Onde a magia acontece

[ANIMES] DOMESTIC NO KANOJO (ou a siscon como ela é)

| quarta-feira, 25 de setembro de 2019
... TO BE CONTINUED »
 

Desde o seu principio, o ser humano é atraído pelo fogo. Ou, mais precisamente, aqueles que não era morreram - é mais assim que a evolução funciona. O que faz sentido, o fogo nos protege do frio, de predadores, de topadas nos Legos pré-históricos e faz pipoca. Que coisa maravilhosa é o fogo!

Por isso que, mesmo hoje, ainda existe uma parte do nosso DNA que guarda esse mesmo maravilhamento pelo fogo que nossos ancestrais tinham. Onde haverá fogo, haverá alguém para assistir o formato mágico da dança das labaredas. E quando eu digo "onde houve", é literalmente em qualquer lugar. Mesmo que seja uma lixeira pegando fogo.

Como é o caso de Domestic no Kanojo (Domestic Girlfriend, em uma tradução literal, e Domekano, como é chamado pelos weebs descolados - se tal coisa existisse).

Quando eu assisti Eromanga Sensei, eu realmente achei que a humanidade havia chego no seu ponto mais baixo possível. Quer dizer, eu realmente não ligo para a coisa do incesto e, para ser sincero, não ligo para quase nada de nada. Isso sendo dito, quando eu terminei minha expressão era esta:


Eu vi coisas... coisas que nenhum otaku jamais deveria ver...

Mas bem, isso foi isso e alguns meses se passaram até eu tomar conhecimento de um anime chamado "Namorada doméstica". E, como todos humanos que são atraidos pelo fogo, eu me dispus a abraçar esta belissima lixeira flamejante. Deus, isso não tem nenhuma chance de dar certo, né?


Por que eu faço isso comigo mesmo... por que... mas, vamos lá...

Domekano tem a seguinte proposta: como muitos jovens mancebos, Natsuo Fuji é um garoto que tem um crush pela sua professora magumbuda. Como muitos garotos exceto eu, porque sério, eu te juro que todas as professoras que eu tive parecem ter saído de uma crusa do Takumi Katsuragi do Kamen Rider Build com o Eric Cartman, puta que o pareo, eu só me fodo nessa desgraça mesmo, taquopareo...



... mas enfim, como Natsuo não sou eu, a sua professora é uma tchutchuquinha dos peitão e ele adoraria meter uma extracurrícular aí. Igual a mim, no entanto, Natsuo tem tanta chance disso acontecer quanto o chocolate Lolo voltar e... como é que é, produção? O Lolo existe ainda? Mas que desgraça, até das coisas de reclamar eles tão me tirando, desgraça dupla!

Enfim, Natsuo tá lá de boas pensando em como seria incrivel saudar a beringela na sua profe quando do nada, absolutamente do nada mesmo, sem razão nenhuma, apenas porque foda-se esta merda com estrogonoffe velho, ele está dando um role com seus parças naqueles karaokes de salinha que os jovens japoneses adoram quando uma garota que estava por ali de bobeira convida ele pra dar uma carimbada na passoquinha dela.




Ela explica, não exatamente com essas palavras, que decidiu mandar ver no arpoador porque estava entediada e queria ver qual era a desse tal de sesquiçu, então estalou os dedos e pegou o primeiro trouxa que apareceu. Ok, essa parte eu achei realista, suponho que seria fisicamente impossivel o anime errar TODAS também, né?

Enfim, não que Natsuo tenha pedido muitas explicações: passoquinha grátis e de brinde Rui é uma garota de olhos vermelhos, cabelo azul e a capacidade emocional de uma pedra pome na prateleira do supermercado - ou seja, o sonho de todo mundo japonês desde a Rey Ayanami em Evangelion. Nota mental para quando andar pelo Japão: sempre carregar um jumpsuit branco consigo para situações como essa.

Depois de deflorada a margarida, Rui solta um "Meh, podia ter sido pior..." e vai pro seu canto. Natsuo, que não tem um range de expressões muito mais amplo que o dela realmente, não parece mortalmente ofendido com isso e vida que segue sem eles nunca mais se verem. Fixe.

... ou seria, não fosse que ao voltar para casa o pai de Natsuo o comunica que ele vai se casar novamente. Wow, bom pra você coroa, isso ae, desempoeirando o trezoitão, maneiro. Então o coroa de Natsuo decide trazer sua futura noiva e as filhas para conhece-lo, já que ele serão uma família sob o mesmo teto dali para frente. Natsuo não está particularmente empolgado com isso, mas não é como se ele tivesse algo contra também. Whatever, i do what i want.

Porém, qual não sua surpresa ao descobrir que suas novas "irmãs" serão ninguém menos que...



... sua professora-crush dos peitão e a irmã dela é a mocinha com flexibilidade emocional de um autista com frio com quem ele perdeu a virgindade! No Way! Quais as chances disso!?

...

Bem, é um anime, então eu diria que bem grandes. Seja como for, agora como uma nova familia feliz e serelepe, Natsuo e as irmãs Tachibana viverão sob o mesmo teto, aprontando altas confusões e mil e uma azarações dessa turminha do barulho!

... é ... enfim, a este ponto, existem dois caminhos narrativos que esse anime pode seguir: ir pelo lado harém anime, com absolutamente todo mundo - e todo mundo MESMO - que não tenha 26 cm de pinto se apaixonando pelo protagonista, muitas cenas de nudez acidental, toda rotina de sempre do "irmãos não relacionados por sangue" e muitas cenas da garota dizendo "baka!" antes de dar um socão nele...


... OU o anime pode ir pela linha full Nelson Rodrigues, repletos de relacionamentos destrutivos, socialmente inaceitaveis e moralmente provocante pela sua própria concepção. Relacionamentos proibidos mostrando o lado cão da vida. Alguma coisa entre "A Vida Como Ela É" e "Closer".

Qualquer um destes caminhos poderia ter funcionado. Domekano, no entanto, tenta fazer as duas coisas ao mesmo tempo. E é neste ponto que um caminhão tanque de alcool isopropílico tombou sobre a lixeira flamejante que esse anime é.

Antes de prosseguir, eu suponho que deveria esclarecer que não é nem que eu não gosto de romances: eu não entendo romances. Se duas pessoas se gostam, ou se uma pessoa gosta da outra e ela tem um porão com isolamento acústico, essas duas pessoas ficam juntas. Fim. Cabou. Eu não entendo como as pessoas conseguem complicar tanto com isso, mas então eu não entendo porque as pessoas fazem a maior parte das coisas que elas fazem. Até entendo, é porque elas são burras.
 

E das coisas que eu entendo menos ainda, certamente estão os triangulos amorosos. Sério, aí eu fico mais perdido que azeitona em boca de banguela. Como assim o fulano tem que "escolher" alguém? A troco de que? Porque não pode simplesmente ser todo mundo feliz junto e era isso? Neste caso, por exemplo, as irmãs Tachibana tem um ótimo relacionamento entre elas, porque é colocado como se Natsuo tivesse que "escolher" uma delas? 

