[FILMES] CAPITAIN MARVEL (ou sobre Super Homões e Godzillas)

| domingo, 17 de março de 2019
 

Fazer um filme do Super Homem não é fácil. Mas, bem, a essa altura não é realmente necessário que eu precise te dizer isso, não depois de tantas vezes que a DC já falhou em transportar o Homem do Amanhã para a tela grande.

Nos anos 70 eles conseguiram fazer um excelente CLARK KENT com a atuação de Christopher Reeve, mas fingir ser um reporter atrapalhado é apenas uma pequena parcela do que é o azulão. 


Nas animações volta e meia a DC esbarra em uma visão adequada do Super Homem, mas mesmo isso não é tão fácil ou frequente assim.


E por que estou falando do Super Homão? Porque recentemente a Marvel teve um problema bastante parecido. Carol Denvers, a.k.a. Capitã Marvel, é uma das heroínas mais poderosas da editora e certamente a personagem mais forte do universo cinematográfico da Marvel (pelo menos até a Marvel conseguir os direitos do Quarteto Fantástico de volta e fazer um filme do Franklin Richards, aí as coisas serão loucas!).

Nos quadrinhos, Carol Denvers possui apenas... os poderes de uma estrela. Mas o que isso quer dizer? Simples: ela não apenas pode gerar (e é imune) a uma quantidade quase infinita de luz e calor, mas assim com a estrela ela pode converter energia em massa - o que é uma forma bonita de dizer que ela pode criar matéria. Ou buracos negros, se ela estiver se sentindo afim.

Sim, um fucking LITERAL buraco negro!

Mesmo que a Capitã Marvel seja muito nerfada para o MCU, ainda sim não tem uma forma simples de fazer um filme dela que seja interessante. Sim, claro, a Marvel podia apenas soltar um monstrengo brutamontes e torcer pelo melhor, mas meio que todas as vezes que isso foi feito não ficou muito bom. Existe um motivo pelo qual existem dois filmes do Hulk que ninguém fala deles, saiba você...

Então, como faz?

A boa noticia é que a Marvel está em uma fase inspiradíssima e teve, sim, uma boa ideia para sua principal heroína da atualidade. Pode ser discutido que a Capitã Marvel é uma personagem importante demais e deveria ter recebido um filme solo antes, mas a verdade é que você não queria que ela tivesse tido um filme antes. Sério, as pessoas meio que esquecem da fase 2 da Marvel... vocês queriam mesmo um filme da Capitã Marvel no meio de perolas como Thor 2 ou Homem de Ferro 2?

Melhor não.

Mas então, como ficam as aventuras da OP Girl?

 LOKI: I've got an army
CAROL: We got a Flerken
*sons de pneu cantando*

Bem, para isso a Marvel se inspirou em Godzilla, acredite ou não. Não, infelizmente não vemos nenhuma cena da Brie Larson saindo na mão com um lagarto radioativo de 50m de altura (anota essa para a fase 4, Marvel) mas sim me refiro ao filme de 2014.

Godzilla, o filme de 2014, é um dos filmes de kaiju mais legais que eu já vi na minha vida. O final, quando ele luta no meio da cidade com dois monstros gigantes é absolutamente lindo e vemos finalmente o Rei dos Monstros em toda sua glória, com o orçamento e o carinho que sempre esperamos de um filme dele. Sério, é apenas arte (anota essa para quando cansar de ganhar Oscars, Del Toro: Godzilla vs Pacific Rim).

E como esse filme funciona? Bem, ele passa uma hora e meia te teaseando e toda vez que você acha que vai ver a coisa finalmente acontecer... a camera corta e não vemos porra nenhuma. Então, quando finalmente acontece, depois de uma hora e meia de espera, é apenas lindo.

A ideia é ótima. Infelizmente, claro, a uma hora e meia que você NÃO vê monstros gigantes sendo monstros gigantes, é bem palha com personagens bem... esquecíveis.



Para fazer o filme da sua heroína mais OP, a Marvel achou esse modelo muito interessante. Só que ela pensou "E SE, veja bem, E SE, a gente trocar a parte de uma hora e meia que ninguém liga... por um filme legal?". Eu sei, que ideia louca, né? Ainda sim, foi exatamente o que os diretores novados  Anna Boden e Ryan Fleck (a Marvel tá nessa de correr riscos com diretores desconhecidos, e esse é um dos segredos do seu sucessso) fizeram exatamente isso.

