A literatura (e por "literatura" entenda-se qualquer coisa posta em palavras, seja em um livro, no roteiro de um filme ou nas cutscenes de um jogo) tem uma característica involuntária peculiar: ela acaba sendo o registro de um zeitergeist especifico de um momento especifico, de um povo especifico. Eu digo involuntária porque isso só funciona como efeito colateral: se uma obra for feita especificamente para este fim, grandes são as chances de que e aplique o que já dizia Renato Russo: "qualquer tentativa de analise diz mais sobre quem analisa do que o que é analisado".
Mais do que o conteúdo da obra em si, a literatura nos diz nas entrelinhas o que determinada cultura entende como aceitavel, o que ela espera de uma narrativa e quais os meios toleráveis para que isso seja atingido. Ou, em outras palavras, todo mundo seria um vilão de romance vitoriano hoje.
Tá, mas e os animes com isso?
Bem, essa é a coisa: eu sempre achei os animes bastante laconicos ao retratar a sociedade japonesa. É claro que você pode inferir algumas coisas sobre como os japoneses são (sua paixão por categorias, ranks e status; sua total falta de jeito para demonstrações publicas de afeto porque não é como se eu gostasse de você nem nada, baka), mas é tudo muito superficial.
Em outras palavras, animes não são formas de expressão artistica humana na forma que nós entendemos arte no ocidente. A maior parte dos animes (ou os mangas e light novels nos quais eles se baseiam) é feita apenas para contar uma história e esse objetivo é um fim em si mesmo. Não é uma metafora para falar sobre nada, é apenas um exercício de aprimoramento do genero.
A maior parte dos mangas shonen, por exemplo, é sobre "o poder da amizade" e "derrotar o mal" porque é isso que se espera que tenha em um manga para garotos. Akira Toriyama não queria falar sobre nada em especial quando escreveu Dragon Ball, ele só queria fazer lutinhas legais (na verdade nem isso ele queria, mas essa é história para outro dia). Eu sempre achei isso muito estranho: os japoneses não sentem vontade de realmente se expressar, de falar sobre as coisas que lhes importam enquanto seres humanos?
Ou de se retratar como eles realmente são? Como são, afinal, os japoneses? Eu sei que as garotas japonesas não são tsuderes, yanderes, genki girls, presidente do conselho estudantil ou amigas de infancia que tem uma paixão secreta pelo vizinho. Não exclusivamente isso, pelo menos. Ok, eu sei o que as adolescentes japonesas NÃO são, mas o que elas são?
Isso é dificil dizer, porque os animes estão mais preocupados em honrar sua formula do que ser um retrato artistico.
Por isso chama muito atenção quando um anime quebra essa formula, e não raramente esse anime se torna muito popular no ocidente - afinal, isso é algo com o que nós podemos nos relacionar. Neon Genesis Evangelion é (além de ser um exercicio de descontrução dos cliché de anime da época) sobre a depressão do seu autor e sua dificuldade em se relacionar com seu pai. Naruto é sobre quebrar o ciclo auto-alimentavel de violência de "se vingar da vingança anterior" e não discutir sobre quem estava certo ou errado no passado, mas como nós vamos resolver as coisas daqui pra frente (claro, levou dez anos para chegar nesse ponto, mas enfim). SSSS.Gridman é sobre as coxas da Rikka uma carta de amor ao tokutsatu. Devilman Crybaby é sobre o que a sociedade considera normal, e como as coisas saem do trilho quando isso équebrado.
Ainda sim, animes assim são raros. E continuamos sem saber quem realmente são os japoneses do nosso tempo - não através dos animes, pelo menos.
Mas então, houve um caso que poderia ter lançado uma luz sobre isso. Kareshi Kanojo no Jijoo ("As circunstancias dele e dela"), mais conhecido com Karekano, foi um manga sobre um relacionamento. Isso é raro, dado que personagens de anime raramente namoram (no máximo "gostam de alguém em segredo e no fim tem um viveram felizes para sempre", se tanto). Aqui não, o relacionamento é estabelecido relativamente cedo e o manga é sobre dois adolescentes tentando fazer isso dar certo.