Eu entendo que relacionamentos entre seres humanos são competições de poder glorificadas, e que a monogamia é só uma forma de dizer "você não pode fazer isso que te faria feliz e que não vai me afetar negativamente de forma alguma apenas porque eu tenho o poder de te fazer miserável e usarei cada gota disso apenas porque eu posso muahahahaha". Sei lá, eu sei que as pessoas são más apenas porque elas podem, ou eu não sei nada também, enfim.

A trilha sonora do anime beira o inexistente, mas kudos onde kudos são devidos: a música de abertura é muito boa

Isso honestamente não faz o menor sentido pra mim, mas vá lá, eu entendo como isso pode ser importante para os personagens e para a sociedade em que eles vivem, então eu consigo entender a narrativa. Entender não é o mesmo que sentir, mas depois de tantos anos rodando meu autistic half-show, é o que a casa oferece para hoje. É realmente cansativo ver o mundo como eu vejo, mas enfim. Por isso considere que para uma pessoa mais... aberta... as bizarrices dos relacionamentos humanos esse anime pode parece mais palatavel do que o foi para mim.

Enfim, vamos começar pelo lado Nelsonrodrigueano da coisa: Domekano tem, sim, algumas cenas muito pesadas e muito boas, que mostram "a vida como ela é" e não o bullshitizinho água com açucar padrão de anime.

A minha cena favorita do anime inteiro é quando Natsuo se declara para sua professora e ela responde com um bastante sincero "olha, você é um garoto, eu sou uma mulher adulta. Você acha mesmo que eu já não sabia disso? Se eu escolhi ignorar, tente entender o que isso significa". Aí então ele fica naquela aporrinhação adolescente de quem nunca pagou um boleto na vida mas acha que sabe como as coisas funcionam, fica cagando regra sobre como ela deveria viver a vida dela (aquele ponto Hina está tendo um caso com um homem casado) até que ela enche o saco e atira ele na cama e enfia a lingua na garganta dele.

"Pronto, taí, não era isso que você queria?". A reação do garoto é a reação que qualquer garoto no mundo teria:


A cena termina com ele sai correndo em panico com as mãos balançando para cima, porque ser adolescente é um grande estágio de não fazer a menor ideia do que significa walk the talk. Tipo aquela menina na ONU que virou meme falando do clima. Minha filha, vai administrar uma barraquinha de cachorro quente antes de achar que sabe melhor que os adultos como um país funciona...

Depois que fica sozinha no quarto, Hina cai no chão sozinha e começa a chorar do tipo "puta merda, o que eu estou fazendo com a minha vida...". Cara, isso é bom, isso é forte!

Enfim, o meu ponto aqui é que Domekano tem cenas assim. Fortes. Víscerais. Que mete o dedo na ferida sobre a vida como ela é, e como ter um relacionamento com a sua irmã mesmo que por afinidade (ou uma relação professora-aluno) não é esse passeio no parque que alguns animes dão a entender que é. Especialmente em uma sociedade firmemente calcada em rótulos e instituições mais do que em individuos, como a japonesa.

Eu especialmente gosto das cenas que o Natsuo e a Rui conversam no banho, porque ela ao invés de fazer o chilique tipico de anime, ela apenas dá de ombros e solta um "meh, não é nada que você já não tenha visto antes". Isso é bom, e eu realmente vejo esse anime funcionando investindo em mais momentos assim.



De fato, pelo que eu entendi o manga é bastante focado nesse aspecto, tem uma pega mais madura e realista de relacionamentos. Tanto que o autor do manga ficou publicamente pistola com a adaptação do anime, que decidiu que "maduro e realista" não venderia tantos DVDs quanto...

O SEU ANIME DE HARÉM DE SEMPRE!

O estúdio Diomedea (famoso por... hã... hm... o longa metragem do jogo freemium de browser de meninas-navio Kantai Collection?) achou que Domekano precisava de uma "apimentada" e transformou a coisa toda num haremzão de merda. Por algum motivo que transcende as curvas do tempo, do espaço e do quadril da TARDIS, além das irmãs Tachibana TODA E QUALQUER femea que aparece nesse anime quer desesperadamente ter sua passoquinha carimbada pelo Natsuo. E não é discretamente não, é haremzão do brabo mesmo!

Sério, a sensação que eu tive foi de estar assistindo uma Visual Novel que o protagonista faz todas as rotas ao mesmo tempo, porque nem se o filho da puta tivesse um pinto de chocolate que ejacula dinheiro ele seria tão popular assim! E olha que esse lazarento não tem nada de especial senão uma cara de songo!



E o pior que a coisa é tão mal feita, tão de qualquer jeito que a menina aparece, declara que quer ter sua passoca amassada pelo protagonista-kun, a Rui ou a Hina tem uma cena de ciumes, e a desinfeliz some da história, aparecendo apenas como figurante de fundo volta e meia! Teve uma que eu nem peguei o nome direito de tão rápido que ela desapareceu! Mas porra, aí vocês me afodancham o meio de campo seus nepomucenos!

Momo, por exemplo, tem o seu drama pessoal que as meninas da escola não gostam dela porque ela é muito fácil com os garotos. Aí o protagonista-kun é gentil com ela em UMA cena, e no mesmo dia ela decidiu que está apaixonada e quer levar salamito na cara. Eu não estou exagerando, é exatamente assim que acontece e com essa velocidade!



Nenhum dos personagens secundários tem qualquer desenvolvimento. Sempre que estão na tela, apenas desperdiçam tempo e espaço. É como se o anime esquecesse de desenvolvê-los e apenas os coloca em cenas genéricas de comédia, com algum drama leve lançado aqui e ali. A história é tão aleatória que é difícil dizer do que realmente se trata. 

E claro que todo esse cuidado especial de "anime de harem genérico" vaza para o plot principal de forma dolorosa. Como eu disse, algumas cenas chave são muito bem adaptadas do manga, mas 80% do tempo é apenas sofrimento de anime barato. 

Nós temos cenas com duas pessoas conversando casualmente, com o setup de hentai já lá para deixar claro o que vai acontecer a seguir (é dito claramente que os pais sairam, ou por algum motivo eles estão em um lugar com cama, ou algo assim). E, em raras ocasiões, veremos alguém espiando outra pessoa se masturbando porque ninguém nessa casa sabe fechar a porra de uma porta! Quem é que se masturba de porta entreaberta, pelo amor do Shinji Ikari?!



Se apenas o programa deixasse claro imediatamente que esses personagens estão com a bacurinha em chamas, então okay, mas não! É tratado como um profundo desenvolvimento do personagem e levado tão a sério que meu deus, dá uma puta vergonha só de lembrar. Amigo, admita que seu hentão é hentão,  não tente dizer que é um filme de arte europeu. Tudo é tão feito de qualquer jeito, as cenas não fazem sentido mesmo dentro desse cenário louco proposto. 

