[A HISTÓRIA DOS VIDEOGAMES] Parte IV (SEGA: Here comes a new challenger!)

| quarta-feira, 5 de abril de 2017


Como havíamos visto anteriormente, estamos nos anos 80 e a Nintendo havia reinventado sozinha o negócio dos videogames. Diabos mancos zombeteiros, com o NES e a revista Nintendo Power eles criaram o modelo de mercado que dura até hoje!

Todos estavam felizes, os jogos da Nintendo eram “delícia cara”, e a Nintendo havia aprendido todas as lições nas quais a Atari falhou miseravelmente. O que significa que não eram apenas os jogos, mas como lidar com o mercado e também como proteger legalmente seu produto.

Isso significava que, ao contrário do que aconteceu com o Atari, ninguém podia ir lá e lançar um “Mario genérico”, se quisessem teriam que fazer seus próprios jogos do zero. E como isso era puta trabalho, a Nintendo foi deixada em paz para ter seu monopólio de corações e dólares.

… por pouco tempo.



Era, de fato, muito dinheiro rolando nessa bagaça. O mercado de videogames competia pau a pau com o cinema e a música JUNTOS (verdade que permanece até os dias de hoje), e o único grande jogador desse nicho era uma empresa de fundo de quintal japonesa (por mais que amemos a Nintendo, economicamente ela nunca foi uma gigante). Se havia uma oportunidade a ser explorada, estava aí.

E alguns tentaram em competir com a Nintendo, mas falharam tão miseravelmente que seus nomes sequer entraram para os anais da história (sei que você deu um risinho agora por eu ter usado essa palavra, que coisa mais segunda série, viu…). Apenas uma companhia é digna de nota: uma empresa hawaiense migrada para o Japão, a SEGA.

Tentando competir com a Nintendo, a SEGA lançou alguns consoles com tanto sucesso quanto ator de pinto pequeno em filme pornô, embora um em específico tenha angariado um nível de sucesso que passou do zero: em 1986 foi lançado o SG-1000 Mark III. Master System, para os íntimos.



Verdade seja dita, o Master System tinha alguns bons jogos e algumas boas adaptações dos arcades. Acontecia, no entanto, que a Nintendo realmente havia se preparado com contingencias para este tipo de concorrência.

A primeira e mais importante era a qualidade dos jogos. Por mais que Alex Kidd fosse legal, entre escolher isso ou Mario a escolha era patentemente óbvia. Mas o mecanismo mais poderoso da Nintendo eram seus contratos de exclusividade (que, na época que foram criados, as empresas nem faziam ideia de que diferença faria, já que não existiam concorrentes mesmo), e basicamente as empresas que faziam jogos para a Nintendo eram proibidas de fazerem jogos para outros videogames.

Assim, a SEGA ficou empenhada com os jogos que ela própria produzia (irônico que quase 30 anos depois, essa seja EXATAMENTE a situação da Nintendo, karma is a bitch, huh?). O resultado foi patentemente óbvio.

A SEGA foi ESTRUPADA NA VELOCIDADE CINCO no Japão e nos Estados Unidos, e a companhia capitaneada pelo jovem Miyamoto sequer precisou erguer uma sobrancelha de preocupação com o Master System.



E poderia ter sido o fim da história, a Nintendo viveu feliz para sempre, mas a princesa estava em outro castelo. Só que não.

Quer dizer, você já ouviu falar do Master System. Provavelmente já teve um e conheceu muita gente que teve, então, como que esse abestado (eu, no caso) está dizendo que o Master System foi um fracasso, que mal merece ser mencionado no rodapé da história?

Ah, meus amigos e minhas lindas novinhas seduzentes, é aqui que entra o grande truque da SEGA.

De fato, o Master System havia sido dilacerado pelo NES no Japão e nos Estados Unidos. Mas a coisa engraçada do mundo é que, ao contrário do que os filmes de invasão aliens nos mostram, ele é muito mais do que apenas o Japão e os Estados Unidos.