Yukino Miyazawa faz na escola a fachada de aluna modelo, mas a verdade não poderia ser mais longe disso: ela é bagunceira e desleixada, sua casa é sempre cheia de gente e tem sempre barulho e alguém gritando, porém é um lugar quente e repleto de vida onde ela tem uma ótima relação com a sua família. Soichiro Arima é o exato oposto dela: sua casa é pertubadoramente silenciosa e vazia, a relação com sua família é tenebrosa e não é de se espantar que em um ambiente assim ele seja bastante depressivo.
Eu particularmente gosto como as cenas na casa de Yukino são desenhadas em tons vibrantes e quentes, não raramente sendo feitos em SD mesmo, enquanto as cenas na casa de Arima são sempre em tons frios (ou mesmo preto e branco), desenhadas em traços retos e perfeitos.
E como eu disse, de alguma forma eles tentam fazer isso funcionar. É um conceito excelente... que, como vocês já devem saber, não tem um final feliz. O estúdio Gainax pode ter muitas qualidades, mas ser minimamente organizado não é uma delas - não que isso precise ser explicado para alguém, só lembrar do episódios 25 e 26 de Evangelion. Bem, acontece que na época de adaptação do anime a Gainax se desentendeu com o estúdio de TV, com a autora do manga, com a Receita Federal japonesa (teve gente presa por contabilidades meio mandrakes) e o diabo a quatro.
O resultado foi que o final de Karekano foi... oh, deus... a partir do episódio 19 a produção do anime implodiu de uma forma que jamais foi visto na história da animação. E eu não estou brincando sobre como a produção do anime foi pro espaço sem a menor vergonha na cara:
É sério isso. Jamais veremos tudo que Karekano poderia ter sido.
Mas ... e aí? O que tudo isso que eu falei até agora tem haver com qualquer coisa? Bem, na verdade tem: isso porque 3-Gatsu no Lion ("O Leão de Março") é justamente tudo que eu falei até aqui em um só. A versão moderna, bem feita e infinitamente melhorada de Karekano, e o anime mais japonês de todos os tempos.
Os pais de Rei Kiriyama morreram em um acidente de carro quando ele ainda era muito pequeno, e ele acabou sendo adotado por um amigo do seu pai (não faço ideia de como adoção funciona no Japão, mas parece ter muito menos envolvimento do governo que aqui). Seu novo pai é um jogador de shogi profissional porém mediano, e seu sonho é que seus filhos seguissem sua carreira. Infelizmente shogi é um jogo mentalmente muito taxativo e exige um nivel de dedicação e estudo que mesmo os JAPONESES acham pesado demais, e os filhos dele - apesar de querer a aprovação do pai mais que tudo - arregaram e largaram essa vida. Rei, por outro lado, não tinha muito mais o que fazer da sua vida e e dedicou inteiramente ao shogi - em parte para agradar seu pai adotivo, em parte porque REALMENTE o que mais ele faria com o seu tempo?
Isso fez dele um jogador de shogi promissor, ao custo de ser odiado e sofrer bullying dos filhos biológicos da família. Como criança depressiva que era, Rei apenas aguentou quieto - até mesmo se sentindo culpado por isso - até se tornar jogador profissional de shogi aos 15 anos e poder pagar suas contas. Assim ele se mudou para a cidadezinha de March Town, no suburbio de Tóquio, e é aqui que começa nossa história.
Mas antes de falar sobre a história, personagens e etc, eu vou fazer diferente hoje e falar sobre a direção artistica do anime primeiro. Você já vai entender porque.