Em um momento Natsuo jura para Hina que ela é o seu crush e a razão da sua garibada no tictac diário, então na próxima cena ele está beijando Rui só porque ela pediu ... E tudo isso acontece com a porta aberta para que Hina possa assistir! MA PORCA MISERIA! PORCO DIO CAZZO! Por que ninguém nessa porra de casa sabe como fechar uma porra de uma porta ?!!



Sério, eu fico puto com essas coisas! De verdade! Por mais que eu zoe aqui, eu nunca assisto um anime deliberadamente ruim apenas pelo prazer dele ser ruim

VOCÊ ASSISTIU GHOST STORIES...

Por causa da dublagem! Que faz o melhor que dá para salvar aquele aterro sanitário em chamas!

... E EROMANGA SENSEI!

Acredite ou não, a parte do garoto tentando ser um escritor profissional não apenas é relevante aos meus interesses, mas é bem feita. Claro que ninguém vai lembrar disso no anime que ele incentiva a irmã de 10 anos a se isolar em casa, evita que ela receba ajuda com sua sindrome do panico e fica lewdiando ela, mas eu realmente esperava que desse certo... vendo o que eu escrevi isso parece fazer bem pouco sentido... mas enfim, Domekano tinha um potencial de ser algo bom, provocativo, inteligente! O manga certamente parece ser um uso muito inteligente da trope do siscon, mas esse anime consegue fazer tudo absolutamente errado!

Raios! Raios duplos! Raios azuis grená!

[ANIMES] DOMESTIC NO KANOJO (ou a siscon como ela é)

THE STORY SO FAR:   Desde o seu principio, o ser humano é atraído pelo fogo. Ou, mais precisamente, aqueles que não era morreram - é mais assim que a evo...
POSTADO EM:quarta-feira, 25 de setembro de 2019
With 0comentários

[FILMES] ROBIN HOOD: A ORIGEM (ou não foi apenas por 20 flechadas)

| domingo, 22 de setembro de 2019
... TO BE CONTINUED »


Se me perguntassem o que eu esperaria do ungentilhésimo filme do Robin Hood (tendo muitos outros ainda em produção), certamente a última coisa que eu diria é: "uma ideia original". Bem, acreditem ou não, o arqueiro dos tempos em que não existia saneamento básico mesmo para os ricos tem um filme com algumas boas ideias... mas isso é suficiente?

Todo mundo conhece a história de Robin de Loxley: ele era um nobre bretão que foi convocado para lutar nas cruzadas porque, hey, se matar por causa de religião sempre é uma boa ideia, e quando volta o xerife de Nottingham tomou sua fortuna e sua coleção de tazzos. Esse filme não faz nada diferente disso... até que a guerra começa. O grande truque aqui é que... o que são as cruzadas, em sua essência? Ora, ocidentais que falam inglês se metendo no oriente médio.

Agora... onde a gente já ouviu falar de uma coisa assim? Ah, é mesmo... apenas todo dia durante os últimos vinte anos!



A guerra que Robin luta é uma guerra moderna no oriente médio com snipers, granadas, muita poeira e pipoco de tiro arrebentando o cenário de guerrilha urbano. A diferença é que isso é reproduzido com a tecnologia da época. Quando o capitão diz para ele acabar com o sniper com a metralhadora na casamata para eles tomarem uma rua, o cara está usando uma besta repetidora, mas a mensagem visual é bem óbvia.



Soldados medievais ou tropa de choque da polícia do século 21? Pq não ambos? A moda de repressão do camarada Estado é atemporal!
ESSE é um caminho que eu realmente não esperava, usar a tecnologia da época para reconstruir cenas modernas é uma ideia realmente nova em se tratando de Robin Hood, afinal. Outro bom exemplo é que no final do filme tem uma cena de confronto da população contra a tropa de choque da polícia, com aqueles escudões, gás lacrimogênio e spray de pimenta, enquanto a população revoltada abusava de pedras e coquetéis molotov.

Então o conceito do filme tem boas ideias, e jogando suas cartas direito Hood Begins poderia ser um bom filme com criticas sociais em uma pegada revolucionaria sobre coisas erradas que estão aí desde a idade média. Certamente os créditos de abertura e encerramento do filme vendem essa ideia de que é assim que a coisas foram pensadas para rolarem...



... exceto que alguém esqueceu de avisar o diretor Otto Bathurst (em seu primeiro trabalho para o cinema, tendo dirigido alguns episódios de Peaky Blinders e Black Mirror antes) disso. Porque apesar do começo e do fim do filme, todo o grosso miolo da película de revolucionária, punk rock e anarquista não tem nada.

Tem muita pouco de qualquer coisa, na verdade. Dos seus 116 minutos de duração, pelo menos 90 são apenas um grande episódio de Arrow que por acaso é ambientado em Nottingham. Se você desse 100 milhões de dólares para a Warner fazer um episódio de uma hora e meia de Arrow, eu diria que o resultado seria bem parecido com o que vemos aqui.

Vê, Robin de Loxley é um nobre (que é o equivalente da época para ser um milionário hoje) que em eventos sociais senta a mesa com outros nobres de Nottingham, e durante a noite ele é misterioso bandido conhecido apenas como "Hood". O filme não faz nenhum esforço para tentar esconder que quer promover Robin Hood a um vigilante moderno e eu realmente fiquei esperando a hora que Robin diria a algum nobre que ele estava roubando que "ele falhou com essa cidade"



Não ajuda muito que isso não faça o menor sentido, no entanto. Afim de se infiltrar e ter acesso a informações privilegiadas, Robin compra as boas graças do xerife de Nottingham com doações (usando o dinheiro que ele mesmo roubou), mas por algum motivo que não faz sentido nenhum, em momento algum o xerife se pergunta da onde está saindo daquele dinheiro todo. Ora, se ele confiscou todos os bens da família Loxley quando Robin foi para a guerra, então da onde Robin agora está cagando dinheiro para doar? Da sua conta secreta na Suíça? Não faz sentido.

Claro que, como bom episódio de Arrow que tenta ser, o filme ainda é inchado por um romance mais forçado que qualquer coisa que a Warner já tenha conseguido pensar (sério, Robin e Marian só não ficam juntos BECAUSE DRAMA MUAHAHA, o filme sequer se esforça para dar um motivo).

Falando em Marian, é engraçado como o filme tenta fazer dela menos uma mocinha em perigo e mais uma mulher forte e independente para não soar tão rude as necessidades moderna... mas sem dar nenhum destaque a ela ou função relevantes. O filme meio que diz para ela "claro, você é super independente, forte e merece respeito... agora senta ali no canto até você pode ser útil aos homens que são os protagonistas aqui, tá bom?". O mesmo pode ser dito de John (Jamie Foxx), que luta melhor que o Robin, tem mais dedicação a causa, tem um conhecimento tático melhor, mas não é o protagonista porque... bem, todo mundo sabe o porque. DICA: se você não quer que o personagem negro seja o protagonista por qualquer razão que você não queira, NÃO faça ele ser melhor e mais capacitado que o herói do filme em todo e qualquer aspecto. Funciona melhor assim, acredite.
Quase me senti assistindo um episódio de Glee, mas enfim...