O que eles fizeram foi aproveitar que o mais tradicional inimigo da Capitã Marvel são alieniginas changelings e transformar CM em um thriller investigativo. Durante mais de 80% da sua duração, Capitã Marvel parece muito com Capitão América 2 e essa foi uma ideia muito boa. Vê, o problema não é que Caroooooooool, Carolineeeeeeeee (tem que ser muito anos 90 para lembrar dessa referencia) não possa esmagar tudo que ver pela frente... o problema é que isso não vai resolver o problema. Então ela e seu sidekick Nick Fury investigam o passado de Carol no meio de uma grande conspiração sem saber em quem podem confiar.



Claro, Capitã Marvel não é tão bom quanto Capitão América 2 porque Anna Boden e Ryan Fleck não são os irmãos Russo, mas como eu sempre digo, quando você tenta se aproximar de uma coisa muito boa e não consegue totalmente, ainda sim você termina com uma coisa boa. 

Ajuda muito que Capitã Marvel seja estruturado como um filme de ação dos anos 90. Sinceramente, se a capitã Marvel fosse interpretada pelo Schwarzenegger absolutamente ninguém estaria reclamando. Nem eu, na verdade essa é uma ideia muito boa, vai anotando aí Marvel... mas enfim, o ponto é que temos uma protagonista badass que não tem tempo para suas merdas e um sidekick engraçadinho mas que sabe se virar mais do que muito bem. Ou seja, pediram para o Samuel L. Jackson refazer Duro de Matar 3 e eu não vejo como isso pode ser uma coisa ruim.

Aquele momento em que você percebe que a namorada do Scott Pilgrim já esteve em Vingadores Endgame e pegou todo mundo lá.


Na verdade, se alguma coisa acho que a Carolita podia ter sido MAIS anos 90. Mais frases de efeito, mais cenas de badassice ridiculas, mais MAIS. Uma coisa que você nunca me verá reclamar é de ver uma mulher foda fazendo fodonices enquanto toca I Only Happy When it Rains, minha única reclamação é que eles não foram longe o bastante.

No papel, a Capitã Marvel é um daqueles filmes de dupla de tiras dos anos 90 - sério, o filme lembra muito Máquina Mortífera. Neste caso, Carol Denvers a policial mais eficiente da sua delegacia (ou da Starforce, no caso) só que com um sério problema de atitude. Seu parceiro é um tira negro com cenas engraçadas e uma noção de bom senso que falta a nossa protagonista. Então, é, eu diria que Capitã Marvel é Máquina Mortífera com radiação de uma joia do Infinito no lugar de imunidade diplomática e não tem como isso ser uma coisa ruim. Não é uma coisa ruim, mas novamente, eu realmente acho que eles poderiam ter ido MAIS longe ainda. Dava para ser mais MAIS.



O que eu quero dizer é que Capitã Marvel é seguramente um 8/10, mas com as ideias e o material que eles tinham dava para ser ter sido um 11/10.

Mas então, quando tudo está dito e feito e todas as tramas resolvidas, resta apenas uma última coisa para o filme fazer: soltar a personagem mais poderosa do MCU e dizer "vai e brilha, minha filha", e é isso que ela faz. Eu realmente gostei que não é sequer uma questão se os caras maus tem uma chance de vencer a Carolzinha, a única questão é quanto tempo eles aguentam. Não tanto assim, mas isso está ok. O filme passou a última hora e meia construindo a malignidade daqueles caras em uma trama de buddy cops dos anos 90, ele meio que ganhou o direito de arregaçar a porra toda. E é exatamente isso que ela faz.

Aqui é onde Capitã Marvel acerta onde Godzilla (2014) falhou, e essa faz toda diferença do mundo.



Então, sim, eu diria que Capitã Marvel é um filme muito legal e quando sua maior critica é que ele poderia ter sido MELHOR AINDA, bem, isso não é uma coisa realmente ruim, é? Ainda mais se considerarmos o momento atual da Marvel. Estamos a um mes e pouco do maior blockbuster de todos os tempos, então se você vai introduzir um personagem nessa panela a ESSA ALTURA DOS ACONTECIMENTOS, é bom que seja alguém que vá entrar para fazer a diferença.

Por mais que eu goste da ideia de um filme da Squirrel Girl, acho que a hora não é exatamente adequada para isso. 

Enfim, essa é a minha reação ao filme:


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