Assim, a SEGA voltou suas forças para dois mercados GIGANTES que estavam sendo relegados ao oitavo plano: a Europa e o Brasil. Sim, você pode não pensar muito do nosso Pindorama, mas demograficamente é um mercado monstruoso, e no coração dos anos 80 vivendo uma carência tecnológica ferrenha (pode parecer absurdo, mas uma linha telefônica era ARTIGO DE LUXO que as pessoas esperavam ANOS para conseguir, e depois eram revendidas como bens, tipo casa e carro).



Em 1987, o Master System foi lançado na Europa, e em 1989 no Brasil, em parceria com a fabricante de brinquedos Tec Toy (já que o país tinha, e ainda tem, regras leoninas para importação de tecnologia, era mais jogo sabonetar o trabalho para uma empresa nacional).

Grande parte do sucesso da SEGA nestes mercados foi copiar as idéias que a Nintendo usava na América e no Japão, essa foi a grande sacada.

A gente nunca teve a Nintendo Hot Line (até teve, mas ANOS depois) ou a Nintendo Power aqui, mas a Tec Toy investia pesado em publicidade (pesado mesmo, tinha até o “Master Dicas” na Globo) e tinha a sua Hot Line.



Além disso, vários jogos eram adaptados, e isso na época era muita novidade. California Games foi relançado por aqui como “Jogos de Verão“. Que diferença faz? Bem, pergunte a uma criança que está vendo isso na prateleira!

Mas isso não foi tudo: Wonder Boy in Monster Land foi reprogramado para ser “Mônica no Castelo do Dragão” e Ghost House virou “Chapolin vs Drácula“. Phantasy Star foi completamente traduzido para o português!


Uau. Tipo. Uau. Mesmo.

Nós nunca recebemos esse tipo de atenção e carinho da Nintendo e ter um jogo da Mônica, jogar um RPG (que era bom, aliás) em português ou ter um jogo do Chapolin na prateleira quase compensava não ter Metroid ou Mega Man. Como uma criança que cresceu com um famiclone, tenho que dizer que a coisa do português do Master System chamava muita atenção.

Foi assim, através de criatividade e atenção com os mercados esquecidos pela Nintendo (posteriormente a Austrália entrou nesta lista, embora seus habitantes achassem qualquer jogo absurdamente fácil… porque nem jogar Contra sem poder atirar se compara a dar uma volta na quadra na Austrália, né?), que a SEGA conseguiu firmar seu lugar no mercado de games.



Mas o segundo colocado é apenas o primeiro dos perdedores. Era hora de ir atrás do prato principal.

Assim como a Nintendo aprendeu muito com os erros da Atari, a SEGA aprendeu muito tomando pau da Nintendo nos mercados principais, mas ownando nos mercados emergentes.

A primeira coisa que a SEGA aprendeu foi que precisava vencer a Nintendo nos contratos, se quisesse ter alguma chance. E, assim, o seu departamento legal suou bicas para rever algumas verdades do mercado, mas eles sabiam que não teriam a menor chance se as grandes empresas como Capcom ou Konami não pudessem lançar seus jogos para o console da SEGA.

A segunda coisa que a SEGA aprendeu foi que eles precisavam vencer a Nintendo. Não o mercado, não o tiozinho da esquina, não a batalha filosófica pela alma humana, nada disso. O problema deles era a Nintendo. A. NIN-TEN-DO.

A terceira coisa que a SEGA aprendeu foi que eles precisavam de jogos 20% mais legais que os da Nintendo. Se Shigeru Miyamoto era um deus criando jogos, então eles teriam que fazer um deus sangrar.

E foi o que a SEGA fez.



Em 1989, o SEGA Genesis (Mega Drive na Europa e aqui) começou com uma campanha de marketing sem meias palavras. Seu logo era: “GENESIS DOES WHAT NINTENDON’T” (sim, o trocadilho é tão brega quanto a música).

Seu design ostentava a expressão 16-bits em letras douradas, ao contrário do simplório NES, que era apenas 8-bits. Uau!

Mas o que são bits? Que diferença isso faz? Ninguém fazia a menor ideia na época, e pouca gente manja disso hoje, o que importava era que o Mega Drive era o DOBRO do Nintendinho… seja lá no que fosse, mas o DOBRO! Todo o marketing da SEGA era repleto de palavras desse tipo, que não significavam nada, mas pareciam muito incríveis (tipo “BLAST processing!“).