E, ainda falando sobre o bando de homens alegres de Robin, quanto menos se falar sobre Will Scarlett e seu arco de personagem completamente incompreensível, melhor.



Porque todo mundo sabe que ser um líder sindicalista é uma forma muito pouco eficiente de se obter riqueza e poder político e... oh, espera...
Esse péssimo uso do roteiro acaba fazendo com que quase todas as ideias de usar figuras modernas sob a roupagem da época (que são boas!) acabem sendo pessimamente executadas. Seja o próprio “Rob” (como um tiozão tentando ser descolado, ele insiste em ser chamado assim) fazendo um discurso para falando sobre “redistribuição de riqueza”, as alusões sobre abusa dentro da Igreja Católica (da qual o xerife é uma vítima), ou o xerife de Nottingham usando frases do George Bush e Donnald Trump, Robin Hood tenta muito de ser subversivo, porém acaba soando apenas como aquele adolescente que critica o capitalismo mas vai todo dia para a universidade na Hilux do papai.

Como eu disse, usar elementos modernos em um cenário medieval para mostrar o que tem de errado com a nossa sociedade hoje é uma ideia muito boa, mas ela tem que ser executada com um mínimo de competência - e esse nível de qualidade é alguma coisa acima do nível de "série da Warner". Robin Hood não é um bom filme como critica social. Ou um bom filme de Robin Hood. Ou um bom filme.

[FILMES] ROBIN HOOD: A ORIGEM (ou não foi apenas por 20 flechadas)

THE STORY SO FAR: Se me perguntassem o que eu esperaria do ungentilhésimo filme do Robin Hood (tendo muitos outros ainda em produção ), certamente a últ...
POSTADO EM:domingo, 22 de setembro de 2019
With 0comentários
TAGS:

[GAMES] MOMODORA: Reverie Under the Moonlight (ou Praise the giant boobs!)

| sexta-feira, 20 de setembro de 2019
... TO BE CONTINUED »


Em 2009, a então desconhecida (no ocidente) produtora japonesa "From Software" lançou um jogo exclusivo para PS3 que mudou para sempre a história dos videojogos. Era um jogo de ação, porém extremamente tático que levava muito em consideração a fisica do personagem, adicionando coisas como o peso e tempo de execução do movimento no fluxo do combate.



Esse jogo não era diferente apenas no sistema de combate, entretanto, ele também tinha uma forma totalmente sua de contar sua história através do cenário e não através de dialogos ou cutscenes. Andando pelos lugares lovecraftianamente abandonados do reino de boletária você tinha a sensação de que uma história definitivamente tinha acontecido ali e que você apenas chegou tarde demais.

Esse jogo tão revolucionário e único se chamava Demon's Souls, embora tenha ficado mais popular pela sua continuação Dark Souls. Na verdade, esses jogos ficarão tão populares que se tornaram um genero a parte - justamente chamado de "soulslike", com todo mundo querendo tentar uma casquinha do que a From Software criou. Alguns tiveram menos sucesso (como o Nioh da Team Ninja) e outros tiveram mais sucesso (como o Monster Hunter World, da Capcom).

Muitos outros jogos também também tentaram exportar elementos da série souls para outros generos, e dentro disso, como não podia faltar, existem aqueles que tentaram fazer um "Dark Souls 2D". De todas estas tentativas, acredito que o mais se aproxima de conseguir desconstruir os elementos que fazem a série Souls ser o que é,  é justamente este metroidvania indie que está em sua terceira continuação: "Momodora: Devaneio Sob o Luar".

Embora seja o quarto jogo da série, este Momodora é na verdade uma prequel que se passa antes dos outros jogos (SIM, É ISSO QUE PREQUEL SIGNIFICA!) e você não joga com as protagonistas Momo e Dora que dão nome a série, e sim com a sacerdotiza Kaho que usa uma folha de mapple com arma.

Sim, se você sempre achou que o que faltava na sua vida é a heroína mais canadense de todos os tempos, bem, este não é mais o caso.


A primeira coisa que chama atenção a respeito de Momora é, obviamente, seu visual. O jogo é todo feito cuidadosamente em pixel art, o que quer dizer que seus produtores sentaram a bunda na cadeira e desenharam pontinho por pontinho os sprites para quem fosse o mais kawaii e fluído possível - no que eu acho que eles tiveram total sucesso.


Tudo é tão expressivo e transmite a dedicação com o que foi feito que não tem como não admirar esse jogo pelo que ele parece. Ok, isso é uma coisa boa a respeito dele, mas e sobre o jogo em si?

Como eu já tinha dito antes, aqui você joga com uma sacerdotiza chamada Kaho que viaja para esta cidade para ter audiência com a rainha, para pedir que ela faça alguma coisa a respeito da maldição que consome todo o reino - acaba que, pouco surpreendentemente, a própria rainha é a origem da maldição então cabe a Kaho dar folhadas purificadoras nela até o encosto sair ou ela morrer, o que vier primeiro. Essa foi uma sentença bem estranha de se escrever.

Sua folha de mapple pode ser usada para um combo de três hits, ou você pode usar um arco para atacar a distancia (porém mais fraco que a arma corpo-a-corpo). Os inimigos batem forte, e você tem um item de poção que pode recuperar um pouco do seu HP durante o combate ao custo de ficar parado alguns segundos. Porém a verdade sobre a dinamica do combate, e aqui é o ponto que eu levantei no começo do texto, remete muito a série Souls.

Você nunca pode abrir seu caminho a força e tratar cada tela mais como um puzzle do que como um jogo de ação. O seu posicionamento é muito importante, assim como ter noção do timing que os seus ataques levam e os ataques dos oponentes duram. Outra mecanica muito importante é a de rolar tanto para se reposicionar quanto para escapar dos ataques.

 Ora, isso de rolar, conseguir um tempo para beber a poção e saber a distancia e tempo dos seus ataques e ataques dos adversários nada mais é do que uma rendição 2D da mecanica soulslike, e a sensação de jogar é bastante similar, apenas que em pixel art.

 

Existem também debuffs como poisoned ou cursed (que te impede de usar itens) assim como em Dark Souls também. Outras características herdads da série souls são que conforme você avança no mapa, você pode desbloquear atalhos para tornar a jornada mais curta e claro, como não podia faltar tem também os sinos que funcionam como as fogueiras - salvando o jogo e recuperando seu hp.

A nivel de level design, Momodora pode parecer um metroidvania - todas as areas do mapa são acessíveis e você pode ir e voltar a qualquer parte, mas não parece exatamente como um.



Agora, a coisa mais comumente associada a série Souls é, obviamente a dificuldade. E nesse aspecto Momodora é um jogo muito dificil. Tipo muito MESMO. Tipo eu realmente recomendo você jogar no easy, eu não estou brincando. E esse talvez seja o aspecto que Momodora tenta se inspirar em Dark Souls e menos tem sucesso.

