[JOGO] – PORTAL 2: Se a vida te dá limões…

| quarta-feira, 15 de maio de 2019

PRODUTORA: Valve
DISTRIBUIDORA: Valve (PC, 360 e PS3)
JOGADORES: 1 até 2 coop (offline ou online)
ANO: 2011 (premio VGA de melhor jogo de PC e melhor multiplayer)

Hoje eu não vou ofender ninguém (o que não é verdade, porque eu nunca ofendo ninguém, apenas descrevo as pessoas) e sim falar sobre games. Tá, ok, eventualmente alguém será ofendido, tudo bem, mas… hey hey hey, espera aí, volta aqui rapá! Isso, senta ae. Ótimo.


Nossa história começa  com um jogo de PC ao qual os nerds gamers pagam pau infinitamente, mas honestamente eu nunca consegui ver grande coisa nele. Um jogo que é tido como o calice sagrado do videogame mas pra mim é só um bom e velho “meh…”

Estou falando certamente de um jogo chamado Half-Life. Meia-vida é um jogo feito sob medida para atender todos os envolvidos (os portais malandrões, os gamers babacas e as empresas preguiçosas) sem nada de realmente especial ou digno de nota. Você anda por aí, atira em coisas, tem uma história que é contada mais através da wikipedia do que durante o jogo e blablabla. Óbviamente os gamers adoraram, os estudios faturaram milhões e a imprensa teve muito pão de queijo na bandeja para garantir boas notas.

E como não poderia deixar de ser, Meia-Vida teve uma continuação. Com MUITO MAIS personagens fodões, MUITO MAIS tiros, MUITO MAIS gráficos realistas, MUITO MAIS letras maisculas nos adjetivos e yala-yala-yala. Half-Life 2 vende tipo uns 4 quadrilhões de unidades e todo mundo saiu feliz e contente. Enfim, nada disso é interessante de facto.

O que é interessante na verdade é que Half-Life tinha uma engine muito boa. Ou seja, “engine” é como a realidade 3D do jogo representava a fisica era muito boa (sobretudo para a época) do tipo que a consistencia, tipo do material e peso dos objetos eram representados com uma fidelidade realistas o suficiente para, pelo menos na época, você até esquecesse que era um “joguim”. Não que isso fizesse real diferença no jogo, mas acabou sendo um grato efeito colateral que seria muito relevante dali pra frente. Uma modificação muito famosa aqui no Brasil dessa engine do Half-Life é conhecida como Counter Strike, e certamente você já ouviu falar disso se já passou a 157,18 metros de uma lan house.
O que acontece é que um bando de gaiatos da Valve (a empresa que fez o insosso Half-Life) um dia, entediada de sua vida fácil e segura teve uma noite louca de Tequila, Tacos e DVD. E sério, quando você mistura Tacos, tequila e “O Cubo” é porque as coisas vão ficar loucas. E ficaram.



Bem vindo ao centro de enriquecemento da Aperture Science força motriz da nova sociedade. Caso você seja velho, doente ou burro demais para ser a força motriz da nova sociedade, por favor retorne com alguém que possa se-lo

Essa equipe de bravos guerreiros comedores de vermes da Valve estava tão entediada pela falta de oportunidade de ter algum desafio que nas horas vagas usou a engine do Half-Life para dar vida a um antigo projeto de faculdade, um joguinho chamado “narbacular drop” que envolvia usar portais para transportar objetos e resolver puzzles nas salas. Essa foi a raíz do que posteriormente viria a ser conhecido como… PORTAL.

PORTAL era um projeto independente nas entranhas de uma engine AAA e sustentado por mentes ansiosas por pensar fora da caixa (que é uma oportunidade que você não tem muito quando trabalha com videogames). Mais precisamente… eles agora estavam pensando com portais

THINKING WITH PORTALS

Mas o que é Portal, afinal?

É um jogo em visão de primeira pessoa em que você acorda numa sala branca e uma Inteligencia Artificial te dá uma arma que abre portais (você pode colocar dois portais, sendo que ao entrar por um sai pelo outro lado) e com isso deveria resolver os testes de cada sala. Falha implica em morte em chamas (ou coisas piores). Ou seja, é bastante o espirito da série “O Cubo”.

Eventualmente você descobre que é uma cobaia nos laboratorios subterraneos da Aperture Science, onde a AI simplesmente matou toda a equipe (eles atrasavam o progresso da ciencia com essa coisa de ética e moralidade, esses humanos…) deixando apenas as cobaias para fazer os testes… como você.

Só isso, você tem que resolver os puzzles de cada sala por sua vida utilizando apenas sua arma de portais.

Nada de atirar em aliens, nazistas ou gordões. Apenas você, seu QI contra a AI maligna do mal falando com você e sua arminha de portais em nome da sobrevivencia… ou da ciencia.