Impulsionado por sua narrativa emocionalmente focada e estilo de arte de tirar o fôlego, 3-gatsu no Lion é sem dúvida um dos animes mais depressivos que eu já vi. Em sua narrativa exploratória de Kiriyama Rei e sua nebulosa mentalidade, o uso de metáforas visuais e imagens melancólicas do anime faz o programa ser frequentemente descrito como "deprimentemente belo" e com razão. Usando certas perspectivas e temas, 3-gatsu é capaz de conjurar uma atmosfera que informa tudo que o espectador precisa saber sobre o estado mental dos personagens apenas usando enquadramento de camera e efeitos de luz.
Antes de se aprofundar em cada componente individual do estilo visual da série, é importante entender primeiro o que esse estilo está tentando mostrar. A história não perde tempo em estabelecer que Kiriyama Rei sofre de depressão e vive um estilo de vida geralmente insalubre. Seu passado trágico o deixou emocionalmente desconectado e propenso a crises frequentes de depressão. Rei é um personagem que se sente deslocado aonde quer que vá. Ele é consumido pela culpa por situações que não são realmente culpa dele e, ao mesmo sabendo isso ainda sim incapaz de se perdoar. O que é meio como funcionam os adolescentes, mas prossigamos.
Vivendo completamente sozinho, ele levanta-se desanimado a cada manhã de sua cama em seu apartamento solitário e continua seu dia com pouco entusiasmo. Quando ele decide ir à escola, ele come sozinho na escada. Desprovido de um propósito maior e parcialmente divorciado de seus próprios sentimentos, Rei se entrega a única coisa que ele sente que dá à sua vida algum significado: shougi. Fora de estudar para as próximas partidas, ocasionalmente indo à escola e visitando as irmãs Kawamoto, ele vive muito humildemente. Ele dorme muito, come refeições compradas em lojas de conveniência e raramente se esforça para fazer qualquer coisa além do que é exigido ou pedido a ele. O que tudo isso culmina - a angústia emocional, a reclusão social e a falta de motivação, é um profundo sentimento de isolamento e solidão. E como é comum em casos agudos de depressão, o próprio Rei está muito confuso para reconhecer plenamente sua situação.
Agora que você entendeu o contexto, eu posso falar sobre as escolhas visuais da produção do anime: talvez o mais pertinente dos componentes visuais de 3-gatsu que fala dessa solidão seja sua onipresente representação de água. Conforme Rei se torna significativamente mais deprimido e se enfurna em seu quarto, os efeitos de luz que flutuam através da cena dão a impressão surreal de que o quarto está submerso enquanto a luz brilha sobre uma superfície imaginária acima. Essa imagem é excelente em transmitir a ansiedade sufocante e pesada que Rei sente, como se ele estivesse se afogando em sua própria solidão. Há também uma metáfora menos freqüente na forma de vento. Da mesma forma, as duras rajadas de vento e as prolongadas pancadas provocam turbulência emocional na cena. A mistura de sons altos, assim como a dramática influência do vento sobre o ambiente e os personagens, impregnam as cenas em que aparecem com uma intensidade inconfundível.
De longe, o elemento mais difundido e consistentemente marcante da solidão em 3-gatsu é a maneira pela qual Rei é enquadrado nas tomadas. Há uma infinidade de cenas durante todo o anime de Rei caminhando para o salão de shougi, passando por parques, e voltando para casa à noite, cada cena enfatizando seu isolamento. Ele aparece sozinho centralizado em cada quadro, justaposto a inúmeros planos e trechos em branco do céu. Os vários recortes das esquinas e dos prédios de rua não apenas definem a localização da cena e proporcionam a 3-gatsu uma estonteante imagem ambiental, como também enfatizam a própria solidão de Rei.