Dark Souls é dificil, sim, mas não da forma que as pessoas pensam. É um jogo que exige que você leve cada luta a sério, exige paciencia e avançar com cautela - você não pode só rushar os minions até o boss. Eu senti que este jogo tentou fazer a mesma coisa, transformando cada tela em um puzzle - só que como o jogo é um jogo 2D, exige muito mais habilidade manual do que Dark Souls e isso acaba fazendo o jogo cansativamente dificil. Sério, jogue no easy.


 Em seu level design, Momodora poderia ser descrito como um metroidvania... mas não exatamente.

A coisa de um metroidvania é que enquanto o mapa PARECE totalmente acessível desde o começo, você precisa conseguir power-ups que dão novas habilidades (pulo duplo, dash no ar, quebrar rochas) para desbloquear o acesso a estas areas. Momodora não funciona assim: todo o mapa está totalmente acessível desde o começo e você pode enfrentar cada um dos chefes na ordem que desejar e enquanto você ganha alguns power ups, eles são marginais e não interferem muito com a sua experiencia de jogo.

Especialmente no fluxo do combate a sensação que você tem no começo do jogo é muito similar a do final, e essa falta de variedade e não escalonamento de poder é um aspecto que conta contra o jogo. O que, entretanto, é um problema menor do que poderia ser dado que o jogo é relativamente curto. Se fosse um jogo longo, aí sim não ter uma evolução palpavel seria um problema bem sério.



Por último, eu gostaria de falar sobre a história do jogo e, como você já pode imaginar, voltaremos as referencias a Dark Souls. Como eu já tinha dito antes, Momodora é sobre uma sacerdotiza que vai procurar uma audiencia com a rainha para que ela faça algo a respeito da maldição que tomou conta do reino, apenas para descobrir que a própria rainha é a origem da maldição.

Contemple, bruxa do decaimento! Seu vil plano maligno ruirá perante a temível e lendária FOLHADA DE MAPPLE NAS TETA! ... sim, é sério isso. Mesmo.
Mas a coisa desse jogo é que em nenhum momento é dito O QUE, exatamente, essa maldição é ou que ela faz, especificamente. O que poderia ser um sinal de preguiça e desleixo por parte dos criadores, na verdade é usado como uma ferramenta de dar bastante liberdade na construção da atmosfera do mundo.

O tema de Momodora é o desespero e a danação. Eventualmente você encontrará NPCs procurando a pessoa amada que desapareceu ...


... apenas para encontra-lo mais para frente.


Coisas parecidas acontecem algumas vezes, você nunca tendo certeza do quanto (ou se) a maldição teve haver com isso. De qualquer forma, Momodora não é um jogo que você pode ajudar ninguém a respeito do que aconteceu, o melhor que você pode fazer é impedir que aquilo volte a acontece.

Essa é bastante a tonalidade da série Souls, como um todo. Durante suas jornadas por Boletaria, pegando Demon's Souls como exemplo, você encontra algumas histórias de sofrimento, loucura e perda. E não tem nada que você pode fazer por aquele reino (bem, nada senão terminar com o sofrimento de algumas pessoas com seu espadão) senão resolver a raíz do problema para que aquilo pare de acontecer. Mas o que já foi, já foi.

Isso gera uma atmosfera bastante depressiva e pesada, e eu realmente acho que Momodora consegue absorver e executar, a sua própria maneira, esse mesmo conceito. Ainda neste tópico, outra ideia que Momodora usa da série Souls é a coisa de mostrar pedaços do lore do jogo através das descrições dos itens:



O genero Souls da From Software é um dos grandes marcos da história dos videogames, e obviamente que muita gente tentou copiar a formula. Porém não foi a saída fácil que o modestissimo estúdio Bombservice escolheu, eles realmente entenderam o que faz um soulslike ser um soulslike, descontruíram o genero e reconstruíram em um metroidvania 2D espetacularmente animado.

Isso é algo que eu definitivamente posso apreciar. E bosses que se derrota espancando peitos do tamanho de carros, é, eu posso apreciar isso também.
https://youtu.be/3KKT-xv_VBY?list=WL&t=306

[GAMES] MOMODORA: Reverie Under the Moonlight (ou Praise the giant boobs!)

THE STORY SO FAR: Em 2009, a então desconhecida (no ocidente) produtora japonesa "From Software" lançou um jogo exclusivo para PS3 que mudou pa...
POSTADO EM:sexta-feira, 20 de setembro de 2019
With 0comentários

[DOCTOR WHO] O 7o Doutor (ou quando... oh deus... deus...)

| quarta-feira, 18 de setembro de 2019
... TO BE CONTINUED »

Ao longo de toda sua história, Hollywood já fez muitas coisas estúpidas. E eu quero dizer muitas MESMO, incluindo o filme de Tom e Jerry e o episódio piloto do reboot de Doctor Who em 1996 (mais sobre isso em breve). Entretanto, de todas as coisas moronicas que já sairam do bosque sagrado, eu firmemente acredito que uma pode ser elencada como a mais estúpida, imbecil e adultodesouthpark que qualquer um já fez.

E isso seria romantizar o cancer.

Ok, ok, eu entendo. Sério, eu realmente entendo. Vocês precisam de uma doença mortal, incurável (mas com uma esperança de tramento) mas não tão incomum assim (não como uma sindrome de Marfan, por exemplo), e que permita a pessoa morrer lenta e pacificamente enquanto vai perdendo suas forças de uma forma gentil. De um ponto de vista narrativo, é perfeito. É poético, é elegante, é bonito.

E... é tudo que morrer de cancer não é.

Sério caras, vocês já viram alguém com estágio terminal de cancer? Não é nada como isso:


... parece muito mais com isso:

Turma do cancer de 43
Não tem nada de bonito, pacifico ou poético nisso. É horrível e deprimente, e não de uma forma "filme triste de doguinho". As celulas do seu corpo não só param de fazer o que elas deveriam estar fazendo (PROTIP: você quer que as celulas do seu corpo façam o que elas deveriam estar fazendo), como elas crescem desordenadamente, as vezes comprimindo partes internas do seu corpo que não foram feitas para serem comprimidas. Não é incomum uma pessoa com cancer sentir dor o TEMPO INTEIRO, você faz ideia do que é sentir dor cada e todo instante DO RESTO DA SUA VIDA?

Não é nada bonito.

Isso sem falar que o tratamento é quase tão agressivo quanto a própria doença. Como não tem muito o que se possa fazer a respeito de celulas do seu proprio corpo que viraram full MST, a melhor coisa que conseguimos pensar foi em fritar todo mundo com radiação. Isso é o equivalente a jogar uma bomba na sua casa para se livrar de uma infestação de baratas. Assim, claro que muitas celulas que não são cancer acabam sendo destruídas por RADIAÇÃO e eu não preciso estressar o quanto isso faz mal para a pessoa.