Por si só a ideia já era boa, mas um pequeno deslize para lá ou para cá poderia deixa-lo sendo só isso: uma boa ideia. Mas portal não é só uma boa ideia, foi uma boa ideia magistralmente executada porque tem uma coisa que você simplesmente não encontra em videogames (verdade seja dita, não encontra em midia nenhuma hoje em dia – sim, to ficando velho e chato): humor. Não um humor sem graça japones ou algo do tipo, mas um humor negro surrealista. Todas as coisas que são engraçadas no jogo tem um motivo de estarem ali, seja as torretas com voz de criança (eu disse que você não atirava em ninguém, naõ que ninguém atirava de volta em você) ou seja a promessa de que haveria bolo ao cumprir o teste,

Em determinado momento, a AI (chamada de gLAdOS) te avisa que a camara de teste pela qual você passaria seria altamente mortifera e certamente você teria uma morte horrenda e dolorsa… mas na EVENTUALIDADE disto não acontecer, bolo serie servido como recompensa! UAL! Bolo!


A grande piada aqui é que a coisa é uma sátira (bem fundamentada) as teorias do behavirismo, das experiencias de Pavlov e todas as coisas incriveis sobre comportamento que se fazem “em nome da ciencia”. Após quebrar a cabeça para abrir caminho nas camaras de teste usando sua arma de portais, após poucas horas o jogo termina.

Esse é o tipo de humor de Portal, lembra muito o RPG Paranóia (o computador é seu amigo!).

O jogo dura no máximo 3 ou 4 horas (a menos do caso de você ter paralisia cerebral ou uma lazarentice dessas), afinal era um projeto paralelo ao grandioso “Half-Life”, mas são mais do que suficientes para que gLAdOS, os portais, o cubo companheiro e o bolo se tornarem referencias iconicas na cultura nerd. A música de encerramento, Still Alive, é uma obra prima de qualidade ímpar que marcou nossas vidas e corações.

Portal é um jogo bem tranquilo e que nada “te ataca”, ou seja , você tem todo o tempo do mundo para resolver os puzzles e é um dos poucos que eu recomendo para quem não é gamer. É só voce e sua cuca contra o mundo

Com efeito, Portal de uma brincadeira de fim de semana acabou se tornando não só um icone nerd, mas superando em popularidade inclusive o próprio Half-Life.

Ou seja, era inevitavel que uma continuação viria por aí. Portal era uma brincadeira curta que se encerrava em si mesma, prolongar mais do mesmo seria inevitavelmente um caça-niqueis barato afinal de contas, certo?


Bem, fosse como fosse, Portal 2 veio com muita expectativa de todos que haviam aprendido a duras penas que o bolo era uma mentira (mas o cubo era para sempre). E na internetises, grande expectativas levam a grandes decepções. Uma continuação seria, sei lá, ofensivo como plantar mandioca sobre o tumulo dos seus pais.

Mas as aguas retrocederam… digo, Portal 2 veio e … holyfuckofdancinghell, foi como se nunca tivessemos ido embora! O retorno as instalações da Aperture Science, agora em ruínas, não poderia ser mais bem executado. O jogo respeita as memórias do primeiro como que dizendo “olha, nós não vamos tentar esticar o primeiro ou macular sua imagem de qualquer forma… apenas vamos contar uma nova história sobre AI malignas, morte em chamas e bolo, ok?”

Muitos anos se passaram e a Aperture Science está em ruínas, sua missão teoricamente é simples, é só dar o fora do complexo subterraneo (sem uma AI maligna controlando tudo fica mais fácil)… quando as coisas ficam loucas.

De fato o grande pulo do gato é que o jogo sim, tem novos testes nas salas da Aperture Science, mas a maior parte do jogo (que agora dura quase o dobro do tempo, de 6 a 8 horas) é uma viagem (literalmente) pela história da Aperture Science e de seu lendário fundador Cave Johnson – que tinha uma empresa que vendia cortinas de chuveiro ao exército dos EUA que sofreu um envenenamento por mercurio e na sua loucura acabou ficando obsecado pela ciencia. O jogo te leva literalmente as profundezas da Aperture Science, quando ela foi fundada nos anos 50 (e toda a tecnologia da época), assim como quem é a gLAdOS e por incrivel que pareça, como as coisas surreais da Aperture Science fazem sentido dentro do seu contexto!

O jogo poderia jogar fácil em cima de explorar os clichês, mas não tem uma única referencia a bolo neste jogo!

Ao invés de jogar fácil, eles continuam com as referencias as tecnicas de controle de comportamento e a ciencia. Na verdade o jogo satiriza a falta de “padrões de segurança” da ciencia de antigamente e como nos tornamos politicamente éticos demais para fazer ciencia de verdade (ao ponto que sacrificar uma pessoa para salvar milhares é completamente inadmissivel nos dias de hoje)

Adicione a isso ao fato que a gLAdOS está particularmente puta contigo (algo relacionado a você ter a desmantelado e atirado suas partes ao fogo) e demonstra isso com toda a sutileza do seu humor refinado.