Rei frequentemente é mostrado caminhando no fim da tarde ou de noite, e essa escolha de horários não é aleatória. Dada a hora do dia em que essas cenas acontecem, raramente há outras pessoas nessas cenas e dão a impressão de que Rei está sozinho no mundo. Da mesma forma, justaposições do céu cercam a figura de Rei com um vasto vazio. Em muitas dessas cenas, os olhos de Rei são obscurecidos pelo reflexo de seus óculos, que criam uma distância emocional e incerteza. A distância entre o observador e Rei é evocativa da própria mentalidade confusa de Rei e em nossa incapacidade de ver seus olhos, ganhamos um sentimento semelhante de desconforto. Não podemos ver claramente o que ele está pensando, e de alguma forma nos sentimos desconfortáveis com a situação como ele deve estar se sentindo consigo mesmo.
Tanto que nas cenas em que ele está jogando shogi ou na casa das irmãs Kawamoto, momentos em que Rei se sente verdadeiramente vivo, não há esse efeito de ocultar os olhos com os óculos.
3-gatsu faz um trabalho incrível de transmitir ao espectador exatamente o que muitos dos desenvolvimentos na trama significam para Rei, e o faz de uma forma magistral. Uma coisa é ter empatia com um personagem por meio de um bom design de personagem ou de dialogos bem escritos, mas outra coisa é trazer o espectador para a cabeça desse personagem e ver o mundo como ele o vê. Ainda mais essa abordagem sendo feita principalmente através do uso da cor.
Como eu disse, grande parte anime acontece à noite e as cores mais frias se encaixam no ambiente e dão um ar sombrio ao programa. Em contraste, as cores quentes muitas vezes falam com cenas mais genuínas de afeição e bondade ou, em alguns casos graves, raiva e frustração. O anime é muitas vezes extremamente brilhante, colorido e reconfortante quando Rei está interagindo com outros jogadores de shougi, bem como com as irmãs Kawamoto. Você consegue sentir o calor humano que aquelas interações despertam em Rei apenas através da paleta de cores utilizada na cena.
Em determinado momento, o próprio Rei reconhece que a casa das irmãs Kawamoto é como se aquecer debaixo de um kotatsu em um dia frio. Para Rei, elas são uma lufada de ar fresco. Ao visitar as irmãs, ele está rompendo a superfície da água, no entanto, isso é apenas temporário e inevitavelmente ele vai afundar de novo. Ele se sente quente e confortável quando está com elas, mas quando sai, o contraste é muito mais aguçado. Voltando ao seu estilo de vida regular acentua o quão diferente ele se sente entre as duas configurações de uma maneira similar a como os aspectos mais cômicos e alegres do 3-gatsu tornam seu drama mais pungente.
Se o lar de Kawamoto é o símbolo do amor e do calor familiar, então o apartamento de Rei oferece uma imagem mais contrastante do que nunca. É onde ele se sente mais profundamente sozinho e para onde se retira quando se sente deprimido. Sua aparência estéril está muito longe do interior colorido e movimentado da casa. A coisa mais importante na sala, a o tabuleiro de shogi e as anotações de Rei, geralmente ficam no centro, cercada de ambos os lados por espaços vazios e garrafas ocasionalmente descartadas. É muito representativo da importância do shougi para a Rei, mas também de quão desconcertante é o relacionamento dele com o jogo.
Como eu disse, "3-gatsu no Lion" parece uma versão melhorada e modernizada de Karekano, focando nas coisas que realmente importam. Mas o que isso quer dizer, exatamente? Eu falei como esse anime se apresenta, mas sobre o que ele é de verdade?
Bem, 3-gatsu no Lion é sobre pessoas. Não personagens de anime, não estereótipos, aqui ninguém diz "baka!" e dá um cascudo no protagonista. Os personagens se comportam como pessoas de verdade, e oferecem uma luz genuína sobre o modo de pensar e ver o mundo do japoneses do mundo real.