O controle do NES tinha dois botões? O Mega Drive tinha TRÊS BOTÕES! Chupem Nintendistas! TRÊS BOTÕES! HUEHUEHUE SEGA GENESIS MASTER RACE!





Se você acha que isso é infantilidade dos anos 90, saiba que o segundo Xbox da Microsoft se chama 360 e não "Xbox 2" porque ele ia competir com o Playstation 3 e a Microsoft não queria que os consumidores pensassem que o 3 é mais avançado que o 2, né?

Mas nenhuma banca ou marketing teria grande resultado se a SEGA não tivesse fichas para bancar sua aposta. E rapaz, eles tinham.

A capacidade de gráficos e processamento do Mega Drive era monstruosa comparada com o NES – embora muito se compare o SNES e o Mega Drive, o MD foi criado para competir com o NES, e isso foi uma lavada.

Além disso, a SEGA possuía uma biblioteca de respeito, com adaptações dos seus excelentes arcades como Outrun, Altered Beast, Ghouls’n Goblins, Golden Axe, Michael Jackson’s Moonwalker, After Burner e por aí vai. Faltava só uma coisa para a SEGA tomar o lugar da Nintendo definitivamente, apenas uma coisa: um carro chefe.

Um jogo tão bom e tão legal que se tornaria icônico, algo que pudesse rivalizar de igual pra igual com Mario e sua turma. Se a SEGA tivesse uma obra-prima para vender o seu videogame, então o mundo seria seu.

E uma obra-prima eles fizeram.

Sonic, the Hedgehog.

Sonic era um jogo como nunca havia se imaginado até então, e era quase uma versão cool (porque já estávamos nos anos 90, ser “maneiro” era a regra aqui) de Mario em todos os sentidos. Era rápido, era dinâmico, tinha um sistema de vidas maior, uma trilha sonora (inspirada) e muito vamo-que-vamo, era o jogo feito sob medida para a garotada dos anos 90.

Tanto que a tela inicial do jogo era o Sonic cheio de atitude fazendo “nã-nã-nã” com o dedo, era esse tipo de marra que ganhava a molecada na época! O jogo transpirava “sou descolado” por todos os poros!



A terceira parte do sucesso do Mega Drive foi a mais complicada de todas: eles precisavam arrebanhar as empresas para fazer jogos para o seu console. Mas como?

A SEGA se aproveitou da grande vantagem de não ser a dona do monopólio do mercado, e não ser a vencedora foi justamente o que lhe deu uma chance de vencer.

Até aquela altura a Nintendo meio que fazia o que bem queria com as empresas porque… bem, iam chorar para quem? Não gostou, era só lançar seu jogo na concorrência e… opa, não tem nenhuma!

Isso significava que a Nintendo se metia na produção dos jogos, na manufatura, na censura e principalmente na margem de lucro das empresas.

A SEGA ofereceu justamente aquilo que a Nintendo não oferecia: liberdade (e mais dinheiro).


Assim, agora as companhias não tinham mais um limite de jogos a serem lançados por ano, podiam manufaturar e distribuir os seus próprios cartuchos (o que trazia muita vantagem economicamente), e ter toda liberdade criativa que quisessem.

Não foi por nada que o primeiro Mortal Kombat saiu com sangue e fatalidades para o Mega Drive, enquanto a versão da Nintendo tinha apenas suor e execuções mais “família”.



 O plano da SEGA deu tão certo, que efetivamente eles venceram as vendas da Nintendo de 1990 até o ano de 1993.

Mas isso não quer dizer que durante esse tempo a Nintendo tenha ficado parada assistindo tudo com seu simplório NES. Ah, muito pelo contrário. A resposta da Nintendo ao ser desafiada não foi nada menos estrondosa.

Em sua base secreta em Hokaido (mundialmente conhecida por sua colônia de bases secretas), os executivos da Big N estalaram as articulações do pescoço, colocaram seus óculos escuros modafucking, e disseram que se a SEGA queria guerra, haveria guerra.



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