"Uma gestante arretada tenta sobreviver numa situação apocalíptica babilônica em que alguma coisa misteriosa faz o povo que olha pra ela ficar despirocadinho das idéias e se altos estropiar-se a si mesmos", esta é a premissa (Sessão da Tarde style) do filme que por algum motivo viralizou no fim de 2018 e deu origens a mais memes do que a Gloria Pires comentando o Oscar.
Bem, quando quando eu terminei de ver Birbrox, além de todos os mistérios que o filme apresentava uma pergunta maior estava acesa na minha mente: porque semióticas a internet ficou tão fascinada por esse filme? Certo, a netflix sabiamente tem investido em premissas que buscam chamar a nossa curiosidade e assim tem conseguido chamar atenção com projetos ... não tão bem executados.
Alie a isso nomes respeitados como sandra bullock e John Malkovich e pronto, a isca esta armada. Ok, mas e quanto a Biguligo, isso funciona? Acredito que sim. Eu estou com a maioria que se divertiu mas não viu nada de tão espetacular assim. Não vai ganhar o Oscar, mas é divertido - e isso meio que é o suficiente, não? Bribox tem tanto aceitos que empolgam tanto como fragilidades que não dá pra ignorar.
Desde o início a forma como o filme apresenta a premissa é muito eficiente para fazer a gente se interessar pelo que vem a seguir. As vendas deixam a gente encucado perguntando qual o motivo de tudo aquilo e as forma intensa que a Sandra Bullock abre o filme passando instruções para as crianças nos vendem a ideia de como aquelas regras são sérias (em um plano sem cortes, diga-se de passagem, o que deixa a situação mais intensa ainda). E justamente por se tratarem de crianças, isso já abre o filme dando um nervousor porque, seja lá o que esteja acontecendo, são crianças então a chance de dar merda é muito grande.
Mas então o filme volta para o passado e nos apresenta melhor os primeiros personagens enquanto dá uma contextualizada rápida através de suaves expositividade mascarada pelos diálogos dinâmicos e pelo talento das atrizes. Já nas primeiras cenas o filme adianta um pouquinho sobre o que vai ser a temática através do bom e velho recurso do noticiário.
Agora, se por um lado são coisas que poderiam ser introduzidos mais organicamente, sendo construída mais sutilmente com tempo, por outro ao menos essas opções mais "ó, essa é a história vai vai vai" lançam o filme pra frente de uma vez para logo introduzir o que todo mundo veio assistir.
A este ponto as personagens já estão devidamente apresentadas e meio que prontas para o que vão enfrentar, o que permite que a gente acredite que elas foram capazes de sobreviver ao caos inicial. É muito bom que o filme não nos faça sentir que elas sobreviveram aos primeiros momentos apenas pelo poder do protagonismo, palmas a diretora Susanne Bier que conseguiu estabelecer com perfeição a problemática e ao mesmo tempo cenas tão bizarras, intrigantes e chocantes
A premissa de Binbinbin é uma mistura de Fim dos Tempos (deus, que filme horroroso), com algumas coisas de "Ensaio sobre a cegueira" e "um lugar silencioso", embora este último tenha sido feito depois que o livro que foi adaptado tenha sido escrito - embora a adaptação cinematografica certamente foi influenciada.
Bem, depois disso o filme fica jogando para frente e para trás na linha do tempo, entrecalando em mostrar a Sandra Bullock sobrevivendo no presente, e ela descendo rio abaixo com as crianças no futuro. Ou no passado e no presente, depende de como você vê. Ou não vê, porque está vendado.
Essa ideia de alterar entre dois momentos temporais por um lado traz benefícios, como manter o ritmo da ação constante sem parecer que os personagens estão em um episódio de 24 Horas onde tudo acontece uma coisa atrás da outras, assim como evita um terceiro ato com um salto anticlimático que aconteceria se seguisse a cronologia dos fatos fosse contada em ordem.
Por outro lado, também acaba gerando um efeito adverso que dá previsibilidade a trama porque desde a primeira cena você já sabe o que vai acontecer e quem vai sobreviver ou não. Quando aparece outra grávida para se juntar ao grupo de sobreviventes então, o filme já está escrito
Não ajuda muito a essa previsibilidade que os personagens sejam praticamente todos unidimensionais, suas personalidades resumidas a simples adjetivos e plantadas na história apenas para servir a um propósito pré definido e depois vazar (em alguns casos, literalmente). Isso deixa a experiência mais artificial e menos intensa.
Exceção feita a, justamente, os dois melhores atores desse filme - Sandra Bullock e John Malkovich - que, ou ganharam personagens melhores porque são atores mais caros, ou consertaram os personagens que tinham porque são bons mesmo. Qualquer que seja o motivo, o resultado final é que tirando eles todo mundo está ali para fazer uma coisa na história, pegar seu boné, peidar e sair.
Talvez isso tenha isso tenha sido melhor abordado no livro, ok, talvez o livro seja sobre questões cotidianas abordadas através de um apocalipse, mas o filme é sobre o apocalipse com questões cotidianas como pano de fundo bem no fundo mesmo.