Rei Kiriyama é um adolescente de 17 anos profundamente deprimido e um prodígio do shogi, sendo apenas o quinto jogador de shogi na história a se tornar um profissional ainda no ensino médio. Sendo um prodígio, ele se envolve em batalhas duras neste esporte da mente. No entanto, seu campo de batalha mais intimidante ocorre fora do tabuleiro. Em um lugar chamado simplesmente de “vida”. Mas, graças a Akari, Hinata e Momo, três irmãs de bom coração em sua vizinhança que o abrigaram sob suas asas, Rei sobrevive e vai gradualmente melhorando. É curioso como a relação de Rei com as irmãs Kawamoto é de amizade, mas em sentido bem mais familiar da palavra que temos no Brasil do que é comumente representado em animes.
Sabe amigo que passa na sua casa apenas porque tinha um tempo livre sem nenhum objetivo em especifico, apenas para jantar e fazer companhia e tal? Alguém que você só bate na porta e entra? Enfim, amigo mesmo, como nós entendemos a relação. Agora pense, você já viu alguma coisa assim em animes?
Curiosamente, anime falam muito sobre amizade da boca pra fora mas são bastante estéreis em exemplos práticos disso. Mesmo nos slice-of-life não é comum haver essa falta de formalidade e propósito em uma relação. Pra ser mais familiar que isso só faltava o Rei bater palma na entrada da casa com as mãos em concha, fazendo um som muito característico de "ô de casa". E em nenhum momento é dito que essa relação do Rei com as irmãs Kawamoto é bizarra ou aberrante para os padrões japoneses. Mesmo a irmã dele, que é meio que a antagonista da primeira temporada se limita a dizer que "ele encontrou outro lar para destruir", e não que tem algo estranho nessa relação.
Agora, o shogi ocupa um espaço bastante grande no anime, as vezes mais de um episódio são dedicados as partidas. Isso poderia ser um problema, dado que o shogi é um jogo incompreensível para quem não é japones
Não, sério, me diz o que você consegue entender disso! |
Entretanto você não precisa entender nada sobre shogi para apreciar o anime mais do que precisa entender sobre música para apreciar Whipslash, por exemplo. As partidas são descritas de forma bastante colorida, de forma que você consegue entender o que está acontecendo alegoricamente. Mas, mais importante que isso, o shogi é a forma que Rei tem de se conectar e interagir com outras pessoas e todos os relacionamentos que ele desenvolve giram em torno do jogo.
É impressionante como o anime consegue desenvolver os jogadores de shogi em tão pouco espaço, e durante uma partida você tem uma boa ideia de quem aquela pessoa que esta jogando é, como ela chegou até ali, e o que aquele jogo representa para ela - assim como quais as consequências de perder ou ganhar. É de um certo nível de bruxaria o quanto esse anime consegue dizer em tão pouco espaço usando um jogo que eu sequer entendo!
Ainda sim, 3-gatsu faz um trabalho tão bom em estabelecer quem são essas pessoas jogando e o que esta em jogo, que o jogo em si é secundário. Não há nada que você não possa fazer dar certo na tela tendo a simpatia do publico (como, digamos que o Keanu Reaves não é o mais versátil dos atores, mas é um sujeito tão legal que não tem como ver os filme dele sob uma luz muito mais complacente do que alguém mais problemático - digamos, o Johnny Depp - evocaria), e 3-Gatsu no Lion faz por merecer cada gota de atenção que angaria.
E é através dessa colorização tão boa dos personagens secundários que 3-Gatsu oferece vislumbres da sociedade japonesa que eu mencionei no começo do texto. 3-Gatsu é um anime sobre ter dinheiro contado para passar o mês quando você se vê tendo que criar duas irmãs com um emprego que não é lá essas maravilhas. 3-Gatsu é sobre o quão a aposentadoria é assustadora depois que você dedicou sua vida inteira ao trabalho. 3-Gatsu é sobre bullying e o quão não preparados para lidar com isso os professores estão. 3-Gatsu é sobre como você se sente quando você sabe que faz parte dos 99,9% que não vai chegar a lugar nenhuma na sua profissão, nem fazer diferença alguma. 3-Gatsu é sobre pais que não amam seus filhos e filhos que queriam ser amados pelos pais. 3-Gatsu é sobre pessoas perdida e imperfeitas, que não tem todas as respostas, tentando o melhor que podem se virar neste mundo sem garantias. 3-Gatsu é sobre os pequenos prazeres baratos da vida. 3-Gatsu é sobre o quão importante é alguém apenas estar lá. 3-Gatsu é sobre os velho no interior vendo os jovens indo embora para a cidade grande (quando as pessoas pensam no Japão pensam em Tóquio, mas o Japão ainda é um país muito rural e o exodo rural é um problema mais sério hoje do que nunca). 3-Gatsu é sobre comida, muita comida, meu deus como esse pessoal come.