“Gostaria de parabeniza-la”, ela diz ao você concluir uma camara de teste, “não pela camara de teste, até mesmo uma criança teria feito isso. Gostaria de parabeniza-la porque a maioria dos sujeitos de teste sai da criogenia apresentando sinais de desnutrição e tu conseguiste de alguma forma até ganhar uns quilinhos”

Isso porque no programa de comportamento humano da gLAdOS ela tem que mulheres tem problemas emocionais relacionados ao seu peso, de modo que esta é apenas uma das inumeras cutucadas que ela tem para te chamar de GORDA! TAN-TAN-TANANAAAAAAAAAAAAAAN!
E sim, a música de encerramento é tão boa quanto Still Alive e certamente eu quero que toque I Want You Gone no meu velório. Porra, tive essa ideia agora e sinceramente, seria genial! Vou fazer constar no meu testamento, com certeza!

Mas bem, deixando de lado meus momentos de genialidade, tenho que dizer que nem tudo são flores no canteiro da Aperture Science. Mesmo que muito mato tenha crescido nas instações nestes ultimos anos, nem tudo são flores.

Portal 2 não é mais um projeto de fim de semana feito nas sobras de um outro jogo e sim um próprio titulo AAA.

E com grandes poderes vem grandes responsabilidades. Ou seja, o jogo tinha que vender bem. Mas como vender bem para aborrecentes quando você não atira em nada ou esmaga botões descerebradamente durante o jogo?

Inumeros tentaram tal façanha, e inumeros falharam miseravelmente.

Felizmente a Valve conhece o seu publico tão bem quanto a gLAdOS conhece a psique humana, e sabia como atrair grande publico para este jogo sem cagar na essencia do que Portal é. Como se vende um puzzle como se fosse um blockbuster?

A resposta é simples: multiplayer. Aborrecentes compram qualquer coisa que você joga online para mostrar o quanto ser fodaaaaaaaaum no jogo torna seu pinto incomensuravelmente maior. Bem, não torna, mas como mulheres não jogam videogames não faz diferença de qualquer jeito. Mas é isso, independente do jogo que for é só botar uma opçãozinha multiplayer e ta-da, tá resolvida a questão.


Mesmo que seja igual a todos os outros ou mesmo que não faça sentido nenhum, multiplayer é o omni-gel que a tudo cura. E Portal 2 tem um modo multiplayer, ao qual eu posso dizer que … ELE É O MELHOR JOGO PARA SE JOGAR DE DOIS … SOZINHO

Sério, vamos pensar um pouco. Qual a graça de um puzzle? É você sentar, entender a coisa e resolver o quebra-cabeça para se sentir foda, na cama te esculachar, esculachar o seu amante, esculachar o seu marido, ser fodaaaa.

É como comer lasanha de frutas. Você saboreia lentamente cada sabor, cada pequeno detalhe.

Jogando de dois é uma merda, porque o ritmo da outra pessoa nunca vai ser o seu e você perde o grande orgasmico mental de resolver o puzzle (alis o jogo brinca com isso também) se o outro resolver antes de você. Isseo se você não jogar online com alguém que já sabe como resolver as salas, o que não tem a menor graça mesmo. É ter que comer sem saborear a comida.

O que foi que eu fiz: coloquei no modo para dois com tela dividida, peguei dois controles e joguei sozinho os cinco cenários do modo co-op, que conta as desventuras dos robos de teste Atlas e Corpo-de-Ervilha. Embora não seja tão fluido quanto jogar sozinho, dá perfeitamente para jogar assim (Portal nunca foi um jogo se ação, sempre respeitando o timing do jogador) . Com exceção de dois momentos, que eu tive que recorrer a ajuda da minha linda assistente Churuptzen, de resto é perfeitamente jogavel jogar o modo multiplayer sozinho

Alias se a gLAdOS possui robos de teste porque ela usa humanos nas camaras de teste ao invés deles? Durante as fases do modo cooperativo é explicado isso tambem?

Enfim, Portal é um dos melhores jogos de todos os tempos e Portal 2 não é um caça-niqueis barato valendo muito a pena de cada minuto gasto fazendo a ciencia progredir. E se as minhas palavras não forem suficientes, então recorrerei as lendárias palavras de sabedoria e verdadeira lição de vida que Cave Johnson – fundador da Aperture Science – proferiu no fim de sua vida:

CAVE JOHNSON: Quando a vida te der limões… não faça uma limonada! Faça a vida engolir esses limões de volta! Fique puto! Eu não quero seus malditos limões! O que diabos eu deveria fazer com malditos limões?! Exija ver o gerente da vida! Faça a vida amaldiçoar o dia em que pensou que daria limões a Cave Johnson! Sabe quem eu sou? Eu sou o homem que vai queimar sua casa de cima a baixo! COM OS LIMÕES! Eu vou fazer meus engenheiros inventarem um combustivel de limão que vai queimar sua casa até as cinzas!!

GLaDOS: Yeah! YEAH! QUEIME A CASA DELA! Pessoas queimando! YEAH! Ele é o homem que põe pra fora o que todos pensamos!

O homem que fala o que todos pensamos, inspirador, vai dizer?

3m


UPDATE 2: A GLaDOS com sua dubladora Ellen McLain estará no filme Pacific Rim, como se precisasse de MAIS motivos para ver um filme que tem robôs gigantes dando soco-foguete.

(originalmente postado em 2012)
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