Oh, se ao menos tivessemos um jeito de rapidamente substituir as partes afetadas pela radiação por novas, permitindo assim o tratamento ser mais agressivo e eficiente sem matar o paciente... oh, se ao menos existissem celulas capazes de se transformar em qualquer tipo de tecido que pudessem fazer essa função... mas não, temos que respeitar é claro a PORRA CONGELADA (e não é xingamento agora, estou literalmente falando de semen mesmo) que IA SER JOGADA FORA porque santidade da vida derp derp derpity derp derp... religiosos escrotos de merda, pra mim se você acredita nessas merdas ou você é um completo retardado com a inteligencia de uma caixa de pregos, ou você tem a maturidade emocional de um babuíno em chamas. Em ambos os casos, eu não tenho o minimo respeito por você...

RESPEITO SEU ARROUBO EMOCIONAL DE ADOLESCENTE ATEU REVOLTADO, MAS ISSO TEM UM PONTO?

Claro que sim! Eu to puto, não tá vendo?

DEVERAS. EMBORA DESCONFIO QUE VOCÊ ESTEJA MAIS REVOLTADO COM A PROIBIÇÃO DE EXPERIENCIAS GENÉTICAS EMBRIONÁRIAS PELO DESENVOLVIMENTO DE CATGIRLS DO QUE POR SE IMPORTAR COM PESSOAS COM CANCER.

Cyberlolimaidcatgirls para uso doméstico. sim.

SUSPEITEI DESDE O PRINCIPIO. ENTRETANTO EU ME REFERIA A COISA DO CANCER, ISSO TEM ALGUM PONTO REALMENTE?

Incidentalmente, tem. Então, o meu ponto aqui é que acompanhar alguém que você ama morrer de cancer ao longo de meses, as vezes anos (nem me deixe começar sobre eutanasia, religiosos babacas asquerosos...) é algo devastador para quem fica também. Eu diria que passar por isso é o equivalente a voltar da guerra, você viu horrores ocorrendo a um ser humano que ninguém em momento algum deveria ver - com a diferença que não é com um fratboy randomico que você acabou de conhecer, mas com alguém que você ama.

NÃO ACHO QUE SERIA MUITO EFICIENTE MANDAR APENAS PESSOAS CEGAS PARA A GUERRA.

O que... não, eu... que?! Enfim, meu ponto é que você sai dessa experiencia um farrapo humano. É desgastante, é pesado, é algo que impedirá que você volte a ser quem você era antes disso até o fim dos seus dias.

TÁ, ENTENDI. MAS... O QUE DOCTOR WHO TEM HAVER COM ISSO? ESSE NÃO ERA UM TEXTO SOBRE O SÉTIMO DOUTOR?

Sim. E é. Eu estou contando essa história toda porque ver a série clássica de Doctor Who terminar desse jeito é EXATAMENTE essa sensação que fica em você.

OH...

Oh, indeed. Não foi nada bonito.

Como eu já tinha escrito sobre o 6o Doutor, a este ponto da sua história Doctor Who já era nada senão uma enorme carroça repleta de esterco em chamas. Havia uma coisa e uma coisa apenas lutando para manter esse show assistivel e funcionando, e essa coisa era a atuação inspirada e até mesmo heroica de Colin Baker que fazia milagre com os pedaços de bosta que lhe eram entregues como roteiros. O homem que foi o Doutor quando era impossível acertar.


Entretanto, todas as histórias heroicas de resistencia um dia chegam ao fim. Tal qual o rei Leonidas e seus 300 soldados detiveram inacreditavelmente um milhão de inimigos durante três dias e três noites, no fim todos acabam morrendo.

Ao final de 1987 Colin Baker foi demitido sem ao menos ter direito a uma cena de regeneração, e com isso a BBC finalmente se livrou da ÚNICA coisa que mantinha Doctor Who em pé. Daí pra frente é apenas choro e ranger de dentes.

Eu não estou brincando quando eu digo que as duas (dolorosas) temporadas de Doctor Who de 1988 e 1989 são a pior coisa que já em uma série de televisão. Ok, isso e Friends, vá lá. E as séries de super-heroi da Warner. E em 2012 o Rob Schneider ganhou uma série, que eu nunca vi mas nem preciso para dizer que é algo que deporá contra a humanidade quando as máquinas nos julgarem.



Ok, agora tal qual a equipe de limpeza depois que um tornado repleto de laminas passou pela ala de queimados leprsos de um hospital, eis a pergunta: por onde eu começo?

Bem, a primeira e mais blatante coisa que há para ser vista é o próprio Doutor. Vê, ao longo de quase trinta anos de show, a BBC já tinha tentado muitas coisas com Doctor Who, algumas melhores e outras piores, mas eu nunca vi eles tentarem o Doutor não ter uma personalidade antes.

Porque não tem muito o que dizer sobre o personagem de Sylvester Mccoy, dado que não há nada realmente a ser dito. O que eu posso dizer que eu absorvi desse Doutor é que ele está sempre sem paciencia para nada, acha tudo um saco e é deliberadamente mau. Além de ser um Gary Stu invencível que sempre sabe de tudo desde o começo e nunca precisa se esforçar por nada.



O Doutor costumava ser que um andarilho no espaço e no tempo, que silenciosamente se afastou de seu próprio povo em uma velha TARDIS quebrada e ajudava como podia, muitas vezes sem saber como e improvisando no meio do caminho. A este ponto da história, entretanto, temos que acreditar que, ao sair, ele armazenou todas as maiores armas dos Time Lords, caso precisasse delas para cometer genocídio contra os Daleks, Cybermen, etc. O que ele não hesita em faze-lo, é claro.

Deixa eu dar só um exemplo do quão ruim as coisas são: de alguma forma ele selou uma das armas mais poderosas de Gallyfrey, A estátua de Nemesis (uma arma inteligente e com consiencia própria, um conceito que seria executado decentemente apenas em The Day of the Doctor), a transformou em um cometa e a enviou em uma órbita que a devolvia à Terra a cada 25 anos. Eu sei lá porque, mas enfim.

Cada vez que o cometa passava, causava desastres: em 1913, às vésperas da Grande Guerra, em 1938, na véspera da Segunda Guerra Mundial e em 1963, no assassinato do Presidente Kennedy e assim ao longo da história. Vamos recapitular: o Doutor desencadeia uma arma que causa as duas maiores guerras da história e o assassinato de um político respeitado, depois atrai os Cybermen à Terra para matar ainda mais pessoas, tudo para que eles remontem a Nemesis e o Doutor a use para genocidar os Cybermen - mesmo com a arma implorando para ser livre e não ter que matar mais ninguém, ao que ela foi respondida com um "aham, senta lá, Claudia" pelo Doutor.

Isso é horrível! Isso é pavoroso! Isso é a coisa menos Doctor Who que eu já vi na minha vida!



