolar", porque contratualmente a série tem que ter um um robo gigante para vender brinquedo mas suas lutas são muito desinteressantes. Não sei, talvez eu seja mal acostumado porque cresci vendo o Daileon dar golpes de wrestling, mas as lutas em Carrangers são bem fraquinhas.
Não por coincidencia as melhores lutas da série são onde algo absurdamente pateta acontece, como quando eles são ajudados pela irmã da Zonnette com seu carro-gato-robô ou várias lutas que envolvam o paladino paspalhão Signalman e seu mecha, o carro de policia gigante/robô Sirender (que tem um visual bem legal na verdade)
As cenas de ação não são tão incriveis porque foi nessa época que a Toei começou a parar de usar dublês como protagonistas e sim atores "de estúdio", o que significa que nossos heróis quase não lutam sem estarem transformados (onde aí sim, dublês profissionais fazem as cenas sob as máscaras) mas mesmo assim as cenas não são muito boas.
O principal problema da ação é um que assola muitos sentais: o do "robô gigante protocolar", porque contratualmente a série tem que ter um um robo gigante para vender brinquedo mas suas lutas são muito desinteressantes. Não sei, talvez eu seja mal acostumado porque cresci vendo o Daileon dar golpes de wrestling, mas as lutas em Carrangers são bem fraquinhas.
Não por coincidencia as melhores lutas da série são onde algo absurdamente pateta acontece, como quando eles são ajudados pela irmã da Zonnette com seu carro-gato-robô ou várias lutas que envolvam o paladino paspalhão Signalman e seu mecha, o carro de policia gigante/robô Sirender (que tem um visual bem legal na verdade)
Onde Carranger brilha em seu melhor é justamente no absurdo. Tem um episódio inteiro em que os Bozoku enfiam na cabeça que eles estão falhando em derrotar os Carrangers porque eles não tem um nome foda o suficiente, então ficam mudando o nome da gangue para um mais retardado que o outro. Apenas genial.
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| Palavras mais verdadeiras que essas sobre Carrangers jamais serão ditas! |