Essa é a "antagonista" da primeira temporada, por falta de palavra melhor... |
Sendo o protagonista, naturalmente Rei é o melhor exemplo da coleção de estudos de personagem que esse anime é. Entre seu comportamento contemplativo e episódios de depressão intensa, Rei é um personagem muito emocionalmente complicado. Ele é o tipo de pessoa que se sente mal por seu oponente quando ele esta em vantagem no jogo. Ele está sempre pensando nos efeitos que suas ações exercem sobre si mesmo e sobre os outros. Embora ele possua esse senso agudo de culpa existencial e reflita constantemente sobre suas próprias ações e decisões, ele também está explicitamente desconectado de si mesmo. Ele não entende muitas das coisas que ele faz. Ele é complexo, confuso, tímido, solitário, frustrado, carinhoso e um personagem extraordinariamente humano.
Embora eu tenha falado longamente sobre Rei e como ele é instrumental na apresentação da série, os outros personagens como Akari, Hinata, Momo, Nikaidou e outros colegas de shogi são igualmente importantes para o anime e servem como uma fonte importante. do carinho e compaixão sinceros de 3-gatsu. Rei exibe um grande desenvolvimento de personagens sutil e a grande maior parte deles deriva de suas interações com esses outros personagens e da maneira como eles afetam sua vida. Embora 3-gatsu se concentre principalmente em Rei, nas irmãs Kawamoto e em seus jogos de shogi, os episódios dois personagens que roubam show por episódios inteiros de cada vez. É um elenco fantástico de pessoas cheias de significado em suas próprias complexidades e situações
Não, sério, esse anime é muito sobre comida. Parece que a autora passou fome quando era criança ou alguma coisa assim, pq tá louco... |
Guardando os detalhes da minha própria história de vida, é suficiente dizer que me conecto com esse anime muito além do esporte que ele descreve. E isso me faz tão feliz em ver como, enrolado em minha conexão pessoal com esse conto, o anime faz quase tudo certo onde possivelmente poderia.
A comédia me fez rir muito. O drama me deixou apreensivo ao ponto que eu ficava feliz quando tinha um arco sobre shogi porque os episódios com a irmã do Rei ou sobre bullying são imensamente pesados
O conteúdo em si é muito bem executado. Temas com propósito tratados com respeito. Toda a criatividade por trás de sua direção visual. A escrita forte por toda parte. No total, é um anime que agrada à minha mente crítica e eu não sinto que preciso dar um desconto por ser anime (assim como The Last of Us não precisa do desconto de "ah, mas é um jogo então não vou exigir tanto da narrativa quanto exigiria de um filme ou um livro).
O anime mostrar os pensamentos dos animais com voz de criança é um plus adoravel também
Neste ponto, não há muito mais que eu possa escrever. Uma história
tematicamente pesada. Arte maravilhosa. Uma série de personagens
incríveis. Escolha de som soberba. Uma riqueza de momentos divertidos.
O Leão de Março (que é um duplo sentido com o anime se passar em March Town e o principal torneio de shogi ser "O Leão de Março") é o tipo de anime que só acontece de vez em quando. Um anime que representa o que este meio é e demonstra o que ele pode fazer. E agradeço ter tido a oportunidade de assistir.