No último arco (ufa) desse sofrimento, o Doutor está preso com o Mestre e um bando de civis inocentes em um planeta condenado a explodir. O Mestre então diz que o Doutor deve ajuda-lo a sair dali e salvar a sua vida, e obviamente o Doutor pergunta porque ele deveria faze-lo.

O que vocês acham que acontece em seguida? O Mestre ameaça os civis e os usa como moeda de barganha para conseguir a ajuda do Doutor? Bem, se você pensa isso... você obviamente conhece e se importa mais com Doctor Who que a BBC em 1989. O argumento do Mestre é que o Doutor precisa ajuda-lo para salvar a própria pele, pau no cu de quem tá lendo, pega e sai correndo. E é isso, ele concorda pra salvar a si mesmo e foda-se todo o resto!

Não! Não, não, não! Mil vezes ectoplasmicas não, não é isso que o Doutor faz não importa qual regeneração seja! Duas mil, três mil vezes não! Um milhão de vezes não!


Não apenas a ideia de um Doutor manipulador, cruel e que não liga para ninguém além dos seus próprios caprichos é fundamentalmente errada, como ela é porcamente executada. Vê, para fazer uma personagem Mary Sue funcionar você precisa que ele seja incrivelmente carismática para compensar a falta de desafio e a Deus Ex-Machinidade de tudo que ela faz.

O melhor exemplo disso é o Giorno Giovanna de Jojo's Bizarre Adventure. Ele é invencível e sempre tem um plano para tudo mesmo antes da luta começar, mas isso não realmente é um problema porque ele é tão divo e fabuloso que você abraça sua marysuidade como algo positivo. O mesmo pode ser dito da Bayonetta, ou do Sakamoto. Entretanto é preciso uma enorme dose de talento e SABER O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO para fazer um personagem assim funcionar. E desnecessário dizer que não havia nenhum Hirohiko Araki escrevendo para a BBC naqueles dias.

Neste caso, para que o cenário "o Doutor é o Campeão do Tempo" funcione, você precisa de um Doutor com o carisma o suficiente para torná-lo crível. Que foi EXATAMENTE o que foi feito muitos anos depois com o David Tennant, só que com o arco de desenvolvimento de personagem correto e um ator MUITO bom e a conclusão adequada, com o climax sendo o Doutor percebendo o que a sua hubris estava fazendo com ele. Da pra fazer, foi feito, mas nenhum destes elementos estava presente em 1989.



O roteiro é uma desgraça (mais sobre isso daqui a pouco), não existe um ponto aonde se quer chegar com isso, e talvez mais importante de tudo, Sylvester McCoy não é NEM DE LONGE um ator bom o suficiente para carregar uma atuação dessas nas costas. E mesmo que fosse, ainda sim não teria os ensaios e o suporte da direção para ajuda-lo com isso.

Desculpe, mas o Doutor ver a arma que ele trouxe para a Terra chacinar pelo menos 20 pessoas e apenas soltar um "E não tivemos problemas com o protótipo" não serve para mim. É mais do que eu posso aceitar.

Então, essa era de Doctor Who tem um conceito muito ruim - que precisa de uma qualidade enorme do ator, roteiro e direção para funcionar - que só consegue ser ofuscado pelo quão pior ainda era a execução disso tudo.

Rikka, oh, Rikka. Pelo amor da pintura azul da TARDIS, como essa série foi mal feita. Se ver um Doutor sempre rabugento e mesquinho é ruim, ver isso quando os atores não tinham tempo para ensaiar e um EPISÓDIO INTEIRO dos quatro era cortado porque ficou ruim demais, é de doer na alma.

Tradicionalmente os arcos de Doctor Who eram 4 episódios de 20 minutos, mas mais frequentemente do que seria aceitavel (e ZERO seria um numero de vezes aceitavel), os arcos eram de 3 episódios não porque eles eram escritos assim, mas porque o material ficava tão ruim, tão ruim que a BBC preferia tirar 20 a 30 minutos de cenas gravadas e tentar emendar de algum jeito na edição.

Adivinhe se eles conseguiam...



Ghostlight é o melhor exemplo disso: o conceito dessa história é muito, muito bom. É sobre um alien que é mandado para a Terra para catalogar TODA a vida nesse planeta, só que quando ele termina seu trabalho a evolução já tinha mudado todas as coisas e ele fica puto de ter todo aquele trabalho em vão - ao que ele decide então "FODA-SE ESSA MERDA" e apenas petrificar toda vida na Terra porque, né, falta de respeito pelo trabalho dos outros. De alguma forma ele é detido pelos nativos da época e fica em sono até os dias de hoje, quando despertara para acabar com essa putaria de evolução e estabelecer o diabo do respeito de novo, tão pensando o que?

Ok, é um conceito bem legal, um negócio até um tanto Douglas Adams. O problema é que assistindo o episódio você não vê nada disso. A sensação que você tem é de estar assistindo uma peça de teatro conceitual onde os produtores apenas deram uma olhada bem de cima na pagina da Wikipedia da Ilha do Dr. Mureau e Rock Horror Show.  Sabe quando uma obra tem dialogos tão desconexos que sequer parece que os personagens estão falando um com o outro?

Ghostlight são três episódios disso (que deveriam ser quatro).



O Doutor e sua companion estão presos em uma mansão vitoriana... por algum motivo... que é um tipo de asilo... onde outro tipo de empregados assumem a noite... mas durante o dia está tudo normal... quando a jovem mocinha vitoriana está explicando sobre o Doutor da mãe dela. Ela então abre a gaveta de uma comoda e tem um CARA dormindo ali dentro! Um cara dentro da gaveta, como de necrotério, sabe?

O Doutor e sua companions vem isso, ninguém comenta nada e a conversa continua sobre um assunto inteiramente diferente e não relacionado com o anterior. E é isso! Se descrevendo isso não faz o menor sentido, assistindo a única sensação que você tem é que eles tiraram paginas do script aleatoriamente - o que, a este ponto, não é algo que eu duvido.

Dizer que as histórias são ruins é um exegero, porque sequer histórias elas são! São falas aleatórias que não se conectam com nada, com sentido nenhum. Sem mentira nenhuma que eu esperava o Doutor começar a declamar coisas como "Chuva... Cebolas... o mar caspio bate contra o rochedo, pois a luz ecoa na alma do passaro!". Se você sempre quis ver como são duas temporadas de uma série escrita por alguém no momento que essa pessoa está tendo um AVC, essa é a oportunidade de uma vida.



E ajuda muito pouco que a atuação de Sylveste McCoy nesse show de horrores experimental seja esquecível no seu melhor, e canastrona no seu pior. E não um canastrão divertido, que tem noção do quão tosco ele está sendo e se diverte com isso como o Terceiro Doutorp, mas um canastrão ruim tipo ruim mesmo.

