[GAMES] TIMESPINNER (ou Symphony of the Time)

| segunda-feira, 29 de julho de 2019


Castlevania: Symphony of the Night é um dos jogos mais importantes de todos os tempos. Tão importante que, junto com Super Metroid, todo um genero de jogos foi nomeado em sua homenagem: são os famosos Metroidvanias.

Por isso não é surpresa que muitos jogos indies busquem inspiração em um dos maiores clássicos, o que é algo comum, porém Timespinners vai um passo além. Timespinner não é "inspirado" em Castlevania, ele é praticamente um rom hack: como se tivessem pego o jogo original e alterado os sprites, os layouts de alguns mapas, enxague e repita.

Com efeito eu fiquei surpreso que disparar a magia é feito com um botão só ao invés de um comando no direcional (como é em Castlevania), porque em tudo mais você tem a sensação de estar jogando o mesmo jogo. E por mesmo jogo, eu não estou sendo eufemista aqui:

SotN, 1997...

... Timespinner, 2018
O sistema de combate é praticamente o mesmo, os powerups são quase iguais, os designs dos mapas são muito familiares (com efeito, em Timespinner você consegue idenfiticar claramente qual parte do castelo eles estão emulando), os itens para usar no meio do combate funcionam quase da mesma forma, as músicas são bastante parecidas e você tem até mesmo um familiar para ficar te rodeando e ajudando (com a diferença que aqui ele pode ser controlado pelo player 2, algo que teria sido muito legal no jogo de 1997).

A primeira vista pode parecer tentador comparar Timespinner com The Messenger, mas não acho que seja o caso. Enquanto os dois são inspirados em jogos antigos (The Messenger é inspirado em Ninja Gaiden), o mensageiro faz coisas novas modernizando os conceitos e mecanicas para a geração atual, giratempo não moderniza nada - apenas replica seu material fonte quase bit por bit de programação. 

Mas... isso é uma coisa ruim?


Bem, não necessariamente. Quando você pega um dos melhores jogos de todos os tempos e o recria com mapas diferentes, você não acaba com algo ruim em mãos. Pode não ser uma obra-prima que será lembrada (e copiada) daqui a vinte anos, mas estar um ou dois passos abaixo de excepcional ainda te deixa com algo muito bom em mãos.

Timespinner é um jogo muito bom, não há como negar isso.




Mecanicamente, Timespinner tenta muitas poucas coisas novas, sendo a maior delas o sistema de armas. Aqui, ao invés de ganhar novas armas que fazem o mesmo ataque só que com mais dano, aqui você usa orbes que disparam de formas diferentes. Algumas delas se transformam em espadas para atacar, outras atacam disparando raios de energia, e outras até mesmo congelam o chão. Combinar as diferentes orbes para criar diferentes formas de ataque - ao invés de só maximizar o dano - dá algo interessante a se buscar no jogo.

Não é algo que é muito exigido porque o jogo não é particularmente dificil - sobretudo porque o jogo te dá a habilidade de parar o tempo (como o relógio faz em Castlevania) de forma bastante generosa, mas ainda sim é interessante.



Porém se em sua mecanica o jogo tenta muito ser uma cópia carbono de Castlevania, é em sua essencia que ele se inspira na outra metade da formula: o feeling da narrativa e ambiente do jogo tem quê de Super Metroid. E o segredo aqui é que realmente é uma inspiração e não uma cópia, e assim Timespinner tenta ser um jogo profundamente atmosférico (como Super Metroid) ao seu próprio modo, ao seu próprio ritmo.

Lunais, nossa protagonista, é uma "Mensageira do Tempo", uma das últimas linhas de defesa de seu clã contra o Império Lachiem. Os mensageiros do tempo podem fazer uso da Chronorroca, uma máquina que lhes permite voltar no tempo para avisar o clã se o desastre recair sobre com eles. Essa habilidade vem com um alto custo, já que os mensageiros são apagados da sua própria linha do tempo e precisam se ajustar a uma nova vida no passado, depois de atravessarem o portal. O Império está compreensivelmente interessado nesta tecnologia, mas o clã de Lunais conseguiu ficar um passo à frente deles graças aos sacrifícios dos mensageiros.



Obviamente que as coisas dão errado (senão não teria jogo, né?) e acontece que Lunais precisa exercer sua função de mensageira do tempo quando seu clã é atacada pelo império. Entretanto, devido a circunstancias bastante únicas as coisas não saem como esperado e ela acaba transitando entre dois períodos de tempo: o presente, onde o império já matou todo eu clã e está a um passo de dominar a tecnologia temporal e o universo, e o passado mil anos atrás, quando o Império Lachiem era apenas uma colonia oprimida pela sua então metrople e perdendo a sua guerra de independencia em um mundo bastante hostil.

É muito interesante como o cenário de como Lachiem é no presente, um indiscutível império maligno, é influenciado pelo que Lachiem precisou ser no passado para sobreviver uma guerra onde eles eram as vitimas. Os NPCs que te dão quests e com quem você conversa são majoritariamente viletianos (a capital que oprime a então colonia Lachiem), e é interessante como o jogo é escrito de forma que não existam vilões pretos ou brancos aqui. No presente, Lachiem é indiscutivelmente um império cruel, mas então você entende porque eles tiveram que ser desse jeito. Lachiem começou como uma colonia de degredados em um mundo hostil a saúde de seus habitantes (ou seja, é praticamente a história da Australia). Vilete, que oprime Lachiem no passado, por sua vez, não é composta por monstros cego ao que o seu mundo está fazendo coma  colonia - embora eles ainda tenham deveres a cumprir com sua pátria.



Eu sei que não é grande coisa dizer que esse é o Metroidvania mais bem escrito que eu já vi - porque esse genero não é conhecido por ter dialogos e logs enviromentais particularmente bem escritos - mas Timespinner realmente põe um bom esforço em criar um cenário tão rico quanto se pode ter em um jogo de plataforma. 

Como viajante no tempo você pode interferir nessa história, na forma do jogo isso significa que você pode escolher quais boss enfrentar e em que época - gerando três possiveis finais dependendo de quando, e se, você enfrenta os Lachiems do presente para vingar (ou salvar) seu clã.  Timespinner coloca um esforço criativo muito grande em sua narrativa para entregar uma experiência única nesse genero, isso não pode ser negado.



Se tivesse colocado o mesmo esforço em mecanica e level design - ao invés de se contentar em ser um rom hack de Castlevania - teria sido um jogo a se lembrar. Sobrou homenagem, faltou ambição.
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