[FILMES] JOHN WICK 3: PARABELLUM (ou o melhor filme de ação de todos os tempos)

| terça-feira, 25 de junho de 2019
 

Um filme, quando você pensa sobre isso, é algo estranho. Não, sério, pense sobre isso: um estúdio de cinema pede para você pagar para sair de casa, sentar numa sala fechada com um monte de gente (provavelmente mexendo no celular), e materialmente não levar nada para casa disso. Não é um conceito estranho?

Então, porque as pessoas assistem filmes? Porque os filmes lhes dão alguma coisa em troca. Lhe dão algum tipo de experiencia, alguma coisa para você sim levar consigo. O filme tem que te dar algo em troca do seu tempo, do seu dinheiro e da sua paciência. Mas o que um filme tem para oferecer?

Bem, a resposta, é claro, depende do filme. Quando o primeiro John Wick saiu de absolutamnte lugar nenhum para ser uma lição sobre como se faz filme de ação, você teve a épica balada do homem que fez a mafia russa se cagar de medo porque eles mexeram com o cachorro do homem errado.

Você não bule com um doguinho, mas se for realmente impressíndivel fazer isso, certifique-se de que você não bula com o doguinho de John Fucking Wick.

Então, o primeiro filme nos dá muitas coisas. Cenas de ação bem dirigidas (eu nem lembrava que era legalmente permitido fazer cenas de ação sem a camera tremendo), um protagonista que se tornou icone da cultura pop e uma construção de mundo mais elaborada do que um filme desse tipo precisava ter.



Certo, mas eu não preciso te dizer o quão legal John Wick é, você sabe. Então, o que possívelmente uma continuação teria a oferecer?

John Wick 2 poderia ter ido pelo caminho fácil e se escorado em fazer mais do mesmo. John Wick mata um bilhão de pessoas por um motivo que parece aleatório mas é emocionalmente tratado como algo sério e embolse o dinheiro. É, eles poderiam fazer isso... OU poderiam fazer um filme inteiro dedicado a expandir esse universo de assassinos profissionais e hoteis ferrolho (ou seja lá como você chamava a safezone nas brincadeiras na sua região). Claro que John Wick chuta bundas e tudo mais, mas o que filme realmente te dá é um universo expandido sobre como essa realidade funciona, e é muito legal. Um tipo inteiramente diferente de legal do primeiro filme, mas ainda sim, legal.


Então, no final do segundo filme, John Wick é excommunicado e agora tem que enfrentar o mundo inteiro. E eu quero dizer, literalmente: não tem uma velhinha alimentando os pombos na praça que não vá tentar caça-lo, não tem um hotel que vai deixar ele se hospedar, não tem um burger king que vai colocar molho no seu Rodeo.

Sem amigos, sem armas, sem equipamentos, o mundo inteiro contra ele. E eu não tenho certeza de que eu apostaria no mundo. É assim que começa John Wick 3, .



E, lendo essa descrição, a resposta a "o que esse filme me oferece" é bastante simples de responder. No primeiro filme, fomos apresentados ao mito de John Wick, a Baba Yaga, um homem tão mortífero que os terroristas contam histórias sobre eles para seus bebês terroristas antes de dormir. O segundo filme é sobre a expansão desse mundo, em um conjunto de regras e elegancia que os filmes do 007 sempre quiseram atingir mas muito poucos conseguiram.

O terceiro filme nos dá, como você já pode imaginar, a Baba Yaga em seu melhor. E John Wick não desaponta nem um único momento.

Vou ser bem sincero com vocês: eu não sou muito fã de cenas de ação. Eu gosto muito mais do porque duas pessoas estão se socando. A cena de ação tem que ter algo particularmente interessante ou inteligente para prender minha atenção e, dito isso, eu tenho que dizer que eu adorei CADA UMA das cenas de ação de John Wick 3. É um nível de qualidade e criatividade que eu não havia visto antes.



A melhor comparação que eu posso fazer: sabe os filmes do Jackie Chan, onde ele luta usando absolutamente tudo no cenário de formas absolutamente criativas? Bem, ok, mas o Jackie Chan é um cara super legal que normalmente interpreta alguém que parece até meio pateta. Certo, agora imagine esse tipo de cena, só que com censura 18 anos e o John Wick usando uma mistura de Krav-maga, Jiu Jitsu e objetos do cenário para matar todos os punks que acordaram se sentindo com sorte.

Nos primeiros vinte minutos de filme, John Wick brutalmente abate um assassino de dois metros de altura em uma biblioteca usando um livro - e a luta toda é sem fazer barulho, afinal é uma biblioteca, John luta no meio de uma galeria particular de um colecionador e usa tudo que ele consegue por as mãos como arma, ele foge até os estabulos e usa os cavalos como arma (literalmente), monta no cavalo e luta kung fu com seus perseguidores se pendurando no cavalo em pleno galope no meio de Nova York. Eu não conseguia parar de sorrir da absurda beleza de tudo isso.


De alguma forma, John Wick tem essa coisa de mostrar coisas absurdas de uma forma bastante épica - desde o primeiro filme, quando tudo começa pela vingança de um doguinho morto. JW sabe quando não se levar a sério, porém sem nunca deixar de ser épico ou incrível. A cena de luta com a Halle Berry e os cachorros dela é a coisa mais incrível que eu já vi no cinema na minha vida toda. Uau, apenas uau.


O diretor Chan Stahelski não tinha experiência nenhuma com direção antes do primeiro John Wick, mas ele havia sido dublê e coordenador de dublagem por mais de 73 filmes nos últimos vinte anos. 73 filmes. Agora imagine um homem que passou as últimas duas decadas executando e coordenando cenas de ação, e anotando ideias sobre como ELE faria as coisas se ele estivesse no comando. Imagine o que alguém com tanto conhecimento, alguém que esteve lá tantas vezes, alguém que tem tanto a dizer sobre a area poderia fazer se fosse lhe dado o tempo e o orçamento (que ele conquistou com o sucesso dos dois primeiros filmes) para exibir o melhor da sua capacidade como profissional.

Esse filme é John Wick 3, e é a obra prima dos filmes de ação. Eu não estou dizendo que ele é o melhor filme de ação desse ano, ou dessa decada, ou desse milênio: é o melhor filme de ação. Ponto. Sem nenhum "MAS".



A coreografia é espetacular (e sem camera tremedo, louvado seja Arceus!). A fotografia é espetacular, imagino que a Folha de São Paulo vai soltar alguns impropérios sobre como um filme "para gentalha" ousa ser tão estéticamente bonito, bem iluminado e bem enquadrado na suas cenas.

John Wick 3 não é, e nem tenta ser, mais do que um filme de ação maravilhosamente coreografado e gratuitamente violento. Mas, se a arte pode ser expressa através da violência, esse filme definitivamente é arte da mais alta classe.



Talvez a única coisa mais impressionante que John Wick 3, é a premissa que fica para John Wick 4: eles tiveram todos os recursos do mundo para acabar com ele, e falharam. E agora é a vez dele de caçar. E ele está muito, muito puto da cara.

Corram.
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