Quando um ator não é muito bom, ou ele pega um personagem que ele sente que não dá para tirar nada dele, ele usa o que se chama no teatro de "muletas de atuação". O ator dá ao personagem alguma caracteristica aleatória apenas para ele ter algo com o que trabalhar. O ator pode decidir interpretar o personagem gago, ou manco, ou com algum TOC especifico - qualquer coisa que não estava no roteiro e o ator inventou da cabeça dele. Neste caso, o Doutor de Sylvester McCoy pronuncia os R's como o pior imitador do Galvão Bueno de todos os tempos.


Isso é culpa do Sylvester McCoy, especificamente? Estaria quebrado o mantra de que a BBC nunca escalou um ator ruim para ser o Doutor? Hmm, eu não acho que seja o caso realmente. Quer dizer, o Sylvester McCoy é um bom ator, ele consegue ser uma das poucas coisas realmente boas no banho de salmoura gelada que é o filme do Hobbit!


Não, ele não é um ator desprezível, o que eu firmemente acredito é que a direção não deu NADA para ele trabalhar. E quando eu digo nada, é nada de nada mesmo! Sem mentira, em momentos aleatórios ele começava a fazer truques de mágica ou batucar com colheres porque não tinha NADA para fazer com o personagem na tela. Eu sei a diferença de quando o Doutor está sendo apenas excentrico e quando o ator está mais perdido que Adão no dia das mães!

Verdade que ele não carregou o show nas costas sozinho como o Colin Baker fez, mas não fazer um milagre não quer dizer que você seja mediocre.

E mais ou menos o mesmo pode ser dito da sua companion, Ace. Sophie Aldred claramente fez o melhor que pode com a personagem, mas a verdade é que não tinha muito com o que ela trabalhar realmente. Veja só: o Doutor conheceu Ace no futuro quando ela trabalhava como garçonete em um planeta do outro lado da galaxia. Ok.



Aí, em outro arco passaram a trata-la como se ela fosse do presente. Certo. Então, ela passou a não apenas ser dos anos 80, como tinha uma experiencia traumatica em um orfanato chamado Perivale. Tá bom. Então, Ace agora não era mais órfã, ela apenas fugiu de casa porque algo terrível aconteceu. Tá. Outro arco mais pra frente Perivale deixou de ser um orfanato e agora era uma cidadezinha bucólica, e Ace não tem mais experiencia traumática nenhuma, ela apenas estava entendiada.

Ah mas vão se foderem, porra! Escrevam a merda do backstory da personagem ANTES de começarem a gravar os episódios, e não mudem TODO ARCO da onde ela é, de quando ela é, e o que aconteceu no passado dela!

Eu sei que Doctor Who já tinha dado uma rateada assim antes (Turlough era um companion do quinto Doutor que começou como humano e depois a série decidiu que agora ele era alien), mas foi UMA vez, não toda maldita semana. TODO FUCKING ARCO! Mas que desgraça!

Bem, pelo menos aqui Ace é tratada como uma criança e não é sexualizada selvagemente, porque tudo que faltava era Doctor Who ser sobre as tetas da companion DE NOVO, mas era só o que faltava mesmo!

Não, sério, esse é o boneco oficial da Peri...

Pelo amor de Rassilon, como nós chegamos a este ponto? Como as coisas regrediram tanto? Doctor Who começou em 1963 como uma série muito a frente do seu tempo! As mulheres eram tratadas não apenas com respeito, mas com protagonismo e autosuficiencia! Os monstros, meu deus como os monstros regrediram!

Em 1963 Sidney Newman era radicalmente contra colocar monstros "de sci-fi toscos" em sua série, e Verity Lambert convenceu ele criando monstros com um simbolismo, com uma mensagem - no caso, aliens que já foram pessoas um dia mas escolheram se fechar dentro de armaduras de ferro e odiar tudo que não fosse igual a eles, uma mensagem bastante poderosa ainda nos dias de hoje. Doctor Who não tinha orçamento, mas ao menos eles tentavam fazer monstros criativos, que significassem alguma coisa!

Quando a saúde de William Hartnell foi se deteriorando, eles tiveram que ser mais criativos ainda para criar monstros que o Doutor pudesse enfrentar sem grandes correrias, mas através de dialogos! É assim que Doctor Who nasceu, é isso que a série foi durante 24 anos! Mas agora não, os monstros na série são apenas animais sem inteligencia que tem que ser derrotados e...

E O KANDYMAN?


Eu... eu desisto. Sério, pra mim chega. 

Ver Doctor Who se degradar nessa espiral de mediocridade e dor é mais do que eu posso aguentar. Como alguém que está dormindo na sala de espera do hospital pelo terceiro mês seguido para fazer companhia a alguém que você ama, eu realmente quero apenas que isso termine e eu possa ir para casa recomeçar minha vida.

Não restou nada de Doctor Who em Doctor Who, então não faz sentido continuar usando esse nome.

E foi exatamente o que foi feito. Em 6 de dezembro de 1989 ia ao ar a terceira parte de (ironicamente) Survival, o último arco da série clássica de Doctor Who. E é assim que termina, não com uma explossão, mas com um lamúrio.

Sabe, eu estou triste que terminou desse jeito, meu pequeno coração autista está em pedaços, mas eu não posso dizer que me arrependo da jornada aqui. Na verdade, foi uma jornada maravilhosa. Realmente maravilhosa.

Eu posso dizer que ... eu vi algumas coisas. Eu vi um universo onde as leis da física eram concebidas pela mente de maluco...


... eu vi o universo congelar e toda criação queimar...



... eu vi coisas que você não acreditaria ...


... eu perdi coisas que você jamais entenderá!


... e eu sei de coisas, segredos que nunca devem ser ditos, conhecimento que nunca deve ser dito!


 Conhecimento que fariam deuses-parasitas queimarem!


Então, tudo que eu realmente posso dizer é que você pode descansar por agora, Doutor. Você foi incrível, você foi engraçado, você foi louco, você foi tudo que eu esperava que você fosse, mas agora é hora de descansar e deixar o tempo curar as feridas. 
 
O futuro, como já sabemos dado que o futuro não é uma progressão direta de causa-efeito e sim mais uma coisa coisada de timey-wimey, será incrivel. Mas isso é depois, chegaremos lá a estas grandes coisas. 



A série clássica de Doctor Who terminou da pior forma que poderia terminar, mas está tudo bem. Tudo realmente está bem, porque eu sei que o futuro não será nada menos do que...


Existe, entretanto, mais uma parada que precisamos fazer antes de chegar lá. Será uma parada breve, não se preocupem, mas não menos terrível por conta disso. Porque o caminho para redenção não está completo e logo descobriremos que se Doctor Who estava no fundo do poço em 1989, esse poço tinha alçapão...



[DOCTOR WHO] O 7o Doutor (ou quando... oh deus... deus...)

THE STORY SO FAR: Ao longo de toda sua história, Hollywood já fez muitas coisas estúpidas. E eu quero dizer muitas MESMO, incluindo o filme de Tom e Jerr...
POSTADO EM:quarta-feira, 18 de setembro de 2019
With 0comentários
Next Prev
▲Top▲