AH MAS OS PASSAROS PRESOS REFLETEM A CONDIÇÃO DOS SOBREVIVENTES PORQUE NA VERDADE ELES SÃO OS PASSAROS EM UMA CAIXA!
Gente, isso é superficial tão superficial que é até a letra da música de abertura de Attack on Titan. É uma mensagem tão óbvia, tão lugar comum, tão estampada... Além da metáfora ser qualquer coisa os pássaros ainda são mal explorados dentro da trama. O filme diz que eles são importantes mas na prática a gente não vê tanto isso não.
Os passaros ficarem agitados poderia servir como instrumento para gerar tensão, mas parece que o poder de percepção deles desliga e só liga quando precisa que a cena seja dramática. Como quando tem um cara infectado na casa por alguns dias e o passaro só começa a dar piti no momento que a música de suspense sobe. Essa inconsistencia na construção de mundo é algo que me tira muito da narrativa.
Porém isso não quer dizer que o filme seja ruim, porque se ele erra nos adereços da construção de mundo, ele acerta na mosca nas coisas realmente fundamentais: na ameaça externa. Não dá para ter um filme de apocalipse se o apocalipse não for bom, temos que concordar, e Bigulim é excelente nesse sentido.
As vendas são o grande diferencial da identidade visual desse filme e uma que é bem utilizada através de diferentes formas, seja através de explorar a possibilidade ou não de enxergar os bichos de forma indireta, ou o inteligente uso de objetos para guiar o outro como sinos e cordas para não se perder são satisfatoriamente bem empregadospela direção mesmo que o suspense do filme
Mesmo que a gente consegue prever para onde a trama vai, nos pequenos detalhes aí a gente não sabe COMO isso vai acontecer, e isso mantém o filme interessante de se assistir. Grande parte do que faz a tensão nesse filme funcionar é que ele joga tudo nas costas da Sandra Bullock e ela tem cacife suficiente para carregar o filme nas costas - o que nos faz se importar com ela, torcer e por consequencia fazer com que a tensão funcione.
Agora o grande, verdadeiro e magistral acerto desse filme são as criaturas que causam o apocalipse porque... elas não são mostradas em momento algum. E isso é a melhor decisão que eles poderiam tomar!
Tudo que se sabe a respeito dos "monstros" que causam o apocalipse é que a visão deles faz com que as pessoas se suicidem. Porque? Não se sabe, todo mundo que viu morreu oras. Isso permite que cada espectador possa imaginar que a resposta seja o que ele conseguir pensar de mais tenebroso.
As únicas pessoas que não se suicidam são aquelas que, já meio pancadas da cabeça antes disso, veem um horror tão indescritivel, tão inenarravel, tão cosmico que veem a beleza em tamanho desespero puro e se tornam adoradores do que quer que seja aquilo.
Agora... espera, espera, espera aí... Então temos algum tipo de entidade(s) tão terrível, tão desesperadora que cuja mera compreensão do que ela é pode destruir a mente de alguém, ao passo que algumas pessoas enlouquecem ao ponto de ver a beleza nesta sinfonia de abjetancia?
Onde eu já vi alguma coisa assim antes?
De nada. |
Badouken não é sobre um apocalipse de zumbis, sobre a rebelião das máquinas ou um fenomeno natural. É um apocalipse sobre o dia em que as estrelas estiveram certas e coisas mais antigas do que a nossa noção de tempo despertaram de seu sono maldito. É um fucking apocalipse lovecraftiano, é bem feito! (essa parte pelo menos)
E isso é lindo! É algo que vocês precisam ver, porque é maravilhoso, é de uma belez...
... caham, digo, claro, essa é a minha interpretação. Talvez as "coisas" sejam aliens que compartilham conhecimento sobre a verdade da vida, do universo e de tudo mais... o que faz as pessoas perceberem que a vida é um erro que deve ser corrigido (Sargeras aprova!), talvez eles sejam algum tipo de Bicho-Papão (sim, os do Harry Potter mesmo) que fazem a pessoa ver a coisa mais horrível que ela poderia ver ao ponto que viver não é mais uma opção (como em The Song of Saya, que o protagonista passa a ver o mundo como se ele fosse um banheiro de rodoviaria depois as 18h).
Pode ser várias coisas, e o filme é bom o bastante para não ser vago demais para que você tenha a sensação que foi escrito pelo JJ Abrams (o mestre do "ah, eu não pensei em nenhuma explicação, só queria que parecesse legal"), porém não fechado demais para que não haja mais de uma explicação possível. É um equilibrio muito dificil de acertar, e Batráquio faz isso surpreendentemente bem!
Eu sei que pode parecer meio frustrante se chocar com tanto mistério sem resposta, mas se você parar para refletir vai perceber que o filme te convidou a ser um personagem e não ter uma resposta é a grande resposta pra poder até seguir em frente e chegar no final. Ou você vai dizer que preferiria encarar algo que quase certamente vai te matar só porque está com curiosidade?